Minha História, Minha Luta, Minha Glória 29

Um conto erótico de Dr. Friction Fiction
Categoria: Homossexual
Contém 2524 palavras
Data: 28/02/2016 14:19:54

Queridos leitores. Gostaria de, em primeiro lugar, pedir perdão pela inexcusável ausência. Sei que perdi muitos dos meus fiéis leitores. Mas estive afastado por motivos que foram muito maiores que eu. No fim desses contos, vou esclarecer o porquê dessa demora. E pretendo voltar a escrever, mas nada que seja pessoal. Histórias que ouvi, coisas que sei, transformadas em contos. Melhor assim, pra evitar problemas com pessoas que amo, respeito e admiro. Aviso logo que o conto sempre esteve planejado pra acabar no trigésimo capítulo, e esse que segue aqui já estava escrito desde 2013, mas não pude publicar.

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Ele me olhou incrédulo por um tempo, e ficou com cara de tacho. A boca nem mexia, aberta, prestes a dizer algo que simplesmente não saiu. Ele levantou as mãos, gesticulando como se fosse falar algo, mas só depois de fechar a boca e engolir em seco, conseguiu finalmente dizer algo:

- Você planejou isso. Me enganou desde o começo pra soltar teu namoradinho- ele estava com cara de raiva, mas parecia que ia chorar- como você pôde fazer isso comigo? Não era você que me amava, que estava apaixonado por mim?

- Estava. Amei você demais. Mas você foi covarde, não teve coragem de sequer me mandar uma mensagem dizendo o que seu irmão fez- falei sem alterar o rosto ou a voz- e isso foi antes de você me humilhar na frente da escola inteira e ainda tripudiar em cima da minha desgraça quando todo mundo ficou sabendo que eu sou gay. Você se mostrou ruim, e ele chegou na minha vida...

- Você me acusa de tudo isso, mas é pior que eu! Me enganou, me usou, chegou a me beijar- ele estava ficando alterado- você se acha tão superior, mas não é! Você é pior que eu!

- O que eu fiz foi pra tirar da cadeia um homem inocente, que você colocou lá por capricho- falei alto- você colocou na cadeia o melhor ser humano que eu já conheci na vida, o homem que me amparou, me protegeu, abrigou e acima de tudo, me amou quando até meu pai me pôs pra fora de casa! Então, meu filho, eu faria de novo, dez vezes, mil vezes!

- Pois agora eu quero ver! Você não quer ficar comigo, então vai se fuder! Agora eu vou destruir você!- ele falou com o dedo apontado na minha cara- quem vai pra cadeia agora é tu, gigante, e de lá ninguém tira você!

- Não vai, não! E você vai parar de falar bobagens se não quiser levar uma surra na rua- falou uma mulher idosa se aproximando. Não a vimos chegar- e você, meu jovem, quero que fique bem longe do meu filho!

- Mãe! O que a senhora está fazendo aqui? E o Cris também?- só então notei Cristiano encostado à uma árvore, ao fundo. Então aquela era a dona Albertina! Ela realmente tinha idade pra ser minha avó, e usava os cabelos loiros curtos, muita maquiagem e jóias finas- o que vocês estão fazendo aqui? Me seguiram? Olha, isso é tudo armação desses dois, eles querem me fuder com a senhora!

- Olha como fala na minha presença! Eu ouvi bem o que vocês disseram. E sei que você está fora de controle!- ela falou chegando perto dele, que se encolheu- e não me importa nem um pouco se você é gay, bi, tri, ou o diabo a quatro! O que me importa é você me fazendo passar vergonha em uma delegacia, ameaçando esse jovem de fazer de novo! Você vai é se mudar pra Alemanha, passar um ano esfriando a cabeça e crescendo, pra virar gente! E assim esse contato com os Freire acaba, deixando os segredos do passado, no passado.

- O que!? Mas eu não vou mesmo! Aquilo lá deve ser um saco!- ele falou- Eu quero ficar aqui. Por favor, faz isso não, mãe! Eu prometo que não faço mais!

- Olha, dona Albertina, por mim acho ótimo. Eu quero distância do seu filho. De vocês- falei- eu amei se filho, de verdade. Mas com tudo que aconteceu, isso morreu. Não quero o mal de vocês, nem o seu, Guê, mas não rolaria, nunca.

- Acho bom, Donovan. E eu não me importo se você fica homens ou mulheres, filho, mas esse rapaz não é pra você- ela falou- eu não sou preconceituosa como seu irmão, aliás já conversei com ele. Você vai pra Alemanha, estudar, criar juízo!

- E quem sabe você não arranja uma namoradinha alemã e volta a gostar de xana, maninho- falou o Cristiano, se aproximando- a esperança é a última que morre...

- Meu filho, olhe o linguajar! E agora, você Gehardt Feuerstein, vai com seu irmão pro carro, que temos que ir!- ela falou, puxando ele pela mão como se fosse uma criancinha- Anda, menino, eu não tenho o sábado livre como vocês!

