Cafuçaria - País das Maravilhas (3/5)

Um conto erótico de André Martins
Categoria: Homossexual
Contém 2146 palavras
Data: 22/10/2016 08:10:29
Última revisão: 22/10/2016 20:42:13

Depois do primeiro contato, nada mais foi igual. Deixei vários rastros para trás e não me liguei. Pelo contrário, fiquei ainda mais instigado em observar e detalhar aquele homem, iniciei uma obsessão quase que fatal e coloquei uma corda invisível no pescoço.

A vida na favela, ao contrário do que possa parecer, não tem muito mistério e é mais prática do que se imagina, basta ter atenção. Ainda sobre esse dia, os sacolés de uva foram deixados e acabaram derretendo sobre a mesinha. Eu limpei tudo e ainda espalhei um Kaiak pela casa. O cheiro de maconha já tinha saído e Fael ido embora, então nada poderia dar errado, eu pensava. Bom, pelo menos era no que realmente queria crer, já que pensei a mesmíssima coisa na hora em que deixei o celular cair do bolso da calça dele. Felicidade pouca.... De alguma forma meus pais souberam que algo a mais havia ocorrido. Não sei se rolou fofoca por eu ser o "filho do pastor" e nem tenho como saber se alguém viu a hora que o Fael entrou. O fato é que minha mãe questionou minha total ausência do whatsapp em pleno tiroteio, enquanto se descabelava de preocupada em Copacabana. É que durante esses conflitos, a gente costumava conversar pelo celular até que tudo acalmasse, mas naquele dia não me importei com isso. Meu pai, por sua vez, foi certeiro ao afirmar que haviam fumado maconha dentro de casa (perguntem quem ele era antes de virar evangélico). Ele não quis cogitar a possibilidade de eu mesmo tê-lo feito. Bobo. Mas isso me comprometeu, porque a afirmação dele virou "você trouxe um amigo aqui pra fumar". Assim, desse jeito, no masculino: um amigo. Começava a desconfiar que talvez meu pai soubesse do que tava falando....

As dúvidas e questionamentos deles acabaram se tornando imposições sobre mim e isso nos levava a várias discussões. O tempo foi passando e eu me sentia mais próximo do Fael, ainda que em passos curtos, porém me distanciava cada vez mais dos meus pais. Não se enganem quando digo que me sentia mais próximo daquele cafuçu: ele era o mesmo, com o mesmo jeito, atitude e manias de antes. Ainda tratava a todos como se não precisasse de ninguém e falava como se fosse obrigado, e isso também incluia a mim. Talvez eu quisesse acreditar que estava mais próximo, ou que aquele puto me quisesse perto, como amigo... Não sabia dizer. Nosso contato na escola se manteve como sempre foi, apesar dele não ser assíduo, mas fora dela a gente até que se esbarrava. Algumas poucas vezes, após o futebol, vínhamos tomar banho aqui em casa. Daí fumávamos um beck e laricavamos uns sacolés. Sempre que ele deixava alguma roupa no banheiro eu me acabava em punheta. Quem não? Tudo isso durou um curto período. Às vezes nem na peladinha ele aparecia. "Deve estar batendo laje com o pai", pensava. Ok, eu não tinha pressa. Pelo contrário, gostava do tempo. Ele passava bem devagar quando ficava observando o corpo daquele negro. Também, eu tava sempre chapado. Uma das várias manias e vícios que desenvolvi convivendo com aquele deus.

Alguns poucos meses se passaram. Minha relação com meus pais estava indo de mal a pior. Eu não agüentava ficar o dia todo dentro de casa e discutir durante a noite, então permanecia a maior parte do tempo na rua e só voltava no fim da tarde pra ficar jogando conversa fora no portão. Tinha me aproximado mais do pessoal da escola, mas nada em especial. Segundo meus pais, eu estava sempre mentindo e me envolvendo com algo errado, mesmo com boas notas. Tudo bem que não ficava mais em cada vendendo sacolé... Pra completar, tinham total implicância com o Fael e não me queriam perto dele por nada, ainda que fossem raríssimas as vezes em que o viam. Na verdade até eu mesmo fiquei um tempo assim, já que ele permanecia dias sumido e depois ressurgia do nada, sempre sem falar. Me sentia meio perdido, abstinente, mas continuava paciente. Reparei também que ele emagrecera um pouco, mas continuava o mesmo cafuçu rústico e cheio de imperfeições que só o faziam ainda mais perfeito. Aliás, poderia afirmar que o leve emagrecimento terminou por trincar sua barriga de um jeito mais perceptível do que antes e dera um molde ainda mais firme e sério ao seu rosto. "O puto tá trabalhando pesado mesmo", pensava. A passagem do tempo e os momentos raros com o Fael mexiam com a minha mente de um jeito que me deixava perdido e cada vez mais eu tinha a certeza de que me deixava ser percebido por ele. Ainda mais quando estava no efeito da maconha. Pensava que aquele ainda seria o meu cafuçu. Ou que eu seria dele. Posse. Curiosidade e intimidade são foda, né?

