Asfalto - Capítulo 08

Um conto erótico de Lord D.
Categoria: Homossexual
Contém 4443 palavras
Data: 08/01/2016 19:48:33

– Capítulo 08 –

O paraíso

Miguel acordava aos poucos, sentindo algo úmido e quente percorrer suas costas, provocando-lhe arrepios. Ele se mexeu, abrindo os olhos lentamente, com um sorriso esboçado na face. Conrado lhe dava beijos molhados desde a polpinha da bunda até sua nuca.

- Que cordeirinho mais preguiçoso, meu Deus – Conrado sussurrou no ouvido de Miguel dando uma mordiscada, enquanto repousava seu peso sobre as costas do mesmo. Miguel girou o corpo, ficando de frente para ele. Os sorrisos se encontraram numa reciprocidade de puro contentamento.

- Como você está? – perguntou Conrado.

- Indescretivelmente bem, apesar de estar sentindo um pouco de ardência – Miguel riu ficando um pouco corado.

- Peguei pesado não foi? Mas também, quem manda ser tão gostosinho, hein? – Conrado começou a fazer cócegas na barriga de Miguel, mordendo os lábios.

- Para seu idiota – Miguel se contorcia aos risos, quase lacrimejando. Conrado parou a brincadeira com um beijo longo.

- Que horas são? – perguntou Miguel com a voz modorrenta,

- São precisamente dezenove horas e trinta quatro minutos – Conrado olhava no seu relógio de pulso, que estava sobre o criado-mudo.

- Perdi a noção do tempo – Miguel tentou se levantar, mas Conrado o prendeu com seu peso.

- Tempo? Não existe mais – Conrado o beijou suavemente.

Os dois ficaram curtindo o beijo úmido e delicado. As coxas de Conrado roçavam devagar nas de Miguel.

- Preciso de um banho – Miguel finalizou o beijo com um selinho. – Aliás, nós dois precisámos – ele riu.

- Hum... Adorei o convite – Conrado deu uma mordidinha no peito do outro.

Miguel se levantou envolvendo o lençol em sua cintura enquanto procurava uma toalha.

- Nada de me privar dessa visão – Conrado puxou o lençol do corpo do outro, deixando- o completamente nu.

- Conrado! – Miguel tentou recuperar sua coberta, mas o seu namorado foi mais rápido e o agarrou no colo.

- É hora de dar banho no meu cordeirinho – Conrado saiu correndo para o banheiro sob os protestos de Miguel, que exigia que ele o pusesse no chão. Ele ligou o chuveiro, detendo Miguel pelo braço.

- Será que posso ao menos tomar banho em paz? – perguntou Miguel sem conter o riso.

- Claro que não! – Conrado o agarrou por trás e ficou curtindo a água desabar sobre seus corpos colados. O pau dele, duro como rocha, já pressionava a bunda de Miguel.

Miguel inocentemente se esticou para pegar o shampoo, ficando levemente encurvado.

- Que posição gostosa cordeirinho – Conrado firmou suas mãos nos dois lados da cintura de Miguel.

- Não é nada do que você está pensando.

- E é do que estou fazendo? – Conrado iniciou uma penetração.

- Ahhh! Seu safado – Miguel soltou o shampoo.

- Quer que eu pare? – Conrado perguntou continuando a penetração.

- Não. Ahhhhhh! – Miguel sentia a estaca abrir caminho.

Conrado começou beijar o pescoço de Miguel, chupando o topo da orelha, enquanto suas mãos deslizavam pelo peito dele, lavando o corpo do mesmo. A água batizava cada movimento preciso, fazendo os tremer de prazer mais ainda.

- Que delícia! – Conrado acelerava os movimentos de vai-e-vem. O sexo era um pouco mais selvagem do que a primeira vez dos dois, mas ainda com muitas carícias.

Conrado foi abaixando-se até está sentado no chão do banheiro, trazendo Miguel para seu colo, de costa, sem tirar seu pau de dentro deste.

- Quero olhar em seus olhos? – pediu Miguel delirando de prazer.

- Tudo que você quiser meu amor – Conrado o girou com agilidade, ficando com o nariz colado no do outro.

