MESA PRA TRÊS 1ª PARTE CAP 14 - ENTRA

Um conto erótico de Cookie
Categoria: Homossexual
Contém 2160 palavras
Data: 31/05/2016 15:40:50

1ª PARTE

CAPÍTULO 14

ENTRAGabriel estava na rodoviária com as passagens internacionais em sua mão, chovia forte lá fora e no zíper da sua mala havia um chaveiro com a Torre Eiffel. Ele estava olhando para as diversas telas daquele lugar chorando, olhava para os lados à espera de alguém, mas todo mundo já estava ali.

- Filho, você está bem? – Preocupada, sua mãe encostou a mão no seu ombro.

- Ele não vem? Ele não vem? – Gabriel estava suando e de repente reparou que estava usando a mesma roupa com a qual foi para o segundo encontro com Jorge, algo ardia e vibrava em seu bolso

- Quem não vem filho? – Perguntou seu pai, olhando para ele.

- Pizza! Quem quer Pizza? – Gritava Diego vestindo um uniforme de piloto lá trás!

- Cadê meu celular? Cadê meu celular? – Gabriel olhava para os lados tentando sentir algum volume no bolso de trás, achou em seu casaco de couro marrom, havia recebido uma mensagem na tela do celular que não era dele “Mentiroso! ” – O celular era de Jorge, Gabriel ajoelhou no meio do aeroporto, onde agora não havia mais ninguém, Rod Stewart começava a cantar. A chuva tinha parado e ele ouviu alguém chamando seu nome, quando ergueu a cabeça à procura do dono da voz conhecida, Gabriel acordou na cama suado.

- Que merda de sonho foi esse? – Perguntou para si mesmo, tentando recuperar o fôlego.

Ele tentou sentir o celular embaixo do seu travesseiro, achou e visualizou duas ligações perdidas da sua mãe, numa respiração aliviada ele fechou os olhos, inalou um pouco de ar lentamente, virou de costas e repetiu em voz alta para si. – Eu já tô indo mãe!

Gabriel nunca admitiria, mas Jorge era a primeira coisa que passava na cabeça dele assim que acordava. Ele sabia o porquê, ele estava exausto do motivo, ele estava cansado de si mesmo, a mentira que ele estava carregando parecia ganhar peso a cada hora que passava, ele teria que contar, ele não estava mais cabendo dentro dele. Gabriel, não fazia ideia de como iria se sentir depois da verdade “Vai ver ele nem liga”, dizia para si mesmo, esperando que não fosse verdade. Estava decidido, contaria hoje, o que acontecesse a partir dali era consequência, era inevitável, sabia que não, mas esperava que fosse indolor.

Em outro lado da cidade, Jorge já estava acordado perpetrava duas horas, estava passeando no parque com Aaron, seu Labrador preto, quando resolveu dar uma parada. Não seria difícil tirar dele a verdade de que Gabriel era a primeira coisa que se passava em sua cabeça. Ele se achava muito velho para mentir para si mesmo, afinal se conhecia bem, tinha decidido anos atrás a ser gentil consigo mesmo. Ele poderia mentir para Gabriel por anos sem o mínimo problema, pois estava feliz com aquela vida. Os últimos anos tinham mostrado à Jorge que fazer planos para o futuro era perca de tempo, ele havia aprendido a sua lição. Sentava agora na grama verde, limpa e seca do parque, enquanto via Aaron deitar de barriga para cima na sombra de uma árvore florida.

A metros dali ele via um casal de idosos sentado no banco jogando comida para os pombos, eles cochichavam alguma coisa no ouvido do outro e riam. Jorge achou graça da situação e riu. Viu que eles estavam usando uma aliança brilhante nos dedos da mão esquerda, o homem usava uma camiseta azul bebê e apoiava uma bengala no joelho. A mulher tinha uma espécie de blusa de lã por cima da saia, notava-se de longe que em seu colo havia uma grande quantidade de farelo. Os pombos se aproximavam, somando cada vez mais.

Jorge olhou para sua mão e fez uma cara pensativa. Ele sabia o que queria, ele já admitira para si mesmo, “Que se dane! Hoje eu conto para o Gabriel, se ele fugir, eu vou entender”, Aaron voltou e infestou Jorge de saliva. Jorge pouco se importou com aquilo, já estava acostumado e sabia que podia fazer nada para evitar, pescou seu celular do bolso, naturalmente, discou e esperou.

- Gabriel?

- Eu mesmo – respondeu Gabriel do outro lado.

- Eu queri...

- Eu preciso falar com você, te contar uma coisa – cortou Gabriel

- Me contar alguma coisa? - Perguntou Jorge surpreso.

- Isso, mas você dizia alguma coisa? - Disparou Gabriel.