No ano em que completei 17 anos, meu pai saiu da construtora em Macaé. Pediu demissão por conta de seu envolvimento com políticos, posição e ocupação religiosa, que o levaram a ser aceito como pastor missionário numa grande rede de igrejas aqui da cidade. Minha mãe, por sua vez, se via cada vez mais infeliz, já que não podia acompanhá-lo nas viagens que fazia em missões "pela igreja". Ela metia cada vez mais a cara no trabalho, às vezes dobrando turnos e dormindo por lá. Talvez ela ficasse pior ao se lembrar de que só seguia aquela religião por causa do meu pai, já que nunca teve vez ou voz ante a ele, ao pastor ou a qualquer outro "homem de fé". Me sentia mal pela devoção dela, mas não podia fazer nada. Num desses períodos de ausência de ambos, Fael apareceu aqui em casa, no finalzinho da noite. Do nada, como sempre.

- Tá sozinho, moleque? - já tava na metade do corredor quando o vi chegar.

- Sempre! - respondi da porta da cozinha. - Qual é a boa?

- Quer viajar? - o tom curto e firme e um sorriso malandro de quem não tem boa intenção.

- Partiu.

Entramos. Ele passou por mim com aquele cheiro delicioso de perfume vagabundo e minha viagem começou a partir daí. O cabelo na máquina, como sempre, uma bermuda de algodão da Hollister, os chinelos de velcro e uma camiseta jogada por cima do ombro. Ah, cafuçu... A pele viva, forte. Os pelos intactos, o cordão no pescoço.

- Trouxe um bagulho diferente. Vai se amarrar.

Tranquei a casa e fomos pro meu quarto. Do bolso da bermuda, ele tirou uma cartela de papel colorido, com uma grande imagem de uma menina perseguindo um coelho, que por sua vez corria até um buraco numa toca. Ele tinha uma espécie de relógio antigo e parecia atrasado, com passos largos.

- Na língua. - me deu um mínimo pedaço cortado daquele papel.

- Isso é droga? - estava confuso, realmente não conhecia muito.

Ele não respondeu. Colocou um pedaço na boca e sentou na cama. Fiz a mesma coisa e sentei na poltrona de frente pra ele.

- E agora? - perguntei curioso.

Ele fechou os olhos. Até assim a cara de puto permanecia. De mal. Aquelas sobrancelhas grossas... Minha língua salivava muito. O gosto daquele papelzinho era meio azedo e meio doce. Lembrava daquelas balas que ardiam, mas nada desagradável. Em alguns minutos senti o maxilar dormente e a cabeça quente. Minha visão começou a ficar estranha, via tudo como se tivesse umas camadas transparentes à frente e elas davam um efeito de profundidade, como se enxergasse a pressão do ar, não sei definir bem. Ao mesmo tempo, a luz do quarto parecia muito maior, mais intensa, e era muito difícil não olhar pra ela. Era uma sensação muito gostosa de total sinestesia que nunca senti antes, um pouco diferente da maconha. A erva dopa a gente, deixa rindo à toa, tranquilão. Ali, eu estava completamente focado nos meus sentidos, como se os tivesse elevado a um outro nível, mas o coração batia mais rápido e suava frio. Tava gostoso sentir cada centímetro de pele do meu corpo. Lembrei do Fael e olhei pra ele. Ainda com os olhos fechados, ele deu uma risada de canto de boca. "Safado", pensei. Abriu os olhos e estavam mais negros do que nunca. Suas pupilas estavam completamente dilatadas, enormes e isso me deu um gostoso tremor interno.

- Que... que... isso? - cortei o silêncio. Tava lerdo. A palavra não queria sair.

Ele riu e recostou-se para frente, com o cotovelo sobre uma das pernas. Não entendi muito bem aquela pose, mas ele não parou por aí. Chegou mais pra frente, perto de mim, e colocou uma das mãos na lateral do meu rosto, como quem fosse dar um tapa. Ele deu outra risada e arregalou os olhos completamente negros pra mim.

