MESA PRA TRÊS 2ª PARTE CAP 14 - PRA ONDE MIKE FOI

Um conto erótico de Cookie
Categoria: Homossexual
Contém 3958 palavras
Data: 07/06/2016 12:13:08

2ª PARTE

CAPÍTULO 14

PRA ONDE MIKE FOIEu não acredito que ele vai pintar o cabelo de azul... Ele já fez isso antes? – Perguntou Gabriel, lendo as informações na caixa da embalagem de tinta.

Jorge dirigia a caminhonete de Tom com uma mão na janela se sentindo aliviado por estar finalmente perto de casa.

- Não, nunca. - Respondeu.

- Você acha que vai ficar bom? – Ria Gabriel.

- Olha... Anos de casado... E eu nunca vi o Mike feio, não acho que será agora! - Soltou confiante.

Gabriel sorriu baixinho achando a resposta de Jorge fofa.

- Você acha que ele está dormindo? – Perguntou Gabriel olhando para parte de trás da caminhonete tentando enxergar alguma parte de Mike.

- Não... O tempo tá bom para dormir, mas balança muito ali atrás... Ele deve só estar pensando na vida. - Disse Jorge olhando pelo retrovisor.

O céu parcialmente azul era refletido nos olhos de Mike que possuía as pálpebras cansadas de tanto fazer esforço para chorar escondidoA última vez que Mike sentiu aquela brisa foi em um dos seus piores dias. Ele se lembrava do que tinha ocorrido ali com uma riqueza de detalhes que o entristecia, mas enquanto pílulas de esquecimento ainda eram fruto de uma possibilidade de futuro distante, ele teve que aprender a viver com aquilo, e aprendeu, aquilo o transformou de uma maneira positiva apesar de sua memória ser dolorosa e o fazer chorar todo segundo domingo de agosto, todo segundo domingo de maio e algumas noites de natal.

Ele estava diferente, isso era fato, ele arriscava até a acreditar que seus antigos conhecidos demorariam para reconhece-lo, também a última vez que ele estava naquela cidade ele era minúsculo, impotente e fraco, hoje em dia ninguém pensaria nesses adjetivos ao olhar para ele. Mike adquiriu um ego justo conforme o tempo passou, seus músculos definidos saltavam de sua camisa regata, que ele usava para chamar atenção, seus cabelos se moviam com a brisa gostosa daquela cidade, ele gostava, carregava uma mochila média, vermelha com detalhes pretos em seu exterior, alguns bottons de cantores davam ao objeto uma pista de sua personalidade forte e rebelde. Jorge tinha orgulho de quem ele havia se tornado, mas sabia que Jorge reprovaria o que ele estava prestes a fazer.

Margarina, suco de laranja, pães, café, leite e algumas frutas espalhadas numa mesa pequena e branca no centro da cozinha, um bebê de aproximadamente um ano e meio estava localizado na ponta, seguro por uma espécie de cadeira especial de madeira, do outro lado da mesa uma moça de aproximadamente vinte e poucos anos comia um pão com gosto enquanto assistia uma pequena televisão que estava em cima da mesa, até que ouve alguém bater à porta. Ela olhou para o relógio, disse um palavrão, arrumou seu cabelo, checou o espelho e saiu correndo para abrir a porta, e levou um susto ao abrir.

- Oi, me desculpa.... Posso ajudar? – Disse ela, ajeitando o cabelo, gostando do que via.

- Julia! Sou eu! – Disse Mike, sorrindo!

Julia olhou novamente para Mike, como se quem o estranhasse e tivesse demorando para reconhecer, abriu um sorriso e deu um violento abraço em Mike!

- Mickey!? Mickey Mickey?! – Disse ela, gargalhando e repetindo seu nome.

- Sim, sim, sim! - Disse ele sorrindo se surpreendendo com a demora dela.

- Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! – Ela estava rindo tão alto que até o bebê dentro de sua casa pode ouvir. – Quanto tempo! Quanto tempo? – Ela mudou a entonação de voz tão rápido que de feliz ela foi para nervosa em segundos – Quanto tempo? – Perguntou exigindo uma resposta para Mike, que agora estava assustado, levando tapas violentos da garota – Por onde você andou? Você quase matou todo mundo de susto! Eu estava preocupada, achando que o pior tinha acontecido? Por que você sumiu? O que aconteceu com você? Meu Deus, por que você está tão forte?

