MESA PRA TRÊS 2ª PARTE CAP 1 - MESA PRA TRÊS

Um conto erótico de Cookie
Categoria: Homossexual
Contém 1658 palavras
Data: 05/06/2016 11:17:11

2ª PARTE

CAPÍTULO 1

MESA PRA TRÊS

Gabriel tinha 7 anos quando sofreu um acidente de carro. Quebrou o braço, arranhou a perna e seu ombro doeu por duas semanas, não chorou ou expressou reação alguma na hora do acidente. Esperou chegar em casa para chorar e entrar em desespero.

Gabriel tinha 13 anos quando seu cachorro faleceu, sua família fez um enterro apropriado e respeitoso no quintal de casa, ele permaneceu forte e quieto, até entrar no quarto, se jogar na cama e chorar obtendo intensos intervalos de soluços.

Gabriel tinha 17 anos quando ouviu seu nome na lista de aprovados do vestibular, entre pessoas cobertas de trigo, fogos de artifício ensurdecedores e uma felicidade enorme, ele permaneceu calmo e esperou entrar no carro para exasperar seu riso e seu choro de emoção.

Gabriel em situações peculiares conseguia esconder suas emoções, sendo elas tristeza, medo, felicidade ou outras. Ele possuía a habilidade de camuflar o que sentia, porém somente por tempo limitado.

Era claramente o que estava ocorrendo com ele naquele momento, ele não saberia dizer como as coisas foram acontecendo, mas agora estava sentado sobre uma cadeira supina e dessemelhante contra uma mesa que parecia ser extremamente abrutalhadaGabriel? Tudo bem? – Disse Mike parando na cozinha estendendo a mão sobre seus olhos.

- Hã? Sim, claro, por quê? – Gabriel se despertou como se tivesse sido acordado de um longo sono.

- Nada, é que...eu sinto como se só eu estivesse falando... - Disse Mike transbordando simpatia.

- Eu acho que eu preciso ir embora. – Disse baixinho olhando para o relógio verde apoiado sobre a geladeira.

- Não, não, você vai ficar, essa comida aqui é demais para dois e nessa mesa cabem três, fica aí, o Jorge acabou de entrar no banho, mas já já ele sai... Ele vai adorar saber que você está aqui, mal posso esperar pra ver a cara dele. - Completou Mike dando as costas para Gabriel para prestar atenção no fogão.

As informações ainda não estavam certamente claras na cabeça de Gabriel ainda, algumas coisas simplesmente não faziam sentido, ele poderia ir embora, ele queria ir embora e ele demorou certo tempo para lembrar que de fato ia embora mesmo, não só da casa, mas do país, então decidiu ficar mais uns minutos, dar a sorte ,ou ao curto tempo, uma chance para Jorge falar.

Ele sabia que seria o fato de abrir a porta do apartamento para encontrar todos os sentimentos de braços abertos sobre seus travesseiros e iria chorar, sentir raiva e se desesperar, mas maior que sua pressa era a curiosidade, antes de se arremessar de qualquer abismo invisível, ele queria se permitir entender algumas coisas antes.

Gabriel ficou.

- Bonita mesa! – Disse Gabriel, tentando começar uma conversa.

- Ah, obrigado! - Respondeu Mike feliz - Jorge odiou, ele é de madeira feita de uma árvore que eu esqueci o nome, é bem pesada, né? Tá vendo como é apoiada sobre outros três pedaços de tronco? Então, eu gosto desse aspecto natural...

Gabriel observou a mesa por baixo e viu que algo não parecia certo. A mesa era grossa e alta, mas os seus apoios não pareciam estarem posicionados corretamente ou permanecer no centro, parecia que qualquer apoio seria o suficiente para a mesa desabar.

- Não tem perigo de cair? - Perguntou Gabriel confuso.

- Não tem não – Disse Mike ainda de costas para Gabriel.

Mike estava concentrado na comida, qualquer coisa que estivesse fazendo parecia exigir muita concentração, Gabriel ainda se sentia muito desconfortável em certos momentos, como se não soubesse ao certo o que sentir ou a ordem do que sentir.

- Mike... - disse baixinho sem ter certeza do que tinha acabado de dizer. - Mike - repetiu Gabriel, dessa vez mais alto.

- Disse alguma coisa? – Perguntou Mike virando levemente o rosto.

- Sim... É.... eu queria saber... O que aconteceu... - Perguntou Gabriel, estranhamente tímido.

- Ah sim! Quando? Hoje? - Perguntou Mike empolgado com o chiero que sua comida estava exasperando.

- Não... - Continuou Gabriel.

- Quando?

- Tudo! Você... o Jorge... por que eu estou aqui!?

Mike parou de mexer a colher de madeira que usava para cozinhar o que quer que estivesse cozinhando, se tornou imóvel por dois segundos ou três, desligou o fogão e se virou completamente para Mike.

- Finalmente a pergunta certa!

Gabriel se ajeitou na cadeira como se fosse ficar naquela posição por muito tempo.

- Bom, por onde começo? - Disse pensando em voz alta.

- Tudo o que eu sei é que você se foi... Então tipo... Eu achava que você estava morto até... 5 minutos atrás

- Hum... Mas ele disse que eu morri? - Perguntou Mike, assustado.

- Hã? - Gabriel se assustou com o assusnto morte e percebeu que nunca tinha discutido isso com Jorge.

- É, o Jorge disse que eu morri? – Disse Mike expressando uma afeição engraçada, como se escondesse um riso.

