MESA PRA TRÊS 3ª PARTE CAP 7 - MÔNICA

Um conto erótico de Cookie
Categoria: Homossexual
Contém 1677 palavras
Data: 30/06/2016 22:17:23

3ª PARTE

CAPÍTULO 7

MÔNICAVocê não quer que eu fique? – Perguntou Jorge preocupado.

- Não! Relaxa, você já fez demais! – Respondeu Mike – Vá pra casa, eu te ligo quando terminar.

- Tem certeza? – Jorge tentou mais uma vez!

Sim – Respondeu Mike rindo – Vai logo.

- Tá! Beijo! Te amo, viu!

- Também!

Mike virou de costas e encarou a cadeira que odiava, hemodiálise fazia parte de sua vida agora. Sabia que passaria horas ali, tirou então o celular do bolso e começou a abrir o aplicativo que passaria horas se entretendo, mal notou ele que a mesma pessoa sentava ao seu lado, por semanas e que justamente no dia de hoje, resolvera falar.

- Essa fome deve ser boa! – Ouviu Mike se assustando.

- Oi? Desculpa, falou comigo? - Perguntou Mike com os olhos arregalados.

- Sim! Meu nome é Mônica! - Disse a garota.

- Prazer, Mike! – Concluiu sorrindo.

Mônica tinha longos cabelos encaracolados e pretos, tinha uma aparência cansada, seus dentes eram tão brancos que pareciam falsos, usava uma espécie de tiara vermelha, suas roupas brancas contrastavam com sua pele negra, sua voz era suave e pela posição na cadeira, era possível notar que era tão alta quanto Mike.

- Eu sei, você sempre vem com aquele rapaz chamado.... Sylvio?

- Não, o nome dele é Jorge! – Riu Mike a corrigindo

- Hmmm, desculpa... Posso te perguntar uma coisa?

- Claro! – Disse Mike abandonando o celular.

- Como é.... Querer viver por alguém?

- Hã? – Mike tinha certeza de que não havia de ter entendido direito.

Como é querer viver por alguém!? – Repetiu Mônica, com o mesmo tom de voz.

Eu não entendi.... Você acha que eu não quero viver por mim mesmo.... Por quê?

- Jorge o nome dele, não?

- Sim! - Respondeu Mike tentando entender onde ela estava tentando chegar.

- Se ele não existisse.... Você lutaria bravamente por sua vida?

Mike parou para pensar na decadência da sua vida familiar, na escassez de amigos e no que Jorge o proporcionou desde que se conheceram. Mônica começava a parecer certa e isso o assustava.

- Eu.... Eu.... Acho que sim! Desculpa, por que a pergunta?

- Porque eu quero morrer e não posso.... E isso é um saco. - Havia uma certeza agressiva em sua voz, como se Mônica não aceitasse se submeter a nenhuma opinião contrária. Mike se calou por uns instantes e Mônica não pareceu se incomodar com o silêncio.

- Por que você quer morrer? – Perguntou Mike curioso.

- Por que eu quero viver, você deveria me perguntar. Você vive por ele, não?

Mike não assumiria que sua vida dependia de alguém, mas estava disposto a dizer o que Mônica quisesse ouvir para continuar a conversa.

- Mas....

- Eu terminei com minha namorada a um tempo atrás.... – Começou Mônica.

- Não a ama mais!?

- Pelo contrário! A amo demais!

- Não entendi.

- Olha para mim Mike, olha onde eu tô! - Disse Mônica com indelicadeza em sua voz.

Pela primeira vez, Mike olhou para Mônica de verdade, via uma garota linda e cansada sentada ao seu lado, mas havia algo mais obscuro que o normal em seus olhos, não era cansaço, não eras os sinais de insônia, era uma erradicação, uma entrega, uma sustentação entregue por um fio.

- Quem é ela? - Perguntou Mike.

- Não importa, ela merece mais.... O amor é egoísta, mas não precisa ser, acho eu. - Disse Mônica convicta, como se dissesse isso a ela mesma várias ao dia.

- Você não acha que tá com depressão? - Perguntou Mike com inocência.

- A verdade é depressiva, eu não. - Respondeu.

Mike se impressionava com as falas de Mônica, mas não gostava de onde sua filosofia o levava.

- Você fala muito bem, é escritora?

- Atriz e poeta.... Enfim.

- Eu não quero parecer rude, mas....

- Pergunte – Disse Mônica, com uma voz de ordem.

- Por que você ainda tá viva? - Soltou Mike rápido demais.

Mônica riu.

- Minha família, eles.... Eles não aceitam minha escolha. Eu os entendo, eles só querem meu bem, só estão sendo bons pais, eu acho que faria o mesmo no lugar deles.

- E amigos? Você tem?

- Depende da sua definição de amigos.... Sempre tive quem escrevesse o nome no meu gesso quando quebrei meu braço, sabe?

- Sim! Quero dizer, não... Mas acho que sei do que está falando.

- Mas minha melhor amiga era ela.

- E a saudade?

- A saudade é meu câncerAliás, a saudade é pior que o câncer.

Houve uma longa pausa entre a fala de Mônica e a reações de Mike, ele parecia estar absorvendo tudo o que ela dizia e ver mais sanidade naquilo tudo do que ele almejava.

- Eu só.... – Recomeçou MônicaMe recuso a ser um número sabe?

- Não.

- Os doutores me deram 32% de chances de vida.

- Nossa! - Disse Mike triste e impressionado.

- De lá para cá é tudo o que eu sou! – Mônica, num descuido, deixou escorrer uma lágrima do olho esquerdo. - Eles nunca assumiriam, mas eu consigo ver o olhar de pena no olhar deles, eu consigo sentir o tempo se esvair e eu tô tão braba... Sabe, eu acho que quando a gente está perto da morte, a gente consegue alguns poderes.

