EGEU - 8º Episódio

Um conto erótico de Lord D.
Categoria: Homossexual
Contém 2902 palavras
Data: 21/01/2016 11:52:33
Última revisão: 21/01/2016 11:53:23
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

8.

Até a quinta-feira, véspera da viagem para o acampamento na fazenda Brida, toda escola estava envolvida nos preparativos. Pouquíssimos alunos não se inscreveram para a viagem, e a direção da escola cuidava para que a grande quantidade dos que iriam tivesse uma boa estadia. Dois ônibus foram alugados para o traslado de todos. Antes mesmo de comunicar o destino da viagem, a diretora Bendita foi pessoalmente à fazenda em questão, verificar a disposição de espaço e conforto dos alunos. Acampamento, era apenas um termo de uso teórico no que se referia a essas viagens anuais. Na verdade, nunca ninguém teve que armar uma barraca uma tenda. Sempre havia uma hospedagem para os alunos ficarem. A diretora era muito controladora para permitir que os alunos se embrenhassem na mata sem uma casa de apoio por perto. De qualquer forma, o ambiente sempre remetia a um acampamento de fato.

Por volta das cinco horas da manhã, Christian saía de casa arrastando sua mala, acompanhado de Teresa. Um vento agradável soprava a rua deserta e silenciosa. Christian olhava a todo momento na direção em que o ônibus viria lhe pegar.

- Calma, filho, não precisa de toda essa ansiedade – disse Teresa. – Não é a primeira vez que você vai em uma viagem dessas.

- Mas é a primeira vez que vou como aluno do terceiro ano – observou Christian. – Nos outros anos, eu e o William sempre erámos escolhidos como alunos convidados, para acompanhar as turmas finais, mas dessas vez somos nós que somos a turma final. Sabe, mãe, eu ainda não tinha me dado conta de que estou prestes a deixar a escola, e finalizar essa fase.

- Durante a nossa vida, filho, deixamos muitas coisas para trás, para que possamos estar com as mãos livres para segurar o que vem pela frente – filosofou Teresa.

- Acontece, que muitas coisas que deixamos para trás podemos voltar e resgatar, menos as fases da vida. Daqui a pouco eu vou estar entrando na faculdade, tomando um rumo diferente da maioria dos meus amigos, e logo em seguida, estarei na vida adulta.

- E o que tem de ruim nisso? Já pensou como vai ser bom se livrar das minhas rédeas e das do papai?

- Eu só queria que as coisas caminhassem e não corressem – Christian falava com uma voz nostálgica. – Sinto como se o tempo escorresse por entre meus dedos.

- Então aproveite-o e não desperdice um só segundo com coisas inúteis, Christian – Teresa apertou o seu ombro.

Christian riu para ela em sinal de concordância. Poucos minutos depois, o ônibus apontou na esquina, parando próximo aos dois, mãe e filho. Érico desceu com um riso enorme no rosto. Há dias ele usava uma barba bem delineada que o deixava ainda mais com cara de macho.

- Bom dia, bom dia – ele cumprimentou Teresa e deu uma piscadinha para Christian.

- Bom dia – Teresa e Christian responderam.

- Filho, boa viagem e muito juízo – recomendou Teresa, dando um beijo longo na bochecha de Christian.

- Já entendi mãe – Christian tentava se livrar dos tentáculos de Teresa.

- Erico, cuida bem dele – ela pediu para o rapaz. – E não existe em pô-lo de castigo se ele aprontar alguma coisa.

- MÃE!!! – Christian estava muito envergonhado.

- Não se preocupe, Teresa, eu vou botar o Christian na linha – Érico falou com uma voz maliciosa, só captada por Christian.

Depois de colocar sua mala no bagageiro, Christian entrou no ônibus, sendo logo seguido por Érico. O ônibus partiu deixando Teresa para trás.

- É melhor você ficar bem longe de mim, senão eu não vou resistir a não te beijar – Érico sussurrou no ouvido de Christian, que apenas riu.

- Christian? – William o chamou. – Guardei um lugar pra você.

Christian sentou-se ao lado de William, próximo à janela. Não havia nenhum outro aluno além deles dois.

- O que o Érico que estava te dizendo? – perguntou William.

- Ah! É... nada demais. Boas vindas – Christian engoliu a seco.

- Hum... sei – William parecia estar meio desconfiado. – Pensei que...

- Que o quê? – Christian ficou nervoso.

- Nada. Não é nada – William desconversou. – Espero que a viagem não demore muito. Cara, estou muito ansioso para chegar a fazenda.

- Eu também – concordou Christian, olhando para Érico pelo retrovisor do ônibus.

O ônibus fez várias paradas, embarcando passageiros até chegar na escola, onde se juntou com o segundo ônibus para partirem rumo ao destino final.

