MESA PRA TRÊS 3ª PARTE - CAP 12 NÓS

Um conto erótico de Cookie
Categoria: Homossexual
Contém 4474 palavras
Data: 02/07/2016 00:58:32

3ª PARTE

CAPÍTULO 12

NÓS

Já havia de ser próximo das seis da tarde, pois o sol já estava aos poucos abandonando a cidade e se escondendo por detrás das montanhas, alguns objetos quebrados sobre o chão, o tapete fora do lugar e Aaron, que nem bebê tampouco adulto, olhava com delicadeza para Mike que tinha a respiração ofegante.

- ME DIZ O QUE VOCÊ QUER ENTÃO! – Gritava Jorge olhando para ele enraivecido.

Mike estava prestes a propor um relacionamento aberto para Jorge, pois já havia ouvido que dava certo e estava disposto a tentar, estava consciente do risco, das coisas que poderia perder, mas mesmo assim a ideia não o abandonava. Ele deveria dizer o que estava pensando, parecia certo, parecia valer a pena.

- E ENTÃO? – Perguntou Jorge ainda enraivecido, sentindo o silêncio feito.

- Eu.... Quero um tempo.

- Um tempo? – Perguntou Jorge surpreso.

- Isso...

- De mim? O que.... Onde....

- Não.... De tudo isso.... Vamos viajar?

Jorge olhou sem entender para Mike, piscou os olhos rapidamente e ante de entrar em qualquer superfície de ideia, respondeu:

- Vamos!

O tempo foi passando e apesar das ideias de uma aventura fora, divórcio e relacionamento aberto persistirem, Mike e Jorge permaneceram casados, fiéis, parceiros.

Aaron agora era enorme.

No dia 12 de junho eles foram dançar.

Jorge ouviu Rod Stewart cantando, esperou Mike sair do banheiro para dançar com ele.

Débora não havia se casado com Aurélio.

Tom havia cometido suicídio.

Alice só era uma personagem da Disney.

Que Gabriel?

O câncer aniquilou Mike.

Jorge estava sozinho dento do carro olhando para casa vazia.

Jorge segurou a arma com as duas mãos apontando diretamente para dentro de sua boca.

Os vidros do carro eram abruptamente lavados com sangue e pedaços de carne.

Mike acordou assustado próximo aos gravetos pretos apagados, sujo de areia e com sangue seco próximo a sua boca, sentiu dor e uma fome imensa.

- Que porra é essa? – Suspirou para si mesmo, sentando e olhando para o horizonte.

O sol batia em seu rosto e seu olho esquerdo mal abria. Avistou um corpo de bruços ao seu lado, era o de Jorge vestido com seu uniforme de polícia, tomou um susto e gritou:

- Gabriel!

Levantou-se rapidamente, lembrou-se do sonho e percebeu que agora sentia dor. Imediatamente, antes de correr de volta a pousada, checou se Jorge estava respirando, colocou dois dedos sobre o seu pescoço, sentiu o que queria sentir, era hora de ir:

- Tchau Jorge.... – Disse, sem obter resposta.

Apesar da dor e de uma fome iminente, Mike agora corria nú, com toda a velocidade possível, para a pousada, sem saber ao certo o que diria a Gabriel.

A porta estava aberta, as três camas ainda estavam juntas, porém só duas mochilas se encontravam no quarto, não havia nada na tomada, mas logo ao lado, acima do lençol um pedaço de papel com uma frase com a caligrafia de Gabriel se encontrava:

“Vou deixar o carro no estacionamento do aeroporto”

Sem adeus, até mais, tchau ou te odeio, era só aquilo. Mike virou e desvirou o bilhete a procura de qualquer coisa a mais, revirou o quarto a procura de outro bilhete, mas não havia pista alguma de qualquer coisa que Mike poderia ter deixado. Havia um desespero e uma pressa dentro dele que ele estava familiarizado, uma vontade de correr atrás se fundia com a vontade de correr daquela situação.

Mike não sabia o que fazer, mas estava perdendo a cabeça, por de repente perceber ter perdido Mike. Suas dores físicas e a fome, eram detalhes que não o importunavam mais, com as mãos na cabeça ele sentou na beirada da cama, respirou fundo e lembrou-se do sonho.

