O que a vida me ensinou - Bônus Mel 3 - (1)

Um conto erótico de Mel
Categoria: Homossexual
Contém 2471 palavras
Data: 05/06/2016 21:41:15

- Mel... – ouço Julia me chamar – Melzinho, primo já estou lhe chamando há uns cinco minutos.

- Desculpa – me limito a dizer.

- Quer ficar só?

Apenas afirmo com a cabeça.

- Ok. – diz soltando uma respiração pesada, como se aquilo lhe demandasse muito esforço. – mas hoje será o último dia. Amanhã o senhor voltará a trabalhar e na quarta eu irei contigo a escola, aquelas pessoas precisam de ti meu amor – fala se achegando próximo a mim e sentando na cama ao meu lado. Sinto o toque de sua mão pequena me acariciar. – e você precisa se distrair, eu sei o quanto fazer o bem ao próximo te ajuda.

Julia tem sorrisos para cada momento, quando estou deprimido ela sempre me dá o sorriso da esperança. É com seus lábios quase numa linha, tão infimamente envergados para cima, mas seus olhos, há seus olhos castanhos ou verdes, não sei dizer, não são como o do traidor do meu namorado, ou ex, enfim, do homem que mais amei na vida e que amo, o dele são o verde mais bonito que já vi e nem a primavera no seu auge consegue ganhar na beleza de sua cor. Julia gargalha com o olhar e isso me faz sentir que há esperança, não importa para que, no final algo acontecerá.

- Tudo bem, prometo que volto amanhã e na quarta iremos sim a escola, vou aproveitar e pedir para conhecer o lar das crianças que a escola está dividindo os produtos da horta.

- Isso, e prometo que irei contigo pelo menos nessa primeira visita. Eu confio que Marcelo dará conta da cozinha. – fala levantando-se e depositando um pequeno beijo em meus cabelos. – está precisando de um corte meu amor, bem deixa me ir, preciso tirar o couro de uns estagiários, enfim o dia da minha vingança chegou...

Julia saiu dando o que ela achava ser uma gargalhada do mal e sinceramente achei a imitação cuspida e escarrada de deby e loide.

Continuei ali deitado com meus joelhos encolhidos no peito para tentar conter a dor que sentia, não era algo somente emocional, chegava a doer fisicamente. Aquilo não chegava nem perto do que senti na minha adolescência, até percebi que talvez lá atrás fosse mais drama mesmo, medo do desconhecido, grande parte por ter vivido tão pouco e todas as minhas experiências tinham o mesmo denominador, Marcos, mas hoje. Hoje sou uma casca de homem, me sinto destruído, aniquilado, pois eu já vivi outras experiências e sei que o sinto por Juca é do mais cru sentimento ao mais refinado.

Amo todo o seu jeito, menos que nele ainda existam rastros de um preconceito incrustado pela criação numa sociedade que se diz aberta, mas que no fundo despreza os "diferentes". Odeio esse termo, pois para mim não a nada tão mais diferente do que ser o dito "normal".

- Porque meu amor? – digo olhando a tela do meu celular. – eu quero tanto acreditar que a algo que explique o inexplicável, mas não consigo achar – digo sentindo as lágrimas quentes escorrerem por meus olhos - eu te amo tanto meu amor – digo encarando o sms com o simples eu te amo – tanto que dói, me perfura sabia? – digo fungando sentindo meu nariz entupir.

A dor que sinto não é somente da traição, vai muito além. É como se cada vez que eu visse algo para sonhar com nosso futuro a cena da puta da Fernanda em meio aos meus lençóis com meu homem na minha casa viesse para ruir tudo.

- Eu só queria voltar para casa, me jogar nos teus braços e dizer que eu esqueço de tudo, que não importa o que houve, que não quero viver sem você, mas eu não posso. – digo me envolvendo nas cobertas – o quão fraco e medíocre eu seria? Você nunca mais iria me respeitar como o homem que sou...