Miguel enrolou suas pernas na cintura do namorado, ficando tão juntos, que todas as partes do corpo se tocavam. O beijo vinha faminto acompanhado os ritmos do movimento. Miguel rebolava sobre o membro de Conrado, fazendo o revirar os olhos, gemendo muito entre beijos e arfares. Cada folículo capilar do corpo de ambos estava eriçado ao máximo. A água continuava a despencar. Os dois sorriam perdidos nos olhos um do outro. O gozo explodiu como uma onda de sentimentos e sensações. O sexo, a excitação e o desejo eram apenas parte do conjunto encabeçado pelo amor, misturado ao carinho, cumplicidade, fé. Sim. Fé, de que a felicidade existe e que é alcançável.

De pernas bambas, tomaram um banho de verdade, e foram dormir mais um pouquinho, de conchinha. Conrado apertava tanto Miguel, que às vezes este ficava com dificuldade de respirar. Acordaram eram dez da noite. Estavam famintos, e nem um com disposição para cozinhar, principalmente Conrado que, no talento da culinária, só tinha a habilidade de ser bom de garfo.

- Eu vi uns marshmallows naquelas sacolas que você trouxe – disse Miguel, enquanto discutiam o que fazer para o jantar.

- É verdade – lembrou Conrado. – Adoro marshmallows! Quando a gente vinha pra cá, meu pai ascendia uma fogueira e ficávamos conversando bobagens enquanto assávamos os marshmallows. – Conrado olhava para o teto, com a cabeça repousada nos braços cruzados para trás.

- Então está decidido – Miguel levantou-se calçando um chinelo acolchoado. – Você cuida da fogueira que eu vou preparar os espetinhos de marshmallows.

- Positivo capitão – Conrado se levantou batendo continência. Assim que virou as costas Miguel lhe deu um apertão vigoroso na bunda.

- Ei, seu tarado! – Conrado fingiu ter se ofendido.

- Não resisti – Miguel sorriu. Conrado retribuiu o sorriso dizendo:

- Vai ter volta cordeirinho. Vou te arrebentar ao meio.

- De rir? Talvez.

- Não. Com essa vara que vos fala – Conrado apertou o pau por cima da calça de moletom, lambendo os lábios.

- Vai logo ascender a fogueira imprestável! – Miguel saiu empurrando ele para fora do quarto.

Fogueira acesa e marshmallows espetados, os dois puseram no chão um colchonete revestido com uma capa impermeável, trazendo uma manta de casal, pois a noite estava relativamente fria.

Os primeiros marshmallows foram comidos cru mesmo por Conrado, pois ele estava muito faminto e não queria esperar. Os dois conversavam bastante, nos intervalos dos beijos demorados, mas nem um assunto se referia ao que eles chamavam de “vida lá fora”.

- Toma amor, esse aqui é bem grande – Miguel retirou um do espeto soprando na sua mão e levando à boca do namorado.

Conrado abocanhou o marshmallow mordendo os dedos de Miguel.

- Ai! Era só o marshmallow bocão – Miguel puxou rápido o dedo.

- Podia ser você também – Conrado lambia os lábios reluzentes. A fogueira crepitava emanando um calor aconchegante. Os dois estavam abraçados sob a mesma coberta namorando muito.

Ao fim dos assados, Conrado levantou-se subitamente e foi em direção a casa.

- Aonde você vai? – Miguel perguntou tristemente.

- Já volto! – Conrado sorriu pra ele correndo pra dentro da casa. Uns minutos depois, ele voltou com um violão.

- De onde você tirou isso? – Miguel se ajeitava no colchonete.

- Estava guardado na dispensa – respondeu Conrado. – Vamos fechar a noite com chave-de-ouro.

Conrado foi para o lado oposto de Miguel, sentando-se em um tronco que lhe dava a visão frontal do namorado. Apenas a fogueira os separava, refletindo sua chama nos olhos de mel e nos azuis. O céu estava extremamente estrelado, com um brilho liquido e envolvente. A brisa da noite era tranquila e fria.

Conrado começou a deslizar os dedos pelas cordas do violão, dando sentido as notas. Ele tocava e cantava “Boyce Avenue With Arms Wide Open” do Creed. (http://www.youtube.com/watch?v=g7V1xbpsV_c).

Miguel vibrava com o momento. Por nem um segundo Conrado desgrudou os olhos dele. Aquele sorriso bobo de apaixonado, que acha linda até as coisas banais, não abandonavam suas faces.

