Amor em outros tempos VI (Brasil colonial)

Um conto erótico de Portugativo
Categoria: Homossexual
Contém 1692 palavras
Data: 09/03/2016 22:14:29

Pela fresta da janela a luz do sol iluminava o quarto, eu levantei-me da rede e na cozinha Pedro já tinha preparado o café. Pedro colocava o queijo, pão, bolo e leite sobre a mesa, eu pensava em quando aqueles bolos, queijos e leites trazidos do engenho acabasse. O dinheiro que tinha guardado dava para nos alimentar bem por 3 meses, se eu pagasse por comida farta igual tinha na fazenda as minhas economias durariam somente 1 mês.

Sentei-me à mesa e conversei com Pedro que iríamos fazer economias, ele concordou e disse que no Rio de Janeiro eu não poderia manter o luxo que tinha na fazenda, revoltei-me um pouco com minha situação econômica, mas por fim à aceitei por ter sido escolha minha estudar e trabalhar na capital.

Após o café digno de uma manhã na fazenda fui ao quarto e em meu baú peguei a minha melhor vestimenta, coloquei minha blusa branca de algodão e por cima meu colete azul escuro, uma calça de casimira azul combinando com o colete e minhas melhores botas, avisei a Pedro que iria a igreja e quanto voltasse queria encontrar o almoço pronto. Sai pela rua e fui até a Igreja do Carmo, procurei o padre que já tinha terminado a missa, perguntei-lhe se poderia me confessar, ele de pronto respondeu que sim e que era para eu aguardar no confessionário.

Entrei no confessionário e aguardei uns instantes, ouvi a porta ao lado abrir-se e a madeira rugir levemente, então começa o dialogo:

--Peço vossa bênção senhor padre.

--Deus lhe abençoe meu filho ! O que te perturbas ? Conta-me qual é o pecado que lhe tormenta a alma !

--Senhor padre, preciso saber vossa opinião e a postura da igreja perante atos feitos por um dono de engenho da vila onde eu vivia perante um de seus escravos.

--Que atos seriam estes tão perturbadores que lhe deixa aflito e duvidoso ?

--Na vila surgiu boatos de um senhor de engenho que por ser viúvo deitava-se com as negras, porém uma das mucamas relatou que ele se deitava com um escravo como se deita-se com uma negra. Deus que me perdoe padre em dizer isso ao senhor, mas isto causou um reboliço na vila até os fatos serem desmentidos. O que me deixou em dúvidas foi saber que a mucama que contou a história sofreu severos castigos e chicotadas ao tronco.

-- Isto chama-se sodomia, pederastia, a bestialidade mais nefasta que tem. Meu jovem, este senhor de engenho está condenado ao inferno, ele e o escravo que se faz mulher dele.

--Senhor padre, pensei que pessoas que fizessem tais atos pagariam seus pecados no purgatório ?

--Não meu filho, Deus jogará todos os pervertidos sexuais no lago de fogo do inferno, purgatório é só para os pecados leves. Deus condena bruxos, pervertidos, sodomitas, masturbadores todos ao inferno.

--Senhor padre, masturbadores também ?

--Sim meu filho, masturbação é algo condenável perante Deus.

Naquele momento empalideci, senti um terror e o medo congelarem minha alma, gaguejando perguntei ao padre qual seria o castigo destinado a quem pratica tal ato sexual. O padre com certeza em sua voz disse com autoridade que os pecadores que utilizam a masturbação para prazer próprio estavam condenados ao inferno.

Comecei a chorar e disse aos prantos que estava condenado ao fogo eterno, o padre então com a voz calma respondeu-me.

--Calma meu filho, Deus perdoa quem se arrepende de seus pecados. Não pratique mais tal ato condenável e sua alma estará livre. Vá para casa e reze fervorosamente durante alguns minutos o Pai Nosso e a Ave Maria quando acabar se sentirá melhor e sempre caíres em pecado faça um donativo financeiro a igreja.

--Obrigado senhor padre, tuas palavras são um descanso a minha alma. irei seguir vossas recomendações.

Saí da igreja mais aliviado, mas ainda sentia medo de ir para o inferno. Tirei minhas conclusões e decidi jamais ter sentimentos nenhum por pedrinho. Ao chegar na rua de casa vi uma negra velha de quitutes conversando com Pedro que estava sentado sobre a janela, dei boa tarde e entrei dentro casa, pedrinho despediu-se da velha e foi até o quarto para falar comigo, ofereceu-me um um dos doces que a velha tinha lhe presenteado. Ele abraçou-me e tentou beijar-me, o empurrei e disse que jamais teria nada com ele, seus olhos já lacrimejava e ele começava a chorar, perguntou-me porque. Eu lhe respondi o que o padre tinha me dito no confessionário. Ele então respondeu-me:

--Sinhozinho, não vês que ele quer o seu dinheiro e seus donativos a igreja, nosso amor é pecado mas sua masturbação está livre dos olhos de Deus por alguns contos de réis doados a igreja. Meus sentimentos são verdadeiros e um dia irei provar isso.