Vou devagar para o mundo dos sonhos, tenho certeza a Julia colocou algo no meu suco novamente.

Acordo e percebo que já é terça-feira. Ou a Julia exagerou, ou meu corpo realmente precisava desse tempo. Mais uma vez há uma mensagem de texto no meu celular... sorrio fraco, porque nem sei mais se isso me alegra ou me mata.

- Bom dia Mel. – vejo entrando com as mãos nos olhos. – você não está nu né? – pergunta sorrindo.

- Não. – digo com um leve sorriso.

- Que bom. Meu irmão me mataria se soubesse que eu espiei você do jeito que veio ao mundo. – aquilo me deu uma leve alegria. Ele se preocupa comigo?

- Ele não tem que se importar, não somos mais nada um do outro.

Joaquim caminha até sentar-se a beirada de minha cama.

- Ele te ama Mel. – fala me fitando sério. – meu irmão nunca foi de se apegar a ninguém, a única namorada oficial que teve foi por insistência minha, agora você – diz tocando no meio do meu peito por cima da camiseta – é o mundo dele.

- Não fala isso, dói mais ainda. – digo já sentindo meus olhos arderem.

- Falo sim, você não é de cristal Mel e eu conheço meu irmão melhor que ninguém, realmente não havia droga nenhuma na bebida dele, mas o alto nível de álcool que ele ingeriu já fez o serviço completo, Juca é fraco para o álcool e você sabe disso.

- Mas ela estava lá, Joaquim. – queria tanto me convencer do que Joaquim me diz. – a Fernanda já fez coisas horríveis eu te contei, mas isso, não há como ter arquitetado, não tinha como ela saber de Marcos e muito menos ter forçado Júlio a beber. – digo já permitindo algumas lágrimas descer – eu queria mais do que tudo que tudo isso fosse uma armação, mas não é.

- Eu sei que é. Não sei como, mas em algum momento vamos provar Mel. – diz como se me fizesse uma promessa – dê-lhe o beneficio da duvida, conversa com ele, por favor.

Apenas nego freneticamente.

- Não posso. – digo sem me importar do soluço escapar dos meus lábios – eu me entregaria de corpo e alma, e se ele fizesse de novo? E se isso sempre se repetisse? – digo encarando, como se estivesse acusando por toda a dor que estou sentindo. – meu coração é de carne Joaquim e não de ferro e muito menos uma pedra de gelo... eu morreria sabia? Por favor, Quim, não me fala mais nada, não quero saber, está me fazendo muito mal.

Vejo seu olhar compadecido e sua mão grande, tão parecida com a do meu Juca limpar minhas lágrimas.

- Eu definharia.

Julia nos interrompeu e praticamente enxotou o marido de meu quarto e me obrigou a ir para o banheiro.

- Você tem apenas vinte e cinco minutos para estar pronto, seu café será servido no carro a caminho do restaurante, entendeu.

- Sim.

Não sou louco de dizer nada, além disso.

Passar o dia em meio as panelas não foi tão fácil como eu imaginei, antes estar no meio da cozinha me fazia desprender de tudo, inclusive dos problemas, mas hoje... que raiva!!!

- Que foi Mel? – perguntou Julia.

- Nada não – digo sem lhe olhar no rosto – vou verificar como está a agenda da semana com a Alice.

- Ok.

Eu sei que ela não engoliu. Vou tentar me dedicar a parte administrativa porque cada coisa que faço na cozinha penso se ele iria gostar, fico imaginando ele dizer que o que eu faço é sempre o melhor e o pior de tudo é que me parte o coração saber que não estarei levando nada do que faço a ele.

O dia passa se arrastando, percebo que há murmúrios sobre o meu humor, até porque nunca fui silencioso, mas não que percebo ninguém sabe o motivo real e isso me alivia, odiaria que me olhassem como o corno, o "viadinho que foi trocado por uma buceta". Acho isso tão grotesco que me enoja só de pensar nessas malditas expressões.

