TLK - Distopia

Um conto erótico de Bryan
Categoria: Homossexual
Contém 1522 palavras
Data: 21/06/2016 14:41:45
Última revisão: 29/08/2017 14:34:04

O sol começara a brilhar árduo comparado aos dias desastrosamente chuvosos que antecederam aquela manhã particularmente quente. Entre o tráfico pesado e quase parado ao redor do porto, misturava-se em meio ao tumultuo de carros o Volkswagen vermelho do meu irmão. Meu coração batia acelerado, como se um alienígena se enroscasse no meu peito, revirando-se e me corroendo.

Meu olhar focava na vida monótona e primitiva das pessoas ao redor enquanto ritmicamente tamborilava meus dedos no celular no meu colo. Estava apressado, aflito para ser mais exato. Estávamos perto do porto, em frente ao estacionamento lotado esperando o trânsito andar para podermos parar o carro e eu descer para a jornada de dois meses que iniciaria.

Havia quarenta e oito horas que eu realizara a entrevista que proporcionara como recompensa, uma viagem de cruzeiro por dois meses. Mais do que um cruzeiro, era uma réplica exata de um navio do início do século XX. Doze navios idênticos, podendo claramente ser apelidados de “gêmeos do TITANIC” estavam nesse momento pronto para partirem ao redor do mundo. Era óbvio que tudo não passava de uma jogada de marketing para atrair turistas ávidos por nostalgia vintage.

–Nome completo– Ainda conseguia lembrar da voz grossa do entrevistador corpulento que me eventualmente fora minha porta de entrada para ganhar dois ingressos para o disputado cruzeiro.

–Christian Scardino– Murmurara tão baixo que o entrevistador perguntou novamente meu nome. Elevando a voz, repeti meu vergonhoso nome– Christian Scardino.

–Idade?

–Vinte e três.

–Sexo?

–Masculino.

–Quociente de Inteligência?

–137.

–Tipo sanguíneo?

–O negativo.

Uma pergunta atrás da outra, com tempo apenas para uma arfada de ar entre cada resposta. Não imaginaria que vinte e quatro horas depois receberia a ligação informando que estava sendo convidado para participar da inauguração do TITAN II, um dos dois navios que partiria do Brasil. O outro, TITAN VI, partiria de um porto de São Paulo.

Enquanto o carro estacionava e meu irmão e eu nos aproximávamos da embarcação, podíamos vislumbrar sua magnitude. Era um cruzeiro de alta tecnologia disfarçado naquele manto vintage, como se voltássemos nas décadas de vinte. Seu casco era negro, com letras gigantescas anunciando para toda a multidão que aquele gigante imponente era “TITAN II”. Talvez a única diferença com os navios a vapor, tão ultrapassados, fosse o descomunal tamanho que superaria o maior dos navios da época. Fora isso, até mesmo quatro gigantescas chaminés adormentavam inutilmente, como se vapor branco fosse sair delas quando a enorme buzina ensurdecia a multidão.

Eu me aproximava a passos largos, junto de meu irmão e sua filha pequena. Infelizmente, nenhum dos dois me fariam companhia na viagem de dois meses. Eu tinha o direito de ter um acompanhante, mas jamais Daniel abandonaria sua esposa e suas filhas para passear mar afora. Eu também não tinha amigas ou amigos, nem nenhum outro familiar com quem conseguiria conviver durante sessenta dias.

Oh, desculpe. Acho que estou sendo um pouco vago quanto a mim. Realmente não sou uma pessoa interessante, cabelos castanhos sempre bagunçados e um olhar focado, fico muito mais calado observando situações do que participando delas. É divertido analisar pessoas e seus comportamentos primitivos. Acho que nesse ponto já está claro que sinto-me suficientemente superior as demais mentes alienadas ao meu redor.

Para falar a verdade, a coisa mais excitante que me acontecia era essa viagem surpresa. Tinha abandonado meus estudo começo do ano (completei apenas até o 2º ano do ensino médio), não desejava continuar estudando ou fazer faculdade como minha família insistia. Uma vida normal e miseravelmente era estrangulante até nos meus pensamentos.

Queria ser livre, ou mais do que isso, continuar tendo meus pensamentos próprios e observando sem ser observado. Claro que nenhum de vocês concordaram comigo ter largado os estudo, mas devo adverti-los que se não houvesse largado tudo nunca teria começado a procurar emprego e nunca teria ganhado uma passagem para a viagem de cruzeiro. Isso era surpreendente até para mim, cujo a única sorte na vida foi achar certa vez dois reais no cemitério quando minha tia foi enterrada.

A buzina do navio soou novamente. Eram quase nove da manhã, horaria da partida. Me virei para meu irmão e sorri de canto de lábio. Não foi preciso palavras para descrever a palavra que sentiria dele. Era minha única família, praticamente. Minha mãe separara-se do meu pai quando eu era jovem. Por longos anos, vivi com meu pai. E a convivência fora tão dura e venenosa que ao longo dos anos eu tinha desconstruído qualquer sentimento por ele. A depressão que ele causara em mim, todas as ofensas por causa da minha sexualidade... Tudo simplesmente me levou a fugir para longe de qualquer resquício dele.

