Marcado por Adair

Um conto erótico de Stocker
Categoria: Homossexual
Contém 3406 palavras
Data: 16/03/2016 00:08:46
Última revisão: 23/03/2016 21:35:47

Esta é a continuação do conto “Um outro Adair” e de outros anteriores a ele.

***

Interpretei a reação de Adair, pressionando meu cuzinho quando Garcia começou a acariciar minha perna, como uma confirmação de que ele estava a par do que ocorria. Permaneci como estava, com o corpo nu encostado em Adair e a cabeça apoiada em seu peito.

– Já comeu ele hoje?

A inflexão da voz de Garcia não era de sacanagem, muito menos grosseira. Ele falava num tom baixo, quase que carinhoso.

– Já. Mais cedo. Foi só o primeiro tempo; daqui a pouco vem o segundo – respondeu Adair, me fazendo um cafuné. – Você não se contenta só com uma, né, meu doce?

Garcia não tinha um rosto especialmente atraente, mas, já além dos 60 anos, era o que se chama de um “coroa enxuto”. Alto, esbelto, chamava a atenção pelo cabelo grisalho sempre num bom corte e um espesso bigode igualmente bem tratado. Mantinha os ombros largos sempre eretos, numa postura que não denunciava o peso dos anos e destacava seu tórax, de onde brotavam pelos brancos que, mesmo aparados, formavam uma mata densa. Ainda que só de toalha, era uma figura elegante.

Tinha um aspecto especialmente viril – embora, diferentemente de Adair, procurasse ser discreto na expressão de sua sexualidade. Adair havia me contado que sua mulher tentara em vão mantê-lo “no cabresto” durante todo o casamento. Ele era apaixonado por ela e se manteve assim até sua morte, após mais de vinte anos de casamento. Isso não o impedia, entretanto, de procurar outras mulheres – sem jamais ter uma amante fixa. Olhando-o hoje, mesmo já idoso, dava para imaginar o trabalho que ele devia ter dado a ela: era ainda um homem sensual, e percebia-se que tinha plena consciência disso.

Garcia guardava um tom comedido que lhe imprimia um certo refinamento mesmo quando comia com os olhos alguém que acabava de ver e lhe despertasse o interesse. Fora assim comigo, quando me olhou de cima a baixo na primeira vez em que fui encontrar Adair. Não fizera o exame de forma ostensiva, mas sem esconder que avaliava meu corpo – e o vi agir dessa forma inúmeras vezes. Era simpático e nada agressivo, mas, talvez até involuntariamente, seu olhar parecia sempre avisar ao interlocutor que não se deixasse levar por tanta educação, pois o caralho que havia entre as suas pernas estava mais do que presente.

É claro que aquele ambiente de açougue que caracterizava a sauna salientava esse viés lascivo. Mas seu histórico – que Adair mencionara várias vezes na sua presença, sem que ele o negasse (mas, polidamente, também sem se gabar disso) – confirmava essa libido que escorregava por entre as boas maneiras. Se em sua mais ou menos recente vida gay ele podia ser menos cauteloso por estar numa sauna com tantos corpos masculinos mal cobertos por toalhas, seu passado heterossexual revelava que ele não precisava de um ambiente tão liberal para se fazer desejar.

– Ele é como eu gosto – disse para Adair, continuando a me alisar com um certo pudor.

– Nem tanto... Nem adianta pegar que não endurece – avisou Adair, jocoso, e voltou-se para mim: – O Garcia gosta de pegar no pau duro dos caras quando está metendo neles. Sente mais tesão.

Garcia sorriu, sem se alterar.

– Você já tinha me dito que ele é assim. No caso dele, não faz diferença. Ele é tão gostoso... Tão passivo, mas ao mesmo tempo masculino.

Fez uma pausa.

– É essa mistura que te enfeitiçou, Adair.

Parecia não saber (e é lógico que sabia) que o enfeitiçado da história era eu, desde que vira aquela pica grossa no banheiro do restaurante.

– Ele não precisa de pau duro pra gente sentir que está comendo um homem – completou.