Pedro Miguel entrou no ônibus em que Christian estava, e sentou-se na poltrona logo atrás dele. William olhou para o amigo, mas não teve sua atenção. Christian concentrou-se no lado de fora, sentindo o vento bater em seu rosto e bagunçar seu cabelo, já grande.

O ônibus, já fora do perímetro urbano, percorria o trajeto de cinquenta cinco quilômetros, ladeado por imensos morros e muita vegetação. Só o que viam eram fazendas, pequenas vilas e muitos rios e açudes.

A maioria dos alunos estava envolvidas em conversas animadas, mas Christian, William e Pedro Miguel permaneciam em silêncio. Christian encostou a cabeça na poltrona, relaxando o corpo e fechando os olhos. As imagens da noite em que aceitara namorar Érico, deslizava lentamente pelos seus pensamentos. A boca de Érico reclamando a propriedade da sua, provoca-lhe arrepios. Provavelmente ele estava rindo como um bobo, ou como uma criança envolvida em seus mais belos sonhos.

Christian estava tão absorto em suas lembranças que não percebeu, inicialmente, que seus cabelos estava sendo afagados sutilmente. Na verdade, aquela sensação do carinho se juntou aos seus pensamentos, mesclando-se aos sentimentos que os mesmos lhe provocavam. Pedro Miguel tocava as pontas dos dedos, lentamente, nos cabelos de Christian, deslizando o polegar em sua nuca. Christian abriu os olhos abruptamente, percebendo de quem recebia o carinho. O seu primeiro intuito fora retirar a cabeça, mas por alguma razão ele não o fez. Pedro Miguel continuou a deslizar os dedos pela sua cabeça.

- Querem chiclete? – Érico surgiu de repente perto da poltrona de William e Christian.

- Sim – Christian se adiantou, pegando o de morango. Ele retirou sua cabeça do encosto.

William recebeu o de maracujá.

- Pensando melhor, quero o de maracujá – Christian tentou trocar com William.

- Nem vem, Christian – William escondeu o seu, mas Érico tomou dele e fez a troca com Christian.

- Por que você fez isso? – William se irritou. – Érico, você é meu irmão e não dele.

- Precisamos ser gentis com os amigos, lembra o que a tia Laura diz – Érico falava rindo para Christian, que retribuía se divertindo com a situação.

- Pra casa do cacete com a gentileza – disse William, como um garoto mimado.

- Olha a boca suja maninho – Érico bateu de leve na boca de William.

- É só um chiclete, gente, não precisa desse estresse todo – disse Christian sem graça.

Estava bem claro que o clima estava pesado ali não por causa do sabor do chiclete. Havia muitas entrelinha, muitas insinuações mudas. William estava bastante inflamado, se irritando com qualquer ação de Érico em benefício de Christian.

- Se quiser, e te devolvo o chiclete – Christian estendeu o se chiclete para o amigo.

- Pode enfiar no seu cu – William se levantou da poltrona e foi procurar assento lá atrás.

- Ei, moleque, volta aqui! – Érico gritou. – William?

- É melhor não – disse Christian, balançando a cabeça em sinal negativo.

Christian sabia que algo muito importante na relação dele com William havia se quebrado. Algo que parecia não ter conserto. A amizade dos dois de longa data, parecia estar prestes a desmoronar. Christian sentia que todos esses anos de amizade, companheirismo e cumplicidade entre ele e William era mantido apenas por uma linha tênue que podia arrebentar a qualquer momento. A relação dele com Érico estava coberta por uma fina e transparente cortina, que poderia ser puxada a qualquer momento. Que poderia ser puxada a qualquer momento por William. Um quebra-cabeça com todas as peças juntas, na posição correta do encaixe, aguardando apenas que alguém as dispusesse em suas devidas lacunas. E que mesmo não montadas, já sugeriam que tipo de desenho estampava as peças.

- O que será que deu nele? – Érico sentou-se no lugar onde estava seu irmão, há poucos minutos.

- Acho que nós dois já sabemos a resposta – disse Christian, olhando para a frente.

- Você acha que ele sabe de alguma coisa, Christian? – Érico perguntou em voz baixa.

- Não creio, senão ele já teria feito algum escândalo – respondeu Christian. – Mas não tenho dúvida de que ele desconfia de algo, e teme esse algo de que desconfia.

Os dois não disseram nada, mas era nítido a apreensão que permeava suas mentes. Christian sentia a mesma ansiedade que tivera quando estava prestes a assumir sua homossexualidade para seus pais.

- Eu tenho que voltar lá pra frente – Érico apertou a mão de Christian com força, quando na verdade queria beijá-lo ali na frente de todo mundo.