- Por que eu sempre morro? – Perguntou a si mesmo. Imediatamente Mike pensou em correr até o porto e pegar o próximo barco atrás e Gabriel, entretanto lhe veio a memória que eram dois barcos somente, às 8h e às 16h. Mike rapidamente olhou o relógio e viu os dois ponteiros se encontrarem no número doze.

- Droga! – Gritou, chutando as mochilas no chão com raiva. Umas das mochilas se virou e Mike reparou estar aberta e dela caíram algumas peças de roupa e as passagens que Gabriel havia comprado.

Mike olhou para as passagens, uma com seu nome e outra com o nome de Jorge, com assentos e hora marcada, ele sabia o que era impossível e aquilo não era. Mike tinha tomado as decisões mais importantes de sua vida impulsivamente e sabia que estava prestes a tomar uma.

Segurou as duas passagens na mão:

- Hoje você também vai ter uma chance, meu velho. – E deixou uma das passagens em cima da cama. Revirou a mochila de Jorge à procura de um objeto que Jorge não tinha orgulho em exibir. Achou. Colocou no bolso, pegou duas garrafas d’água da geladeira, colocou em sua mochila e saiu com pressa.

Ainda descalço, Mike corria sobre a praia em direção a um pequeno grupo de rapazes que chegavam à Ilha numa pequena voadeira

- Quanto tempo daqui até a cidade? – Perguntou, tentando recuperar o fôlego.

- Agora só o barco das 16h, moço – respondeu um deles sem dar atenção.

- E de voadeira? – Perguntou Mike.

Os três rapazes, que não aparentavam passar dos vinte anos riram.

- Por que você quer saber? – Perguntou com ar de deboche.

Mike tirou a arma da mochila e apontou para eles.

- Porque eu tô com pressa.

Jorge estava molhado quando acordou, se surpreendeu com o azul escuro do céu sem estrelas sentou e reparou que estava sobre uma pedra onde uma travessia de rio corria, ele avistava agora uma moça ao seu lado de cabelos escuros e soltos, de costas para ele.

- Com licença, moça.... – Disse roco.

- Boa noite, amor – Disse Elaine com um sorriso no rosto.

- Elaine? – Disse Jorge sorrindo.

- Espero que sim....

- Mas....

- Isso é um sonho Jorge – Disse calmamente sem alterar o tom de voz permanecendo com o sorriso singelo no rosto.

Jorge olhou ao redor e se surpreendeu com a quantidade de verde que havia ali, pensou em algo para dizer ou perguntar, mas o tudo e o nada se fundiam em sua cabeça, gaguejou alguma coisa sem tirar os olhos da bela moça em sua frente.

- Por quê?

- Ainda bem que eu não sei...

- Eu não entendo.... – Começou Jorge.

- Sorte sua – Concluiu ela

Jorge respirou fundo e desistiu de sanar qualquer dúvida, sabia que seu tempo era pouco, admirá-la somente seria bem aproveitado.

- Você deveria assumir a decisão que já tomou – Elaine agora se virava pra ele.

- Mas...

- Pare de colocar empecilhos na sua felicidade.... Lembra do que eu te perguntava?

- Quantas pessoas cabem num caixão!? – Os dois disseram ao mesmo tempo e no mesmo tom de voz.

- Exatamente – Disse ela.

- As coisas parecem mais simples quando são ditas por você – Disse Jorge suspirando.

- O pesadelo das pessoas é descobrir que as coisas são tão simples quanto são.

- Entendo...

- Talvez seja hora de dormir querido.... – Disse Elaine apoiando o ombro de Jorge o forçando a se estender na posição horizontal.

- Acho que eu preciso acordar....

- Não sem dormir antes....

- Não vai me desejar boa noite? – Perguntou Jorge tentando ficar na presença de Elaine por mais uns momentos.

- Ainda não.

Jorge deitou e visualizou agora um avião passar longe lá no céu, fazendo um barulho de motor muito alto, que na verdade parecia ser de uma voadeira.

Jorge abria os olhos vagarosamente com o som de uma voadeira se distanciando, ele não se sentia assim há tempos, afinal, “O que havia acontecido?” se perguntava.

Segundos se passaram e Jorge não fazia ideia do que tinha sonhado.

Ele sentiu a falta de Gabriel e Mike ao seu lado.

Conseguiu se levantar somente em sua segunda tentativa.

Seguiu rapidamente até a pousada sem conseguir deixar sua cabeça pensar em qualquer coisa.