Para minha surpresa, curvou-se lentamente e estendeu o braço, envolvendo meu pinto e o saco com uma mão. Adair não se perturbou.

– Aqui eu não sinto um homem – continuou me encobrindo com a mão, após uma leve pressão para enfatizar ao que se referia. – Nem na pele macia dessa perna eu sinto um homem. E isso é que é o gostoso, porque ao mesmo tempo ele nem teria como se passar por uma mulher.

– Nem pretendo – deixei escapar, por reflexo, com voz firme.

Os dois riram.

– Viu? Foi um macho que falou agora.

– É. Um macho... – retrucou Adair, reticente.

Completou, após um intervalo:

– Um macho mais pra machinho, né?

Todos rimos. O ambiente estava descontraído. Adair não escondia a satisfação por ver Garcia mais vivaz.

– Aconteceu alguma coisa que eu não tô sabendo, Garcia?

– Por que?

– Você parece bem animado.

– Eu tô sempre animado, ora.

Sua mão ainda envolvia meu pinto e meus ovinhos. Massageava, parecendo curtir justamente o fato de eles não se alterarem com seu estímulo. Se aumentasse a força e os movimentos fossem mais rápidos, estaria me triturando. Mas o fazia vagarosamente. Sua entonação adotou um tom mais sóbrio:

– Nós nunca tivemos problemas em curtir o mesmo cara, não é?

Adair deve ter feito uma expressão de concordância mas, na posição em que estava, eu não tinha como ver seu rosto. Os dois ficaram num silêncio breve. Foi Adair quem o cortou:

– Nem teríamos por que ter agora.

Fez menção de suspender o corpo e eu levantei-me de seu tórax. Sentou-se. Eu me reacomodei ao seu lado.

– Eu queria ver ele sendo fudido por você.

– Agora?

– Tá cansado?

Adair riu. Passou o braço por trás dos meus ombros, puxando-me de leve.

– Você sabe que pra isso eu nunca tô cansado... – e me deu um beijinho.

– Eu sempre tive vontade de ver vocês dois.

Adair, com um sorriso largo estampado para ele, levantou-se, tirou a toalha e ficou de pé sobre o colchão. Mandou que eu o chupasse, para que o pau crescesse. Ajoelhei prontamente e o atendi. Garcia foi até a porta e a fechou com o trinco. Retornou e ficou sentado onde estava, apreciando. Quando a ereção se consolidou, eu mesmo, sem que Adair me orientasse, peguei uma camisinha, abri o envelope e a entreguei. Vestiu, daquele jeito que me excitava tanto, e me guiou, posicionando-me de quatro. Empinou minha bunda com as mãos, de forma que ela ficasse de frente para Garcia. Começou a pincelar meu cuzinho com o cacete, enquanto cuidadosamente apoiava os braços sobre meus ombros.

– Vai dar pra ver daí, Garcia? – perguntou, com a naturalidade de quem quer saber se a água já estava fervendo para poder jogar o macarrão.

O outro deve ter concordado. Senti seu dedo molhar meu botão com um pouco de saliva. Encostou a cabeça nele e o pressionou moderadamente, guardando a posição ao mesmo tempo em que montava sobre meu corpo e, então, o cravou sem pressa, até que o saco encostasse em mim. Senti sua respiração em meu ouvido e logo a orelha foi tomada por sua boca. Ele se movimentava num ritmo lento, como me degustando.

Puxou o membro quase até fazê-lo sair. Empurrou de novo, vagarosamente, até o fim. Ouvi Garcia murmurar um “caralho...”. Não sei se Adair estava querendo excitar a mim ou apenas o amigo, mas eu estava adorando. Repetiu. Eu conseguia sentir todo o seu comprimento, associado ao alargamento que a grossura do membro causava a cada investida. Adair puxou meu corpo pra trás, ao mesmo tempo em que afundou o cacete o mais que pôde, e se manteve ali.

– Vem mais pro lado que você vê melhor – disse para Garcia.

