Infidelidade ou Infelicidade? 3

Um conto erótico de Bib's
Categoria: Homossexual
Contém 4364 palavras
Data: 22/07/2016 20:15:51
Última revisão: 23/07/2016 12:23:49

Carlos não sabia o que responder a Sr. Borges, e foi aliviado, que viu quando a Sra. Fatima entrou na sala carregando uma bandeja arrumada com o café, num finíssimo serviço de louça.

— Ah, o café! — exclamou a Sra. Borges. — Obrigada, Sra. Fatima. O quarto do Sr. Douglas já está preparado?

— Sim, senhora. Devo mandar Jenny mais tarde para levar o senhor para cima?

— Por favor.

Com enorme segurança a Sra. Borges serviu o chá, acompanhado de sanduíches muito delicados. Carlos não ia conseguir engolir nada, mas aproveitou para estudar a mulher enquanto ela estava ocupada. Apesar de ter dito que evitava estranhos, demonstrava segurança. Ou talvez não fosse a mesma coisa ter contato com um empregado em sua própria casa, em vez do terreno neutro de uma suíte de hotel.

Era uma mulher aparentemente normal, atraente, com seus trinta e tantos anos. Magra, cabelos louros muito bem cortados e tratados e um tipo de pele cuja ausência de rugas denotava um uso de cosméticos e de cirurgias. Inspirava admiração mais do que pena. Em sua juventude, antes do acidente que havia afetado sua espinha, devia ter atraído muitos admiradores atraentes. -

Inclusive James Borges, pensou Carlos amargamente. E ele a havia pedido em casamento. Depois, ao se cansar de brincar de enfermeiro da esposa inválida, tinha procurado outros prazeres. Experimentar e explorar sua sexualidade.

— Fui informada de que passou um tempo na índia , Sr. Douglas — disse a Sra. Borges. — É a causa desse sotaque delicioso?. Estou certa, que não foi aqui no Espirito Santo, que conseguiu. Riu suavemente

— Obrigada Senhora, Na verdade estive no Ceilão. Sri Lanka — informou Carlos, tentando ser natural. — Cheguei faz uns dois meses.

— Gostou de lá?

— É muito quente, muito úmido. Mas foi uma bela experiência.

— Claro — disse a mulher, provando o chá. — Gosta de ter experiências, Sr. Douglas?

— Acho que... — Carlos estava incomodado.

— Desculpe — disse a Sra. Borges, sorrindo. — Não foi uma frase muito feliz, soou errada. O que quero dizer é: gosta de aventuras, desse tipo de aventuras?

— Achei que seria interessante trabalhar num país estrangeiro.

— E foi?

— Foi, sim. Mas é bom estar de volta. Aprendi muito, mais nada como voltar ao Brasil.

— Tem família?

— Meus pais morreram quando eu tinha dez anos e passei sete ou oito anos da minha vida em lares adotivos. Depois. . . consegui uma bolsa, depois cursei a Universidade.

— Oxford, não é? Incrível!

— Isso mesmo.

— Muito inteligente!

— Não propriamente — disse Carlos, envergonhado. — Sou esforçado e Gosto de estudar.

— E quais são seus hobbies, Sr. Douglas? Como é que... se diverte?

— Gosto de ler. Gosto de música — respondeu Carlos, meio hesitante. — Em Sri Lanka nadava bastante. Gosto de nadar.

— Bom. Temos uma piscina. — A Sra. Borges indicou com um gesto os jardins além das janelas. — Meu marido nada sempre. Temos também uma piscina aquecida no porão. Eu a uso sempre, como parte de minha fisioterapia. Se quiser me acompanhar. . .

— Muito obrigada. — Carlos não sabia o que dizer.

— E. . . namoradas? Ou namorados?

— Eu.. . não. . . — Carlos sentiu-se incomodado novamente, preferiu ignorar a pergunta não muito sutil, sobre sua sexualidade

— Nada sério. — Tim detestaria ouvir isso, pensou.

— Muito bem! — A Sra. Borges sorriu novamente e Carlos apreciou aquela gentileza. — Acho que vamos nos dar bem, Sr. Douglas. Você é exatamente o que Laura precisa. Um pouco mais de café?

Carlos recusou e por alguns momentos fez-se um incômodo silêncio.