A cena que havia encontrado agora, era muito similar à que Mike tinha visto, três camas juntas, mas ao invés de duas mochilas, agora só havia uma, o bilhete ainda estava no chão, Jorge o segurou com as duas mãos e sentiu sua cabeça vibrar.

- Droga – Disse para si mesmo.

Reparou que suas coisas agora estavam jogadas por todo o chão.

- Minha arma – Pensou ao colocar sua mão dentro de sua mochila, mas não achou coisa alguma. – Mike.... – Gritou internamente.

Jorge visualizou o celular sem sinal em seu bolso, se assustou com o horário, colocou sua passagem no bolso e correu de volta para a praia, encontrou um casal de idade molhando os pés na beira da praia.

- Com licença, eu sei que o próximo barco será às 16h, mas se será que vocês sabem algum modo de eu sair da ilha antes?

- Bom.... – Começou o senhor.

- Pra nós, não! – Interrompeu a senhora – Mas para o senhor policial, eu acho que na estação atrás de você, eles têm um pequeno....

E antes da senhora terminar a frase Jorge já havia lhes dado as costas com pressa.

Como havia esquecido, ele era policial e estava de policial, sem saber, Gabriel havia o ajudado com tal ideia para sair da ilha mais cedo e pela primeira vez aquele dia, Jorge já não sentia mais dor alguma.

Para sua sorte, ele sabia como lidar com o barco que eles tinham disponível na baía próxima a estação policial na ilha, era ridículo a falta de cuidado, segurança e equipamentos naquela pequena forma de delegacia. Jorge estava de policial, mas sentiu que qualquer um pudesse ter invadido a sala, achado as chaves dentro da gaveta e dado a ignição no pequeno barco de pescas a motor e se retirado da ilha.

Jorge tinha certeza de que se Mike havia conseguido sair da ilha, ele não tinha considerado que do outro lado, havia uma outra praia e dali o caminho até a cidade era mais perto.

Passados trinta minutos, percebeu que pela distância e velocidade, mais dez minutos estaria em terra firme, qual seria o plano a partir dali? Viu agora que já era possível ver os sinais de área no seu celular.

Desviou o olhar e no mesmo segundo sentiu o celular vibrar, Jorge conhecia o número, mas o tempo de processar que tal pessoa estava o ligando, levaria tempo demais, atendeu sem raciocinar.

- Olá! - Disse surpreso, sem saber ao certo o que esperar.

- Bom saber que está vivo – Disse Mike, com sarcasmo em sua voz.

Jorge respirou fundo.

- Pelo barulho aí atrás, presumo que seja um motor, então você conseguiu sair da ilha, imagino... Me diga, isso tem algo a ver com o sumiço da minha arma?

- Talvez – Respondeu Mike rapidamente – Nada que você não faria.

- Mudou de ideia? - Perguntou Jorge depois de um curto silêncio.

-Você tá perguntando se eu decidi viver mais um pouco? A reposta é sim.

Fico feliz por você!

Havia silêncio ali, ambos sabiam que palavras demais seriam desnecessárias, havia também aperto no peito, rancor, impaciência e vontade.

O que você tá fazendo? Por que está no barco Jorge? - Perguntou Mike impaciente.

- Eu decidi viver também, Mike!

Os barulhos dos motores se fundiram durante a pausa que os dois fizeram.

- Isso é um adeus? - Perguntou Mike, quebrando o silêncio.

- Isso é outro burrice nossa – Respondeu Jorge triste.

- E a tal felicidade à três? - Mike perguntou rindo.

- Você provou pra mim que ela não existe... E você tava certo, o amor é egoísta.

- Finalmente.

Eu não quero dividir, Mike – Disse Jorge com um tom de voz mais forte.

- Eu? - Havia ironia na voz de Mike, mas dessa vez era misturada com uma tal tristeza.

- Acho que de certa forma isso não tem nada a ver com Gabriel...

- E tudo! - Concluiu Mike.

- Sim! - Se isso fosse um filme ele não estaria nessa cena...

- Se fosse um livro ele não não estaria nesse capítulo. Eu também não quero dividir... Nem me dividir.

Aquela conversa parecia ser séria demais para aqueles dois, apesar do dia ensolarado, aquela situação era pesada, fazendo com que eles sentissem um frio subindo pelo pescoço..