- Sim, eu ia dizer que eu também preciso te contar uma coisa... - Continuou Jorge tentando parecer tranquilo enquanto falava e pensava ao mesmo tempo no que Gabriel teria a lhe dizer.

- Ah, que barulho é esse? - Perguntou Gabriel estranhando o som.

- Aaron está me lambendo. – Respondeu Jorge entre risos e interjeições de um pequeno desespero.

- Ah! Sim, é... Não pode me contar pelo celular?

- Posso... Mas eu não quero! - Respondeu Jorge em diferendes tonalidades de sílabas.

- Ok, eu deveria me preocupar? – Perguntou Gabriel

- Eu deveria? – Perguntou Jorge, provocando um silêncio na linha, fazendo com que as investidas de saliva de Aaron se tornassem mais altas.

- Vamos fazer assim, vamos comer algo e a gente fala... - Propôs Jorge.

- Isso... - Concordou Gabriel automaticamente sem pensar antes.

- Mas hoje me surgiu um imprevisto e não vai dar... Vamos sair amanhã?

- Amanhã? hm... - Gabriel estava tão perdido em seus pensamentos que lh era impossível calcular os dias.

- Algum problema? - Reforçou Jorge.

- Eu meio que estava com pressa – Disse Gabriel sentindo empatia por si mesmo.

- Esse compromisso é – Gabriel ouviu Jorge respirar calmamente pelo celular - ...eu não esper... Enfim...

- Não, tudo bem... – Cortou Gabriel – Eu posso esperar, não tem problema... Amanhã então, ok!

- Pode ser – concordou Jorge – Você tem algum lugar em mente?

- Eu não sei porque, mas eu tô com uma vontade de comer pizza.

- Pizza? Hum, eu poderia comer pizza. - Disse Jorge lembrando que estava com fome.

- Fechou então?

- Em que pizzaria a gente vai?

- Eu sei de uma muito boa, passo aí que horas?!

- Pode ser às...

- Às 20h...

- Às 20h?

- Sim, pode ser?

- Claro...

- Tudo bem, eu...

- A gente se vê?

- Às 20h então...

- Exatamente...

- É... – Houve uma pausa no ar, como se faltasse coragem de dizer algo pelo telefone, essa covardia surgiu de ambos os lados.

- Sim,

- Tchau então.

- Tchau Tchau.

Agora não tinha mais volta, pensou Jorge, o primeiro passo havia sido dado. Jorge olhou para o banco novamente e reparou que nem o casal de velhinhos e nem os pombos estavam mais lá, olhou para o céu à procura das nuvens e reparou grandes nuvens cinzas se aproximando.

“Uma tempestade está vindo” - Pensou, e ele não se referia ao tempo.

Gabriel ensaiou suas falas no espelho, se corrigiu, mudou sua postura e tentou alegar da melhor maneira falando para o reflexo, ali naquela mesma posição se imaginou recebendo as mais variadas formas de recepção para a verdade que escondia, se divertia e sofria consigo mesmo. Seu remédio estava em dia, não tinha com o que se preocupar.

O tempo passava rápido e devagar demais para si, ele sofria de ansiedade, inventava coisas para fazer e não completava nada, esqueceu que sentia fome, sede, queria sair, ele estava se implodindo, frequentemente se perguntava o porquê estava fazendo o que estava fazendo, não encontrava resposta alguma, se flagrava pensando por tempo demais no que estaria fazendo se não tivesse ido aquela balada naquela noite e teve para si que foi a melhor e pior decisão a ser feita.

Repensava toda a existência do mundo entre duas refeições.

- E se? – Gabriel passou duas horas tomando banho viajando nas alienadas possibilidades de ficar no Brasil, depois de levar Jorge pra Europa, depois ria de si mesmo avaliando quão grotesco era esse tipo de pensamento. Sentia que estava a meses com Jorge e não semanas. Repensou a felicidade e temeu a conclusão que chegou. “

“Jorge. Jorge. Jorge. Que nome é esse?”

Ele passou a tarde toda se incomodando e tentando tirar aquele pensamento da cabeça, jogou jogos online pensando na voz rouca de Jorge o consolando, assistiu dois filmes inteiros refletindo no que diria quando fosse embora e encarou o celular por mais tempo que poderia dizer à espera de que qualquer coisa acontecesse, ele estava em qualquer lugar, exceto ali. Ao final do filme, ele não saberia dizer o que tinha acabado de dizer.

Gabriel tinha todo tipo de neurose possível antes de dormir e dormiu mesmo assim. Não sonhou e se sonhou não lembrava, mas acordou uma hora depois mais incomodado que o normal!