— Quando é que vou conhecer Laura, Sra. Borges?

— Claro! — A mulher soltou uma risada leve e musical. — Deve estar ansioso por conhecer a sua aluna, Carlos, me permita chamar você assim. Gostei tanto de conversar com você que quase esqueci a razão por que está aqui.

Carlos não acreditou naquilo, mas deixou passar.

— Sua filha já teve outros tutores antes, Sra. Borges? — Carlos perguntou, achando melhor não revelar o que Gustavo já tinha lhe contado no carro.

— Não. — A mulher parecia hesitar. — A Sra. Frontes não lhe explicou? Laura estava no colégio interno, mas pouco antes da Páscoa pegou pneumonia. Meu marido e eu decidimos então que seria mais conveniente que ela ficasse em casa por algum tempo. E pode me chamar de Debora Querido.

— Ok, Debora. Entendo. Mas já está curada agora?

— Ah, sim, está muito bem. Mas sabe como é, quando só se tem uma filha. A tendência é mimá-la e acho mesmo que Laura nos domina. Aos dois.

Aquilo não correspondia muito bem ao que Gustavo tinha revelado, mas Carlos era astuto o suficiente para perceber que os pais nem sempre veem as coisas da mesma maneira que os outros. O que mais o perturbava era ver que James tinha mentido para ele a respeito de Laura também. Sempre dissera que a mulher não dedicava nenhum tempo a filha, e que Laura sofreria se ele se divorciasse, pois nunca mais poderia ver a menina. Sem falar, na empresa. Lembrava-se nitidamente de tudo o que ele havia dito. E na época isso lhe parecera o único traço digno em seu comportamento sempre tão egoísta.

— É claro — prosseguia a mulher — que Laura não aprova inteiramente a nossa decisão quanto ao futuro dela. Ela é. . . independente e acha que estamos exagerando sobre a doença dela. Mas... os pais são assim mesmo, não é? Oh, desculpe, Sr. Douglas, você não pode saber o que é ser pai, não é mesmo? Que distração a minha.

— Posso imaginar Senhora.

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Jenny, a empregada, apareceu algum tempo depois e conduziu Carlos até seu quarto. Carlos acompanhou-a degraus acima, um tanto aliviado. Ainda não fazia a menor ideia de quem tinha sugerido que contratassem um tutor para Laura. Não gostava da posição em que se encontrava, mas o que podia fazer? Se fosse embora, pouco depois de ter chegado, acabaria revelando tudo. Seu quarto ficava no fundo do corredor, à esquerda da escada. Para a direita, a balaustrada lindamente entalhada formava uma espécie de balcão sobre o hall, onde havia outras peças de antiguidades e um enorme vaso chinês, cheio de plumas vegetais tingidas. Ele olhava tudo, pensando em quão diferente era para ele a maneira de viver daquela gente tão rica.

Seu quarto era enorme. O teto entalhado, a cama preta que combinava com as cortinas. Havia uma escrivaninha envernizada e uma poltrona muito confortável diante da tevê 42 polegadas. No nicho da janela havia uma mesa pequena, redonda, com uma cadeira simples, onde provavelmente ele faria as refeições. As grandes janelas, ainda abertas para o ar da tarde que esfriava rapidamente, davam para o jardim dos fundos da casa. Havia canteiros de legumes, amplos gramados e um jardim de rosas. Um pouco além, uma treliça de ferro batido, através da qual se via o brilho esverdeado da água da piscina. A piscina que James usava com frequência. . . Logo para a janela dele. Isso parecia cada vez mais uma armação de James.

Tornou a olhar o quarto, afastando o pensamento. O banheiro era igualmente elegante, com ladrilhos creme e dourados, banheira, pia e vaso preto. As paredes cobertas de espelhos lhe pareceram um pouco exageradas. No armário havia sais de banho, loções e talco. Tudo convidava às delícias de um banho repousante, e Carlos abriu as torneiras da banheira. Talvez um banho quente e perfumado conseguisse acalmar sua mente e ajudá-lo a decidir o que fazer e como agir.

