Once in USA - Capítulo 07

Um conto erótico de OnceUpon
Categoria: Homossexual
Contém 4735 palavras
Data: 06/02/2016 21:36:52
Última revisão: 07/02/2016 02:43:18

Capítulo 07

Era madrugada. Eu fiquei sentado sobre o baú olhando pela janela enquanto a caminhonete do meu avô saía pelo portão. As coisas aconteceram tão rápido que eu ficava repassando os acontecimentos na minha cabeça ainda sem entender.

Noel de olhos fechados estava deitado sobre o colchão completamente nú. Trazia um sorriso no canto dos lábios quando terminamos a nossa brincadeira. Eu estava ali sentado sem saber o que fazer. Ele sentou e olhou nos meus olhos. Mil palavras chegaram à minha boca, mas eu as engoli. Eu tinha olhado para ele, sorrido maliciosamente e então engolido todo o seu leite. Noel me olhava de uma forma diferente. Eu não sabia como agir. Ele também não.

- Eu... – Ele estendeu a mão pra tocar meu rosto ainda sujo no canto da bochecha com uma gota de sua grossa porra. Ele limpou o canto do meu rosto com o lençol. – A gente não devia...

Engoli em seco. Tentei parecer natural. Por mais envergonhado que eu estivesse eu queria explorar todas as possibilidades com aquele homem. – Noel. Isso... isso é uma coisa normal. Não se preocupe.

- Não, seu Guilherme. – Noel levantou, vestiu a sua cueca e começou a vestir as calças.

- Pra onde você vai, Noel? Tá tarde.

Ele me olhava e eu podia ler o nervosismo em seus olhos. Levantei e segurei suas mãos impedindo-o de fechar o botão da calça. Precisava manter a voz baixa. Meu avô dormia na mesma casa que nós. Ele olhou pra mim. Uma mecha de seu cabelo caindo sobre seus olhos negros.

- Noel. Por que você tá fazendo isso? Desculpa. Eu não queria te magoar. Eu só queria te deixar feliz. Eu pensei que você fosse gostar... não precisa ir embora.

- Com que cara que eu vou olhar pro sinhor seu avô agora, Guilherme? Eu não vô ter mais coragem sabendo o que eu fiz com o neto dele. A pessoa que mais me ajudou aqui nessa cidade. Você não entende... – Noel baixou os olhos. Tirou a mão das minhas. – Eu acho melhor que a gente num se vê por uns tempo.

- Noel... – Eu não sabia o que fazer, um nó se formava em minha garganta. – respirei para tentar falar enquanto ele calçava os sapatos. Mas sentei na cama e abaixei a cabeça. – Noel, você pode fazer o que você quiser, mas eu preciso dizer que você não me usou nem nada. Você não “fez” nada comigo. Eu gosto de você e só não tinha coragem de dizer nada antes. Mas, se isso aconteceu é porque eu quis também.

Eu não tinha mais argumentos. Noel ouviu com ar entristecido. Sentou ao meu lado na cama já com a camisa vestida, porém aberta. Eu tinha estragado tudo. Ido rápido demais. Tinha assustado ele e agora eu o perderia, porque afinal a quem eu estava enganando. Eu era um garoto e Noel não iria querer se meter nessa confusão.

Eu estava com a cabeça baixa. Nós dois encarávamos um canto do quarto.

- Eu sei que você não gosta de mim desse jeito, Noel... – Meus olhos começaram a ficar turvos, mas eu segurei. Senti os olhos dele em mim e não queria parecer uma pessoa fraca ou que se apegaria a ele demais. – Tá tudo bem. A gente pode só continuar amigos e nunca mais falar disso se você não quiser. Eu não vou contar nada pra ninguém.

Eu estava com as mãos juntas, dedos entrelaçados entre as pernas. Senti o toque firme da mão dele percorrendo meu antebraço até a minha mão esquerda. Ele segurou minha mãoabrindo depois percorreu a palma dela com um dedo.

- O problema num é esse, seu Guilherme. – disse em uma voz embargada.

- A gente pode ficar... – comecei a falar descontroladamente – sabe... se você quiser. Quando você dormir aqui... ou precisar de uma massagem... – ri nervoso – E depois você pode ir e nem precisa fingir que é meu amigo na frente dos outros, nem nada. Noel. Ou Nem isso. Você pode só vir e conversar. A gente nem fala mais disso, porque eu realmente gostaria de manter a sua amizade...