- Foda-se Jorge, eu vou falar para ele agora. – Gabriel alcançou seu celular e só enquanto digitava o número que percebeu como estava escuro lá fora. Gabriel estava tão zangado consigo e com tudo mais que nem saberia direito o que dizer se Jorge atendesse o telefone, o que não aconteceu.

Ele teria que dar um jeito de ocupar a sua mente, talvez devesse sair com alguns amigos, pensou, mas isso não o distrairia por muito tempo, na verdade isso não o distrairia de forma alguma, logo se zangou novamente por se contornar tão dependente de algo e lhe entristecia ter se tornado escravo de uma situação, Gabriel insistiu na ligação mais vezes e só depois da décima tentativa que suas conspirações mais violentas lhe inundaram a mente.

“Vai ver ele morreu!”

“Vai ver ele foi sequestrado”

“Vai ver ele só está tomando banho”

“Vai ver ele está com outro”

Esse último pensament o fez rir.

Gabriel levou dois momentos até ter de estudar outra paranoia, não sabia como se sentia sobre isso, mas preferiria saber de Jorge, morto, sequestrado e de banho tomado do que com outro, se flagrou com ciúmes e sua raiva de si só aumentou. Ele se levantou da cama, que ainda estava enxurrada de roupas e começou a andar em círculos com as mãos por sobre a cabeça pensando no que fazer.

Tentou descobrir porque não sabia onde era a casa de Jorge, pensou no porquê Jorge nunca o ter levado lá e chegou à conclusão nenhuma, logo desistiu totalmente do telefone, seu problema tinha acabado de ser substituído por um maior. - Cadê Jorge? – Reuniu na sua mente todas as informações sobre o que Jorge o tinha dito sobre o seu compromisso hoje e percebeu que não tinha informação alguma.

Ele não sabia onde Jorge morava, - Por que não sei? - Sua cabeça funcionava de maneira estranha às vezes e ter um ponto de vista diferente, o ajudava a conseguir o que queria, certa vez numa dessas transas públicas que tiveram, lembrou que Jorge deixara cair alguns cartões por entre a grama, Gabriel então os recolheu ficando de devolver mais tarde – Devolvi ou não devolvi? Maldita caipirinha! – Uma espécie de caça ao tesouro começou ali naquele quarto, Gabriel começou a revirar todos os bolsos de suas calças, um a um, numa violência que quem o visse naquela situação teria certo receio.

Dentro da calça marrom, mini bolso esquerdo dentro de um bolso grande, em um dos cartões amassados e quase ilegível que estava ali, um endereço.

Novas conspirações, uma mais absurda que a outra, simplesmente brotavam dentro da cabeça de Gabriel, pincipalmente quando ele notou que Jorge morava a dez minutos dali. “Porquês” de toda raiz o visitaram nos últimos dez minutos, sentia que piscava mais que o normal, sabia que seu coração não batia naquela velocidade sempre e antes de começar a cogitar a possibilidade de ir até lá, ele já tinha colocado a roupa e descido a procura de um táxi.

10 minutos pareciam 10 horas, talvez se ele fosse a pé teria tempo de enlouquecer mesmo, ele estava ali em frente ao endereço do cartão, a casa parecia bonita, amarela e com plantas em frente, um quintal médio e sem muros, somente arbustos pequenos, havia uma espécie de miniárea com piso xadrez e um caminho de pedras que direcionava do quintal até os dois degraus a porta.

- Jorge fez isso? – Gabriel achou estranho, pois aquilo não parecia Jorge.

- Parece casa de novela – Pensou Gabriel – Havia vida ali, e as luzes do interior da casa estavam acesas. Não havia portão para interfone, nem campainha, ele teria que dar os seus vinte passos até a porta da frente e bater, isso lhe parecia tão habitual.

A cada passo que dava, sentia sua racionalidade voltar aos poucos – Afinal, o que eu estou fazendo aqui? – Se perguntava sem parar de andar – Agora já é tarde – Sussurrava para si mesmo – E se não for essa a casa? – O que eu vou dizer? Isso é música? – Gabriel ouviu um som que vinha dali, parecia ser dançante e moderno – Não conseguia imaginar Jorge ouvindo aquela música – Isso é Valerie da Amy? – Antes de notar, ele estava batendo na porta. Não houve resultado nenhum, mais três batidas dessa vez – Reparou que a música parou de tocar e ouviu os passos de alguém se aproximando. Um rapaz loiro, alto e forte de olhos azuis abriu a porta juntamente com um sorriso:

- Olá – Disse, demonstrando uma surpresa e ao mesmo tempo felicidade – Eu sou Mike, você deve ser Gabriel, o rapaz que meu marido está comendo... A gente estava falando de você agora! Entra!

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