- Você vai me convidar para entrar ou eu posso escolher uma de suas perguntas e....

- Ai meu Deus, claro, desculpa – se retratou Julia, - claro, entra, só não repara a bagunça.

- Que bebê é esse? – Perguntou Mike assustado com a previsão da resposta.

Julia, segurou o fôlego e sorriu ansiosamente prestando atenção na reação de Mike.

- Esse é o Bryan! - Apresentou ela orgulhosa.

- Ele é... - Começou Mike vagarosamente.

- Meu? - Perguntou Julia prevendo a pergunta de Mike.

- Sim! - Confirmou Mike.

- Aham!

- Ai meu Deus! – Disse Mike, invertendo o papel de surpreso com Julia – Como? Quando?

- Eu transei com o Carlos, nove meses depois ele nasceu, fim de papo, agora me conta de você! Quero ouvir tudo!

Mike se sentiu surpreso com a falta de detalhes da origem do bebê que agora o encarava em silêncio e começou a contar.

- Bom... Eu meio que não sei por onde começar... – Ele fez um silêncio esperando que Julia preenchesse, mas ela ficou ali sentada olhando para ele com um sorriso no rosto esperando reconhece-lo novamente. – Então.... Me diz o que você sabe...

- Isso... isso, isso faz um bom tempo atrás, não? Oito,Onze!

- Já faz onze anos! Uau... Bom... Eu lembro que os vizinhos disseram que viram seu pai... seu pai... Ai meu Deus, seu pai – Disse ela surpresa e triste.

- O que aconteceu com meu pai? – Perguntou Mike preocupado.

- Bom... – Disse Julia, colocando as mãos sobre a mão esquerda de Mike que começava a ficar assustado com o tom de voz dela – A uns dois anos atrás, toda sua família estava ajudando a construir a nova sede da igreja lá no morro da estradinha, eu não sei se você já ouviu falar sobre... – Julia viu que os olhos de Mike estavam começando a ficar vermelhos e resolveu não dar mais pausas – Bom, aconteceu um acidente, ninguém sabe bem ao certo o que houve, mas a construção desabou em cima deles... Seus irmãos estão bem, ficaram feridos, mas se recuperaram logo, sua mãe... Infelizmente ela não resistiu Mike, sua mãe faleceu na hora, me desculpe, seu pai sobreviveu e está com algumas sequelas que eu... que eu não sei te informar nada além disso... Me desculpa Mike. - Disse ela passando a mão sobre a mão de Mike.

Mike caiu no choro ali mesmo, colocou seu rosto entre as palmas da mão e assustou o bebê com seus soluços altos, Julia não sabia bem o que fazer, não havia nada para ser feito a não ser estar ali para ele, e ela estava.

Ela se dirigiu a pia para pegar um pouco de água para ele, que se encontrava extremamente vermelho agora, ele agradeceu, mas não conseguiu virar um gole sequer.

- Sinto em te dizer isso Mickey... mas.... Onde você estava esse tempo todo? Me diz o que aconteceu...

Até o momento da explicação, demorou mais ou menos meia hora para Mike se sentir bem o suficiente para resumir o que tinha acontecido nos últimos dez anos de vida, Julia ficava surpresa a cada vírgula e demonstrava isso pelas suas intensas mudanças de reação. Os dois conversaram por horas e horas, até finalmente Mike chegar ao ponto pelo qual tinha aparecido ali.

- ...e é! Eu queria saber se eu posso ficar aqui hoje, amanhã eu já vou voltar pro....

- Jorge? – Disse Julia, enxugando as lágrimas depois de ouvir toda a história de Mike – Sim, claro! O Carlos foi viajar e só volta mês que vem, eu acho que ele ia gostar de te ver....

- Sério? – Disse Mike surpreso. – Eu tinha uma quedinha nele quando morava aqui. Ele costumava cortar a grama descamisado quando era meu vizinho

- Hahahah Sério? – Disse Julia – Bom, desculpa te desapontar, mas aquele mamilo bonito que ele tinha, tá caído e feio!