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O banho não ajudou muito a restaurar a confiança abalada de Carlos e ele começou a remexer nas malas que a governanta havia mandado para o quarto. A Sra. Borges tinha pedido que viesse encontrar-se com ela, o marido e talvez Laura, na biblioteca, às sete horas. Carlos não entendia muito bem o que esse convite podia significar: se era somente a oportunidade de apresentá-lo aos criados e à aluna ou se acabaria jantando com a família. De qualquer forma, decidiu que vestir uma roupa mais formal seria o ideal, optou por ir com uma camisa social branca com o punho vinho e a calça preta. Ainda sem camisa ,Estava penteando os cabelos diante do espelho quando ouviu um toque na porta.

Imediatamente sentiu-se extremamente tenso e decidiu que, se abrisse a porta e desse com James, ia sair da casa naquele momento, sem se preocupar com as consequências. Talvez estivesse sendo melodramático, pois seis anos, afinal de contas, eram um longo tempo, mas lembrava-se de tudo o que tinha ocorrido com uma clareza que não diminuirá com o tempo. Maldito.

— Quem é? — perguntou com a voz involuntariamente rude.

— Posso entrar? — perguntou uma voz jovem, feminina. Carlos ficou intrigado.

— Pode — disse.

A menina que entrou só podia ser filha de James. Era tão parecida com ele que Carlos levou um choque. Magra, cabelos quase dourados, com os mesmos olhos castanhos, profundos, a pele bronzeada. Da mãe parecia ter só a boca, bem delineada. Laura era James da cabeça aos pés. Entrou meio amedrontada, olhando em volta como se temesse que Carlos estivesse acompanhado.

— Olá — disse, fechando a porta. — Eu sou Laura.

— é, achei que seria você mesmo. — Carlos fechou os punhos, nervoso.

— E você é a Sr. Douglas — disse a menina, sorrindo. — Vi quando chegou.

— Você me viu?

— Da janela do meu quarto — Laura explicou. — Dá para a frente da casa. Fiquei presa lá desde a hora que voltei.

— É mesmo? — perguntou Carlos, perplexo.

— é, sim. Mamãe não lhe contou. Gustavo se atrasou para ir buscá-lo. Por minha causa.

— Parece que ela disse alguma coisa, sim. — Carlos não tinha nenhuma intenção de tomar partido no caso.

— Claro. Ela tinha de dar alguma razão para você não me conhecer logo, não é?

— Não necessariamente —Carlos disse suavemente. — Íamos nos encontrar mais tarde. Agora à noite.

— Ah! Bom, de qualquer forma eu queria falar com você antes. Queria lhe contar que eu não quero nem preciso de um preceptor. Posso completar a minha educação escolar da mesma forma que todos os meus amigos. Não pretendo aprender nada e vai perder o seu tempo se tentar me ensinar.

— É mesmo? — Carlos não podia deixar de sentir uma certa admiração por aquela franqueza. Algumas pessoas talvez considerassem aquilo insolência, mas não achava que Laura estivesse sendo insolente. Estava simplesmente descrevendo uma situação, da maneira como entendia as coisas. — Não acha que seus pais estejam certos? — perguntou,

— Meus pais! — Laura deu de ombros. — Olhe, eu não sei o o que foi que minha mãe lhe contou, mas posso adivinhar. Ela não deve ter dito nada sobre John, não é?

— John?

— É. Eu sabia que ela não ia falar nada. Aposto que ela falou daquela história da pneumonia. Que foi por isso que tive de ficar em casa.

— E não foi? — Carlos não conseguiu evitar a pergunta.

— O quê? Ah, sim, claro. — Laura baixou os olhos. — É, eu fiquei doente mesmo, mas agora estou perfeitamente curada.

— Já percebi, mesmo — comentou Carlos secamente. — Mas ainda assim. ..

— Ainda assim, nada. Oh, Sr. Douglas, se eu lhe contar sobre John será que podia pensar em desistir do emprego?

— Desistir? — Carlos levou um choque. Até aquele momento era a coisa que ele mais queria, mas, colocado com tal franqueza, esse fato parecia chocante. Além disso, não sabia como poderia devolver o dinheiro que tinha gastado...

— Laura, não acho que isso pudesse ser honesto da minha parte. Quer dizer, seus pais me empregaram e. . . Bom, acho que eles não iam gostar se soubessem que você está aqui me dizendo essas coisas.

— Mas você tem de entender, tem de saber por que é que o contrataram!