Ele levou um dedo aos meus lábios, me pedindo silêncio. Escutei o vento soprando lá fora.

- Eu achei que eu podia fazer isso, seu Guilherme. Dormir aqui. Prosear com você. Mantê essa amizade. Porque eu achei que nada disso ia acontecê. Mas a gente não pode ficá perto por um tempo.

- Tudo bem. Noel. Você deve estar com nojo de mim, porque eu sou assim... Tudo bem. Eu entendo. – Encolhi um ombro em sinal de aceitação.

- Eu num posso fica perto de você, seu Guilherme, porque... – ele limpou a garganta – porque eu gosto de você. De um jeito que num é certo de eu gostar. Eu num sei se eu ia me controlar e isso só ia causa problema pra nós dois.

Fiquei chocado com aquela declaração. Seus olhares, seus sorrisos, seus modos sutís de me observar não eram acusatórios afinal. Ele sentia alguma atração por mim desde o começo?

- Depois de hoje eu sei que é o melhor, seu Guilherme. Porque o que eu quero fazer com você. Se eu fizer... - ele olhou pro chão - eu acho que não vô conseguir fazer só uma vez, ou só uma vez ou outra. – Ele levantou e foi até a porta.

Eu continuei mudo. Meu coração pulava no peito. Era a maior declaração que alguém já tinha me feito e acho que a maior que alguém me faria na vida.

Noel abriu a porta, mas voltou rápido. Segurou minha cabeça baixa e beijou meus cabelos. – Té mais ver, seu Guilherme.

Ele se afastou descendo as escadas. A sensação de seu beijo permaneceu no meu couro cabeludo como uma dor fantasma. Penetrou na minha cabeça e pesou sobre meu coração. Minhas lágrimas caíram mudas. Levantei e sentei no baú de onde vi ele entrar no carro sem ligar os faróis e sair o mais silenciosamente possível.

**********

Não consegui pregar os olhos. Desci para tomar água e lavar o rosto e depois permaneci deitado no colchão de Noel encarando as mancha do lençol que denunciavam nossa noite.

Enrolei o lençol e guardei no fundo do closet junto com os meus, coloquei um limpo com o colchão de Noel, caso vovô visse, depois inventaria algo. Quando o sol apareceu arrumei o quarto, tomei banho e peguei minhas coisas. Seria um dia difícil.

**********

Cheguei na escola antes de todos, resolvi ir andando hoje. Assim que Tiff me viu acenou e veio toda animada. – Mal posso esperar pra derrubar as cobras dessa escola. – Falava enquanto sorria e se sentava na cadeira ao meu lado cruzando as pernas. – Já pensou no plano todo?

Precisava ocupar minha mente.

- Pensei em muitas coisas... – respondi sussurrando – ... A primeira e mais importante é que ninguém nunca nos veja conversando ou sequer perto do Johnny. Aquele garoto gótico é um chamariz ambulante e se alguém desconfiar que ele está junto com a gente nessa, nosso plano vai por água a baixo.

- Certo. – ela me olhava prestando atenção em cada palavra.

- Eu sou novo na cidade, não sei muito sobre esses garotos, mas já percebi que eles são todos parte de um time só. Digo, os mais populares. Eles são a grande ameaça dessa escola e todos têm medo deles. Todos correm deles. Não sem motivos, eu sei bem. Mas sabendo que todos estão fugindo deles o que nós vamos fazer é o contrário. Nós vamos seguí-los. Sem que eles saibam, claro. Eles se sentem livres e acham que podem fazer o que querem, eles devem fazer todas as coisas mais erradas do mundo porque sabem que vão se safar e que ninguém está vendo. É aí que eles se enganam. Quem apanha não esquece e eu estou cansado de apanhar.

Tiffany sorriu. – Ok. Mas qual o objetivo real de seguir eles?

- Nós vamos descobrir e, com a ajuda dessa belezinha, - abri a caixa que trazia nas mãos. Uma pequena câmera filmadora/fotográfica que ganhei há um ano do meu pai. – Vamos registrar tudo e depois a gente destrói eles.

- Guilherme, isso é perigoso. Se eles forem expostos eles vão querer se vingar. Não estou achando que isso vá dar certo pra nós.