Assim que Conrado desprendeu as últimas notas de seu violão, ele viu um Miguel muito emocionado. Filetes de lágrimas reluziam, à luz da fogueira, no rosto do filho do pastor.

- Foi perfeito meu amor – Miguel limpou o rosto.

- Você tá chorando lindo? – Conrado deixou o violão de lado e veio ficar perto dele.

- Não consegui conter minha felicidade... – Miguel limpava mais uma. – É que... Tudo isso é tão mágico Conrado. Parece um sonho. Dar até medo de pensar que eu posso acordar de repente e não te ter sabia? – Miguel começou a chorar de vez.

- Eu vou sempre está aqui, do seu lado meu amor. Isso real. Nosso amor é real – Conrado o beijou.

- Eu te amo tanto, que chega até a doer – soluçava Miguel. – E se tudo acabar? Se um de nós der adeus?

- Esquece isso meu anjo – Conrado o apertava mais e mais, sentido o peito arder, como se sentisse uma tempestade aproximando-se. – Eu vou cuidar de você. Eu vou te proteger.

Os dois foram para dentro, e dormiram bem juntinho, confortados no calor emanado de seus corpos.

A felicidade lembra uma redoma sensível, e os que nela habitam temem o estilhaço.

No dia seguinte, Conrado acordou sentindo o cheiro de comida inebriando o quarto. Olhou para o seu lado e não viu Miguel. Ele levantou rapidamente e seguiu o cheiro da comida.

- Bom dia lindinho! Madrugou hoje foi? – Conrado entrou na cozinha, abraçando Miguel que terminava de por a mesa.

- Alguém tem que trabalhar aqui não é? – Miguel deu um beijo no rosto do companheiro.

- Ah, no rosto não, quero na boca – Conrado tentava alcançar a boca de Miguel.

- Só depois de você escovar seus dentes.

- Tá com nojo de mim, Cordeirinho? – Conrado fingiu indignação.

- Sem drama lobo-mau – Miguel lhe deu um selinho. – Agora vai fazer sua higiene e vem logo tomar seu café, pois quero explorar o sítio.

- Tá ficando muito mandão, hein? – Conrado foi para o banheiro. – O bom é que vou cobrar tudo depois, com juros e correção sexual.

- Você só pensa em sexo garoto?

- Claro que não! – balbuciou Conrado com a escova na boca. – Penso em fazer amor, transar, brincar de cachorrinho...

- Já entendi! – Miguel sorriu baixinho.

Os dois tomaram café rapidamente, puseram uma roupa bem leve: shorts de poliamida, regata e um calçado simples. Como o sítio era bem cuidado, não havia necessidade de uma roupa mais bem protegida. Lambuzados de protetor solar, eles deram início a sua “expedição”.

Os pássaros faziam a festa em cantos e voos ensaiados. O ar puro e balsâmico enchia os pulmões dos dois, provocando até uma leve ardência. Era tudo muito verde e vivo. Os dois se sentiam conectados à natureza.

- Puxa Conrado, esse lugar é muito lindo – Miguel enchia os olhos com a variedade de árvores, sendo muitas delas frutíferas.

- Vem! Quero te mostrar uma coisa – Conrado o puxou até uma mangueira carregadíssima de frutas maduras, á margem de uma cachoeira – Meu palácio! – Conrado apontou a mão para o alto.

Alicerçada pelos galhos grossos e resistentes da mangueira, havia construída uma casinha de madeira bem estruturada.

- Você teve casinha na árvore?

- Sim – respondeu Conrado orgulhoso.

- Hum... Metido – Miguel o empurrou.

- Calma meu amor, agora é sua também.

- Depois de velho não é mais a mesma coisa – disse Miguel indignado.

- Nossa ainda não tinha me dado conta que estava namorando um velhinho caquético – sorriu Conrado. – Mas, vou te mostrar que pode até ser melhor.

Os dois subiram sem dificuldade. Conrado, que ia atrás, deu uma mordida na bunda de Miguel que estava bem empinada.

- Vai me fazer cair seu pervertido – Miguel reclamou com a mordida.

- Eu e o Júnior te seguramos na moral – disse Conrado tocando o membro já duro.

A casinha era precisamente construída, com acabamento arquitetônico bem profissional. Várias mangas, no ápice de sua madureza, pendiam próximas à porta. Miguel pegou uma para ele e outra para Conrado. Os dois ficaram chupando a fruta enquanto conversavam.

