Estrela guia de minha nau errante | 02

Um conto erótico de Lipe.Bourbon
Categoria: Homossexual
Contém 1715 palavras
Data: 18/02/2016 22:43:01

Estrela guia de minha nau errante | 02

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“Há flores em todos os lugares para aqueles que querem vê-las” (Henri Matisse)

________________Felipeeeeeee!!! Que saudades, meu querido. Isso aqui, sem você, é muito chato.

- Oi, Clau. Também senti muito a sua ausência.

- Está bronzeado, hein? Ficou bacana em você.

Eu tenho estatura mediana, pele clara, olhos e cabelos castanhos, sendo que estes mantenho bem baixo, aparado na máquina. Um rapaz comum.

Claudia foi a primeira pessoa com quem eu conversei naquele Departamento, quando ainda era estagiário. Em meu primeiro dia, ela estava lá e durante muito tempo, enquanto exerci a função de estagiário, compartilhei uma sala de trabalho com ela.

Assim, passado o tempo, eu já na condição de assessor pleno, continuava almoçando com ela e tendo-a por amiga. Muitos estranhavam o fato de eu ser próximo de uma funcionária do baixo escalão. Porém, para mim, não era a condição de secretária que definia meu sentimento por ela, era sobretudo aquele seu humor peculiar, marcado por uma sinceridade chocante.

- Clau, conte-me: como estão as coisas por aqui?

- Lipe, eu falei que essa história de você e o Diretor tirarem férias ao mesmo tempo não ia dar certo. Você acredita que a louca da substituta, a Laís, contratou um estagiário?

-Sério?! Que mal há nisso? Rss...

- Como assim que “mal há nisso”? A Karine e você coordenaram um processo seletivo rigoroso e justo mês passado, para a escolha dos novos estagiários. Agora a louca, cheia do recalque e inveja por ser uma assessora bem mediana, pôs as garras de fora trazendo um estagiário para trabalhar aqui. É como diz aquele ditado: “os gastos saem, os ratos fazem a festa”.

- Hum, limitei-me a dizer.

- E tem mais...esse estagiário novo, além de não ter participado do processo seletivo, é aluno de uma amiga dela, que dá aula em uma faculdade aí.

- Tudo bem, Clau. Concordo que a nossa filosofia aqui é realizar um processo seletivo aberto, sem preferências ou detrimentos. No entanto, pelo que entendi, o estagiário já foi contratado. Temos que lidar com a situação posta.

- Sei, mas não gostei. Pronto falei. Muita audácia por parte daquela desfrutável!!! Hahahaha......Lipe não me olhe assim, sou sincera!!!

Tive que sorrir. De fato, esses arroubos de verdade me encantavam. Sempre preferi tratar com pessoas que demonstram o que sentem àquelas que mascaram seus sentimentos.

- Clau, por favor, diga-me, o Diretor já chegou?

Aqui, um esclarecimento. O Diretor também se chamava Felipe. Ele começou a trabalhar naquele Departamento quando eu ainda tinha alguns meses de estágio.

De antemão, sabia que a pergunta era inócua. Felipe chegava mais tarde para o trabalho.

- Claro que não Lipe. Mas aposto que você será a primeira pessoa com quem ele vai falar. É tão bonita a amizade de vocês, além do carinho que é evidente.

- Gosto muito do Felipe. Ele é um ótimo chefe. Respondi timidamente.

- Sei...

- Sabe o que, Clau? Bom, deixa-me ir para a minha sala. Alçamos juntos hoje, correto?

- Claro, meu querido. Quero saber tuuuudo das suas férias.

- Combinado.

Deixei Claudia na sala dela e parti em direção a minha. Ali era a sala geral dos Assessores. Nela ficavam todos os Assessores e, numa espécie de sala interna e reservada, ficava o Diretor.

Liguei meu computador e dei início aos trabalhos. Serviço não faltava ali. Também coloquei a cafeteira para funcionar, pois fazer café era minha função desde os tempos de estagiário e, modéstia a parte, meu café era um sucesso de gostoso...rss.

Aos poucos os demais assessores foram chegando e parcela da minha manhã se constituiu de café, conversas sobre minhas férias e serviço.

Até que o relógio marcou 11h, ou seja, horário a partir do qual o Felipe chegava. Antes disso, a manhã dele era preenchida, a depender do dia, pelas idas à academia, por aulas de tênis e aulas de instrumento musical de cordas. Felipe era admirador de música popular brasileira, sabia-as de cor. Ele já tocava violão, cavaquinho e agora estava a aprender bandolim.

E a partir das 11h, eu já ficava ansioso, na expectativa da chegada de Felipe, pois, antes de meu chefe, era ele um amigo querido.

Ouvi a porta abrir e, confesso, só pela forma como a porta abria eu sabia que era ele. Ainda assim, olhei para o lado, em direção à entrada da sala, lá estava ele, de terno bem alinhado, marcando seu corpo bem estruturado, fruto de suas atividades físicas. Seu rosto era belo e, nos últimos tempos, tinha ganho o charme adicional da barba que Felipe estava mantendo. Mais alto um pouco que eu, cabelos e olhos castanho e pele clara, eis meu chefe.

Ao me ver, Felipe sorriu e, de imediato, sorri de volta. Pronto, quase nada era necessário ser dito. Ele me saudou, dando-me um abraço (mais longo do que os abraços que ele distribuiu aos demais assessores, diga-se de passagem), senti seu perfume marcante e inebriante, ele perguntou se estava tudo bem, respondi e devolvi a questão. Dirigiu-me em resposta aquele olhar maroto, acompanhando de um sorriso gostoso. Sabia a resposta, tudo estava bem e conversaríamos com mais vagar depois, posteriormente ele cumprimentar os demais funcionários e começar oficialmente o dia.