— Eu sei por que foi.

— Não, não sabe! — Laura era insistente. — Bom, vou contar, de qualquer forma. Eles querem me manter afastada da escola porque me apaixonei por um rapaz que trabalha na construção da rodovia perto do colégio.

— Laura, por favor! — Carlos sentia-se incomodado, ele não queria tomar partido, ele não era pago para ter opinião.

— Eu não quero saber.

— Por que não? Vai acabar descobrindo, mesmo, se resolve ficar aqui. Eu não vou desistir dele. Pronto!

Carlos olhou a menina rebelde diante de si e suspirou. Então era isso? Fazia muito mais sentido que as preocupações com a saúde da jovem. Um rapaz trabalhador não parecia nada adequado a se tornar nem mesmo amigo de um membro da família Borges. Chegava a simpatizar com ele, apesar de achar que Laura era jovem demais para se apaixonar por alguém. Mais quem mandava no coração?

— E. . . o que é que ele faz? Esse rapaz? — ele perguntou, incapaz de conter a curiosidade.

— É engenheiro. — A voz de Laura tornara-se quente e entusiasmada. — Chama-se John Monteiro e é da Bahia.

— Bahia? Mas, se é engenheiro, deve ser bem mais velho que você.

— E daí? — disse Laura, tomando a se acabrunhar. — O que importa a idade? E o que se sente que importa. O amor que sentimos.

— Você já discutiu o assunto com os seus pais?

— Eles não compreendem. São velhos demais. Tem a mente antiquada.

— Não acha que isso soa como bobagem? — disse Carlos, cauteloso. — Talvez eles entendam melhor que você.

— Ah, claro. Era isso mesmo que você tinha de dizer. — A voz da garota se elevou, desapontada. — Está do lado deles, também. Eu já devia saber que qualquer pessoa que mamãe contratasse. ..

— Laura, o que pensa que está fazendo? — A porta do quarto se abriu de repente e um homem moreno e atraente entrou, olhando duramente para a garota. — Dá para ouvir a sua voz do outro lado da casa. Como ousa perturbar o... — Ele desviou o olhar para o outro ocupante do quarto e ficou mudo.

— Carlos! — murmurou afinal, controlando-se imediatamente com visível esforço.

Percebendo que Laura voltava para ele um olhar extremamente curioso, Carlos viu que ia ter de dominar-se. Respira , Expira.

— Olá, Sr. Borges — disse com uma frieza de que não se sabia capaz. — Estou contente em vê-lo novamente.

— Vocês se conhecem? — Laura perguntou.

— O Sr. Douglas e eu nos conhecemos anos atrás — disse ele com surpreendente controle —, quando ele dava aulas particulares aos filhos de um cliente meu. Mas isso não importa, Laura. Quero que explique o seu comportamento.

— Desculpe se gritei — disse Laura, mordendo o lábio. — Eu só estava. . . informando ao Sr. Douglas ...

James olhou duramente para a filha, e Carlos, vendo os dois, sentiu uma dolorosa lembrança agitar-se dentro de si. Aquela era a casa dele, a esposa dele, a filha dele. E ele tinha tido a coragem de colocar tudo aquilo em risco para passar algumas horas na cama dele. É claro que naquele tempo ele também desejava isso loucamente. Pelo menos por algum tempo. Mas o bom senso e a decência tinham aberto seus olhos.

— Vá para o seu quarto, Laura — disse ele —, e vista uma roupa adequada. Depois, encontre-se conosco na biblioteca, entendeu?

— Não tenho fome — ela resmungou.

— Mesmo assim, faça o que eu digo. Ou quer que o Sr. Douglas a ache ainda mais infantil?

— Ah, está bem. Que saco pai.

Laura saiu do quarto e ele a acompanhou alguns passos, depois voltou-se e olhou para Caroline.

— Desculpe — disse formalmente. — Laura é um tanto difícil, como pode ver.

James o encarou , olhou para o peito desnudo dele, depois mexeu ligeiramente os ombros num gesto quase imperceptível.

— Com licença, minha mulher está à minha espera.