Depois de alguns segundos abraçando meu irmão, me voltei para sua pequena filha, minha sobrinha, e sorri para ela enquanto a beijava e envolvia num abraço apertado. Meu coração se partia de deixá-los para trás, mas não me restava alternativa senão pegar minha mala relativamente pequena e olhar uma última vez para eles antes de me jogar no meio da multidão, correndo em direção ao navio.

Fui o último passageiro a subir, cheguei no momento em que os andaimes criados para as pessoas passarem era guardado. Desejei poder ver onde seria minha cabine, para poder guardar a minha mala antes de partir. No entanto, o navio já começava a se afastar lentamente do porto.

Caminhei um pouco pela borda do navio, lotada de pessoas acenando para a multidão. Apoiei a mala no meio das minhas pernas e me estiquei no segura-corpo de mental que não me deixaria cair metros até a água. Sorri enquanto via ao fundo meu irmão pegar no braço a pequena Sophia e ambos acenavam dizendo adeus. Perto deles, podia ver os repórteres noticiando a partida de uma das primeiras réplicas do TITANIC.

Após as pessoas do porto diminuírem até tornarem-se pontos coloridos, impossíveis de se distinguirem, me virei para ver como era o tão falado navio. Era enorme, talvez sessenta metros de largura. Conseguia ver toda a proa, alguns canos grossos e cinzas estavam a vista. Dava para ver que em determinadas partes era possível abrir o chão da proa, como se houvessem depósitos logo abaixo. Apinhado de pessoas, era um pouco estranho a mistura de moderno e antigo que formava a imagem daquele cruzeiro.

Peguei minha mala e caminhei até as portas laterais esquerdas, que pelo fluxo de pessoas parecia dar acesso ao interior do cruzeiro. Mas antes que pudesse visualizar o interior da embarcação, trombei com uma mulher que saia e, juntos, derrubamos um soldado que vinha logo atrás de mim. Todos nos levantamos rapidamente do chão, eu sentia meu rosto ficar rubro.

–Por favor, me desculpem– Disse apressado. A mulher que tinha esbarrado em mim era loira com fios brancos começando a aparecer. Tinha rugas ao redor dos olhos, usava óculos pendurados ao redor do pescoço e as pontas dos seus dedos eram amareladas, provavelmente por fumo. E claro, o mais marcante era seu jaleque branco com o nome “Tess Lirian Kathreen”.

Tão impressionante quanto a médica a minha frente, era o soldado ao meu lado. Seu corpo era magro e alto, seus poucos músculos se concentravam nos bíceps. Ele era loiro com bochechas rosadas por causa do calor. Seu olhar, severo e irritado, era de um azul mais profundo que do oceano do lado de fora da embarcação. Obviamente sorri como um tolo para ele enquanto, sem nenhuma palavra, ele voltou a caminhar em direção ao interior da embarcação.

Tentei segui-lo com o olhar, mas fiquei abismado demais ao notar outros soldados caminhando alvoroçados por toda a embarcação. Mais do que soldados comuns, eles eram americanos. Portavam Glocks nas cinturas e até mesmo fuzis nos peitos. O que soldados americanos faziam em território brasileiro? Quem era o soldados loiro com olhos azuis profundos?

E o mais importante, quem era essa doutora que me fitava como se medisse cada palavra que diria?

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Hey, pessoal! Eu já tinha começado a compartilhar essa história com vcs muito tempo atrás mas acabei excluindo logo no primeiro capítulo. É um conto gay, mas não é focado em sexo apesar da sexualidade ser um dos principais pontos do enredo. O primeiro e segundo capítulo são meio entediantes, o começo é muito focado em criar tramas e suspense, mas prometo que o conto terá vários momentos de ação conforme o personagem se envolve cada vez mais nos mistérios a cerca da Coalisão que criou os navios.

Previamente já os aviso, não poderia mudar o rumo da história caso peçam. Ela já está toda escrita. Esse conto é dividido em 3 partes de 13 capítulos cada. A primeira parte foi escrita em 2015, a segunda em 2016 e espero talvez escrever a terceira parte em breve caso vocês gostem da história e peçam a continuação. Como a história já foi escrita, vou deixar para vcs o link de um arquivo pdf (com capa) caso vcs queiram ler tudo de uma vez:

https://www.dropbox.com/sh/yqdnoym4c4a1axk/AACn_umpe_FfNL-MuVpsfXM4a?dl=0

TLK será publicado de segunda a sexta-feira as 3:00 da tarde. Sábado e domingo sem hora definida.

Espero que gostem,

Com amor, B.

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Comentários

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VAMOS LÁ. UM CRUZEIRO, UM EMPREGO, UM NAMORADO ETC PODEM SER PASSAGEIROS, MAS ESTUDO NUNCA SERÁ. NÃO CONCORDO COM SUA AFIRMAÇÃO (PALAVRAS DE PROFESSOR). MAS É A SUA HISTÓRIA. RELACIONAMENTOS FAMILIARES~PODEM SER COMPLICADOS SIM. MAS A GENTE SOBREVIVE NÉ?

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