- É aí que entra a terceira pessoa. O Johnny é uma peça importante do plano, mas isso você vai descobrir depois, isso se a gente conseguir material suficiente.

- Será que eles têm segredos assim, Gui? Pelos quais eles possam ser abalados? Nâo sei não, fora pelo crime de serem uns grandes babacas eu não acho que eles sejam mais que isso.

Passei a caixa para Tiff. – Eu não sei quanto a todo, Tiff. Mas um deles tem, e eu sei bem quem é.

- O que você tá tramando, Guilherme? – Ela me olhou curiosa.

Peguei um papel na minha mochila e sacudi em frente aos olhos de Tiff. Ela pegou, abriu e olhou pra mim. – que letra horrível essa sua...

- Você sabe que eu tenho uma queda pelo Ben... – Admiti envergonhado, sussurrando mais baixo, ele tinha algo que me atraía enlouquecidamente.

- O que isso tem a ver? – perguntou ela começando a ler.

- Em primeiro lugar essa letra horrível não é minha. Em segundo, o que eu não te contei é que o nosso belo capitão, príncipe do trono de ouro da escola, curte dar uns amassos com rapazes pelos cantos escondidos.

Ela chegou ao fim da carta arregalando os olhos e me olhando perplexa com a boca aberta. Ergui uma sobrancelha com ar vitorioso.

- MENTIRA!!!! – gritou ela.

- Shiiii. Pedi silêncio e ela começou a bater no meu braço com a carta rindo descontroladamente e eu não resisti e ri também

- “B”? Deus! Ben! Ah meu deus – Ela somava dois mais dois olhando a carta, e segurando a câmera - Isso é tão irônico! O cara mais preconceituoso da escola! É tão perfeito! Guilherme, você está mesmo disposto a fazer isso? – ela pareceu enfim preocupada.

Respirei fundo. – Nós precisamos disso. A escola precisa ter uma arma contra esses tiranos escrotos. Além do mais eu não pretendo ficar aqui por muito tempo, mas isso é uma coisa da qual eu não quero falar.

- Ok. Estou contigo então!

Tiff escondeu rápido a câmera em sua bolsa, pois o resto dos alunos chegavam seguidos pelo professor Mattews, um senhor que parecia usar sempre o mesmo paletó tweed marrom.

- Bem alunos... – começou ele – Como a maioria de vocês sabe, embora o clima ainda não pareça ter percebido, nós estamos nos aproximando do verão e, como sempre, nossa escola vai fazer o torneio anual de grupos. Para os novatos que ainda não sabem do que se trata. – Acenou para mim e para Jenna Davids, uma garota com fama de piriguete vinda recentemente do sul de Oklahoma. – Nossa escola divide os todos os alunos do colegial por sorteio em 7 grupos que competem entre si no acampamento do índio Jack, onde há várias provas físicas e de raciocínio. Lembramos que a participação é obrigatória e vale metade da nota que vocês precisam para serem aprovados no primeiro semestre.

- Era só o que me faltava! – sussurrei pra Tiff que já revirava os olhos.

O professor passou uma caixa com bolinhas dentro. Um véu cobria a tampa, desta forma você não sabia qual cor tiraria da caixa. Tiff tirou amarelo e eu tirei azul. Ao fim todos nós recebemos uma pulseira de plástico com a cor que tiramos e tínhamos que andar com aquilo até o fim da competição.

- tsc tsc... que feio senhor Guilherme! Menos 50 pontos para a Grifinória! - Disse o professor ao me ver conversando com um rapaz que tinha pegado amarelo e apontando para a sua pulseira. Eu queria ficar junto com Tiff. – Nem pensem em trocar de pulseiras! Os nomes de vocês já foram anotados nas pranchetas com as cores corretas e se alguém mudar de pulseira... - ele fez um movimento cortando o pescoço. – Já sabem! Agora vou deixa-los com a adorável Senhora Riddle para revisar um pouco de matemática. Também será importante na competição!

O professor saiu animadíssimo com os ajudantes que levavam a caixa e a prancheta. Todos vestiam suas pulseiras o que deixava a sala estranhamente feliz demais pra uma aula de matemática.

No intervalo nos dirigimos à mesma sala na qual mais tarde eu me encontraria com Ben. Johnny já estava lá sentado sobre uma mesa usando uma touca sobre os cabelos que desciam lisos pelos ombros.