Ele se afastou e Carlos correu e bateu a porta, encostando-se a ela, tremendo. Estava confuso, perplexo. Quando afinal conseguiu se controlar, retornou para o espelho. Seu rosto parecia o mesmo de sempre, apenas mais pálido. Mas devia haver algum sinal da dor que o atravessara ao vê-lo de novo. O ódio aparece nos olhos, diziam, mas seus olhos pareciam apenas confusos e magoados. E no entanto, odiava-o agora ainda mais do que antes.

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Passava das sete quando Carlos terminou de se arrumar e desceu para a biblioteca. Suas mãos tremiam tanto que ele tinha tido dificuldade em abotoar sua camisa. Depois tinha tentado passar perfume em seguida derrubara boa parte de seu perfume predileto no tapete. O quarto rescendia intoleravelmente a perfume, agora. Quando finalmente conseguiu terminar, estava involuntariamente atraente em sua camisa social , que aderia a seus músculos. Arrumado Parecia mais calmo e mais sofisticado do que se sentia realmente.

A governanta veio a seu encontro no fim da escada e conduziu-o à biblioteca. Bateu levemente na porta e James Borges abriu para ele. Era a segunda vez que o via naquele dia e resolveu concentrar sua atenção na mulher na cadeira de rodas.

— Entre, Carlos — ela exclamou, gentil. — Estávamos falando a seu respeito. Sinto muito que já tenha tido problemas com Laura.

— Não tem importância. — Carlos atravessou a sala cheia de livros, onde havia um bar em forma de globo terrestre. — Desculpem se me atrasei.

— Não se preocupe. Sente-se. Quer um drinque? — A mulher estava elegante, num vestido longo, vermelho. — Meu marido estava me contando que já o conhecia.

— é mesmo? — perguntou indiferente, sem contudo conseguir evitar o vermelho que tingia seu rosto. Pensando ironicamente, se ele tinha dito que Carlos tinha cavalgado em seu pau alguns anos antes.

— Não é verdade, querido? — ela perguntou ao marido, que tomava o último gole de bebida.

Carlos cerrou os punhos involuntariamente. O que ela estava querendo dizer? O que é que James tinha contado a ela? Que a encontrara há alguns minutos? Ou antes?

— Estava contando — disse ele, fixando nele os olhos enigmáticos que nada revelavam — que já trabalhou para os Fontes, dando aulas particulares a George e Vincent.

— Que coincidência! — exclamou a mulher, — Os Fontes são muito amigos do pai de James. Ele vai ficar muito surpreso quando souber que você é o preceptor de Laura, não é, querido?

— Muito surpreso — concordou ele, devagar. — Posso servir-lhe um drinque, Sr. Douglas?

— Muito obrigada. — Carlos hesitou. — Um Martini, por favor.

— Tome algo mais forte — sugeriu a Sra. Borges. — Quero dizer, depois de seu encontro com Laura deve estar precisando de algo estimulante.

— Não, obrigada. Um Martini está bem. — Carlos observou os gestos dele enquanto servia a bebida. Não conseguia controlar a crescente animosidade que sentia por aquele homem. As maneiras dele o haviam convencido de que ele não tinha a menor consciência do que tinha feito. Uma onda de indignação lhe deu coragem.

— Estou surpreso que se lembre de mim, Sr. Borges — disse com deliberada afetação. — Nosso contato foi tão. . . breve.

Ao terminar de pronunciar as palavras, Carlos sentiu que tinha sido muita ousadia sua, mas percebeu, satisfeito, que o havia desconcertado.

— É verdade, Sr. Douglas. — A mulher interrompeu. — Está tão bom de memoria assim querido?

— O que você acha, Débora? — disse ele com enorme controle —, mas encontrei Irene na cidade hoje à tarde. Ela mencionou o nome do sSr. Douglas e foi o nome, Não sua pessoa, que me fez lembrar.

Os lábios da esposa se contraíram antes mesmo de ele terminar de falar. Carlos sentiu-se ainda mais irritado e ressentido, e demonstrou isso no fundo do olhar que lançou a James ao pegar a bebida de sua mão. Ele não deu sinal de ter notado nada e foi se encostar em uma pilastra.

Houve um silêncio de alguns momentos e Débora resolveu mudar de assunto, para alívio de Carlos.

— Diga-me, Senhor Douglas, o que é que Laura lhe contou exatamente?