- Eu tenho uma proposta! - Começou Mike, com suavidade em sua voz

- Estou ouvindo....

- O primeiro que chegar lá.... Vai! Vai embora, não olha pra trás! É feliz. Com ele, sem ele, não importa, simplesmente vai.

Jorge riu.

- Nós dois temos muita bagagem aqui, Mike – Disse Jorge rindo.

- Sim, Alice e Aaron.... Com qualquer um de nós eles sobrevivem, mas um de nós tem que ficar pra outro ir.

- Isso é uma metáfora? - Perguntou Jorge supondo o óbvio.

- Isso é uma chance. - Respondeu Mike.

- É injusto ele não ter uma opinião sobre, não acha? - Ressaltou Jorge.

- Pra ser sincero, eu acho muito justo.

Jorge olhou o horário, pensou em quanto tempo levaria para chegar ao aeroporto, por um segundo cogitou perder e percebeu que não conseguia imaginar nada partindo daí, sabia que podia chegar lá antes de Mike, apesar de ser arriscado e depender da sorte.

- E aí? Concorda? - Perguntou Mike, serenamente.

- Sim! - Respondeu Jorge, baixinho.

- Não ouvi! - Repetiu Mike se surpreendendo com Jorge, esperando ouvir nada além de absurdos.

- Sim.... Mike, eu disse sim!

- Sabe.... Eu não esperava que você concordasse.... Acho que isso mostra o quão sério isso é.... Isso é....

- Isso é um adeus, Mike – Disse Jorge, voltando a reproduzir sua voz baixa.

Por segundos não tinha o que se fazer depois dessa frase, quem desligaria?

- Durante um certo tempo, Jorge.... Você foi tudo o que eu precisava.... Eu.... Eu morreria por você, mas eu quero viver por ele. - Mike ouviu sua voz sair tremida e se viu tremer, sua expressão facial desabava enquanto segurava em uma mão a arma e em outra o telefone, o vento em seu rosto fazia as lágrimas caírem longe de seu corpo, Mike então percebeu que precisava ser sincero consigo mesmo e estava ciente do sacrifício que estava disposto a se submeter. Ele não tinha certeza de que chegaria antes, mas obedeceria caso perdesse, estava preparado pra dizer adeus à Jorge caso isso significasse sua felicidade.

- Eu não sei dizer Adeus – Disse Jorge do outro lado.

- Não diz....

- Eu preciso....

- Não, não precisa.

- Eu vou jogar sujo! - Disse Jorge chorando.

- Pode Jogar – Respondeu Mike mudando de afeição.

- Eu vou colocar a polícia atrás de você.... - Jorge soluçava de pavor ao ouvir sua voz dizendo isso e ria ao mesmo tempo de nervosismo.

- Eu já estava contando com isso – Mike continuava tremendo.

Os dois suspiraram ao mesmo tempo.

- Te amo, tá? - Disse Jorge.

- Eu também! - Respondeu Mike.

Ambos desligaram o telefone ao mesmo tempo.

A voadora onde Mike estava, ia aos poucos perdendo a velocidade.

- Que porra é essa agora? - Perguntou Mike, voltando a apontar a arma para o rapaz que que guiava o motor.

- A gasolina tá acabando, gênio – Respondeu com grosseria

- Merda! - Gritou Mike – Pensa! Pensa! - Falava consigo mesmo.

Mike considerou nadar e imediatamente retirou isso da cabeça, sabia que o cansaria muito além de que o risco de perder a passagem era enorme, apesar de estar se cuidando para não ter os desmaios novamente, sabia que o risco seria imenso.

Calculou a distância, afinal, era possível ver os prédios dali.

A sua direita, algo lhe chamou a atenção. Um barco, três vezes maior que o seu se aproximava, não parecia ser de pesca e tinha a aparência rústica.

- É seu dia de sorte - Disse Mike para o rapaz ao seu lado e o apagou com um soco de pouco impulso, mas forte, sobre o queixo. Mike escondeu a arma e fez sinal para o barco se aproximar, que funcionou incrivelmente rápido.

- O que aconteceu com o Japa aí? - Perguntou um dos senhores no barco.

- Álcool, maconha... E o resto eu não lembro muito bem. - Disse Mike, fingindo uma ressaca, cobrindo a arma com sua camisa na parte de trás da calça. - O senhor pode ajudar a gente?