- Sabe... de todos os locais dessa escola esse é a melhor escolha pra conspirações. – ele disse apagando o restinho do cigarro ao nos ver nos aproximar.

- Espero que sim. – Disse Tiff, sentando ao lado dele e acendendo um de seus cigarros que pegou sem pedir.

- John, - Fui eu que comecei a falar – O que eu vou precisar de você é o seguinte...

John se recostou para trás sobre a mesa apoiando-se nos cotovelos. Percebi que hoje ele não usava as lentes e seus olhos naturais tinham um tom de verde claro realmente bonito. Não sei porquê alguém escolheria esconder aqueles olhos sob lentes.

- Diga, Guilherme... – Ele mordia o piercing dos lábios o que eu já tinha percebido era uma mania sua quando queria parecer sexy. Para sua sorte funcionava. – O que você quer de mim? – ele olhou para sua própria braguilha da calça meio aberta e depois para mim.

- Deixe de palhaçada, John! – recriminou Tiff socando seu braço – Presta atenção!

Respirei... Seria ele confiável para se juntar a nós? Agora que pensava melhor não sabia. Ele parecia muito instável. – Eu não sei... quer saber... eu não sei.

- O que foi, Guilherme? – Perguntou Tiff.

- Não sei Tiff. Não sei se podemos confiar nele! Quer dizer... olha pra ele!

- Eu estou ouvindo. – disse Johnn sem parecer realmente se importar enquanto também acendia um cigarro.

- Não se preocupe, Gui. Se eu chamei ele é porque eu sei que ele é de extrema confiança. Embora não pareça. Nem sempre as coisas são o que parecem. – lembrou Tiff – como o nosso capitão durão por exemplo.

- Escuta, meu irmão. – John sentou ereto pela primeira vez. – Quando eu entrei nessa escola. Esses filhos da mãe me zuaram tanto que eu quase cortei os pulsos.

- Mas você já era meio suicida, John. – falou Tiff - Você quase cortou os pulsos quando aquela banda que você curtia se separou, lembra?

- Ok. Admito. Mas eles me amarraram nu e me jogaram ovo me deixando todo melecado no meio do poste da arquibancada. – John parecia realmente triste demonstrando sentimentos pela primeira vez desde que eu o conheci. – E isso foi o menos pior.

- Foi um dia inusitado. Nem sempre a gente tem o privilégio de lanchar de frente pra uma bela vista. – disse Tiff rindo. John riu também.

- É uma cena que eu gostaria de ter visto. – deixei escapar.

- Aposto que sim. – ele sorriu pra mim – mas cuidado. Ele voltou a fumar. Acho que foi aí que a sua amiga ficou caidinha por mim.

- Bem... voltando ao assunto... Todos os anos – Tiff continuou – os garotos escolhem 5 novatos que vão ter o “privilégio” de serem seus capachos. Ao fim do “treinamento” um desses garotos de sorte pode ser escolhido pra entrar pro grupo deles. É uma coisa de hierarquia maluca que faz sentido pra eles.

- O que? – perguntei. – Tipo eu?

- Pois é, novato. – John sorriu batendo palmas – Sente-se honrado?

- Mas quase nunca acontece. – Tiff explicou – Porque além de serem escolhidos, os membros têm que ser tão perversos quanto eles e a maioria não é tão doente e mimado. Enfim. O John está conosco. O que ele vai fazer?

- Ok... – voltei a me concentrar – Eu preciso que você fique de olho no Nick. Ele é o braço direito do Ben e eu já percebi que no fundo ele tem muita inveja do capitão. Aposto que ele gostaria de ser o capitão do time. Ele é meio instável. Eu preciso saber os locais que ele frequenta sem ser a escola. Você está sempre pela noitada. Deve ser mais fácil de descobrir.

- Ok. Chefe. – Brincou John.

- Tiff vc precisa descobrir algo sobre as meninas. Regina, a namorada do Bem e as suas amigas clones de barbie.

- Pode deixar. Eu já tenho umas ideias dos seus defeitos e problemas. Mas eu vou descobrir o que seria o pior delas.

- Ok. Se tudo correr como o planejado, esses porcos vão cair. – Falei determinado. – E ninguém vai sofrer mais, como nós sofremos. – Olhei para John. Teria sido esse o motivo que o tinha levado a criar essa armadura de garoto sem sentimentos?

