O Enviado - Cap. 3

Um conto erótico de Paulo
Categoria: Homossexual
Contém 1609 palavras
Data: 25/01/2016 07:28:36

Deitado sobre minha cama, eu ainda pensava sobre o sonho que tive na tarde de ontem. E deduzi que os fantasmas ainda não haviam me abandonado, não completamente. Sentia que o buraco ainda estava em meu peito, o que senti ontem, foi apenas momentâneo. Foi apenas uma breve sensação de como seria não tê-lo.

Levantei de minha cama e fui até a janela observar o céu. O dia estava lindo, bem ensolarado, o céu estava em um azul bem límpido sem nenhuma nuvem, um clima bem característico para um sábado.

Desci tomei meu café, assisti um pouco de TV mas não havia nada de interessante passando no momento. Subi de volta para o meu quarto, peguei o diário de Ítalo e abri em uma página aleatória. Como de praxe.

"25 de Setembro de 2011

Paulo e eu brincávamos de gol a gol no quintal de nossa casa, bem próximo a vidraça da sala. Sinceramente sei que era meio insano brincar próximo a uma vidraça sabendo o que pode acontecer. Mas é tentador a qualquer um.

Eu percebi que pela força que o Paulo chutava a bola, ele ia acabar fazendo merda. Então eu o alertei.

- Paulo! - Chamei-o - Vamos parar um pouquinho ?

- Mas porque ? - Perguntou abrindo os braços em dúvida. - Tá com medo de perder ? - Perguntou sorrindo.

- hahahaha! - Fui sarcástico. - Óbvio que não, só pedi pra parar porque você está chutando com muita força, e vai acabar quebrando a merda da vidraça da sala, e eu não quero ficar de castigo.

- Que força o que ? To chutando fraquinho.

- Tudo bem! Só que se você fizer merda, não me meta no meio. Eu avisei!

Continuamos a jogar. Eu comecei, chutei a bola e consegui fazer um gol em Paulo, ele ficou furioso porque zombei dele. Ele me olhou com os olhos semi-cerrados. Andou alguns metros para trás. E depois veio correndo em direção a bola, pôs todo o impacto em seu pé, e chutou, a bola passou por mim com uma velocidade surpreendente. Só que direto a vidraça. Paulo levou a mão ao rosto, como se já esperasse o que lhe ia acontecer. Sua sorte era que nossos pais não eram de nos bater senãoPapai veio furioso já esbravejando, seu rosto vermelho demonstrava toda a raiva que sentia. Paulo veio caminhando lentamente, e eles saíram. Papai já falava em 2 meses de castigo. Eu me deitei na grama e fiquei observando o céu azulado. Ainda bem que ele não me meteu no meio."

Sorri muito ao lembrar-me deste dia, papai realmente pegou pesado, fiquei dois meses; sem celular, sem internet, sem poder sair, sem mesada, e sem TV. Minha rotina nestes dois meses foi apenas casa-escola-casa, e nada mais. E ainda tinha o Ítalo dizendo “Eu avisei”, para me atormentar.

Desci novamente a cozinha para almoçar, o tempo voa em quanto leio. Abri a geladeira mas não tinha nada de bom. Então subi ao meu quarto, peguei minha carteira e resolvi ir ao mercado.

Fui caminhando para o mercado, pois não ficava muito longe de minha casa. Ao chegar lá fui olhando por entre as prateleiras procurando por meu biscoito favorito. Olhei mais á frente, e o encontrei, estava na segunda prateleira á esquerda, fui caminhando, e quando estava próximo a prateleira, um menino passou na minha frente e eu derrubei minha cesta. Curvei-me para pegar a cesta.

– Me desculpe – Ele falou.

– Tudo bem. - Respondi. Pegando o biscoito na prateleira.

Ele já ia saindo, mas virou voltando-se para mim.

– Realmente não me reconheceu ? - Ele perguntou sorrindo.

– Douglas ? - Perguntei surpreso, o encarando.

– É – Ele respondeu tirando o óculos escuro que usava.

– Nem te conheci com esse óculos! - Sorri.

– Comprando besteiras ? - Perguntou, apontando para o biscoito em minha mão.

– É minha mãe, esta com uma psicose de comprar coisas lights! Aí eu tenho que comprar minhas besteiras. - Respondi.

– Tendi! Mas e ai esta cumprindo com o que eu te pedi ontem ? - Perguntou novamente com o olhar terno e sério.

– Estou tentando. - Respondi com o olhar vazio.

– Que bom! Pelo menos esta tentando. Ah posso ir na sua casa mais tarde ? - Perguntou. Seus olhos ansiavam por uma reposta.

– Claro...... Vou te esperar! - Respondi.

– Tudo bem! Até mas tarde então. - Respondeu saindo.

Agilizei com minhas compras no mercado, e corri pra casa.

Ao chegar em casa, coloquei as compras no armário com rapidez. E corri para arrumar tudo. Pois não tinha feito nada desde que acordei. Eu estava me sentindo feliz em saber que mais tarde Douglas viria em minha casa. No fundo, acho que estava com um pingo de esperança de que rolasse algo a mais.

