Vamos Nós Três - Parte 9

Um conto erótico de calango86
Categoria: Homossexual
Contém 1639 palavras
Data: 02/03/2016 02:01:56

PARTE 9

“Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo, isso não está acontecendo...”, eu repetia na cabeça, como se esse apelo fosse mudar o que via ali, na minha frente. Aquilo não só estava acontecendo como ia piorar...

- Com que direito... – Foi só o que consegui falar, as mãos fechadas tremendo. Nem poderia dizer que os vídeos eram de outra pessoa, já que eu não tinha irmão algum e morava apenas com minha mãe.

- Eu... Eu só queria mudar de música. Entrei na sua pasta pra procurar algumas, e então... – Ele não conseguiu terminar. Limitou-se a olhar rapidamente para a tela do computador, mas logo se arrependeu ao ver as figuras pornográficas dos vídeos. Acabou desviando os olhos para algum ponto imaginário na parede.

Caminhei em direção ao computador para desligar a tela, bufando. Só conseguia pensar que queria aqueles ícones fora do alcance da minha visão. E então, toda a confusão aconteceu.

Foi um daqueles momentos em que a gente parece sair do corpo. Todas as atitudes que tomei ficaram desfocadas na memória, como se tivessem sido realizadas por outra pessoa. No meu afã para tirar aqueles vídeos dali, acabei empurrando a cadeira na frente do PC em que o Leandro estava sentado, para liberar a passagem. Nisso, a rodinha da cadeira enroscou na ponta do tapete e foi ao chão, com ele caindo junto.

Eu estava tão nervoso com ele por ter invadido minha privacidade e, acima de tudo, por ter descoberto algo que ninguém mais sabia, que nem me importei por tê-lo derrubado sem querer. O nível de ódio em que estava me fez usar de mais força do que deveria para deslocar a cadeira. Afinal, ele tinha descoberto o esqueleto mais bem guardado do meu armário.

E foi enquanto eu fechava a pasta dos filmes gays, curvado na frente do computador, que o Leandro se levantou e me deu um empurrão bem forte, por achar que minha intenção havia sido a de realmente atirá-lo ao chão. Quase cai, mas consegui apoiar os braços no armário antes da queda.

- Qual é a sua, cara?! Fica aí todo bravinho por eu ter visto sem querer as suas merdas, enquanto o verdadeiro escroto é você por enganar a Alexia na cara dura! – ele gritou.

- O que eu deixo de fazer ou não é problema meu! Você não tem o direito de se meter em algo que não sabe! Otário! – vociferei.

Tendo dito isso, avancei para a frente desferindo um soco em seu rosto, mas não com muita força. Ele cambaleou para trás, colocou a mão no lábio e me encarou com um olhar que nunca vou esquecer. Era decepção. Aquilo me machucou mais do que o golpe físico que veio logo em seguida.

Investindo contra meu corpo após tomar impulso, o Leandro me derrubou e caímos no chão juntos. Ele ficou por cima, pressionando o antebraço contra meu pescoço e forçando meu queixo para cima. Mas eu era mais forte. Em poucos segundos, consegui inverter nossas posições e, pairando sobre ele, acabei por imobilizá-lo da mesma forma que ele havia tentado fazer comigo. E então reparei que eu estava chorando. De raiva, de vergonha, de frustração.

- Cara, você não sabe o que eu passo! Não sabe! Não sabe... não sabe... – Eu falei, a voz embargada ficando cada vez mais fraca com o tempo, assim como a pressão que fazia contra sua jugular.

- Calma, Edu... Eu sei, sim, cara. Eu sei. – ele disse, logo que diminuí a força que exercia com o antebraço, permitindo que ele movimentasse o maxilar para poder falar. – Eu também já passei por isso.

Retirei o braço completamente, mas ainda estava em cima do seu corpo. Ele permanecia deitado, costas contra o chão, e eu estava curvado sobre ele. Continuei chorando, mas agora minhas lágrimas eram de tristeza. Nunca tinha estado tão vulnerável e exposto a alguém na minha vida.

E foi nesse instante que senti a mão dele por trás da minha cabeça, fazendo um carinho e uma leve pressão para que eu aproximasse meu rosto contra o seu peito. Completamente rendido, deitei com a cara contra sua camiseta e desatei a chorar soluçando, enxugando minhas lágrimas na roupa dele. Ficamos por um momento naquela posição, eu deitado em cima de seu peitoral e recebendo cafuné nos meus cabelos enquanto ele falava “calma... calma... eu sei... tá tudo bem”.

Não lembro se eu levantei meu rosto até chegar na altura do dele, ou se ele ergueu minha cabeça com as mãos para que nossos olhares se cruzassem, mas o fato é que nossas bocas foram ficando cada vez mais próximas à medida que líamos as intenções por trás dos olhos. Eu também vi culpa ali, o fantasma da Alexia assombrando os dois, mas era o desejo que ditava nossas ações e vencia os nossos medos. E então fechamos os olhos.