– Agora vamos. Sempre que eu precisar falar com você a Tiff vai colocar um bilhete no seu armário, John. A gente não pode nunca ser visto juntos.

John desceu da mesa enquanto Tiff foi ver se o corredor estava limpo. John apertou a minha mão e se aproximou para dar com a outra mão um tapa nas minhas costas. Um normal cumprimento dos caras. No entanto senti um volume incomum. Seu vara ainda adormecida, mas palpável, pressionou minha coxa esquerda. Olhei em seus olhos verdes. Ele era uma pessoa muito estranha e maliciosa.

- Se precisar. - Ele piscou um dos olhos marcados pelo delineador preto. – Pode deixar um bilhete no meu armário também. – Ele se afastou – Sabe você está precisando desestressar, cara. Qualquer dia eu vou te levar pra uma das nossas baladas.

Eu fiquei sem ar, porque eu era virgem, jovem, e qualquer possibilidade sexual me fazia ficar arrepiado. Ele se afastou cochichando algo no ouvido de Tiff que riu e xingou ele ao mesmo tempo.

Definitivamente ele não era um cara comum.

Eu ri. Noel se sentia atraído por mim. Ben queria me encontrar talvez para me espancar, talvez não. Mas ele respondeu ao meu estímulo e agora John... embora ele provavelmente traçasse qualquer coisa que se movesse eu olhei de relance no espelho. Nunca tinha me considerado um cara bonito do tipo que atraía a mulherada. Mas eu tinha que admitir que eu tinha pontos fortes para atrair homens.

Pelo resto do dia tentei prestar atenção às aulas, anotando o que podia. Mas em um determinado momento me perdi em pensamentos olhando para a janela. Onde Noel estaria? Será que voltaríamos a nos ver? Ele teria que voltar pra devolver o carro de vovô. Se ele gostasse de mim, haveria uma chance de convencê-lo a ficar por perto?

O sinal tocou, Tiff sumiu na multidão. Não pude procurar mais, pois todos já tinham ido embora. No meio do pessoal que gritava e batia uma bola de basquete pelo corredor eu avistei Ben. Mais uma vez ele trazia uma mancha roxa ao lado do olho. Aquele cara só se metia em confusão.

Seu olhar fixou-se nos meus imediatamente e eu estava guardando os livros no meu armário enquanto lá longe ele agarrou sua namorada e a beijou de língua ali no corredor. OS garotos riram e gritaram como faziam para tudo o que Ben fazia. Acho que aplaudiam até seus peidos. E desviaram para suas próprias vidas. Eu fiquei terminando de colocar, mas percebi que ele a beijava agora com os olhos abertos, olhando pra mim. Por quase cinco segundos ele permaneceu me olhando enquanto beijava sua namorada. Então quando soube que eu estava olhando, fechou os olhos e se afastou dela rindo e se despedindo.

Fechei o armário. Ele achava que aquilo me atingia? Ou estaria apenas demonstrando o quão macho ele era?

Ele veio em minha direção se despedindo dos rapazes. Bateu o ombro em mim sem se desculpar continuou andando. Eu olhei e ao fim do corredor, ele olhou pra mim e fez um aceno de cabeça com um olhar que eu não pude entender que sentimento passava. Mas sabia a mensagem. Ele estava indo pro depósito de teatro.

****

Pensei várias vezes antes de decidir. Fui até a entrada da escola. Seria uma armadilha? Onde diabos estava Tiffany?

Engoli em seco e caminhei pelos corredores desertos que apenas o zelador agora limpava até a sala. Abri a porta e tudo estava meio escuro como sempre. Iluminado apenas pelos janelões ao lado. Era tanta bagunça ali dentro. Eu precisava entrar. Fechei a porta atrás de mim. Um cheio inconfundível invadiu minhas narinas. Ben. Seu suor. Seu desodorante. Eu podia identificar esse cheiro em qualquer lugar. Caminhei e ele estava de fato sentado ao piano na parte mais iluminada da grande sala.

Eu me aproximei ao seu campo de visão. Ben sabia que eu estava ali e começou a tocar o velho piano que, surpreendentemente, ainda funcionava. Ele tocava piano? Desde quando?