- Pode ir – Christian devolveu o aperto de mão, sentido o mesmo desejo de beijá-lo.

Mal Érico deixou a poltrona, Pedro Miguel pulou em seu lugar, assustando um pouco Christian com sua chegada repentina.

- Posso sentar aqui? – ele ainda perguntou, depois de estar bem acomodado.

- Por quê? Sua poltrona está com pregos de ponta pra cima? – Christian foi ríspido.

Pedro Miguel riu, balançando a cabeça de um lado pro outro.

- É só que, eu fico um pouco enjoado quando estou viajando, e único jeito de passar o mal-estar é conversando.

- E a que devo a honra de ser escolhido?

- Bom... você está acordado e é um dos poucos que possui o assento do lado vazio. – Pedro Miguel estava bem simpático, diferente da última vez que falara com Christian.

- Você tem algum transtorno bipolar? – perguntou Christian.

- Não! Por quê?

- Por quê? – Christian se surpreendeu com a pergunta. – Deixa eu pensar... ora você é um piadista divertido e simpático, ora você é grosseiro e inconveniente.

- Deve ser os suplementos – Pedro Miguel riu. – Olha, eu sei que eu devia providenciar plaquinhas com o meu estado de espírito, para usar no pescoço.

- Facilitaria a vida de muita gente – Christian sentia vontade de rir.

Pedro Miguel não respondeu, apenas ficou tamborilando os dedos em seus joelhos e murmurando alguma canção. Os dois permaneceram em silêncio durante um tempo.

- Já sabe pra que vai prestar vestibular? – perguntou Pedro Miguel.

- Eu ainda estou na dúvida – Christian se mostrou um pouco mais simpático. – Estou entre publicidade e jornalismo.

- Jornalismo – disse Pedro Miguel, como se Christian tivesse pedido sua opinião.

- Por quê?

- Você é muito sincero, honesto e verdadeiro – observou Pedro Miguel. – No jornalismo terá chance preservar essas qualidades, ainda que esse seja um meio muito tentador para picaretagem. Mas na publicidade, creio que você terá que ser um mentiroso se quiser sobreviver no âmago do capitalismo.

- Hum... é um bom argumento, o seu – Christian olhou para ele. – Confesso que me tocou.

- Disponha – Pedro Miguel voltou a tamborilar os dedos nos joelhos.

- E você? Qual os seus almejos profissionais? – Christian devolveu a pergunta.

- Eu queria muito fazer Educação Física – Pedro Miguel comprimiu os lábios.

- Queria? Por que não quer mais?

- Ainda quero, mas o meu pai discorda de mim – ele respondeu, um pouco envergonhado.

- E por que você não discorda dele, ou pelo menos argumenta o contrário.

- Argumentar com o meu pai? Essa é boa – Pedro Miguel sorriu. – Ele não acha Educação Física uma escolha à altura do que gastou comigo na escola. Não é prático nem rentável. Ele disse que vou fazer direito, e não quer ouvir a minha opinião a esse respeito.

- Não acha que está deixando ele controlar a sua vida, não que eu tenha algo uma coisa com isso.

- Christian, não se trata de eu deixar ou não, com meu pai não tem conversa, diálogo ou coisa do tipo.

Christian olhou com atenção para Pedro Miguel, e notou havia marcas de dedos nos seu pescoço. As manchas estavam roxas, e sugeriam uma tentativa de sufocamento. Christian entendeu o que Pedro Miguel quis dizer com: “com meu pai não tem conversa”.

- Estou levando bomba em história, e o treinador vai me tirar do time seu eu não melhorar minhas notas. O futebol é a única coisa boa que me restou, não sei o que faria se eu não pudesse mais jogar. Meu pai não foi muito compreensível, como eu acho que você percebeu.

- Olha, talvez eu posso te auxiliar em alguma coisa, para você melhoras suas notas – Christian falava com muita cautela.

- Você faria isso por mim? – uma luz ascendeu nos olhos de Pedro Miguel.

- Por que não? – Christian sabia que não devia estar fazendo aquilo, mas saber que o pai de Pedro Miguel o espancava, sem dúvida o sensibilizou. Ele não conseguia imaginar seus pais fazendo algo do tipo com ele e Suzana. Era repugnante pensar nessa possibilidade.

Pedro Miguel relaxou sua cabeça no encosto e fechou os olhos, deixando um sorriso de contentamento, alívio, felicidade, estampado em seu rosto. Christian também se inclinou para trás, mas antes de fechar os olhos, viu Érico o encarando com uma expressão enigmática.

Os ônibus entraram em uma estrada de terra e seguiram por mais ou menos três quilômetros, até encontrarem um grande portão de madeira encimado por uma placa bem talhada: “FAZENDA BRIDA”.