Agora, ele tirava tudo, expondo minha cuceta, e depois metia novamente.

– Uma moeda de cinquenta centavos... – comentou Garcia, provavelmente se referindo ao diâmetro que meu buraco assumia a cada vez que Adair tirava tudo, pra depois meter de novo.

Eu tentava olhar para Garcia, mas Adair agora mantinha minha cabeça sob controle, com as mãos. Ele tirava tudo, afastava um pouco o membro – provavelmente para que o amigo pudesse admirar melhor o resultado – e voltava a enfiar. Faziam comentários esparsos um para o outro, enquanto eu não reprimia meus gemidos.

– Caralho, isso é o mais foda pra eles – Garcia disse, com uma voz quase que de deslumbramento, referindo-se ao óbvio impacto que eu sentia a cada vez que Adair reencaixava o membro em mim.

Então, o ritmo foi se intensificando. Agora, ele já não mais tirava e reenfiava com vagar, mas em tiros certeiros. Meu cu, arrombado pela sequência de tantas entradas e saídas, não oferecia resistência. Eu estava em êxtase.

– Tá vendo que puto...? – ouvi, da voz ofegante do meu macho.

Ele me fudia a valer. Nem sei se já se importava com Garcia – de cujo corpo eu sentia o calor bem próximo a mim. Então meus gemidos também se intensificaram, anunciando um orgasmo logo confirmado para Adair pelos espasmos do meu reto.

– Ele tá gozando – disse, num tom que denunciava seu sorriso largo para Garcia.

Até hoje, ao me lembrar, eu consigo ouvir aquela sua entonação, orgulhoso e feliz por me fazer tão feliz com seu pau.

Ele se manteve em ação até perceber que meu gozo cessava, e saiu de cima de mim antes que eu viesse a emendar outro. Em seguida, senti que me arreganhava usando o polegar e o indicador, mostrando o resultado para Garcia, que comentou, exultante:

– Todo inchado...

Adair pegou a toalha, branca como todas as fornecidas pela sauna, e a passou delicadamente na cuceta.

– Viu? Limpinho. Ele é sempre assim, limpinho – disse, ainda sorridente, provavelmente mostrando a toalha para Garcia.

Senti carinhos percorrendo minas bordinhas. Mas não era Adair.

– Posso? É tão perfeito...

– E olha que tá inchado, como você disse.

– Mas é bonito, mesmo assim. Tão delicado, e ao mesmo tempo tão resistente.

– É como você disse. Ele é macho – acrescentou Adair. – O cu delicado de um passivo, mas resistente como é um macho.

Eu nunca tinha me visto dessa forma.

Houve um silêncio, enquanto os dedos de Garcia continuavam a acariciar minha cuceta. Então, eu senti nela sua língua, muito molhada. Depois de um bom tempo, ela percorreu até o alto do meu rego e, depois de um beijinho, desceu vagarosamente, enquanto suas mãos tomavam minhas ancas. Parou no botão, o explorou um pouco mais e desceu, me orientando pela cintura para que eu erguesse um pouco mais a bunda. Alcançou o períneo, quase chegando ao meu saco.

Ali, passeou o quanto quis com a ponta da língua, que então voltou caprichosamente até meu botão e começou a pressioná-lo, em movimentos gradativos. Deixou que por um bom tempo eu me perdesse em suspiros chorosos. Senti então que suas mãos queriam rotacionar meus quadris e aceitei, ficando agora deitado de frente pra ele. Escalou meu corpo até que nossos lábios se tocassem. Penetrou a língua, me obrigando a sentir cada centímetro até que ela me ocupasse toda a boca.

Não senti seu peso, porque ele se mantinha erguido pelos braços flexionados. Minha pele se arrepiava toda, enquanto ele marcava sua descida com beijinhos: o pescoço, meu colo, um mamilo, depois outro, e foi descendo perigosamente pelo abdômen. Meu corpo retesou. Ele percebeu. Subiu de novo e alcançou minha orelha:

– Não te preocupa. Não quero nada de você que você não possa me dar.