- Não, - disse Mike rindo! – Ele engordou?

- Engordou é modo e dizer – Disse ela rindo – Ele triplicou! Tá gordo, feio e chato! Se ele tivesse aquele corpo de anos atrás, é ruim que eu deixava ele viajar por um mês inteiro sem mim, heim!

E os dois caíram na gargalhada ali mesmo.

- Eu não consigo imaginar você como mãe, sabia? - Disse Mike encarando o bebê.

- Eu também não, - disse ela checando o bebê que agora estava dormindo no quarto – mas a gente vai aprendendo – Concluiu ela numa voz notoriamente mais baixa.

Julia fechou a porta lentamente, desviou da mesam retirou duas taças e uma garrafa de vinho do armário e sentou colocando os pés no sofá – Se você tivesse um filho, iria entender – Disse se referindo a suas ações - Mas agora me conta... O que você vai fazer? - Disse preenchendo a taça.

- Eu ainda estou pensando...

- Você não tem medo de que eles te rejeitem de novo, tipo, que seu irmão vá te agredir novamente... - Comentou virando um longo gole.

- Não, eu nunca tive medo deles, não vou ter agora.... Mas sabe, eu não quero sentar com eles para tomar chá e conversar sobre a vida, eu só quero... Olhar para eles sabe... Só quero ver de perto. Imaginar, sei lá – Disse Mike, deixando a imaginação voar – como seria minha vida, se meu irmão não tivesse descoberto, como seria a vida ali naquele lugar...

- Mas você não vai falar com eles? – Perguntou Julia séria.

- Não, não... não quero que eles me vejam. – Disse Mike desviando o olhar e reparando nas fotos na estante, logo acima da televisão.

- Bom... Se eu puder ajudar em alguma coisa... - Comentou Júlia agora com uma taça de vinho em mãos.

- Acho que pode.... Eu posso dormir? Tô morrendo de sono.

Julia riu para ele

- Claro que pode, faz tempo que eu não abro o quarto de hóspedes, mas sinta-se à vontade, fim do corredor, segunda porta à esquerda.

- Obrigado, viu!

- Por nada. - Concluiu Júlia que permanceia imóvel no sofá com a uma garrafa pela metade ao seu lado.

Mike desabou na cama cinza da casa de Julia, e dormiu sem ao menos refletir na conversa que tinha acabado de ter.

Sonhou com sua família, sonhou com ele batendo a porta da sua antiga casa e sendo bem recebido pela sua mãe com uma incrível cabeleira branca, sonhou com sua irmã ainda pequena e seu irmão forte que parecia ser francamente simpático com as mãos no bolso. Passado um instante se viu na mesa principal onde todos comiam e se serviam em harmonia, felizes comendo e se deliciando com a comida saborosa, até sua mãe segurar o seu braço, com um grande sorriso e dizer.

- Querido, não vamos esquecer dele, né? – Disse.

- Dele quem? – Perguntou Mike que se encontrava num terno branco combinando com tudo naquela casa.

- Vá busca-lo! – Disse ela sorrindo, olhando para o seu irmão.

Todos na mesa sorriram para ele, que se encontrava curioso para ver quem descia as escadas, quando ouviu os passos leves de alguém descendo, ele limpou a boca com um guardanapo que se posicionava no seu colo e olhou para trás, enquanto sua mãe disse:

- Ele!

Mike viu ali sua própria versão de quando tinha catorze anos, coberto de machucados azuis, roxos e verdes, sangrando no canto superior da boca, exatamente com a mesma roupa que usava quando tinha sido espancado em casa pelo seu pai e irmão. Ele voltou a olhar para a mesa e todos pareciam felizes e agiam naturalmente, como se estivessem recebendo apenas mais um convidado.

- Senta aqui querido! – Dizia sua mãe feliz, com um sorriso enorme.

Mike olhava assustado para o garoto que mancava para perto da mesa, observou com dificuldade ele se sentar e o ouviu dizer olhando em sua direção:

- Tá na hora, Mike.

E foi com essa frase na cabeça que acordou num susto, todo suado e com a respiração ofegante.