O rapaz barrigudo fez um gesto de incômodo, mas sem surpresa.

- Você é o terceiro esse mês! E por que parou?

- Ficamos sem gasolina.... Agora a pouco!

- Sorte a sua encontrar a gente aqui, heim? - Disse o velho olhando para os lados.

- Ô, nem me fale.... - Reagiu Mike, escondendo um riso.

- Sobe aê, a corda tá ali atrás! Consegue colocar o rapaz aqui?

- Claro! - Disse Mike se mexendo rapidamente.

- Pra onde você tá indo?

- Centro!

- É seu dia de sorte, mesmo!

Passos eram ouvidos rapidamente no assoalho de madeira, o som de uma porta se abrindo as pressas poderia ser ouvido a metros dali. Tenente Miranda tomava seu café com calma, aos pequenos goles, além de quente, não gostava de molhar seu presunçoso bigode.

- Senhor? - Perguntou o jovem policial na porta da sua sala.

- Não me diga que o pinguim voltou! - Respondeu Elmo sem retirar os pés da sua mesa e com o pescoço imóvel.

- Não senhor – Respondeu o policial limpando sua garganta – Existe um senhor aqui de uniforme, que se diz ser policial, solicitando uma viatura policial e com uma denúncia sobre um meliante intitulado Mickey, sobre a acusação de furto e porte ilegal de arma.

Mike engolia o sanduíche sem se preocupar com a mastigação, por ele, ele continuaria sua ida até o aeroporto, porém seu estômago o lembrava várias vezes que precisava se alimentar, seus quase desmaios o fizeram parar num posto de gasolina no centro da cidade.

Por ser uma cidade portuária, o posto era responsável por diariamente abastecer uma grande quantidade de caminhões, isso havia passado pela cabeça de Mike, que pensava em pedir carona para um dos caminhoneiros que faziam longas viagens, tinha consciência do quão solitário era ter essa profissão e sabia que não seria difícil servir de companhia.

Agora satisfeito, Mike tomava seu refrigerante enquanto observava uma rapaz, igualmente jovem, de capacete amarelo sobre o braço, entrar na loja de conveniências onde estava, reparou na sua grosseria com o caixa e percebeu que trocaca pequenas mercadorias discretamente com o motorista sentado a sua frente, o qual pretendia pedir carona.

Mike sabia que nesse meio, o uso de algumas drogas que mantinham os motoristas acordados eram nromais, ouviu Jorge comentar, sabia que quanto menos tempo uma mercadoria era entregue, mais dinheiro os motoristas faziam e teoricamente, isso era bom pra todo mundo, exceto pelo fato de que os efeitos colaterais da droga eram destruidores.

Mike seguiu o motociclista com os olhos até o banheiro e logo após, sem pensar direito no que faria, o acompanhou.

- Bom dia – Disse o encarando pelo espelho.

Antes de se dar conta, o motorista batia a cabeça na parede causado pelo impacto do soco de Mike, era a segunda vez que Mike aplicava aquele golpe com sucesso naquele dia.

Levou exatamente cinco minutos para Mike sair do banheiro agora com roupas novas, botas e capacete amarelo, seu plano de pegar carona tinha ido por água abaixo, mas um novo e aparentemente melhor plano tinha aparecido,

- Por favor, por favor, seja uma moto legal! - Disse para si mesmo, olhando para a chave de detalhe amarelo.

Mike olhou para sua direita e viu que da cor do seu capacete e dos detalhes em cor amarela, uma moto que ela só acreditava que existia por causa da internet, uma Kawasaki ER-6N, estava logo ali.

Abriu um sorriso enorme e se permitiu fazer uns passinhos de dança.

- Gabriel, aí vou eu! Com estilo! - Disse, colocando o capacete.

Jorge seguia a toda velocidade em uma viatura policial, sua sirene fazia outros carros abrirem espaço para ele, por aquele atalho e na velocidade que ele seguia, era minutos até chegar ao aeroporto. Notou logo a frente, na parte externa da estrada que uma moça com duas crianças tinha o carro parado com problemas no pneu, as pequenas garotas, provavelmente gêmeas pela similaridade das roupas que vestiam, sentavam no porta malas aberto, com as pernas de fora, observando a própria mãe pendurada no telefone exasperando nervosismo. “Por favor! Por favor! Alguém pare para ajudar” E na medida que ultrapassou, reparou pelo retrovidou que o carro que seguia atrás estacionava próximo a mulher que parecia aliviada. “Isso!” Comemorou.