Após dar uma geral em toda a casa, coisa que terminei quase a noite, me sentei um pouco e fiquei assistindo TV, novamente não havia nada de interessante passando. Subi para o meu quarto e fiquei deitado ouvindo música.

"Rihanna Stay ft Mikky Ekko

Foi uma febre o tempo todo

Um suor frio, uma pessoa impulsiva que acredita

Joguei minhas mãos para o alto, eu disse 'mostre-me algo'

Ele disse, 'se você se atreve, chegue mais perto'

Por aí, por aí, por aí nós vamos

Oh, diga-me agora, diga-me agora, diga-me agora, você sabe

Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso

Algo no seu jeito de se mexer

Faz com que eu acredite não ser possível viver sem você

Isso me leva do começo ao fim

Quero que você fique

Não é uma vida e tanto a que você está vivendo

Não é apenas algo que você toma, é algo dado

Por aí, por aí, por aí nós vamos

Oh, diga-me agora, diga-me agora, diga-me agora, você sabe

Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso

Algo no seu jeito de se mexer

Faz com que eu acredite não ser possível viver sem você

Isso me leva do começo ao fim

Quero que você fique

Oh, o motivo pelo qual me mantenho firme

Oh, porque preciso fazer este buraco desaparecer

É engraçado, você é quem está em ruínas

Mas eu era o único que precisava ser salvo

Porque quando você nunca vê as luzes

É difícil saber quem de nós está desabando

Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso

Algo no seu jeito de se mexer

Faz com que eu acredite não ser possível viver sem você

Isso me leva do começo ao fim

Quero que você fique, fique

Quero que você fique, oh"

Depois de ouvir diversas vezes a mesma música, a qual eu considerava perfeita para o meu momento. Subi para o terraço de casa, sentei na parte onde dava para se ver perfeitamente o céu estrelado. Fiquei pensando em minha vida na antiga cidade.

Aquela noite estrelada me trouxe lembranças boas, das vezes em que meu irmão e eu acampávamos no quintal de casa, fazíamos a maior farra no meio da madrugada.

Mas não foram só estas lembranças felizes que me vieram a mente, algumas lembranças ruins também me vieram, lembranças que eu havia enterrado bem fundo no meu subconsciente, mas que insistiam em sair. Lembrei-me de meu antigo amor. Uma pessoa a qual hoje eu nem mesmo sei como consegui amar. Nossa história foi como o bom e velho clichê onde um gay se apaixona pelo seu amigo hétero. Só que comigo não houve um final feliz. Assim que contei a ele que o amava, ele me lançou um olhar de nojo, de repulsa, e depois me xingou e me insultou com as piores palavras, eu sai da casa dele transtornado.

Desde esse dia nós nunca mais nos falamos, passávamos um pelo outro como um simples reles conhecido. Eu custei a deixar de ama-lo, mas com o tempo, mesmo que doa, nós conseguimos esquecer, e a forma mais fácil de se fazer isso é transformar o amor em ódio, coisa na qual o Fernando me ajudou, e muito.

Batidas na porta me tiraram de minhas lembranças. Desci para atender com um sorriso no rosto, já imaginava quem seria. Quando cheguei em frente a porta, pus minha mão na maçaneta e respirei fundo, girei-a lentamente no sentido horário. Quando a porta se abriu completamente, sorri, Douglas me olhou e soltou seu lindo sorriso.

– Oi! - Ele disse.

– Oi, Entre. - Puxei-o suavemente pelo braço.

Ele entrou e parou próximo a mesa da sala.

– Quer suco, refrigerante ? Água ? - Perguntei.

– Não, obrigado! - Respondeu.

– Então vem comigo. - Puxei-o novamente pelo braço.

Fui subindo novamente para o meu canto preferido de casa, Douglas me seguia. Ao chegarmos no terraço puxei-o para o meu cantinho, de onde se via perfeitamente o céu, ele olhou boquiaberto para o céu estrelado que se tinha naquela noite. Nos sentamos em um banquinho que tinha ali e ficamos observando o céu.

– Nossa, a vista é linda daqui ! - Disse me encarando. Eu sorri confirmando. - Mas e você Paulo, como tem ido o que eu te pedi ?

– Tem sido bem difícil Douglas, mas eu estou tentando. - Respondi.

– Te entendo, é bem difícil mesmo, mas não desista! - Ele segurou em minhas mãos.

Ficamos ali em cima observando o céu estrelado, e conversando sobre nossas vidas. Quando deu por volta das 23:15Hrs Douglas foi para sua casa, eu senti um vazio imenso sem ele ali, e como não tinha mas nada para fazer, fui me deitar.

Quando deitei minha cabeça sobre o travesseiro o olhar terno de Douglas veio em minha mente. Grande parte dos meus pensamentos eram dele, ele estava conseguindo aos poucos mudar o foco de minha mente que a 2 anos só lembrava do trágico acidente, e do passado. Eu tinha uma meia certeza de que já estava o amando. O seu jeito carinhoso, preocupado, espontâneo, cuidadoso. Me cativavam. E eu estava amando aquilo.

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