- Não... quero dizer... não com essas palavras, mas...

- Ah, então a culpa não é dele e sim da sua interpretação...

- Não, mas ele... Ele sabia o que eu tinha achado... E não me disse nada... tipo...

- Você disse para ele o que tinha achado?

- Não, mas...

- Ah, então você achou que estivesse namorando um vidente?

Gabriel odiava o fato de Mike estar fazendo sentido em todas suas palavras, por ser traído por técnicas gramaticais, de repente se viu odiando mais do que estava odiando toda a situação.

- O que eu quis dizer é... - Tentou Gabriel.

- E por que você não disse? – Perguntou Mike olhando diretamente para Gabriel, sentando do outro lado da mesa.

- Eu...

- Enfim, o que você quer saber? - Perguntou Mike impaciente.

- Tudo! - Disse conclusivo.

- Tudo? - Perguntou Mike concedendo a Gabriel uma última oportunidade de desistir da pergunta.

- Sim!

- Ok, vamos lá... - Mike ajeitou seus olhos sobre as pálpebras como se fosse dizer algo que não gostasse e tivesse ensaiado grande parte do tempo para esse momento, apoiou os cotovelos sobre a mesa grossa, encarou Gabriel timidamente alternando seus olhares para ele e para o corredor vazio. – Eu conheci o Jorge a anos, anos atrás,por aí... eu estava num período muito... muito diferente da minha vida, minha relação com a família não era das melhores, eu... me vi forçado a sair de casa... E eu saí... enfim, eu me... eu me envolvi com as pessoas erradas e acabei indo para a delegacia, mais de uma vez... acabei me tornando figurinha repetida, foi assim que eu conheci o Jorge, romântico, né? Ele me... Ele ofereceu uma casa, eu o vi como... Alguém que me salvasse, eu não me reconhecia mais, foi bom ter alguém para me lembrar quem eu era... eu gostei... foi... necessário sabe? O tempo passou e eu olhei para ele de maneira diferente... talvez eu sempre tenha olhado porque... né? Ele é bem... né!? Enfim, eu o beijei... acho que ele não aguentaria por muito tempo mesmo Hahaah. Ah... Numa reviravolta de eventos teve esse cara, esse cara que o Jorge tentou prender há tempos e apareceu aqui... Mas ele apareceu aqui e eu tive um ataque, não um ataque, mas... O câncer na minha família é comum, eu não achei que fosse ter, ainda mais em estágio avançado, eu já estava no chão... Em 2006 ele me pediu em casamento, em 2007 a gente se casou, em 2008 ele me deu um cachorro, Aaron, ele está no quarto... Acho... em 2009 eu pedi divórcio... Mas não era o que eu queria... Eu não consegui assinar, ele não conseguiu assinar, aquilo de alguma forma fez a gente perceber que não era certo! Divórcio? Qual é.... Eu nunca conseguiria viver sem esse cara na minha vida... Ele... enfim, 2010 foi o ano das nossas vidas, a gente viajou... ele se aposentou... até 2013 foi como se ainda estivéssemos em Lua de mel, quer dizer, estávamos bem jáComeçou difícil... A gente... Estava se matando, eu tenho esse amigo na academia que... Também tem um relacionamento turbulento com outro cara e eles têm um relacionamento aberto e... Funciona, tipo... tem significado sabe? Isso que eu queria para a gente... funcionar. Eu pensei.... Por que não!? Ele recusou a ideia, lógico... mas quanto mais constantes nossas brigas se tornavam, menos opções nós tínhamos. Ele finalmente disse sim, disse que eu estava livre, disse que era o que eu queria, eu disse que entendi, ele disse que a ideia era mais para mim do que para ele, para nós e talvez ele tivesse certo, eu saía com outros caras e voltava para casa e dormia com ele, ele odiou nos primeiros meses, acho que não o fato de eu sair com outros caras, mas sim porque ele não queria sair com outros caras, eu tentei convencê-lo, mas ele... se negou... É horrível da minha parte dizer que eu estava ok com isso? Enfim... O tempo passou e eu recebi um telefonema importante, precisei sair por um tempo, sem data de volta... voltei hoje, ele me contou sobre você e aqui estamos! Acho que é isso! ...perguntas?

Gabriel estava boquiaberto com tudo, como as coisas finalmente faziam sentido de uma maneira ridícula, como fazia parte de uma história cômica e triste ao mesmo tempo, como já tinha perdoado Jorge por tudo e também como se sentia brabo por saber que Jorge nunca saberia o quão brabo ele estava antes de saber isso tudo.

- Sim... - Respondeu baixinho ainda de olhos bem abertos.

- Desculpa? – Perguntou Mike sem entender direito.

- O Jorge disse que você se foi... mas não disse para onde... Só disse que você se foi... E se ele dissesse o lugar, eu saberia que você não estava morto, mas... eu acho que ele também não sabe para onde você foi... para onde você foi Mike?

Mike encarou Gabriel sem saber o que dizer, sentiu a falta de ar ocupar seu corpo e sua respiração ficar mais ofegante, até que desviou o olhar e olhou para o corredor, onde Jorge estava parado enrolado numa toalha bege olhando para Gabriel.

Jorge respirou fundo, olhou pra Mike e soltou:

- Gabriel está certo... Para onde você foi Mike?

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive SamoO a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

As coisas não estão em ordem aqui. É possível visualizar todos os capítulos?

0 0