Jorge estava tão submetido a estar onde queria estar e chegar lá antes de Mike que sua consciência ignorava razões externas, aquele talvez fosse o máximo de tempo que ele ficara sem pensar em Mike, Elaine, Aurélio, Débora, Aaron e até mesmo Alice.

Sentiu algo familiar vibrando próximo a sua perna esquerda, ignorou a duas primeiras vezes achando que era fruto de algo em sua cabeça, seu susto lhe custou dois segundos, percebeu que seu gesto era automático ao segurar o microfone do rádio na viatura.

- Jorge, você tem conhecimento de onde ele foi? Câmbio. - A voz de Elmo saía do rádio.

- Não, não sei! Câmbio - Respondeu Jorge sem pensar.

Jorge sabia que se consguisse alcançar Gabriel, nada adiantaria se Mike estivesse preso ou fugindo, ele não sabia o que faria ainda, mas por enquanto sabia o que não queria fazer, fez as pazes com sua mente e seguiu desse jeito.

Notou seu celular tocar logo após desligar o rádio, atendeu sem verificar o número.

- Jorge? Jorge! Por favor! Jorge me ajuda!

- Jorge imediatamente reconheceu a voz de Aurélio, mas a última vez que sentia o desespero em seu tom, fora quando acompanhou Débora até o hospital.

- Aurélio, o que aconteceu? - Perguntou, preocupado.

- É a Alice, a Alice.... Eu cheguei aqui e ela, e ela estava caída e se retorcendo no chão, Jorge o que eu faço? - É o bebê? É o bebê? Por que não tá na hora ainda!!! JORGE!

No momento em que Aurélio tocou no nome de Alice, percebeu que os gritos de dor eram extremos no outro lado da linha. Um frio subia pela espinha, era um medo com uma mistura de terror, Jorge estava desesperado e com razão, mas sabia que não poderia passar isso pra Aurélio.

- Calma Auréio, vai ficar tudo bem. - Disse sucessivamente mantendo a voz calma – Você já chamou a ambulância?

- Aham! Já, eles estão a camino, mas hoje... quer dizer, essa hora o trânsito tá.... Tem muito sangue aqui, eu não sei o que eu faço! O QUE EU FAÇO?

Agora Jorge notou que não conseguiria manter a alta velocidade que estava e continuar ajudando Aurélio, ele teria que diminuir ou parar.

- Tudo bem, Aurélio, me escuta! Você está em casa, não está? - Perguntou seriamente.

- TÔ! TÔ! - Respondeu Aurélio gaguejando!

- No meu guardarroupa, na terceira gaveta de baixo do lado esquerdo, tem lençóis limpos, vá pegá-los! No banheiro tem álcool e uma tesoura, estereliza, rápido!

- Esterelizar? Por quê?

- RÁPIDO, AURÉLIO!

Era possível dizer que o desespero de Aurélio, apesar da situação, tinha diminuído, mesmo em aflito, Aurélio sabia o que tinha que fazer, Jorge estar ali, mesmo que pelo celular, fazia as coisas parecerem melhor do que de fato era.

Mike ultrapassou um carro onde uma mulher e duas pequenas garotas parecidas seguiam.

Jorge não estava parado, mas tinha diminuído a velocidade pela metade, para conseguir se concentrar em ajudar Aurélio. Ele conhecia aquele caminho, logo em seguida haveria uma ponte e depois da ponta seria apenas alguns quilômetros até o aeroporto. Mike não devia estar nem perto, pensou.

- PRONTO! PRONTO! TÁ TUDO AQUI! - Gritou Aurélio tentando fazer com que fosse ouvido apesar dos gritos de Alice lá trás.

- Nesse meio tempo, Jorge pensou, onde estaria Débora, mas julgou que pelo horário, ela estaria com Raquel.

- Muito bem Aurélio, agora diz pra ela empurrar!

- HÃ?

E Jorge ouviu o grito de Alice, mais alto dessa vez, era como se ela pudesse o ouvir e também seguindo suas instruções

- AI MEU DEUS, JORGE!!! AI MEU DEUS!

- EMPURRA ALICE! - Gritou jorge pelo celular!

Alice gritava!