Adair estava próximo, mas eu mal podia vê-lo. Garcia desceu então mais rápido e senti seu hálito em meu pinto. Ele o beijou uma, duas, três vezes, em movimentos muito suaves. E foi assim também que encostou a língua. Eu lutava para não ficar tenso, ou pelo menos para não demonstrar a tensão. Não estava habituado a que tocassem ali.

Mas sua língua foi percorrendo, como que tateando, depois varrendo, lambendo em movimentos ora curtos, ora mais longos. Eu me entreguei, e entreguei esta entrega em meus frêmitos – de início contidos, depois cada vez mais francos. Eu gostava daquilo, e ele se esmerava em me dar o que eu agora gostava.

Parou e compreendi que levantava a cabeça. Abri os olhos e alcancei os seus. Estavam marejados. Estranhei. Mas eles me encaravam assim, sem receio. Parecia emocionado, não sei. Esboçou um sorriso.

Voltou a trabalhar a língua no meu pinto, enquanto suas mãos acariciavam minhas coxas, meus flancos, meus braços. Eu não temia mais nada; não estava mais com medo do que ele fazia.

– Você é macio... Todo macio... – sussurrou, mais como se falasse pra si mesmo do que propriamente pra mim.

Virou o rosto pro lado. Fez uma expressão como de quem pede consentimento, obviamente para Adair – que eu continuava sem poder ver direito. Então, pela primeira vez, seu pau tocou em meu corpo. Pressionava a entrada da cuceta.

– Mas sem gozar dentro – ouvi Adair dizer.

Então, entrou. Senti que me preencheu bem – talvez não fosse grande, mas com certeza o que tinha entre as pernas não era nada desprezível. Começou a mover-se. Explorou pra frente e pra trás. Depois pros lados, como se quisesse aproveitar toda a minha dilatação. Então, aumentava o ritmo das estocadas, para diminuí-lo em seguida. Comia com gosto.

Senti o cacete de Adair roçar meus lábios e o aceitei. Abri os olhos. Sua expressão era séria, mas não grave. Depois, sustentando minha cabeça com as mãos, enfiou o que pôde em minha boca. Ele a ocupava quase inteira, sobrando pouca margem de manobra para eu agradá-lo com a língua. Mas eu já aprendera a lidar com todo aquele volume e me saía bem.

Eu sempre terminava me sentindo carente quando o mamava. Ele me permitia fazê-lo por algum tempo, mas me interrompia para encaixar o cacete no cuzinho. Gostava de meter mais do que de qualquer outra coisa. “Foda pra mim é pau no cu”, receitava.

Dessa vez, não foi diferente. Ele estava ávido pra meter. Mas, na impossibilidade de se acomodar na cuceta, começou a fuder minha boca, interrompendo aquela mamada tão gostosa. A posição não era das mais favoráveis, mas, sem qualquer cerimônia, ele manejava minha cabeça para obter o maior conforto possível. Eu estava sendo comido por Garcia no cuzinho e por Adair na boca, sem qualquer controle sobre nenhum dos dois. Não preciso dizer o quanto aquilo me excitou.

Então, Garcia deu uma metida mais funda e imediatamente arrancou seu cacete de dentro de mim. Senti o líquido quente se espalhar sobre meu pinto, meu saco, alguns jatos na altura do umbigo. Ele deu um urro abafado, enquanto eu percebia que esfregava seu cacete para espalhar a porra.

Não me contive e, atrapalhando os movimentos de Adair, comecei a sugá-lo o mais que pude, Estava fora de mim. Ele foi tomado de surpresa. Eu gemia, abafado por aquela mamada quase em desespero. Sentia sobre o meu pinto lambuzado de esperma o peso do caralho de Garcia, mas ele acabou por retirá-lo. Levei a mão até lá, mesmo com dificuldade, e espalhava aquela porra fresca sobre a pele.

