Pequenas brechas de um brocha

Um conto erótico de Aparecido Raimundo de Souza
Categoria: Heterossexual
Contém 1610 palavras
Data: 23/05/2016 23:34:31

Pequenas brechas de um brocha

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza

Especial para o site “CASA DOS CONTOS”

Zarinha tomei a liberdade de escrever esta carta, simplesmente pelo fato de não conseguir falar com você por telefone. Tampouco via WhatsApp. Engraçado, você dispõe de uma série de números, utiliza todas as ferramentas das operadoras, porém quando preciso que atenda, a merda cai na caixa postal ou dá fora de área. Mesmo norte, você não responde as minhas mensagens, tampouco aos torpedos. Por essa razão, terminando de enumerar o que trago entalado na garganta, postarei esta missiva via correio, com AR. Seguinte, amiga. Você disse à Manuela (sua amiguinha e garota de programa que me apresentou em São Paulo, no aeroporto de Congonhas, quando eu viajava para Belo Horizonte) que sou brocha. Não sei por qual motivo inventou essa história. Eu brocha? Fala sério! Essa conversa fiada foi só pelo fato de eu não ter caído de pau duro nela? Sou obrigado a comer uma boceta para provar que sou macho? Ou um cu? Ou os três? O fato de não ter fodido a Manuela, não sinaliza que eu tenha falhado na hora agá. Tenha sempre em mente, que cuique facere licet nisi qui jure prohibetur. Entendeu? Deixa pra lá. Quem mandou você ser burra... Quando você esteve aqui em casa e me deu a brecha, ou melhor, me abriu a brecha (foi em cima da máquina de lavar roupas, lembra?). Você gostou, amou, gemeu e gritou tanto que o casal que mora no apartamento de baixo mandou o porteiro tocar o interfone e repassar a reclamação em face da nossa transa hardcore. Seu entusiasmo se expandiu a picos tão altos que a sua ximbica se viu castigada como até então jamais havia sido. Palavras suas. A senhorita não se contentou em levar ferro uma vez só, voltou na noite seguinte e me abriu o cu, e depois, na outra, depois e depois e depois e depois... A máquina de lavar ficou meio grogue, como se tivesse bebido todas. E você, capenga. A farra foi tanta e tamanha, que conseguimos quebrar os pés da infeliz. Desse incidente você não falou, não é mesmo, Zarinha? Aposto que nem mencionou para sua coleguinha que, além de chupar meu pinto, de engolir o melado com leite condensado você me fez a gentileza de me tascar uma bela mordida na cabeça da pica. Desgraçada! Vagabunda!

***

Com a Manuela, não rolou como devia, foi diferente. Num primeiro momento, não bateu a magia do encanto, qual falena enfeitiçada. Não ouvi sinos tocando, nem borboletas voando pelo quarto. Quando abri a janela e olhei para o céu, não avistei uma miríade de estrelas como sardas brilhando na pele da noite. Não nego que ela, apesar de tchonga, é gostosa. Tem uma bundinha de fazer inveja a Dilma Rousseff no tempo em que assaltava banco e dava uma de guerrilheira. O problema é que a Manuela não chupa. Limitou a língua a duas ou três sorvidas insossas e parou ai. O trato que eu esperava a mamada que eu carecia receber ficou na saudade. Você deveria ter falado para ela, que eu tenho, na ponta do cacete, uma espécie de touch screen, como você mesma apelidou (ao dar aquele ajuste inesquecível comparando minha piroca a esses aparelhos ultramodernos de smartphones e tablets). Apesar dos pesares, Zarinha, inseri no contexto umas boas cutucadas no traseiro dela, com uma vela de sete dias, que você sabe, tenho em estoque para acender todas as segundas-feiras as dezoito em ponto para o Anjo da Guarda. Findo esse ritual, fomos tomar uma chuveirada. Achei estranho ela se posicionar de cócoras, dentro da banheira, como se tivesse se livrando de uma enxurrada de porra retardatária não desgrudada da foda anterior antes de aterrissar na minha beira. Minutos mais tarde, nos acomodamos na mesa da cozinha para saborearmos o jantar preparado pela Ana (minha empregada) e, findo ele, nos sentamos na sala e fomos ver um pouco de televisão. Zarinha, você acredita que ela dormiu logo em seguida? Dormiu e babou? Puta que pariu! Sem contar nos peidos fedorentos que soltou... Você pelo menos não vexameou a esse ponto, excetuando a mordida no meu pênis. Quando a despertei e subimos para o quarto, Manuela, num ato de puro vandalismo intelectual, se insultou a si própria diante do espelho do guarda-roupa, fazendo caretas e mais caretas, como se fosse uma doidivanas fugidia de um manicômio de periferia. De pronto, tive ímpetos de pular nela e arranhar a sua cara de eterna Barbie antes de completar os vinte e oito anos. Todavia, me contive. Manuela poderia achar que eu havia pirado e sair gritando que eu a estava violentando contra a vontade.