- Mas.... – Tentou Mike.

- Eu poderia estar vendo o mar, eu poderia estar no cinema, eu poderia estar comendo um x bacon, eu poderia estar abraçando cachorrinhos.... Eu já me entreguei faz tempo, eu só queria aproveitar o resto de tempo que eu tenho. Eu não estou zangada com Deus ou nada, acho que.... Cada um é cada um.... Aliás, eu sou 32. Eu só sou 32.

Mônica havia notado que o garoto ao seu lado estava em silêncio demais.

- Que número você é, Mike? - Perguntou secando as lágrimas em seu rosto, tentando parecer educada.

- Eu.... Eu não posso deixá-lo – Sussurrou Mike.

- Oi? – Perguntou Mônica confusa

- Eu acabei de notar que não posso deixá-lo.

- Jorge?

- Sim! Ele perdeu a mulher dele para o câncer.... Eu.... Eu.... Não....

- Isso tudo é por ele, não é?

- Acho que sim! - Disse Mike se assustando ao assumir tal informação.

- E se ele tivesse outra pessoa? – Perguntou Mônica encostando sua cabeça.

- Depende.... Se eu tivesse 100% bem, essa pessoa iria se ver comigo.

- E se não?

- Aí eu estaria....

- Livre?

- Acho que sim!

- Vale a pena sofrer por alguém? – Perguntou Mônica.

Mike parou para pensar nas coisas que tinha vivido até ali.

- Vale!

Os dias e as hemodiálises foram passando e a amizade entre Mike e Mônica foi crescendo, devido ao quadro clínico dado, o estado de Mônica era mais grave que o de Mike, que apresentava sinais de melhora com o tempoQue bonito esse seu pingente – Disse Mike olhando para o pescoço de Mônica.

- Obrigada... Tem toda uma história? Você quer ouvir? - Perguntou Mônica se esforçando para manter-se animada.

- Só se você estiver morrendo de vontade de contar! - Disse Mike expondo leve pontas de sarcasmo em sua voz.

Mônica se ergueu como se estivesse ofendida com o que tivesse acabado de ouvir, encarou Mike seriamente e caiu na gargalhada. A morte tinha se tornado um tópico engraçado e confortável para os dois que lidavam com a proximidade dela todos os dias, doente ou não. Já haviam de ter discutido teorias sobre o céu, inferno, purgatório, poeira estelar e afins. Riam do que podia e riam por ter chorado mais cedo.

- Quando minha namorada me pediu em casamento...

Eu não sabia que ele tinha te pedid-

- Não corta minha história! - Disse Mônica – Enfim... Posso continuar? Obrigada! – Disse Mônica nervosa - Ela pichou meu rosto em um dos muros da cidade e esse muro ficava bem em frente a uma árvore volumosa... E toda vez que as pessoas se afastassem para ver meu rosto, existia a impressão perfeita de que as folhas da árvore era meu cabelo... Meu cabelo – Mônica parou de falar instantaneamente, logo após vieram os soluços – Ainda bem que ele não me viu assim.

Mike não gostava de demonstrar sinais de fraqueza para Mônica, mas sentiu que se fosse falar alguma coisa, cairia no choro também, então preferiu mostrar solidariedade com sua presença.

O tempo foi passando e o respeito que Mônica e Mike tinham por sobre a vida ia diminuindo cada vez mais, a impressão de que as coisas não poderia ficar piores causava nos dois uma certa imunidade a momentos tristes, cada situação uma piada, os comentários sarcásticos, ironias e piadas internas eram divididas entre amigos que pareciam ser de infância.

- Em momento algum eu quero que você pense em mim – Disse Mônica feliz.

- Mas...

- Não – Cortou ela – Convicta – Se você vier me visitar que venha mancando por causa do tanto que transou, ouviu bem? - Disse ela, com uma voz agora irreconhecível.

Mike tremia os queixos. - Me promete que estará aqui quando eu voltar? - Perguntou

- Espero que não! - Disse Mônica... - Mas se eu não estiver... - Disse causando um silêncio profundo - ...me procura no banheiro, vai ver eu fui dar uma cagada! - Disse séria, mantendo contato visual com Mike.

Mike riu e a abraçou forte. - Te amo tá? - E antes de ouvir resposta alguma Mike saiu do hospital para casar. Jorge e Mike casaram na praia, descalços, em meio a um calor atípico, ventava, havia champanhe, as pessoas choraram de emoção, Tom não compareceu, Mike pensou em Mônica mesmo sabendo que ela ficaria irritada. Uma semana longe, maravilhosa e doída.

Voltando a cidade Mike retornou ao hospital com uma rosa em mãos, porém encontrou a cadeira de Mônica vazia.

- Com licença, moça. – Disse a uma das enfermeiras que passava por ali onde notou que se lia Mel em seu uniforme – Mel... Vocês moveram a paciente Mônica? Ela costumava....

Mike não precisou ouvir nada, reconhecia no olhar das pessoas quando o assunto era morte.

- Me desculpas senhor, eu sinto muito... - Disse Mel em voz baixa passando a mão sobre seu ombro.

Mike ficara perplexo e também ficou perplexo com sua perplexidade. Como não havia de esperar tal coisa? Que esperança era essa que ele ousou a ter? Que se alastrou? Aliás ela era 32.

- O senhor se chama Mickey? – Perguntou a enfermeira cuja qual ele tinha pedido a informação.

- Sim...

- Mônica pediu para que lhe fosse entregue isso.

Mike agora tinha em suas mãos um cordão, cujo pingente era uma árvore de prata.

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