Eu sentei sobre uma mesa e esperei ele falar. Coloquei minha mochila de lado. Ao que parecia a situação não parecia uma armadilha. A música era melodiosa, com um quê sombrio. Ele parou e virou no banco.

- Eu não sabia que você tocava piano. – Falei.

- Você não sabe muitas coisas, novato. Ninguém sabe muita coisa. Todos sabem de nós apenas o que nós mostramos, não é mesmo? – Sua voz era forte como sempre. Parecia quase agressiva.

- Verdade. Infelizmente alguns de nós insistem a apenas mostrar o pior que têm. – retruquei.

- Você não entenderia. – ele levantou.

- Por que as pessoas vivem dizendo isso pra mim? Por quê pressupõem que eu não entenderia quando nem se dão ao trabalho de tentar explicar? – Eu estava agitado e também me levantei. – Embora o que você tenha feito não tenha explicação.

- As coisas não são como você pensa, cara. – Ele explodiu gritando comigo e se aproximando cutucando meu corpo a cada acusação. – Você acha que pode chegar num lugar que não conhece, desafiar os donos do local. Agir como uma bicha. Se esfregar em mim e sair impune?

- Para de gritar, comigo! Eu não fiz nada contra você! Esse país é livre. Você não pode querer bater em todo mundo que olha pra você. Você é um cara bonito! e sabe disso. As pessoas vão te olhar.

- Ah então você admite que tava me secando?

- Eu admito, mas e você? tem coragem de admitir? – cutuquei igualmente seu peito. - se você admitir que você tá sentindo isso? - Abri os braços em referência ao clima que nos envolvia.

- Isso o quê, cara?! Você é doido! – Ele me empurrou mais forte. Achei que fosse apanhar.

Eu me aproximei dele. Ele deu um passo atrás estendendo a mão para eu parar com um olhar de alerta. Vi que na sua mão havia uma pulseira azul, como a minha. Achei graça. "Parece que nós jogamos no mesmo time. em todos os sentidos." pensei.

Eu hesitei. Mas continuei. Dei um passo a mais e o abracei em choque por ele não ter feito nada. Ele era mais alto que eu. Encostei o ouvido no seu peito e ouvi seu coração disparado. Ele largou os braços. Eu não tinha interesse afetivo nele mais. Ele era um ogro retardado, mas eu queria vencê-lo e mostrar que eu não o estava assediando. Que ele gostava de garotos. O que ele fingia não ser verdade.

- Você... – disse ele cuspindo essa palavra com nojo.

- Eu vou me afastar. E eu vou embora. E nunca mais eu vou olhar na sua cara. – falei abraçado a ele. Seu cheiro despertava algo em mim. Contra a minha vontade. Sentia os seus músculos do peito na minha bochecha e minhas mãos tocavam suas costas. Senti o pênis dele. Que tocava quase meu umbigo começar a crescer. Sua bochecha tocou o topo da minha cabeça e eu poderia jurar que ele estava cheirando o meu cabelo. O meu pau não resistiu e começou a crescer também. Eu não me preocupei em tocar nele com meu membro. Na sua coxa.

Ele se enrijeceu - Sai daqui... Não tem jeito de conversar com você. - ele disse sem retribuir meu abraço.

Me afastei. – Adeus, capitão! – peguei minha mochila e coloquei nas costas. – Quer saber?... - apontei pra ele - Você me chamou aqui por um motivo. E não foi pra me falar isso. Você só não quer admitir pra você mesmo porque perdeu a coragem. Espero que um dia você olhe no espelho e encontre a coragem que te falta. Só espero que não seja tarde demais pra você fazer o que sempre quis.

Caminhei para a porta. Ben estava finalizado. Era uma estátua. Mas ele acordou de seu transe. Correu e me puxou pelo braço, segurando forte meu pulso na altura do seu rosto. Eu tinha nojo dele e não queria mais vê-lo. Ele era lindo por fora, mas confuso e perigoso por dentro. Pensei que enfim ele optaria pelo seu lado violento para preservar sua imagem. Mas fui surpreendido pelo calor dos seus lábios úmidos colados aos meus. Ele passou sua mão por trás da minha cintura e pressionou seus lábios nos meus. Eu tentava resistir. Eu estava novamente em choque. Não sabia o que sentir naquele momento. Era um sinal de afronta da parte dele. Eu não queria que meu primeiro beijo tivesse sido com ele. Eu queria que fosse especial e importante. Mas ele me roubou isso. Eu tinha ficado muito balançado agora.