- Quantas mocinhas incautas você trouxe aqui para sua toca? – perguntou Miguel mordendo a manga com vontade.

- Nunca comi ninguém aqui, ainda – Conrado olhou sugestivamente para o namorado.

- E nem vai – Miguel estava lambuzado assim como o outro. – Eu não sou um pedaço de carne pra você comer.

- Claro que não! É meu cordeirinho – Conrado pulou em cima dele juntando suas lambanças de manga.

- Garoto você pesa demais sabia? – Miguel o empurrou e rolou para o lado ficando de bruços.

- É desse jeito que gosto mesmo, bobinho – Conrado subiu em cima de Miguel, roçando seu pau na bunda dele por cima do short finíssimo.

Os dois ficaram com os corpos em atrito, incendiando seus desejos.

Conrado pegou a manga e deslizou pelas costas de Miguel, com a missa levantada, lambendo logo atrás. O filho do pastor se contorcia aos gemidos. Conrado tirou toda sua

roupa e a de Miguel com urgência. Lambuzou a bunda do companheiro com manga e caiu de boca, chupando e mordendo fortemente. Miguel se remexia arranhando o piso de madeira.

- Cordeirinho ao suco de manga, o prato mais gostoso que já provei – Conrado sussurrou no ouvido dele.

Miguel estava todo molhadinho e com vontade também de devolver o prazer. Virou de frente para Conrado o empurrando para trás, fazendo-o cair sentado.

- Não gostou Cordeirinho?

- Muito. Agora vamos ver se você gosta – Miguel sem nem um pudor, pegou a outra manga e espremeu o suco sobre o pau de Conrado, abocanhando de uma vez.

- AHHHHHHH! – Conrado gritou quase desmaiando de prazer.

Miguel sorriu, continuando a chupá-lo ao sabor da manga misturado com o gosto do líquido que saía do membro do outro.

- Que boca gostosa do caralho é essa? – Conrado salivava, revirando os olhos e se contorcendo muito.

Miguel chupava com tanta habilidade e intensidade que o outro não tinha forças nem para segurar em seu cabelo.

- Miguel eu vou gozar, não aguento mais – Conrado respirava fundo.

O filho do pastor ignorou o aviso e continuou sugando, até que outro despejou descontroladamente seu leite na garganta dele.

Conrado sorriu se jogando para trás, enquanto Miguel deitava no seu peito. Os dois ficaram ouvindo a respiração um do outro, em silêncio, durante algum tempo. Arfavam muito, mas estavam contentes. Uma a uma, as barreiras e os seus medos eram superados.

- Banho de cachoeira? – Conrado propôs.

- Só se for agora – Miguel desceu rapidamente da mangueira, tendo Conrado logo atrás. No chão, ainda totalmente pelados, eles deram-se as mãos e caminharam lentamente, como se estivessem indo em direção a um altar para casar. Subiram em uma pedra enorme e ficaram encarando a água convidativa. A paisagem em volta era incrível.

- Pronto pra ser feliz? – Conrado perguntou para Miguel.

- Mais que pronto. – Miguel apertou a mão de Conrado com força.

Os dois pularam juntos dentro do rio, afundando lentamente. Os raios de sol penetravam a profundidade como bastões de luz, dando uma visão singular do fundo.

Miguel e Conrado esboçavam sorrisos girando em ciranda, segurando com muita firmeza um na mão do outro. Beijaram-se rapidamente isolados naquele mundo, que era só deles. Conrado pôs Miguel nas costas e foi nadando em direção à superfície com a destreza de um anfíbio.

- Que água gelada! – Miguel tremia os lábios, depois que emergiram.

- Deixa que eu aqueço você – Conrado o levou para próximo da margem, com ele engatado em sua cintura.

Os dois ficaram namorando recostados em uma pedra. Logo Conrado estava dentro de Miguel, penetrando rápido e fundo. O filho do pastor só sentia prazer, e na água era muito mais gostoso.

Depois de gozar duas vezes, Conrado permaneceu na mesma posição, olhando seriamente para Miguel, enquanto acariciava seu cabelo.

- Onde você estava esse tempo todo? Porque não veio logo me resgatar? – Conrado o beijava no intervalo de cada pergunta.

Os raios de sol tocavam seus corpos nus, reluzidos pela água. Tudo estava perfeito e nada os poderia abalar. Nada momentaneamente.