À noite digo que não vou comer nada com calmante. A cara de ofendida que Julia faz é para rir e Joaquim com aquela cara de culpado que é de dar dó.

Decido comer apenas um sanduíche com ricota e legumes e suco abacaxi com menta.

Não tive uma noite tão agradável, mas a ideia que amanhã eu iria cuidar da hortinha das crianças da escola me animou, realmente me deixou feliz.

Não tomei café, na verdade menti para Julia, disse que já havia comido, a verdade é que nada me descia. Acordei me sentindo a escoria da humanidade, como se de alguma forma o fato do Juca ter me traído fosse minha culpa, sei que o erro de ninguém pode justificar o de outro, mas e se foi isso? E se ele me traiu por achar que era isso que eu faria?

Não estava conseguindo raciocinar direito, todo o percurso que fiz com Julia foi em silêncio, minha prima realmente estava dedicada a mim e sabia os momentos em que eu precisava apenas disso, do seu silêncio.

Ao chegarmos na escola bem no horário de entrada dos alunos algo me chama atenção ao mesmo tempo que faz uma pequena pontado no meu peito surgir.

Vejo duas crianças que apesar de ter visivelmente idades diferentes são muito parecidas. Cabelos castanhos, pelo meio morena do sol. O maior empurrando a cadeira de rodas que o menor ocupa. Fico observando que ele fala, vejo seus lábios mexerem de forma sorridente, já o maior não! O vejo encarar de forma ameaçadora várias outras crianças e inclusive algumas bem maiores que ele.

De alguma forma me fez lembrar-se do meu amor.

- Ei Mel... – falou me puxando pela camisa – vamos, quero conhecer lá dentro.

Seguimos para a cozinha, fui verificar como estavam todos, mas por mais que estivesse adorando tudo ali, saber das novidades em geral ou da vida de cada uma, não conseguia tirar aquela singela cena de minha cabeça.

- Julia, hoje você vai ficar responsável por ensina-las a fazer o reaproveitamento das cascas de vegetais e eu vi que vieram muitas bananas.

- Sim seu Mel, teve um homem que veio aqui umas semanas atrás e disse que ia mandar umas frutas duas vezes por semana. Veio maçãs na segunda e hoje bem cedinho chegou essa ruma de bananas.

- Ótimo! Podemos fazer bolos com as cascas, aqui tem forno industrial certo? - pergunta Julia super empolgada.

Dona Damiana acena positivamente.

- Tem sim moça, dona Agatha doou.

- Ótimo, perfeito! Ah, também vou mostrar como fazer bifes com as cascas assim podem ser servidos para as crianças do período da tarde.

- Ou os maconheiros da noite. - fala dona Damiana com naturalidade.

- Hã?? – interrogamos eu e Julia.

- Os meninos da noite, aqui o ensino médio só é a noitinha e esses meninos se perdem tudo, mas comem que nem uns cavalos.

Olho para Julia com dó no meu coração.

- Nem vem Mel, é perigoso e Juca me matarias se soubesse que deixei você correr perigo.

- Já disse que não quero saber Julia e eu venho sim! – falo sério – pode não ser hoje, mas sim irei fazer algo.

Deixei Julia na cozinha iniciando a palestra e ensinando a fazer os pratos a base das cascas de banana.

Sigo em direção a horta onde me deparo com umas crianças e uma em especial me chama a atenção. É o menino bravinho que vi mais cedo.

- Crianças olha só quem está aqui. – fala uma senhora de meia idade – esse é o senhor Melanio, ele quem idealizou e ajudou a construir nossa horta.

As crianças soltam um pequeno aplauso e fico extremamente envergonhado, ideia mais de girino ensina-las a aplaudir por qualquer besteira.