- Espera! Eu só quero dizer que eu não desejo mal, Guê! Não mesmo!- falei pra ele- só que não acho que você realmente me queira, eu seria só mais um brinquedo nas mãos de um menino mimado e no fundo você sabe disso. Mas boa sorte.

- Mãe, deixa eu dar pelo menos um abraço nele?- ele se soltou da mão da mãe, e veio até mim, atirando os braços em volta do meu pescoço. Cristiano fez uma cara de nojo- ei, gigante, um dia eu vou voltar. Vou voltar e tu não vais mais estar com esse cara, e eu terei minha chance. Eu vou esperar e tu vais ver que eu sou homem, o homem pra ti.

- Quem sabe, baixinho, quem sabe. Mas eu amo esse cara e não pretendo deixar ele ir- falei pra ele, olhando-o nos olhos- e eu te desejo sorte de verdade. Eu estava com raiva, queria realmente te fazer mal, mas agora isso é bobagem. Cresce, cria juízo, e com certeza vai aparecer uma pessoa pra você, alguém melhor que eu. E você vai precisar estar maduro, mudado, pra conquistar essa pessoa. Fizeram isso por mim.

- Eu volto, meu gigante, um dia eu vou te reencontrar. E aí, você vai ver- ele ficou na ponta dos pés e me deu um selinho- eu sou o cara que vai te fazer feliz. Me espera, viu?

- Você é doidinho. Boa sorte!- falei soltando ele- e vê se fica mais alto também, né!

Ele se afastou e foi andando em direção ao carro com um sorriso confiante no rosto que eu sabia que estava disfarçando a raiva e frustração. Ele passou por Cristiano fazendo uma careta para o irmão mais velho, que retribuiu da mesma forma.

- Mãe, eu tinha mesmo que vir até aqui pra ver essa baitolagem toda?- ele falou- não podemos simplesmente dar uma surra nele e nesse aí e tchau?

- Cristiano, se você encostar um dedo no seu irmão de novo, eu te deserdo!- então, ela sabia da surra- e ainda te dou uma surra duas vezes pior. Agora vai me esperar no carro, com seu irmão, anda.

Ele assim o fez e eu fiquei sozinho no meio da rua com ela. Esperava que ela fosse me esbofetear, me xingar, não sei. Mas ela simplesmente disse:

- Agora, faça sua parte e nunca mais chegue perto do meu filho, entendeu?- ela apontou o dedo na minha cara- essa aproximação das famílias Absche e Feuerstein nunca foi ideia minha, mas do meu marido. Meu filho não pode saber que é adotado, que é seu primo. Está compreendido?

- Sim, a senhora foi clara. Eu também não preciso e nem quero esse contato- falei pra ela- pode ficar sossegada. Agora eu preciso ir, se a senhora me der licença.

Ela simplesmente assentiu com a cabeça e seguiu para o carro. Cristiano mal esperou que a mãe entrasse e fechasse a porta, saiu arrancando com o carrão deles, cantando pneu. Ainda vi o baixinho me olhando da janela de trás. Acho que estava chorando. Ah, querendo ou não, devo minha auto descoberta, em parte, ao Gehardt. Ele foi minha primeira paixão. Vânia, não sei, era mais como uma amiga que virou namorada, por questões sociais, mesmo que eu não visse isso. Otávio... bem, Otávio é minha âncora, meu chão, meu abrigo do mundo. Mas o baixinho me deixou uma marca inegável. O bom é meu magrelo me conquistou, e ele hoje não me desperta nada, nem raiva, nem amor. E isso é u um capítulo encerrado na minha vida. Será?

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Peguei o carro e segui para a residência dos Franco. Essa era minha parada derradeira, meu ponto final na minha vingança. Eu iria até o fim, mesmo que já não me sentisse com tanta vontade de queimar o mundo. As pessoas que realmente mereciam já estavam queimadas.

Cheguei e pedi ao porteiro pra ser anunciado. Mesmo acreditando que talvez não fosse ser recebido, acabei por ser convidado a entrar. Fiquei com receio de que os cães fossem ser soltos em cima de mim, mas não me contive e deixei o carro diante da entrada principal e entrei sem muita cerimônia.

Ao chegar à sala, vi dona Úrsula sentada bebendo alguma coisa sozinha no sofá. Ela me olhou de soslaio e terminou o que tinha no copo antes de deixa-lo vazio numa mesinha de apoio e se levantar batendo palmas pra mim com uma cara irônica.

- Parabéns, seu anormal nojento. Conseguiu o que queria – falou ela se aproximando – destruiu a minha família pra sempre. Foi você, não foi? Tenho certeza que foi você!

- Não sei do que a senhora está falando – eu disse dissimulado – eu vim aqui pra exigir que vocês reparem todo o mal que fizeram ao Otávio, e vai ser hoje ainda! A senhora não tem amor aos seus filhos, então se não vai ajudar por bem, vai ser por mal!

- Como você ousa vir aqui exigir alguma coisa depois de tudo? – ela esbravejou – foi você quem acabou com a carreira dos meus sobrinhos? Elameou ainda mais o nome da minha família! Tenho certeza que uma atitude baixa dessas só pode ter vindo do seu tipinho!