***

- E então? Encontrou-o?

- O pai dele me disse que ele foi passar o final-de-semana com aquele filho do pastor.

- Eu não posso acreditar nisso!

- Pezão, se acalma – Michele estava nervosa. – Eu ainda não desisti.

- Eu achei que ele iria mudar de ideia. A gente se estranhou, é verdade, mas isso é comum entre os manos. Eu quero sair da porra desse inferno!

- Eu não sei, mas eu acho que algo mudou no Conrado – Michele estava contristada. – Ele estava tão... Diferente.

- É aquele viado desgraçado que tá mexendo com a cabeça dele – Pezão batia com força sobre a mesa. Eu vou matar aquela praga.

Michele conversava com Pezão no horário de visita na prisão masculina.

- E como está o Azeitona? – ela perguntou.

- Morto – respondeu com indiferença Pezão.

- Oh, meu Deus – Michele levou as mãos à boca.

- Ele pisou na bola com um dos donos do pedaço aqui, e fudeu pra ele.

- Como as coisas mudaram tão rápido – Michele lamentava. – Até pouco tempo estávamos nós cinco, nos divertindo pela cidade. Tudo está se desmoronando tão rápido. Até Maria pulou fora.

- Isso tudo vai ser cobrado a peso de ouro – Pezão tinha os olhos vermelhos de raiva, que somado aos seus hematomas, lhe davam um aspecto demoníaco.

No domingo de manhã, Conrado e Miguel já se se sentiam tristes por terem que partir logo. O congresso terminaria no início da tarde, e Miguel queria estar em casa antes que Paula tomasse alguma atitude.

- Eu me acostumaria fácil, fácil com esse lugar. – disse Miguel olhando para os arredores do sítio.

- Isso é uma proposta? – perguntou Conrado com um sorrisinho.

Os dois estavam deitados numa rede na varanda da casa. Miguel recostava sua cabeça no peito nu de Conrado, enquanto este fazia um cafuné em seus cabelos.

- É só um devaneio – suspirou Miguel.

- Pois esteja ciente de que se você quisesse que fugíssemos de vez para cá, eu aceitaria sem pensar duas vezes. – Conrado beijou cabeça do namorado.

- Bem, eu queria que as coisas fossem tão simples assim, que uma fuga resolvesse tudo

– Miguel beijou o peito musculoso que reconfortava sua cabeça.

- Pelo menos a gente não precisaria dar explicações a ninguém sobre nossas vidas – Conrado refutou.

- Mas ainda há muitas coisas a serem resolvidas meu amor, e não importa para onde formos, os assuntos inacabados sempre nos perseguirão.

Conrado ficou em silêncio, admirando um pequeno pássaro azul que bicava um fruto no alto de uma árvore.

- Eu tenho pensado seriamente em algo.

- No quê Conrado?

- Acho que devemos começar a contar sobre a gente, para reunirmos apoio para o momento mais crítico.

- Que será quando meu pai descobrir – Miguel completou sentindo um tremor.

- Exatamente! – Conrado confirmou. – Se o doutor e sua esposa nos derem apoio, então teremos um grande reforço.

- O seu pai eu não sei, mas a Júlia, eu acho que ela vai aceitar. – observou Miguel.

- Quer saber? Também se eles não aceitarem, a gente manda pra o inferno e vamos viver nossa vida.

Miguel soltou uma gargalhada.

- Não precisa ser assim meu maluquinho – Miguel mordeu seu peito. – Mas é sério que você quer contar para o seu pai e a Júlia?

- Sim – ele respondeu com convicção. – Você não quer?

- Eu acho que é o melhor a fazer, mas não posso negar que isso é assustador.

- Contar hoje ou daqui a dez anos, não vai fazer diferença – declarou Conrado.

- Tem razão – concordou Miguel.

- Então fica combinado assim – Conrado beijou a cabeça do namorado.

- Preciso arrumar um emprego – disse Miguel depois de um minuto de silêncio. – Seu pai me propôs trabalho algumas vezes, por conta do serviço voluntário, eu recusei porque meu pai não aceitou, queria que eu tivesse apenas ocupado em me preparar para quando tivesse dezenove anos.

- E o que acontece aos dezenove?

- Ele pretende me enviar para um treinamento ministerial intensivo com duração de três anos. – respondeu Miguel.

- E lógico que você não vai, né?