- ERA ISSO QUE VOCÊ QUERIA? FALA! – ele me olhou transtornado, falando alto. Eu pude ver o quão difícil era para ele o que ele tinha acabado de fazer. – Queria que eu te beijasse né, sua bicha. Você achou que eu ia achar melhor que beijar a minha namorada? Você achou o que? Seu doente?

- Eu... – Eu fiquei sem palavras. Eu gostava dele afinal de contas. Ou meu corpo não teria reagido dessa forma. Ele estava relutando contra todos os seus princípios para dizer que de alguma forma ele se sentia atraído por mim. Mas não sabia como.

Toquei seu rosto com uma mão. Seu braço largou o meu. Ele estava furioso e triste, mas não se afastou. Eu nunca tinha beijado ninguém. Mas sabia mais ou menos como isso funcionava. Me aproximei e o beijei, colocando para fora todos os meus sentimentos. Queria deixa-lo com um gosto do que ele estava perdendo por ter sido um idiota. Acho que eu beijei bem. Senti seu corpo tremer e os cabelos da sua nuca arrepiados quando passei a mão por ali. Senti sua boca na minha. Seus lábios nos meus. A fome. O tesão de cada movimento. Sua língua brincando na minha. Nossos quadris se esfregavam intensamente.

Me afastei e olhei pra ele. Ele ficou com os olhos fechados uns segundos respirando de forma intensa. Passou a língua nos lábios, para senti-los e então abriu os olhos. Me olhou nos olhos. Eu vi tristeza. Ele fez uma negativa com a cabeça. Eu sabia que ele estava absolutamente perdido. Ele me empurrou e correu da sala. Eu fiquei ali sozinho vendo a porta bater.

10 segundos depois...

- MEU DEUS DO CÉU! – gritou uma vez feminina.

Tiffany saiu do meio de uma montanha de roupas e figurinos que estavam ali no canto com a cara mais estupefata que eu vi na vida. A boca aberta e a câmera na mão.

- JESUS ME SEGURA – disse ela – O. que. Foi. Isso.?

Eu me senti exposto e perdido. Ela estava ali filmando o tempo inteiro.

- Tiff... Ah meu deus... – Peguei a câmera da mão dela - como você foi parar aí?

- O bilhete que você me mostrou. Você me deu a câmera. Não era esse o plano? Dizia q ele viria pra cá. Cara! Ele está acabado. Ele te beijou. Tipo... nem foi você que queria. Ele te agarrou bem aqui! E aquele beijo. Obviamente muitas faíscas saíram dali. Guilherme... – Ela olhou pra mim. – Eu acho que ele gosta de você.

- Da mesma forma destrutiva que o lobo gostava da chapeuzinho. – Disse em resposta. – Nem uma palavra sobre isso, Tiff. Essa fita vai pro meu baú de provas. Mas nós não iremos usar até eu saber se não teremos nada melhor. Lembre que essa fita sujaria ele na cidade inteira. Mas me levaria junto.

- Eu sei, Guilherme. Você não quer que as pessoas saibam da sua sexualidade.

- Não é bem isso. – Suspirei – Eu estou apaixonado por outra pessoa. E ele não pode descobrir que eu ando beijando outros caras por aí.

Tiff ficou mais boquiaberta que antes.

*********

O gosto de Ben permaneceu comigo. Seu cheiro que entranhou nas minhas roupas também. Por um momento pensei no que ele me disse. Será que alguma explicação que ele me desse seria boa o suficiente para me fazer relevar o que ele e sua gangue tinham feito comigo? Eu nem deixei ele falar. Fui pra casa sem saber o que fazer. Ainda bem que era sexta feira e não teria aula nos próximos dois dias. Queria deitar e dormir pra sempre.

Ao me aproximar na casa de vovô vi a caminhonete vermelha estacionada próximo ao celeiro.

Continua...

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Comentários

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Obrigado, pelos votos e comentários. Que bom que estão gostando. A história está seguindo seu rumo sozinha. Nem eu mesmo sei o que vai acontecer e também estou na torcida de um final feliz. rs

Geomateus vc comentou o que eu acho que é a sua senha, por isso apaguei seu comentário antes que alguém lesse. ;)

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