Adair retraiu o corpo, tentando afastar-se, mas imediatamente eu me estiquei para alcançá-lo. Quase num sussurro, me mandou parar, para evitar o gozo. Não respeitei. Agora, mesmo sem o apoio de suas mãos, minha cabeça investia contra ele para buscar o máximo possível daquele cacete que eu tanto gostava. Ele avisou mais alto que iria gozar e deu um impulso pra trás, mas minhas mãos, agarradas a seu corpo, me ajudaram a manter o caralho na boca.

Senti o gosto de um fiozinho de esperma.

Ele me repeliu, sem conter a brutalidade, e seu pau deixou minha boca. Meus olhos procuraram os seus, suplicando pra que me desse o que eu tanto queria. Ele devolveu o olhar, mas muito sério. Então, me agarrou, girou meu corpo e, me pondo meio de bruços, meio de quatro, me montou.

– É isso? É isso que você quer? É porra que você quer? É porra? – gritava, e repetiu isso cravando de uma só vez em mim, pele junto a pele.

– Ei, Adair, péra, calma, você...

– Não te mete, não te mete nisso não, Garcia! – bradou, interrompendo o outro.

Ele estava furioso. Nunca o vira assim e me assustava. O caralho parecia querer me partir em dois.

– Eu te protejo e... É isso? É porra? É isso que você quer? É porra?

Repetia incessantemente essas frases, entrecortando-as cheio de raiva, enquanto me sodomizava sem pena. Então, começou a explodir dentro de mim.

As metidas foram muito fundas; a respiração, pesada; as mãos, cravadas nos meus quadris. Eu gemia, choroso – ainda assustado, mas igualmente excitado.

Urrou. Despejou toda a porra dentro de mim.

Seu corpo desmoronou, me jogando contra o lençol. Ficamos ambos quietos, exauridos. Arfávamos.

– Não vou embora da sauna agora. Se vocês quiserem, a gente volta a conversar – avisou Garcia, próximo à porta.

Mas voltou. Fez uma cafuné em Adair. Depois, em mim. Saiu. Ficamos em silêncio um bom tempo; eu sentindo seu peso, seu corpo relaxado sobre mim.

– Eu te marquei – sussurrou no meu ouvido. Você agora é mais meu do que era antes.

Suspirou. Ergueu-se levemente.

– Eu não tenho nada; fica frio com isso. Mas você tá marcado pelo teu macho.

– Eu sei.

– Quero que você guarde dentro de você até quando puder. Até chegar em casa, até amanhã, ou pra sempre. É a minha marca em você. Não quero que você coloque pra fora.

Aquiesci. Voltou ao silêncio. Sua cabeça pendeu sobre minhas costas e a respiração ainda pesada aquecia minha pele.

– Não sei se isso é bom. Não sei nada – murmurou.

Foi um bom tempo até que ele deslocasse o corpo, ficando de lado, para me olhar nos olhos. Correspondi.

Eles me diziam que não sabiam o que sentiam – e sei que os meus diziam o mesmo pra ele. Tínhamos nas mãos a alegria de uma entrega que há anos eu não sentia; uma cumplicidade que provavelmente ele também não. Mas carregávamos igualmente o peso de viver um risco ao qual também há anos eu me negava a correr – e que, creio, também ele.

Eu não era um garoto de 18 anos; não estava chegando no mundo agora. Eu, Adair, vimos Rock Hudson, Cazuza, Lauro Corona e tantos outros anônimos estampados nos jornais muito menos para zelar por nossas vidas do que para afirmar que somos a própria doença, que somos doença por nós mesmos. As coisas andaram, havia o tratamento, o coquetel, mas eu não queria passar o resto da vida tomando remédios e temendo complicações só por ter uma gripe. Ele queria ainda fuder, fuder muito, sem pensar que num acidente iria infectar o outro. Ambos não queríamos essa condicionante para sermos felizes.

Mas havia o outro lado. Começara a dar quando a epidemia já tinha se alastrado. Sentira poucas vezes na vida essa realização total do prazer do outro. O sabor daquele filete de esperma me impregnara; era raro. Provara do prazer de sentir o contato de nossos corpos sem membrana alguma que nos separasse, do triunfo de receber seu esperma, de contê-lo dentro de mim. Saboreava o prazer dele de me jorrar o produto do prazer que eu lhe dera; vivia aquela sensação de completude por termos nos satisfeito mutuamente, sem barreiras.