- E deixar você sozinho, solto por aí? Jamais. Tenho que cuidar do que é meu.

- Hum... Gostei da atitude – Conrado começou a agarrar Miguel dentro da rede, provocando-o com brincadeirinhas picantes.

- Vou conversar com seu pai a respeito da proposta.

- Tenho certeza que ele vai adorar a ideia.

A amanhã voou como uma águia. E logo os apaixonados tiveram que levantar acampamento e partir. Miguel iria voltar para o estádio onde ocorria o congresso, antes que o ônibus partisse. Bem início da tarde, eles deixaram o sítio.

- Tem certeza que não quer ir direto pra sua casa junto comigo? – perguntou Conrado, parando no estacionamento. Haviam chegado ao estádio do congresso.

- Tenho que minimizar as consequências do meu desaparecimento. O pior é que não sei que desculpa eu vou dar – Miguel pegou sua mala.

- Eu vou ficar aqui esperando o ônibus sair, e vou segui-lo de carro. – disse Conrado com convicção

- Será que precisa mesmo amor? – Miguel fez um carinho no rosto do outro.

- Claro que precisa! – Conrado foi incisivo. – Só vou ficar tranquilo quando tiver certeza que você estar seguro em casa.

Miguel sorriu e lhe um beijo bem gostoso, pegando a mala e descendo logo depois.

O congresso já estava nas considerações finais. Miguel correu com sua mala para o ônibus que trouxera os jovens da igreja, cumprimentado rapidamente o motorista, enquanto o mesmo guardava a bagagem.

- Onde estão os outros? – pergunto o motorista.

- Eles já estão quase vindo, é que resolvi me apressar para não pegar tumulto – Miguel entrou no ônibus indo sentar bem atrás.

Meia hora depois, os jovens, formando uma multidão, arrastavam suas malas em direção ao motorista que aguardava com o bagageiro aberto. A balbúrdia era ensurdecedora. A falação ia desde a temática do congresso até o irmão gatinho da outra igreja.

- Miguel? – o pastor responsável se aproximou da poltrona do rapaz.

- Oi, pastor Leandro – Miguel respondeu timidamente se encolhendo. – Pastor eu posso explicar...

- Não precisa irmãozinho – interrompeu o pastor. – Paula já nos explicou tudo.

- A Paula contou?! – Miguel arregalou os olhos, sentindo uma dor mortal no crânio, como se esse estivesse sendo esmagado por uma bigorna.

- Sim – respondeu o pastor. – Só acho que você mesmo deveria ter me comunicado, sabe como é seu pai.

Miguel engoliu a seco. Seu coração pressionava violentamente, esmagando-se contra seu peito.

- O pastor vai contar para meu pai? – Miguel tinha os olhos rasamente molhados.

- Sim. Mas acho que ele não vai ver problema nenhum, afinal, que mal há em desfrutar da reciprocidade fraternal de outro grupo de jovens.

- Outro grupo de jovens? – Miguel não entendeu

- É. Não foi esse o motivo de ter deixado o nosso grupo? Paula nos contou que você tinha se tornado amigo de outros jovens cristão de outra igreja, e que eles o haviam convidado para assistir o congresso em sua companhia e ficar na estalagem deles.

Miguel ficou perplexo, porém aliviado, pois ele contava com a certeza de ser delatado por Paula. Talvez tivesse sido injusto com ela. Afinal, depois de tanto anos de amizade ela não ia lhe entregar assim, na covardia, sem ao menos esperar dele uma explicação. De fato ela era uma amiga de ouro. Como fora injusto com ela.

- Paula é demais – disse Miguel para o pastor, que logo foi para o seu assento.

- Oi Miguelzinho! – Paula sentou-se ao seu lado, ao mesmo tempo em que os outros jovens da igreja buscavam seus lugares.

- Paula eu queria dizer que fiquei...

- Depois falamos sobre isso – ela o interrompeu com o tom sério. – Não queremos que ninguém saiba que você fugiu do congresso com o Conrado Lima Jadão, não é?

Miguel apenas positivou com a cabeça, sorrindo timidamente. Os dois foram toda a viagem sem trocarem mais nem uma palavra. Paula murmurava algum hino da igreja, com os olhos voltados para frente, em uma concentração total. Miguel a olhava de esguelha o tempo todo, preocupado com sua mudez, pois não era seu normal. Ela parecia estar articulando alguma coisa.