— Acho que pode imaginar — disse Carlos depois de um suspiro. — Tenho certeza de que ela já deve ter dito as mesmas coisas muitas vezes. .

— Imagino que ela lhe contou sobre esse tal de Jhon — disse Débora.

— Exatamente.

— Uma história muito desagradável. — Débora dilatou as narinas, irritada. — Como ousa esse Baianinho se considerar à mesma altura de Laura?!

— Não creio que seja esse o problema, Débora — disse James, calmo. — As origens de Jhon são a minha menor preocupação. O problema todo é que Laura é jovem demais para se envolver com quem quer que seja, sobretudo com um homem dez anos mais velho do que ela.

Caroline sentiu os olhos de James sobre si e pensou, ler neles um desafio. No caso deles, a diferença de idade não tinha feito a menor diferença, para ele. Hipócrita. Mas ele não ia revelar nada. Pensou que, se abrisse a boca, acabaria ferindo os inocentes, mais do que o próprio culpado.

— Bem — disse Débora —, a situação é insustentável. Como se não bastasse a doença que ela teve por causa dele, o infeliz tem a ousadia de persegui-la, causando os maiores problemas com os criados!

— A doença de Laura foi acidental — disse James.

— É praticamente impossível que alguém pegue pneumonia acidentalmente, James! — A mulher interrompeu.

— Você me entendeu muito bem. Eles foram surpreendidos pela tempestade. Ela podia estar com alguma amiga em vez de com ele. Isso não o torna responsável.

— Muito bem, mas isso não altera o fato de Laura ter pego pneumonia, ficando seriamente doente.

— Concordo.

— Muito obrigada. — Débora tornou a dirigir-se a Carlos. — E hoje, ela foi se encontrar com esse rapaz. Ele é uma praga. Será que não tem de trabalhar?

James serviu-se de mais um uísque.

— Ele é engenheiro, Débora. Eu tomei informações na companhia em que ele trabalha.

— Mas se ele trabalha na construção da rodovia, o que é que veio fazer aqui?

— Deve ter algumas folgas — observou James secamente. — Quer mais um drinque, Senhor Douglas?

Carlos sacudiu a cabeça. Mal tinha tocado no primeiro drinque. Débora, porém, estava mais interessada em continuar a discussão.

— Seja o que for, Laura tem de entender que no momento não vamos permitir que ela decida sozinha! — disse duramente. — Homens dessa idade só se interessam por garotas da idade de Laura para uma coisa. E quando conseguem o que querem. . . Não é mesmo, Senhor Douglas? Tenho certeza de que, com sua maior experiência, e sendo homem deve entender exatamente do que é que estou falando.

Carlos sentiu a boca seca, e não conseguiu faiar nada.

— Nunca se encontrou em uma situação como essa, Sr.Douglas? — insistiu Débora.

Carlos sentiu-se tão fraco que foi um alívio quando a porta da biblioteca se abriu e Laura apareceu.

— E então? — perguntou a menina, olhando de um para o outro. — Aqui estou eu! Não precisam parar de falar de mim só porque cheguei.

— Não seja convencida filha! — disse James, sem se afastar de seu posto na pilastra.

— Então não estavam falando de mim? — ela exclamou no mesmo tom rebelde que tinha usado no quarto de Carlos.

— Estávamos discutindo as possíveis intenções de um homem maduro com uma colegial — disse Débora. — O Sr. Douglas ia nos falar de sua experiência.

— Não creio que as experiências do Senhor Douglas possam ter algo a ver com este caso! — James interrompeu bruscamente. — Não é o comportamento do Sr. Douglas que está em questão, Débora, e sugiro que nos limitemos a tratar dos nossos assuntos.

Carlos, apesar de relutante, sentiu-se grato pela intervenção dele. Apesar disso, sentia seu antagonismo por ele crescer.

— É só nisso que pensam, não é? — gritou Laura, irritada. — Sexo e dinheiro! Dinheiro e sexo!

— Não adianta usar essas frases chocantes, Laura — disse Débora friamente, agarrando os braços da cadeira de rodas. — Se pensa que vai resolver alguma coisa com isso, está muito enganada.

— Não é apenas uma frase estúpida, é a verdade. É só com isso que vocês se preocupam. Não pensam em mim. Na minha felicidade. Só querem saber é se ele me levou para a cama e quanto ele poderá cobrar por causa disso!