- EMPURRA! - Repetia Aurélio!

- EMPURRA! - Continuava Jorge!

Alice agonizava aos berros.

Jorge estava bastante concentrado no telefone, mas não pode deixar de notar quão chamativa era a moderna moto amarela que o ultrapassava em alta velocidade.

- O BEBÊ! O BEBÊ ESTÁ VINDO JORGE!!!! - Gritou Aurélio.

Ao atravessar a ponte, Mike notou que deixava para trás um caminhão, reparou que o motorista não parecia bem, diria pálido ou talvez só cansado, parte de si sabia qual era a coisa certa a se fazer, logo o pensamento sobre o aeroporto estar perto o inundou, acelerando então.

- JORGE, JORGE, ALGO PARECE ESTAR ERRADO!!- Gritou Aurélio.

Jorge notou que estava se aproximando de um caminhão que outra hora distante, mas agora estava perto, o que parecia curioso, pois ele não estava aumentando a velocidade, notou também que o carro que havia visto parado, com uma mulher e duas crianças estava logo atrás.

- JORGE, VOCÊ AINDA TAÍ!? ALÔ! ALÔ!

E num susto, Aurélio o trouxe de volta para a situação, Jorge voltou a sentir o suor frio descendo sua coluna e a ouvir os gritos de Alice.

- Sim! Tô aqui!

- JORGE, o bebê, parece estar.... Parece estar virado – Disse Aurélio com medo em sua voz.

- MERDA! - Deixou soltar Jorge, nervoso.

- O QUE EU FAÇO!? O QUE EU FAÇO!?

Jorge desesperado tentando pensar em alguma coisa enquanto dirigia, soltou:

- Me passa o celular pra ela!

- HÃ!?

- O CELULAR, AURÉLIO! ME PASSA O CELULAR PRA ELA!!!!! - Gritou Jorge!

Jorge ouviu o celular tremer e os sons dos movimentos de Aurélio.

- Alice!? - Perguntou Jorge alarmado.

- Aqui! - Respondeu com uma voz extremamente cansada, alternando suas respirações com grandes níveis de transpirações dolorosas.

- Olha, Alice.... Eu sei que é complicado e eu não tenho a mínima ideia da dor que você tá sentindo, mas esse bebê aí quer sair e você vai trazer pra ente, tá bom?

- AHAM!!! - Disse Alice engolindo uma grande quantidade de saliva e chorando.

- TÁ?

- ALICE, EU NÃO OUVI! TÁ BOM!? - Perguntou Jorge falando mais alto.

- TÁ!!! - Gritou Alice.

- ENTÃO NO TRÊS!!!! -Esbravejou Jorge. 1, 2... 3!!!!!

Foi possível ouvir um berro agonizante de Alice pelo telefone, que gritava como se algo dentro dela a tivesse rasgando lentamente, Jorge pode ouvir os latidos de Aaron que devia estar assustado com a situação, porém não mais que Aurélio.

Jorge agora podia acelerar o carro e então o fez, já estava sobre a ponte, naquela velocidade, seria menos de quinze minutos até o aeroporto, entretanto mal notou ele que o caminhão a sua frente começava a se desgovernar.

- JORGE! JORGE! EU NÃO CONSIGO! EU NÃO CONSIGO! - Alice chorava ao telefone transparecendo desespero.

- Alice.... Alice, me ESCUTA! - Disse Jorge tentando se maner calmo – Eu.... Eu convivi com seu irmão durante anos, ANOS ALICE, e eu sei.... Eu sei... Ele é péssimo, ELE É HORRÍVEL, ele fugiu de casa, teve câncer, acabou comigo.... Mas ele fugiu porque enfrentou o que tinha medo, teve câncer, mas venceu, ACABOU COMIGO, mas também me fez o homem MAIS FELIZ DO MUNDO... E esse DNA aí... Eu não sei, eu não sei o que ele tem.... Mas você também tem, eu não sei tanta coisa, mas eu sei que você tem e eu sei que agora, pela última vez, você vai empurrar e trazer essa criana pra ser a filha da uta que ela tem que ser! ME OUVIU?

Alice estava desesperada, mas motivada e sentiu algo diferente dentro de si, sabia que aquele era o momento, estava pronta.

- OUVI!

- No três então! UM – Gritou Jorge!

DOIS!!! - GRITOU AURÉLIO

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