Mike, olhou para fora e viu que já era tarde da noite, reparou que os postes já iluminavam uma rua semivazia, onde os ônibus passavam completamente vazios. Não sabia onde Julia estava, mas talvez estivesse dormindo e não queria acordá-la. Mike então trocou de roupa e saiu.

Cerca de vinte minutos depois Mike tocou a companhia de sua própria casa.

Ele forçava o máximo que podia para não esquecer de seu sonho, não queria esquecer o que passou ali e como se sentira, estava ansioso para ver quem atenderia a porta, mas tinha uma reação diferente para quem quer que abrisse a porta para ele, tinha planejado isso por muito tempo.

Um rapaz alto e gordo atendeu a porta.

- Pois não?

Antes de terminar formular a interrogação no ar, seu irmão Marcos, foi surpreendido com um soco forte no meio do seu nariz, tendo certeza que tinha o quebrado, logo após o primeiro soco, Mike o socou novamente no mesmo lugar, tão forte que agora não havia dúvidas que seu nariz estava dividido em pedaços dentro do seu rosto.

Marcos caiu para trás, colocando a mão sobre o rosto, chorando quando apareceu na sala, tentando se afastar do seu agressor, quando uma garota viu aquela cena, gritou tão histericamente que um cachorro minúsculo começou a latir. Marcos engatinhava enquanto Mike entrava na casa, e com uma mão sobre a boca, tentava se fazer entender

- Chama a polícia! – Gritava Marcos chorando de dor - Mas Mike deu um chute em sua nuca que o fez apagar ali mesmo. O cachorro da casa, branco, magro, minúsculo e com um latido estridente, vinha em sua direção para mordê-lo, mas enquanto tentava o machucar com seus dentes afiados e miúdos, Mike o pegou com uma mão só e o lançou agressivamente na mão da moça que tentava desesperadamente ligar para polícia, fazendo com que ela e o telefone caíssem. O cachorro soltou um gemido tão grande que tinha certeza que ele não voltaria para atacá-lo.

Mike caminhou lentamente até a garota que chorava no chão assustada e retirou o celular de perto dela, deu as costas e voltou ao corredor se dirigindo até as escadas. Ele sabia que se seu pai estivesse adoentado, estaria no quarto de casal, que ficava na parte de cima de sua casa. Faltava ainda ver sua irmã, que ele podia jurar que estava ali quando a garota histérica havia gritado, que apesar de parecida, sabia que não era ela.

Quando subia a escada, ele conseguia ver a imagem de um all star se formando, quanto mais subia a escada, ele conseguia ver um vestido colorido de renda preta e rosa. Se aquela fosse sua irmã, ela não estava fugindo, ou ela sentia saudades ou ele estava em encrenca. Mike subiu mais dois degraus e viu um camisa recém rasgada preta, porém estava cobrindo ou escondendo algo, uma caveira estampava sua camisa, mais dois e viu que ali estava sua irmã, parada olhando para ele. Ela tinha um cabelo rebelde, umas mechas cor de rosa, o rosto lindo e os lábios numa cor escura.

- Onde ele está? – Perguntou Mike, sério, ainda não tendo certeza sobre qual seria a reação dela.

- Ali – respondeu ela, apontando para o quarto onde ele desconfiou que estava.

Mike passou por ela, não esboçando reação alguma, e quando estava prestes a abrir a porta do quarto do seu pai, ouviu uma voz fina que vinha da escada onde sua irmã permanecia parada.

- Senti sua falta – Disse ela, olhando para ele.

Mike, deu um sorriso baixinho, não querendo estragar a surpresa do seu pai e sussurrou.

- Eu também! – Abriu a porta.

Seu pai estava no meio de uma enorme cama branca, onde todas as paredes do seu quarto também eram igualmente brancas, acima de sua cama havia uma cruz enorme de madeira e em outras partes das paredes haviam quadros de Jesus Cristo e santas que ele não saberia dizer o nome, havia também várias fotos de sua mãe e seus irmãos. Mike nem se incomodou a se procurar por entre elas, pois sabia que não acharia.

No centro da cama, afundava-se um homem grande e gordo, com aparência cansada, mas os olhos bem abertos. Mike fechou a porta, se aproximou da beirada e sentou.