De longe, os alunos já enxergavam um lago próximo a casa grande, repleto de garças migratórias, patos e cisnes.

- Atenção, todos alunos – se levantou um professor assim que o ônibus parou. – Desçam ordeiramente e fiquem em fila próximos ao bagageiro do ônibus.

Os alunos desciam ansiosos, atropelando uns aos outros e fazendo muito barulho.

- Silêncio pessoal! – gritou Érico. – Só vamos entregar a mala de quem estiver na fila.

Rapidamente o ônibus foi esvaziado, e todos estavam esperando do lado de fora assim como os demais passageiros do outro ônibus. Meia depois, uma turba de alunos marchavam rumo a casa principal, guiados pela diretora, alguns professores e os voluntários. O caseiro da fazenda veios os receber, e os conduziu para o grande casarão que se erguia à frente. Os donos da propriedade não se encontrava, por isso a escola teria total liberdade nas dependências da fazenda, dentro das regras da diretora Benedita.

Antes de ser passada para os donos atuais, o local era uma hotel-fazenda. A casa ainda conservava toda a estrutura do empreendimento, por isso haviam vinte quartos a disposição dos viajantes. A diretora dividiu os alunos por sexo e depois em pequenos grupos de seis, que compartilhariam os quartos. No grupo de Christian, estava William, Pedro Miguel, Érico e mais dois rapazes. Realmente, tinha tudo para ser uma viagem inesquecível.

Durante amanhã não haveria atividades. Os alunos se acomodariam em seus quartos e depois se reuniriam para um café da manhã de chegada. As acomodações eram propositalmente rústicas, mas muito confortáveis. A visão do quarto do grupo de Christian dava para o lago da fazenda.

- Nós só temos quatro camas – observou William – E somos seis.

Os outros dois rapazes correram e se apropriaram das suas camas, sem dar tempo para discussões.

- Agora são duas camas e quatro pessoas – observou Christian.

- Ainda bem que são de casais – disse Pedro Miguel. – Vamos ter que dormir de dois.

- Eu vou ver se consigo outras camas – Érico saiu do quarto.

- Cuidado para não rolar uma conchinha no meio da noite – brincou um dos outros rapazes.

- Cala a boca, Júnior, ou eu te faço dormir no chão. – Pedro Miguel falou com impaciência.

Érico voltou com uma cara de apreensivo e disse:

- Bom, não temos mais outras camas, vamos ter que nos virar com essas mesmo – Érico começava a pensar que isso podia ser interessante. – Como vai ser: par ou ímpar ou alguém se habilita.

- Pra mim já está bem claro – disse William. – Você é meu irmão. Nós dormimos juntos e o Christian dorme com o Pedro Miguel, aposto que ele não vai se importar.

- Por mim tudo bem – concordou Pedro Miguel.

- Não! Nada bem – Érico falou sem se importar.

- E eu posso saber por que não está bem, Érico? – William o lançou um olhar feroz.

- Bom... bem... você ronca e solta muito pum – disse William.

- Então fica com teu trambolho cara, que eu me viro com o Christian – Pedro Miguel pôs a mão no ombro de Christian.

- Acho que o Christian tem que decidir – Érico puxou a mão de Pedro Miguel do ombro de seu namorado.

- Gente... estamos discutindo por uma bobagem – Christian estava numa sinuca de bico. – Eu posso dormir com o William.

- Não se preocupe Christian, eu fico com o meu irmão e você com o Pedro Miguel, e está decido, a menos que você tenha um bom argumento que contrarie isso. – William estava a ponto de voar na jugular de Christian.

- Não – Christian respirou fundo, olhando para Érico que estava enfurecido. – Nenhum argumento.

- Ótimo! Então vamos descer que eu estou morrendo de fome – William se apressou em sair.

Érico puxou Christian discretamente e perguntou aos sussurros:

- Por que você concordou com o William? – ele quis saber de Christian.

- O que você queria que eu fizesse? Não podia exigir dormir com você. O que William pensaria?

- Tá certo – Érico mordeu lábio nervosamente. – Mas eu vou passar essa noite inteira atento a você e a esse cara. Quero que construa uma barreira de travesseiros entre vocês dois, e se ele cruzar a fronteira, o bicho vai pegar. Fui claro?! – Érico não estava para brincadeira.

- Mais claro impossível – Christian nunca o tinha visto daquele jeito. Parecia um leão no cio demarcando território e pronto para atacar o intruso.

Pedro Miguel saiu do quarto, acompanhado dos outros rapazes, com um sorrisinho de vitorioso no rosto.

- Agora vamos tomar café – Érico deu um beijo forte na boca de Christian e um tapa firme na sua bunda logo em seguida. Os dois desceram.

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