O ônibus parou em frente à igreja ás 18 horas. Conrado, que seguiu o ônibus o caminho inteiro cuidando de seu namorado, foi para sua casa. Todos rumaram para suas residências arrastando suas malas. Miguel, que morava bem perto, desceu sendo acompanhado pela sua companheira de viajem.

- Você não vai para sua casa Paula? – ele perguntou vendo-a segui-lo.

- Vou jantar com vocês hoje – respondeu Paula. – Liguei para seu pai e disse que você tinha me convidado.

- Mas eu não te convidei – Miguel se surpreendeu.

- Claro que convidou Miguelzinho – insistiu Paula.

- Tenho certeza que não te convidei, mas se faz questão, está convidada.

- Melhor assim Miguel, pois tenho certeza que a última coisa que você quer fazer nesse momento é me aborrecer – disse Paula com uma voz ameaçadora.

Miguel ficou assustado, começando a perceber que tinha sido envolto em uma teia bem tramada.

- Chegamos! – Miguel gritou, ao entrar em casa com Paula.

Fernanda e seu pai vieram os receber calorosamente. Os recém-chegados foram tomar banho. Miguel vestiu uma roupa bem leve e foi dormir um pouco antes do jantar. Ele relembrava cada segundo no sítio, cada momento, cada beijo. O cheiro e o gosto de Conrado havia se tornado uma droga. Com ele queria ter aquele homem ali na sua cama lhe dando amor e aconchego. Como ele queria ter os lábios do namorado tocando-lhe o seus. Em meio aos seus pensamentos, ele sentiu seus lábios sendo beijados, fazendo-o o despertar subitamente.

- Paula?! – ele gritou assustado, se afastando da garota ousada.

- Oi meu amor – Paula sorriu com cinismo. – Vi você tão “relaxadinho” na cama, que não resisti a ti beijar.

- Você ficou maluca, foi?

- Por quê? – ela fingiu surpresa. – Que mal há em beijar o próprio namorado?

- Agora tenho certeza que pirou. Nós não somos namorados! Quantos foras eu ainda preciso te dar para você entender isso?

- Parece que você não se deu conta de qual é a atual situação, Miguelzinho – Paula mudou o semblante, seus olhos transbordava insanidade.

- O que você quer dizer com isso?

- Eu não criei essa historinha toda sobre você ter ido para outro grupo de jovens no congresso, á toa. – ela explicou. – A partir de hoje nós somos um casal, o mais bonito, invejado e apaixonado casal da igreja.

- Esquece sua louca! – Miguel levantou-se irritado.

- Ah, é? Então vamos ver o que o pastor Oliveira vai dizer quando souber da sua fugidinha com o filho delinquente do Luciano Jadão. Eu fico me perguntando para onde ele deve ter te levado. Para algum assalto? Para usar droga e beber? Ou seria para algum tipo de orgia?

- Chega! – Miguel gritou muito nervoso.

- Está com medo de o seu pai levantar esses mesmo questionamentos?

- Eu não vou cair na sua chantagem Paula – Miguel foi incisivo.

- É sua decisão final?

- É minha única decisão – respondeu Miguel virando as costas para ela.

- Muito bem! – ela se levantou indo em direção à porta. – Já que você não quer se entregar ao nosso amor, eu não vejo alternativa. – Paula desceu as escadas, decidida a contar tudo ao pastor.

Miguel sentiu uma pontada aguda na sua cabeça. Estava explodindo de dor, com os olhos ardendo num choro contido. Ele não podia permitir que Paula fizesse aquilo. Se o pastor soubesse da fuga, estaria a um passo de descobrir tudo sobre seu relacionamento com Conrado. Miguel desceu as escadas rapidamente, na tentativa de impedi-la.

- Pastor Oliveira? – chamou Paula chegando à sala de estar.

- Sim, irmã Paula – o pastor vinha do seu gabinete.

- O senhor não vai acreditar no que o Miguel fez – ela disse séria. Miguel parou no meio da escada dividindo seu olhar entre Paula e o pai.

- O que o Miguel fez? – perguntou Fernanda, vindo da cozinha.

- É isso o que vamos saber – disse o pastor encarando Miguel com o seu tão temido olhar de acusação.

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Comentários

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Ai que Paula filha da puta!! ô irmanzinha chantagista.!! Aff!!

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