Sim, pensei eu, fui eu sim. Então ela já sabia. E que bom que sabia até onde eu poderia chegar. O que ela se referia era o meu plano que meu irmão realizou. Enviamos um e-mail a Plínio e Régis, que imitava o e-mail do pai deles, cobrando coisas da escola. Então, ao crer que o e-mail era do pai, eles o abriram e o acessaram. Um vírus então deu controle externo no PC de cada um e meu irmão vasculhou e achou muitas coisas interessantes. Desde documentos que comprovavam que eles estavam quase falindo a escola de tanto desviar dinheiro até vídeos amadores deles dois fazendo sexo com estudantes menores de idade. Mandamos os documentos para próprio diretor, e os vídeos foram enviados para a polícia e para uma redação de um importante jornal da capital. Amanhã essa provavelmente seria uma das principais notícias do dia. E provavelmente os dois seriam demitidos e presos, e assim pagariam por tudo que fizeram ao Otávio, mesmo que indiretamente.

- É, fui eu, sim! E eles mereceram! A senhora não sabe, mas eles dois fizeram aquelas coisas todas com o Otávio quando ele era pequeno! – eu falei – E a senhora, péssima mãe que é, nem liga e só pensa em aparências!

-Como é que é? O que você está dizendo? – Ela me olhou perplexa – Não seja um mentiroso! Não faça acusações que não pode provar!

- O seu filho faz terapia hoje em dia por isso! – eu estava gritando - E a senhora o afastou tanto que nem sabe disso... Quer um casamento de fachada, uma vida de fachada, sem amor de verdade!

- Você não sabe o que fala! Me julga sem me conhecer! Eu só quero o bem dos meus filhos! _ ela agora chorava – você não sabe o que eu já tive que aguentar por eles, as humilhações que tive que aturar... você chegou agora e que tentar uma história que tem quase trinta anos!

- Eu cheguei agora, e só quero o bem do Otávio. Só quero ver ele feliz e sei que ao meu lado ele está – eu disse baixando o tom de voz. Ela estava baixando a guarda e eu poderia usar isso pra não ter que ir mais longe – será que a senhora não vê que só queremos ser felizes? E que um ao lado do outro, somos?

Ela parou e parecia pensar. Sentou e cobriu o rosto com as mãos e chorou mais um pouco. Eu estava impaciente, pois o sr. Gedeão poderia aparecer a qualquer momento. Então sentei ao lado dela e falei baixo:

- Eu sei o que a senhora teve que passar. O Otávio também sabe – eu falei olhando pra ela, que me olhou de canto de olho sem entender nada – e o mais irônico é que ele viveu uma vida inteira sabendo de tudo e nunca julgou vocês dois. Nunca apontou o dedo. Nunca os acusou de nada, nem quando vocês se voltaram contra ele.

- O que diabos você está falando, Donovan? – ela disse; sabia que ela sabia meu nome... – o que é que o Otávio contou pra você?

- Que o seu marido a trai com prostitutas, travestis... – eu disse sem jeito – e que a senhora aguentou calada durante anos...

- Oh, meu Deus... como meu filho pôde saber disso e não dizer nada!? – ela começou a chorar de novo – ele nunca me disse nada, nunca confrontou o pai!

- Porque mesmo sabendo dos defeitos de vocês, ele os ama e acreditou que a sua decisão de aceitar isso era a mais acertada para a senhora – eu disse. Acho que estava quase conseguindo tocá-la – Vim aqui pra exigir que devolvam o que pertence ao Otávio. E que o ajudem porque foram vocês que pediram pra que fosse demitido por justa causa. E isso acabou com a carreira dele. Eu ia usar isso contra vocês, mas nem vocês merecem isso. No fundo, sei que são bons pais e podem pôr a mão na consciência e ver que estão errados...

Ela me olhou em silêncio por um tempo. Tremia um pouco, mas talvez fosse efeito do álcool. Ela parecia prestes a falar alguma coisa quando ouvi uma pessoa descendo as escadas. Olhei e era o sr. Gedeão. Trazia consigo uma arma na mão direita e um copo de uísque na esquerda.

- Eu ouvi o que você disse, rapaz. E repito o que eu disse da última vez que nos vimos – ele disse apontando a arma pra mim – Eu não me importo que meu filho seja gay, bi, tri, tetra, foda-se. Mas ninguém vai utilizar isso ou qualquer outra coisa pra atrapalhar minha campanha política. Você não vai sair daqui com esse segredo.

- Espera aí, seu Otávio, ficou maluco? – eu disse com muito medo – guarde essa arma pra não fazer merda! Eu não sou um zé ninguém que o sr pode dar cabo ass...

E então só senti a dor e ouvi o disparo e um grito da dona Úrsula. Não necessariamente nessa ordem. Coloquei a mão no abdome e a vi corar de vermelho com meu sangue. Meu corpo tremeu e eu caí. Não havia mais nada além de uma escuridão terrível.

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Finalmente voltasse para contar o final, já tinha perdido as esperanças. Abraços e que tudo esteja bem na tua vida.

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