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Deixa contar a última, sua viciada em morder pau. Fiz sexo com uma das empregadas aqui do prédio. A Ticiana. Aquela morena clara que varria o corredor e você achou uma gracinha. Borralheira, extremamente cenerentola, chegou aqui, se livrou daquele uniforme barato que o condomínio comprou na Feira de Acarí e, de banho tomado, cabelos champuzados, cangote perfumado, fez morada em minha rede armada na varanda. Castiguei seus baixos fudetórios que, depois da trepada ficaram em petição de miséria. Com a sua ausência, estava me sentindo só e a beldadezinha da vassoura veio em boa hora. Ultimamente demos para tomar banho juntos. Depois ficamos nos bolinando, até tarde, vendo filmes pornôs. Antes de você, eu tinha mania de não deixar ninguém se apoderar do controle remoto da televisão. Hoje estou mudado. Completamente! Graças a imensurável ternura dessa gata que me contagiou. De verdade, Zarinha, me curei. Parei, por exemplo, com aquela loucura encubada de enfiar o controle dentro do forno de micro-ondas. Graças a Deus! E quando eu fazia isso, não havia santo que achasse, ainda que lhe prometesse um altar novo de frente para São Jorge e seu dragão soltando fogo pelas ventas. Às vezes, Zarinha, eu mesmo deslembrava de onde tinha enfiado o aparelho. Confesso, em contrapartida, que uma vez, imagine, que situação, cismei em procurar a porra do controle no apartamento da minha vizinha. O marido dela chegou na hora e quase me atirou pela janela. Mas hoje não. Se o controle estiver em minhas mãos, não paro em um único canal, ao contrario, quero ver todos ao mesmo tempo. Essa disfunção exótica de ficar surfando, amolece os grandes lábios das meninas dos meus olhos, até chegarem a patamares insondáveis, o que, de contrapeso me levou (e você sabe disso), por várias vezes, ao divã de um analista em bodes expiatórios. Eu era o bode, claro. O especialista, todavia, não deu solução ao problema, acalmou um pouco meus ânimos com relação a compreender que as cuecas não vão sozinhas para a gaveta da cômoda, nem as camisas e as calças saem de lá voando. O filho da puta só fez comer meu dinheiro. Graças as interversões psicossomáticas de Ticiane, estou curado. Penso até em arranjar uns filhotinhos maneiros com ela pra chamar de meus bebês. Porém, uma coisa me deixa cabreiro. Já pensou se as crianças nascessem com cara de vassoura ou de rodo, ou pior, de mangueira? Tirando isso, o fato de você ter mordido meu pau... Desgraçada, vagabunda. Graças a você o meu alter ego entra em parafuso toda vez que me ponho a pensar em Perseu que cortou a cabeça da Medusa e enfiou o resto do corpo na bunda magra do Lula.

***

Descobri que apesar de certas interferências metafísicas, consigo invocar meu espírito de porco sem precisar recorrer a Chico Xavier. Conclui, igualmente, que a cama onde nos deitamos todas as noites, molda nosso esqueleto cansado pela maneira como nos posicionamos, assim como a bacia da privada descansa as mazelas da bunda pelos modos como nos acomodamos no vaso na hora de expelirmos uma suaviloquente cagada. Até a Carla, minha ex-namorada me mandar plantar batatas no asfalto quente, afirmava, categoricamente, que lavar as louças sujas da pia provocava no escroto, alto grau de impotência. Hoje não afirmo, nem comprovo. Ao contrario, descobri que subir e descer escadas, principalmente subir, com uma calcinha embebida em sangue de menstruação de moça virgem, numa das mãos, contribui para que a ejaculação não seja precoce.

***

Palocci, mas não é. Exercitar regularmente essa mania de subir e descer escadas, de preferência sem corrimão, faz com que o sangue efervesça e as funções sexuais anêmicas ou avariadas, se tornem mais ativas e perfeitas. Depois de uma subida num prédio de quarenta andares, qualquer homem, mesmo na minha idade, consegue perfeitamente bater três punhetinhas seguidas, sem suar os vãos dos dedos dos pés. Lado outro, é um exercício porreta para tirar da mente aquela ideia absurda de que o caralho emagrecerá ou se recolherá em cima do saco, em face dos esforços repetitivos por conta dos pentelhos molhados depois de uma foda realizada às carreiras.

***

Zarinha, espero que você (se por algum motivo novo resolver aparecer), não venha com aquele pensamento antigo de trepar no elevador (encheram tudo com câmeras, tem olho eletrônico vigiando a si mesmo). Qualquer indecência o síndico aplica uma multa de deixar o sujeito com os fundos do bolso a ver navios. Mesmo passo, morder meu pau, linda nem por brincadeira. Se quiser me mandar uma comida novinha, uma putinha dessas que você arrebanha na Praça da Sé, fique a vontade. Só me avise, pois a Ticiane praticamente mudou aqui para meu apê de mala e cuia. Esse convite é extensivo a sua amiguinha Manuela. Embora peide, durma, ronque e babe, quebra o galho, na hora da fome negra. Ainda que seu corpo seja metade queijo suíço, outra metade calabresa é passível de consumo.

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 63 anos é jornalista.

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