Começo perguntando o que elas estão fazendo aquela manhã e a senhora me explica que já retiram há alguns dias uma parte das cenouras e que hoje seria feito o novo plantio e algumas crianças estariam responsáveis pelo desenvolvimento destas.

Depois de dez minutos observando e instruindo não resisto e vou conversar com menino.

- Olá... – digo entregando uma parzinha, pois o mesmo está cavando os buracos com as próprias mãos. – você não é de falar muito.

- Não.

- Eu me chamo Mel, não precisa falar meu nome como aquela senhora disse. – digo tentando arrancar algumas palavrinhas dele, mas nada então decido ficar quietinho ao seu lado.

- Eu me chamo Caio.

Olho com espanto. Oh céus, que perseguição é essa??

- Você tem um nome muito lindo. Quantos anos?

- Eu tenho nove anos. – me surpreendo com sua idade, pois sinceramente achei que ele teria uns onze ou doze.

- E você está no quarto ano?

- Não senhor. Estou no quinto ano. – fala passando o bracinho pela testa meio encoberta pelos cabelos castanhos. – eu tenho que crescer logo.

- Por quê?

Sei que não é educado fazer tantas perguntas ainda mais a alguém que aparentemente é fechado, mas não resisto, há algo nele que me impulsiona a querer saber mais de sua vida.

Ele me olha sério com uma carinha meio de bravo, mas não desisto e insisto no olhar, então vejo a rachadura na sua armadura, ou melhor, me lembro.

- Eu vi você chegar mais cedo. – digo e vejo seu olhar curioso com o que eu diria. – aquele menino lindo e cheio de vida é seu irmão?

Caio baixa a cabeça e volta-se ao serviço de cavar buracos na terra fofa, apenas me confirma com o leve balançar de cabeça que deixa seus fios mais soltos.

Contenho minha língua, mas a vontade é de continuar questionando, decido então torna-lo meu pupilo para assim ter mais tempo para falar com ele.

- Preciso de alguém que me ajude com algumas coisinhas, será que poderia ser meu assistente quando eu viesse aqui?

Ele rapidamente olha em minha direção com uma alegria que não é notada por sorrisos, não, esse menino parece não ter o costume de sorrir para vida, mas eu conheço olhos e os dele brilham com uma alegria contida.

- Eu senhor?

- Sim, você Caio. E não me chame de senhor, Mel já é mais que suficiente.

Depois de falar isso sinto uma leve pontadinha no coração como se não fosse o suficiente, não entendo bem o porquê.

- Caio – falo timidamente – porque disse que tem que crescer logo?

- Eu tenho que cuidar do meu irmão, nós não temos pais, moramos com umas senhoras que rezam para a luz do sol.

Fico sem entender o que ele está dizendo. Como assim luz do sol?

- Meu irmão tem cinco anos e vou fazer dez anos no final do ano, eu sei que quando eu tiver dezoito anos vou levar meu irmão para morar numa casa bem grande e também vou estudar para ser médico, eu vou cuidar dele para sempre.

Fiquei abalado com cada palavra que saiu da boca desse pequeno. Como pode alguém tão pequeno ter objetivos de vida tão grandes e tão nobres? E que fardo é esse, essa responsabilidade.

- Caio, mas você não gostaria de ter um uma mãe ou...

- NÃO!!!!! – Caio me olha furioso e sai correndo.

Gente olá... ainda vai ter mais duas partes desse bônus

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Comentários

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Nara, não sei se lhe parabenizo ou se quero lhe matar por esse capítulo tão curtinho, mas com tanto gosto de quero mais! O Mel se apaixonando pelo Caio e reconhecendo o Juca nele foi liiindo! Hahaha, ansioso pela próxima parte. Beijos meu amor! ♥♥♥

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Ai...que nervoso por favor nao demore a postar

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Acabou?????????????? Cade o resto produção?

Te amo tanto e tu só me judia!

Posta pelo amor a continuação hoje!

Quero entender o spoiler direito, sendo que agora por completo.

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