Esbocei um sorriso, ele também – ou talvez ele o tenha feito primeiro e eu correspondi, não sei. Depois, voltamos a nos encarar seriamente. Não sabíamos, eu não sabia, e ele também não sabia, o que fazer diante daquilo; o que faríamos a partir daquilo.

Era um compromisso. Ou, talvez, o nosso fim. Ou até pudéssemos fazer com que fosse absolutamente nada. Talvez apenas um acidente – que eu pedira, que ele impusera.

Ele se levantou e se pôs de pé, ao lado da cama. Seu olhar parecia perdido. Um filete de sêmen pendia da ponta do pau.

Estendeu a mão, agora num sorriso que não mostrava os dentes. Fui até ele e o abracei.

– Se a gente não se conhecesse não tinha nada demais – ele disse.

– Eu sei.

– Você ficava puto; eu ia embora, sei lá.

– Mas a gente se conhece.

E sabíamos que, dali pra frente, algo mudaria – e não tinha como não mudar.

***

Este conto teve início com o texto “Admirando o calibre de Adair”.

A história completa se desenrola nos seguintes textos, em ordem cronológica, cujos links estão na página do meu perfil de autor, em

http://www.casadoscontos.com.br/perfil/“Admirando o calibre de Adair”

2. “No hotel, com Adair”.

3. “O preço para ter Adair”

4. “Guiado por Adair”

5. “O desafio de Adair”

6. “Exposto por Adair”

7. “Sob o teste de Adair”

8. “Entendendo Adair”

9. “Entregue a Adair”

10. “Presença de Adair”

11. “Além de Adair”

12. “Adair, dono de mim”

13. “Um outro Adair”

14. “Marcado por Adair” [você está aqui]

15. “Esse macho se chama Adair’”

16. “Inundado pela porra de Adair”

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Comentários

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Esta descrição dos momentos com Garcia foi perfeita. Conto cada vez melhor.

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Ufa! Depois da palhaçada do Jornal Nacional, que bom encontrar alguma coisa inteligente e que dá tesão também!!!! Tomara que esse teu conto tenha 200 partes!

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Só uma observação, sobre a frase "sem pensar que num acidente iria infectar o outro": dá a entender que alguem com HIV vai necessariamente transmitir o vírus, o que só é verdade se a pessoa não estiver tomando o coquetel e estiver sem acompanhamento médico. Tive uma relação bem longa com um soropositivo e não mme infectei, e nunca usamos camisinha, sempre gozando dentro mesmo. Hoje em dia, é muito mais arriscado transar com alguem que acha que é soronegativo do que com um soropositivo que toma o coquetel e o tratamento está dando certo. Se a carga viral do soropositivo estiver "não detectavel", que é o resultado esperado do tratamento, a chance dele infectar alguem é praticamente nula. Um soropositivo com acompanhamento médico faz esse exame periodicamente. Isso não quer dizer que com soropositivo pode-se transar sem camisinha, porque se voce não convive com ele não tem como saber se ele faz mesmo esse tipo de controle. Mas se ele se cuida, o perigo é zero. Já com alguem que é soronegativo o perigo acaba sendo maior, porque ai mesmo é que não há controle algum já que o cara se considera saudavel. Faço aqui só uma correção para não cairmos na desinformação, ok? Seu conto está uma maravilha e essa situação final dos dois acvho que é a melhor coisa que já li sobre o trauma que temos da aids e das duvidas dos casais gays sobre isso. Eu mesmo passei por isso, por estas questoes todas e você transmitiu muito bem a paranoia toda. Mas parabens e só tenho a agradecer por você estar publicando esse conto tão bom. Conto nao, isso é um verdadeiro romance!

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Eita caralho .... que sortudo vc hein! Abração

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Amei, amei, amei. O que será que se passa na cabeça do Adair??? Tá rolando sentimento...

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