— Laura! Débora voltou os olhos horrorizados para o marido e Carlos involuntariamente a imitou, olhando para o pai da menina.

— E é verdade? — disse ele, firme. — Ele deitou com você?

— Claro, assim fica mais aceitável, não é? "Deitou" com você. . . — O rosto de Laura estava escarlate, mas ela ainda mantinha o tom desafiante. — Ele transou, trepou, fodeu, comigo, sim. Hoje mesmo estávamos 'deitados" na beira do rio. .. Eu sentei na pica dele , isso é se deitar papai?

A mão de James voou, golpeando o rosto de Laura. Ela cobriu as marcas vermelhas com a própria mão.

— Vá para o seu quarto — disse James, gelado. — Discutiremos isso depois.

Laura voltou-se e correu para fora da sala. Subiu os degraus, chorando. Fez-se um novo silêncio, carregado de tensão.

— Lar, doce lar . Como é bom está em casa— disse James, servindo-se de mais uísque.

— Isso foi imperdoável, James.

Débora manuseava as pérolas do colar com um nervosismo que contrastava com a calma de sua voz. Por um momento Carlos pensou que ela se referia ao fato de James ter batido em Laura, mas percebeu seu engano quando a mulher continuou a falar:

— Minha própria filha me encarar e admitir que. .. Eu sempre achei que essa escola era devassa demais. Agora tenho certeza disso.

— Não podemos culpar a escola pela promiscuidade de nossa filha— disse James, olhando o copo vazio.

— Essas ideias. .. não foi comigo que ela as aprendeu, James— disse a mulher, seca, aparentemente esquecida de que não estavam sozinhos.

— Oh, meu querido, o que será que vai pensar de nós? Posso lhe garantir que Laura não é sempre assim tão inconveniente.

— Oh, por favor, não se preocupem comigo. Estou bastante consciente dos problemas que os pais enfrentam com filhos jovens, hoje em dia.

— ê mesmo? — Débora o examinava com o olhar. — É, acho que sim. Com a sua vida. . . Mas Laura foi sempre muito protegida até agora. Não faz ideia do quanto me perturba a ideia de que esse homem tenha tocado em alguém que eu amo. ..

Carlos percebeu a possível insinuação, mas achou melhor ignorar.

— Por favor, Débora, pare com isso! — James bateu o copo com força na mesa. — Com licença, vou ver se o jantar ainda demora.. .

— Mas. .. — Carlos se pôs de pé desajeitadamente. — Eu. . . eu posso comer em meu quarto.

— Por quê? — James não tinha mais o ar enigmático. Estava frio e arrogante. — Relaxe. O show já terminou por hoje. Vai ver que, até mesmo nós, comemos com garfo e faca como todo mundo.

— Querido, não piore ainda mais as coisas para o Senhor. Douglas — disse Débora, percebendo que Carlos estava incomodado. — Ele está apenas tentando ser atencioso conosco.

— Na verdade, estou pensando se devo mesmo ficar — disse Carlos controladamente. — Se Laura recusa. ..

— Laura vai fazer o que nós decidirmos — disse Débora gélida, acabando com a vaga esperança de uma saída honrosa que Carlos começava a se apegar.

— Fomos nós, os pais de Laura, quem a contratamos, Senhor Douglas. Nós o dispensaremos quando sua presença aqui tiver cumprido a sua função. Está claro?

— Sim, Sra. Borges.

Carlos respirou fundo. James deu uma breve olhada ele e saiu da sala.

Esse jantar iria ser uma tortura. Onde ele foi se meter.

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Oioi. Alguém ai?

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Comentários

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To louco pra saber a continuação bib,s PLIS 😢😢

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Parei de ler Questão de Tempo para apreciar suas obras e não voltarei a ler os livros de Sam e Jory enquanto você não terminar esse.

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To aki apertando f5 pra vê o novo capítulo, muito ansioso 😍😍😍😍😍😍

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Que loucura cada vez melhor ansioso pelo próximo capítulo como sempre seus contos dão d+ excelentes 😍😍😍😉😘

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Alguma coisa me diz que a Debora Sabe que os dois já tiveram um caso

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a historia ta ficando cada ves mas boa continua sim Bibs

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