- Moleque, olha pra minha cara! - disse enquanto ria um riso malandro, sacana, mas sincero.

Eu tava brilhando e acho que ele também. Rimos um tempo sobre qualquer coisa e falamos dos efeitos que estávamos sentindo por causa da droga. Ele, sentado na cama, deitou pra trás. A luz começou a incomodar um pouco, então apaguei e voltei ao meu lugar na poltroninha. Permanecemos assim um certo tempo, só com o barulho da madrugada do lado de fora. Conforme a visão adaptava ao escuro, notei que a luz da lua entrava pela janela do quarto e iluminava parte das pernas peludas do Fael, que estavam pra fora da cama. Aquela cena era uma maravilha. Não sabia qual daqueles fenômenos da natureza era o mais impecável, mas o mais pecável eu tava pra descobrir e parecia irresistível. No efeito daquela droga e com aquela vontade enorme, não teve como. Não sei bem o que me garantiu que o Fael tava dormindo, mas foi o que declarei ao perceber o ritmo lento em sua respiração e sua total inércia e silêncio. Coloquei primeiro uma perna próxima a dele e esperei. Nenhuma reação. Mexi então pra cima e pra baixo, bem devagar, só pra ver se ele tirava, mas nada. A sensação de sentir aqueles pelos na minha perna já tinha deixado minha rola dura. Mas não acabaria ali. Usando o pé, alisei a parte inferior da sua perna até em cima. Ele continuou dormindo. Tudo aquilo estava sendo bem difícil e cansativo, talvez pela sensação de "demora" que a droga dava. Não era bem lerdeza, parecia mais um excesso de concentração. Resolvi apelar e, devagar, sentei no chão, ao lado da poltrona, de frente pra uma daquelas pernas deliciosas. Aproximei o rosto do pé robusto e inalei profundamente o cheiro dos dedos. Minha rola pulsou na cueca. "Tesão!", era a única palavra na mente. Mais devagar do que nunca, arrisquei colocar a ponta da língua naquela pele gostosa, mas não senti nada além do mesmo gosto doce e azedinho na boca. Nesse instante ele balançou a perna e eu recuei, absolutamente quieto. Nada aconteceu. "Ufa".

Fiquei quieto por um tempo, pensando no que poderia fazer. Com as pontas dos dedos, alisei aqueles pelos negros da perna dele por vários minutos. Subi a mão e lentamente me levantei do chão, na intenção de alisar o que realmente desejava. Como a maior tentação possível, um volume a mais havia se formado na bermuda cinza de algodão. Eu estava no efeito da droga, mas estava certo do que via. Não quis perder tempo, mas ainda tinha de manter a calma, então não adiantava ter pressa. Alisei seu joelho e continuei subindo lentamente, já em direção ao púbis, seguindo pela parte interna da coxa. Subi pela elevação formada e senti o coração batendo a mil, tanto quanto minha própria rola pulsando, a diferença era que um queria sair pela minha boca e outro pelo short. Dei uma leve apertada no pau dele e constatei o que sempre pensei: grosso. Parecia que aquele caralho reagia ao meu toque. Apertei outra vez e jurava ter sentido uma pulsada. Era pesado, farto. Pensei até em tentar levantar pela bermuda, mas teria que me concentrar em não ter um infarto antes. Suava como um porco. O que veio em seguida foi muito rápido.

- QUE VIAGEM! - ele gritou... do nada, como sempre. - Muito longe!

Eu me assustei drasticamente. Corri veloz de volta pra poltrona e fingi com todas as minhas forças que estava dormindo. Tentei ficar calmo, o coração estava a mil. Abri os olhos de fininho e o identifiquei imóvel no escuro. Parado na cama, ainda deitado, só que de bruços. Me mantive quieto por um tempo mais do que necessário, só pra ter certeza de que ele estava dormindo. Tinha passado dos limites de vez, viajei muito errado naquela droga. De todas as merdas que fiz antes, essa era a pior delas, no sentido de ter sido pego. Não queria mais arriscar nada, mas também não ia ficar sem gozar. Foram duas, na encolha, olhando praquelas panturrilhas grossas e peludas, aquela bunda redonda e as costas largas de cafuçu pedreiro. Eram quatro da manhã no celular. Caí no sono antes de perceber.

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Comentários

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Pegou uma peia de Alice. Amando esse conto

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Cara a sua escrita é MARAVILHOSA, detalhada de uma maneira que nos permite sentir o que vc escreve, muito bom!

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