- Oi pai! Tudo bom? – Disse esboçando um sorriso minúsculo no rosto – Eu só vim para te dizer que... Bom, bastante coisa aconteceu comigo depois que você me espancou no quarto ao lado, bastante mesmo.... Inclusive.... Sabe aquele câncer que matou sua mãe cruelmente? Então... Lembra quando ela morreu e você disse que era a vontade de Deus? – Mike, contava isso bem perto do ouvido do seu pai que era para ter certeza de que ele estava ouvindo tudo – Então.... Eu também tive... E eu venci ele, como você pode ver eu não sou um fantasma – Mike segurou a mão do seu pai e o fez tocar nele – Aah, pera, você não está sentindo nada, não é? – Enfim, acho que era a vontade de Deus também que isso acontecesse com você. Outra coisa! Como eu poderia me esquecer, eu casei! Aham! Com um homem lindo, delegado e bem-dotado. Nos amamos muito, sabe pai? Nós viajamos o mundo juntos, ele me ama demais. Eu sinto saudades da mãe, me diz uma coisa, como você deve se sentir sabendo que deu o inferno aquela mulher que você acha que te amava.... Como? Ela não te amava, sabe? Ela só estava com você, porque tinha filhos, mas se nós não existíssemos ela já teria te abandonado com outro, aham, eu ouvi ela dizendo isso uma vez no telefone com a tia enquanto você dormia. – Mike, olhou para os olhos do seu pai e viu que ali escorria uma lágrima – Aah, está chorando, tadinho.... Falando em filhos, sabe o fortão que me segurava para você me bater no estômago dez anos atrás? Eu quebrei o nariz dele e agora ele está caído no corredor. Irônica a vida né? Enfim, eu vou falar rápido porque esse quarto está.... Está me dando arrepios. Eu só quero que você saiba que eu estou ótimo e que tenho pena da vida insignificante que você vai levar daqui para a frente, dependendo dos outros para limpar esse seu rabo gordo ....E que você viva bastante esse inferno que você está vivendo agora. – Mike se levantou, pegou na cabeça de seu pai que estava inclinada e a posicionou em direção a porta – Vamos fazer você olhar para lá.... Isso, porque eu não quero que você perca esse momento, isso.... – Disse baixinho enquanto repousava a cabeça de seu pai fazendo-o encarar a saída do qurto - Tá bom? Confortável? Enfim, eu não quero que você perca esse momento de me ver saindo pela sua porta fazendo absolutamente nada em relação a isso - Tchau pai! Tenha uma longa, dolorosa e patética vida.

Mike fechou as portas, desceu as escadas, viu que seu irmão ainda estava deitado sobre uma poça de sangue, quando passou por ele, viu o pequeno cachorro mancando tentando latir, não havia mais ninguém na casa. Mike olhou ao redor, fechou a porta e foi emboraGabriel acordou com 25 de setembro saltando de sua cabeça

Ele tinha aquele plano há tempos, ainda não havia contado o dia de sua partida, pois queria fazer uma proposta antes, estava decidido a comprar passagens para Gabriel e Mike para Europa, sabia que eles enlouqueceriam lá, mas queria surpresa, para isso decidiu ativar o despertador de seu celular, tarde da madrugada, para checar alguns documentos e assim efetuar a compra das passagens.

Se desprendeu dos braços de Jorge e vagarosamente andou até a sua calça que estava jogada no chão, revistou os bolsos, abriu sua carteira.

- Jorge Ferreira? Sério? Ferreira não combina com ele... – Pensou sozinho – Pensando bem.... Combina sim. – Disse para si mesmo, olhou a data de nascimento de Jorge e se surpreendeu, riu baixinho e guardou a carteira

Agora só faltava a de Mike.

Gabriel olhou ao redor, tentou achar a calça de Mike, mas viu que esta não se encontrava no quarto, lembrou que Mike já estava só de cueca quando decidiu dormir e que ele talvez tenha deixado a carteira no banheiro, silenciosamente, abriu a porta e se dirigiu ao banheiro que era logo ao lado.

Revistou os bolsos dianteiros primeiramente e ali achou um tipo de folha que parecia estar gasta, uma impressão que tinha sido dobrada e redobrada várias vezes, Gabriel a desdobrou para ler o que estava em seu conteúdo e logo após checar e checar novamente, levou a mão a boca e as lágrimas começaram a rolar incansavelmente.