Rocei meus lábios no lábio inferior dele, onde eu havia acertado o soco. Estava levemente inchado. Dei um beijo leve, como para me desculpar por ter feito aquilo e, ao mesmo tempo, com medo de machucá-lo ainda mais. Mas a reação dele foi abrir a boca e dar passagem para minha língua, alheio a qualquer dor que pudesse sentir. Meus braços já estavam em volta de suas costas, enquanto as mãos dele continuavam acariciando meus cabelos. As línguas se entrelaçavam enquanto rolávamos pra direita, com ele ficando em cima do meu corpo agora, novamente invertendo as posições. Interrompemos o beijo para rir da situação.

- O que acha de levantar? Ir pra cama, sei lá... Você já me deu uma surra, seria legal deitar em um lugar mais macio, pelo menos... – ele disse, vermelho e sorrindo sem jeito

- Acho que você leu meus pensamentos.

Eu já estava descalço após o banho, mas ele, que estava de tênis, tirou-os e ficou de meias para subir na cama. Assim que nos deitamos, viramos de lado e ficamos nos olhando novamente, os rostos quase colados de tão próximos. Eu sentia a respiração dele, meu coração batendo acelerado. Não acreditava em tudo que havia acontecido e que ainda estava acontecendo naquele exato momento. “Eu estou realmente vivendo isso... Foram apenas três dias. Três dias desde que conheci o Leandro e três dias imaginando como seria se a gente pudesse ficar. A realidade raramente supera a expectativa, mas isso é infinitamente melhor do que esperava”, pensei.

Deslizei meus dedos ao longo do seu rosto, desde a linha do maxilar até o queixo. Sua barba por fazer espetou minha cara durante o beijo e talvez essa tenha sido a maior diferença entre beijá-lo e beijar a Alexia, com sua pele lisinha e sem sobressaltos. Beijar o Leandro era mais áspero, intenso, visceral. E eu havia sentido coisas que nunca tinha experimentado antes com alguém.

Olhando para mim, parecia que ele podia adivinhar meus pensamentos. E sua resposta foi eliminar os poucos centímetros que nos separavam e colar seus lábios nos meus. Dessa vez, nosso beijo foi ainda mais entusiasmado, estendendo para os corpos a integração das línguas. Enquanto alternávamos beijos com mordiscadas no pescoço, esfregando nossos rostos, eu senti as mãos dele deslizando por minhas costas pelo lado de dentro da camiseta, em contato direto com a pele. Já eu, pegava em sua cintura e puxava a parte inferior do seu corpo contra a minha. Conseguia sentir o volume em suas calças aumentando cada vez mais, fazendo pressão em minhas pernas.

Era como se, naquele instante, toda a minha vida tivesse sido suspensa e eu pudesse habitar um mundo alternativo. Eu não era mais o cara do futebol, de recuperação em português, que namorava uma menina e tinha uma mãe evangélica. Eu era apenas alguém extremamente feliz por estar beijando quem eu mais queria beijar. E essa felicidade era tão efêmera que doía em mim. Tinha consciência de que aquilo iria terminar e virar uma lembrança a invadir minha mente por sabe-se lá quantas noites. Mas olhando o Leandro ali, deitado em minha cama... Eu não queria nada além disso.

Talvez por reparar em meus devaneios, ele começou a diminuir o ritmo em que explorava meu corpo e que beijava minha boca. Ou então, a culpa por estar pegando o namorado da amiga tenha finalmente prevalecido sobre o tesão. Acabamos nos distanciando um pouco e, novamente, ficamos nos olhando com um sorriso no rosto.

Vez ou outra, ele aproximava a boca da minha e roubava um beijo, apenas para virá-la pro lado rindo justo quando eu ficava animado em continuar. Ficamos um tempo nessa brincadeira até que eu falei, bagunçando o cabelo já bagunçado dele com meus dedos:

- Preciso te perguntar... Mas você não precisa me responder, claro, se não quiser. Tipo... Você sabia que eu sabia de você?

- Que eu sou gay?

- Isso. – falei, me sentindo meio desconfortável agora que havia perguntado.

- Claro, cabeção! Eu contei pra Alexia, que por acaso te namora e que por acaso também é a maior bocuda das galáxias. – ele respondeu rindo.

Mas logo os risos cessaram e deram lugar a um silêncio constrangedor, muito semelhante a um dos vários que experimentamos no dia do clube. Eu tinha certeza que, ao tocar no nome dela, passou-se na cabeça dele o mesmo que se passava na minha: aquilo não era justo com a Alexia. O melhor amigo e o namorado ruborizados, após passarem os últimos minutos se atracando no chão e na cama.

Por uma dessas ironias do destino, pensar e falar na Alexia entrou em sincronia exata com a própria presença dela. O interfone tocou naquele momento, indicando que ela havia chegado para os estudos de português. Estávamos há tanto tempo naquele quarto que nem vimos as horas passarem e o relógio marcar cinco da tarde. Olhei para o Leandro alarmado e disse, antes de ir pra cozinha atender o interfone:

- Coloca seus tênis e arruma esse cabelo, cara... Corre!

(FIM DA PARTE 9)

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Comentários

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Lindos! Tomara que resolvam essa situação magoando o mínimo a Alexia.

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Ahhhhh, lindos os dois ×-× tadinha da Alexia!

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