--irei caminhar pela praia e pensar na minha vida podes vir comigo, mas respeite a minha condição de senhor e de fiel católico, meu sentimento por si é condenação para minha alma.

Aluguei um burro no Largo do Telles e fui junto a pedrinho que caminhava ao meu lado para uma praia deserta ao sul da cidade. Volte e meia eu caminhava com pedrinho sobre o burro, mas não junto a ele, pois lembrava-me que fazia pouco tempo que juntos a cavalgar num cavalo ele empinou a bunda e foi ai que eu senti vontades carnais por ele. Chegamos a praia vazia e afastada das chácaras e fazendas que circundavam as praias mais próximas da capital, amarrei o burro a uma árvore e sentei sobre areia branca daquela praia linda. Ao fundo o frondoso morro dois irmãos, as águas verdes do mar aberto e o mar um pouco revolto.

Pedro chegou até mim e disse que apesar do clima nublado eu fazia o dia dele ser de céu azul, ele tentou me beijar e o medo de queimar no inferno me possuiu, o empurrei e ele me agarrou e deu-me tapas no peito e disse:

--Eu te amo, te quero e você não sai dos meus pensamentos. Tu sempre é arrogante e grosso comigo, sei que não sou um escravo perfeito e nem de grande valia para o trabalho braçal mas sou o seu mais fiel amante e amigo.

Pedrinho tentou me beijar novamente e eu possuído de raiva e medo dei-lhe um tapa na cara, ele sentou-se na areia e chorou igual a uma criança, eu desesperado pedia perdão, acariciei o seu rosto molhado das lágrimas produzidas pela desgraça de meu tapa e de minha ação feita sem pensar. Pedro levantou e foi até a beira do mar, sentou na areia úmida e escreveu " Hoje, Carlos deu um tapa no rosto de seu escravo".

Eu chorava de tristeza de ter lhe dado um tapa na cara, mas a curiosidade me fez pergunta o por que ele tinha escrito tal frase sobre a areia, eis que ele me surpreende com sua resposta:

--Escrevi isso a beira do mar pois a dor que senti de seu tapa e a tristeza que está em meu coração quero que se vá, como estas palavras sendo levadas pelas ondas do mar.

Naquele momento eu chorei e pedi perdão por tudo que já tinha feito a ele, pedrinho me abraçou e disse que me amava, eu olhei-o nos olhos e beijei-lhe mordiscando seus lábios. nos deitamos sobre a areia e nos beijamos apaixonadamente, disse que iria dar um mergulho pois estava de pau duro e não queria transar na praia.

Fiquei somente de calção e mergulhei no mar, as águas geladas me acalmava e tranquilizava, tentei tocar os pés no fundo e não senti, bateu-me o desespero e eu gritei por socorro. Senti medo e temor de morrer, a única coisa que deu pra ouvir antes de afundar de vez nas águas revoltas foi o grito de pedrinho que dizia:

--Salvai Iemanjar, não deixe morrer o meu amor.

Pedrinho mergulhou nas águas e foi até onde eu afundava, me levantou pra superfície e nadou agarrado a mim até a praia, me arrastou pela areia e lá eu botei pra fora a água que tinha engolido. Eu estava pálido, tinha sentido a morte de perto, Pedro me abraçava e disse que estava tudo bem, em seus braços eu me sentia seguro, seus olhos brilhantes eram a luz da vida e depois de ter visto a escuridão das águas revoltas era a luz dos olhos dele que eu queria ver e amar.

Vesti minhas roupas e fui me preparando para deixar aquele lugar, não queria me aproximar do mar por um bom tempo, pedrinho pediu para eu esperar, ele chamou-me até uma pequena rocha e apanhou no chão uma pequena pedra e escreveu sobre o lodo da rocha a seguinte frase "Hoje, Pedro salvou o seu senhor".

Perguntei para ele o significado da frase e com um sorriso ele me respondeu:

--A felicidade e o alívio de ter você salvo em meus braços me fez esquecer a dor do seu tapa, quero que o sentimento de amor e felicidade que tenho por você seja eterno como essa frase escrita nesta rocha.

A tristeza de seu tapa as ondas do mar levaram mas o meu amor é eterno igual a esta rocha.

Eu desci do burro e o abracei, segurei pela cintura e o beijei e disse com todo o sentimento de meu coração:

--Eu sei que você me ama, hoje tive a certeza de seus sentimentos. Poderia ter deixado eu morrer e se tornar um escravo livre e sem dono, mas preferiu me salvar e continuar sendo um escravo. Não o liberto pois você esta sobre minha tutela, mas quando completar sua maioridade serás um homem livre e até lá me certificarei de que aprendas um ofício para nunca passar necessidade na vida. Agradeço imensamente o que fez e se eu pudesse lhe amar sem ser condenado ao inferno eu o amaria.

--Meu amor, meu senhorzinho de todo sempre, irei te provar que amar não condena ninguém ao inferno.

Nos beijamos e seguimos o rumo de casa, eu tentava esquecer o medo de queimar no inferno e desejava possuí-lo, queria sentir o calor dos beijos, queria acariciar-lhe o rosto e beliscar-lhe a bunda, porém me contive, mas nada tirava-me o sorriso do rosto.

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