Mike acordou com o barulho da trovoada lá fora, abriu os olhos e percebeu que Gabriel não estava na cama, sentindo sua garganta seca, agora tinha dois motivos para se levantar, no corredor o barulho que vinha da sala ainda era confuso, a chuva que começava lá fora fazia o som que vinha de dentro se tornar mais inaudível

- Gabriel? – Perguntou Mike confuso, ainda não discernindo se aquilo era um sonho ou não – Você está bem?

Gabriel estava com as duas mãos sobre o seu rosto e o pedaço de papel que achara no bolso de Jorge caído no chão.

- Quando você ia me contar? – Perguntou Gabriel soluçante.

- Contar o quê? – Perguntou Mike, confuso.

Alguém bateu a porta, mas os dois ignoraram.

- Eu achei isso aqui! – E Gabriel mostrava o pedaço de caderno desdobrado que mostrava claramente as palavras:

( X ) Família

( X ) Sexo àPintar o cabelo de azul

( ) Convencer Gabriel a ficar

( ) Ilha do Mel

( ) Dizer a Jorge que eu o amo

Mike encarou o pedaço de papel e olhou nos olhos de Gabriel, sem piscar, as lágrimas começaram a escorrer.

- Gabriel... – Começou Mike tremendo

Alguém batia a porta mais violentamente.

- Confessa – Dizia Gabriel em meio a lágrimas – Diz logo... – Chorava

- Você não pode... – Soluçava Mike – Não pode contar para o Jorge...

A porta continuava sendo violentada, com esmurro cada vez mais violento.

- Eu sou o quê? Seu próximo plano? - Perguntou Gabriel em prantos.

Aaron começou a latir.

- Gabriel... Me entende... – Mike tentava racionalizar algo que para ele fazia sentido.

- O câncer voltou não, é? Ele voltou e você já está desistindo... – Gabriel tentou abafar seu choro com as mãos, mas em vão! Essa lista aqui.... Essa lista...

- Você não entende... Eu não quero passar por tudo novamente... E a vida é uma escolha minha, se eu não quiser, cabe a mim decidir e somente a mim...

- Mas... E o Jorge... – Proclamava entre suor e lágrimas – E... E eu?

- Você vai embora... – Que diferença faz? - Soltou Mike com raiva.

Gabriel tinha perdido o controle sobre todos os movimentos de seu corpo, quando por trás de Mike, Jorge passou seminu que de tanto sono não prestou atenção na dramaticidade pesada vivida ali naquela sala. Gabriel e Mike olhavam um para outro censurando seus movimentos, implorando internamente para Jorge não perceber o que se procedia ali.

- Ninguém ouviu a porta não? – Disse atravessando o recinto sem olhar para Gabriel nervoso ou Mike perplexo. Abriu a porta e notou que uma moça loira, molhada e aparentemente grávida o encarava.

- Oi, desculpa aparecer agora, é aqui que mora o Mike? Eu sou a irmã dele! Ele tá aqui?Ventava muito naquele fim de tarde, as folhas secas flutuavam por todo o cemitério, que se encontraria vazio, não fossem duas pessoas entrarem calmamente. Um rapaz e uma jovem.

- Olá – Disse Gabriel, de frente para um túmulo - Quanto tempo... Me desculpe pela ausência, dos últimos anos... Muita coisa tem acontecido. - Vários fios brancos se encontravam wm Gabriel agora, pela sua cabeça e pela sua barba, entretanto sua pele apresentava uma elasticidade bela, alguns diziam ser efeitos dos elementos da melanina. - Ele não pode vir hoje! Por favor, perdoe ele – Disse Gabriel rindo sozinho. Alguns segundos de silêncio e ele recomeça. - Hoje é aniversário dela... Elaine tá fazendo dezoito anos... Você.... Você iria amá-la. - Disse Gabriel segurando as lágrimas. Hoje também faz dezoito anos que eu me fui... Mas hey... Eu tô aqui! E eu não parei de te amar um momento sequer.

Gabriel se ajoelhou e deixou uma rosa vermelha em frente ao Epitáfio que dizia.

Aqui jaz Jorge Ferreira

Amado Marido

Leal amigo–

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