Retornei às minhas atividades de trabalho, enquanto Felipe foi conversando com os outros funcionários e depois seguiu para a sua sala.

Passado um tempo, foi a vez de Vanda, uma funcionária, chegar para trabalhar.

- Lipe, meu querido. Tudo bem? E as férias? Senti muito sua falta.

Vanda era uma má pessoa. Falsa e hipócrita, adorava destilar seu veneno e, pelas costas, agia de má-fé contra qualquer um.

- Foi tudo bem, sem problemas. Obrigado por perguntar. E você, como está?

Mantive a urbanidade que o local de trabalho exigia.

- Estou ótima. Felipe, nosso amado Diretor, chegou?

- Já chegou sim.

- Vou lá falar com ele. Tenho certeza que você foi a primeira pessoa com quem ele falou ao adentrar aqui na sala.

Já tinha ouvido aquela assertiva mais cedo.

- Não entendi. O que quer dizer? Questionei.

- Nada demais, fora o fato de você ser o preferido dele. Lembro-me que, ano passado, naquela segunda-feira que você faltou para estudar para a arguição oral do seu trabalho de conclusão de curso, Felipe quase surtou.

- Vanda, você sabe que eu já havia falado com ele a respeito da minha ausência. Creio que não houve alarde nenhum.

- Lipe, não estou dizendo que você não avisou o Felipe de sua ausência. Disso tenho certeza, porque você é todo corretinho com o trabalho. O fato é que foi a única vez que você faltou e foi o que bastou para tirar Felipe do prumo. Ele ficou desacorçoado com a sua ausência. Quando chegou e não viu você, tratou de questionar sua ausência. Quando explicamos, ele lembrou o motivo de sua falta. Mesmo assim, passou o dia aéreo.

- Vanda, eu não acredito que tenha sido assim. E quando eu saio de férias?

- Foi assim sim, Lipe. Do tempo que você está aqui, nos dois primeiros anos você não teve férias, porque era estagiário. Depois, ao se tornar, funcionário, foi mais um até ter direito às férias. Ano passado, você tirou apenas quinze dias, basicamente para estudar para as provas finais. Nesse período, Felipe ficou muito preocupado com você. Óbvio que ele queria a sua aprovação, mas nessa preocupação toda também havia a falta que você faz a ele.

- Felipe é um chefe muito diligente e muito amigo com todos nós.

- E não foi isso que disse, meu querido? O que mais poderia dizer? Sarcasticamente falou Vanda.

- Claro, foi isso.

- Bem, vou lá falar com o chefinho, pois como não sou você que goza da predileção dele, não posso me dar ao luxo de ser grossa com o “boss”.

O fato era que Felipe já vinha tratando da transferência de Vanda de nosso Setor. Aliada a falsidade dela havia a incompetência. Ela era uma péssima funcionária. Mesmo assim, Felipe, benevolente, optou pela transferência ao invés da demissão.

Felipe costumava discutir esses assuntos da chefia comigo, normalmente em uma “happy hour”, pós-expediente. Ele confiava em mim, porque sabia que minha ponderação seria justa, sem ser guiada pelo sabor de qualquer emoção.

Olhei em direção à sala de Felipe. De pronto, ele olhou para mim, meio que adivinhando que eu olhava para ele. Vanda já estava lá, alugando-o. Ele sorriu para mim e deu uma piscadela.

Aí foi minha vez de sorrir. Sorte que o telefone tocou, tirando-me daquele momento de quase transe.

- Assessoria, bom dia. Com quem eu falo?

- Lipe, sou eu, a Clau. Vamos almoçar? Estou parecendo uma flagelada de tanta fome que sinto.

- Dê-me mais trinta minutos, por favor. Fui interrompido por uma conversa cumprida da Vanda e quero terminar uma coisa antes do almoço. Pode ser?

- Está bem, só porque adoro você. Vou comer umas castanhas para enganar a fome. Mas essa Vanda é uma vaca mesmo!!! Até o almoço alheio ela empata. Que horror!!

- Obrigado pela consideração. Até daqui a pouco então.

Não se passaram quinze minutos, meu telefone toca novamente.

- Assessoria...

- Lipe, Clau novamente quem fala.

- Oi, Clau. Mas ainda não terminei aquela atividade...

- Tudo bem. Sabe o que é, aquele estagiário novo que a Laís contratou está na recepção do prédio, aguardando liberação de entrada. Ele começa hoje. Posso mandar subir?

Relembrando minha história, consigo observar que nesse momento houve o primeiro sinal das mudanças vindouras. O motivo? Estranhamente, ao ouvir o questionamento, bateu-me um sentimento distinto e aquela sociabilidade que me era marcante sumiu, tanto que respondi:

- Não quero me meter neste assunto. Fale com o Felipe, já que foi a Laís que criou a situação, e ele, na condição de chefe, terá que resolver.

- Tudo bem, falo com ele então.

- Clau, vamos almoçar? Deixarei a atividade para depois do almoço.

- Ebaaaa!!! Vamos já. Encontro-te na porta de sua sala.

E assim foi. Encontrei com a Claudia e seguimos em direção ao térreo.

Lá chegando, ao passarmos pela catraca de acesso ao prédio, meu olhar foi atraído para as cadeiras onde as pessoas aguardavam a liberação de entrada.

Eu o vi, pela primeira vez. Lindo, de terno cinza e camisa azul.

Friso: eu o vi. E meu coração o sentiu e meu cérebro o registrou.

Aquele momento foi marcante em minha história. Era a chegada do vento do norte que ia redefinir os parâmetros de minha vida.

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Comentários

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hummm bacana mas,diferencie os Felipes pra a gente nao cnfundir

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