Eu cheguei em casa naquele dia muito cansado, dona Cacilda fez um jantar levinho. Eu só queria saber de cama, mas mesmo assim eu não deixei levarem comida para mim no quarto. Eu nunca gostei de comer no quarto, exceto em algumas ocasiões raríssimas. Eu prefiro comer na sala de jantar, junto com todo mundo.
Eu subi até meu quarto, tomei um banho demorado e vesti uma roupa bem largada. Quando eu desci para jantar, Bruno já estava me esperando à mesa.
- Estás bem?
- Estou!
- Tem certeza?
- Sim! Só estou cansado, eu perdi as contas de quantas vezes eu entrei e sai daquelas máquinas, hoje.
- Eu sei que foi cansativo, amor. Nós poderíamos ter feito um exame em cada dia...
- Como é que é? – Eu já olhei com raiva para ele
- Calma! – Ele era tão bonitinho que eu ficava com vontade de rir, não adiantava, eu nunca ficava com raiva por muito tempo – Eu que pedi para realizarmos todos os exames hoje, pois assim nós não perderemos tempo, temos como verificar o melhor tratamento e te curar antes mesmo do câncer se manifestar.
- Como se eu não soubesse como vai ser o tratamento... Deixa eu ver se eu lembro: quimioterapia (várias sessões), cirurgia de remoção do tumor e verificação se tem metástase, quimioterapia e radioterapia. Acertei?
- Sim! – Ele disse tristinho.
- Então, pra quê correr tanto?
- POR QUE EU NÃO QUERO TE PERDER, ENTENDEU? EU NÃO QUERO TE VER SOFRER! – Ele bateu com a mão na mesa tão forte que os talheres levantaram momentaneamente e os copos caíram, ele se machucou.
Nós ficamos em silêncio por um tempo. Era essa reação que eu temia, eu sabia que ele estava sofrendo e estava se controlando para não expor todo aquele sofrimento.
- Desculpa, amor...
- Eu vou pegar gelo pra colocar na tua mão.
Eu me levantei e fui até a cozinha pegar gelo e um pano para fazer uma compressa na mão dele.
- Me dá a tua mão aqui...
Eu puxei uma cadeira e sentei ao lado dele, colocando a mão dele no meu colo e pondo a compressa de gelo sobre ela.
- Desculpa, amor... Eu... eu não queria gritar contigo.
- Tudo bem! Não te preocupas com isso.
- Tu estás com raiva, não está?
- Não, não estou.
- E por que tu estás falando assim?
- Assim como?
- Não sei, estás diferente, eu te conheço!
Eu não estava com raiva, de forma alguma. Eu só estava prevendo tudo o que ia acontecer. Eu não queria que meu casamento se desgastasse com essa doença, eu não queria ser um peso morto para ele, não queria ter que depender dele até para tomar banho. Eu não queria vê-lo sofrer.
- Eu não estou com raiva, tá? – Eu dei um beijo nele
- Eu não queria gritar contigo, não era para eu ter feito isso, ainda mais depois do dia que tu tiveste.
- Amor, eu não estou com raiva. Eu te entendo, eu sei que não querias gritar comigo. Vamos fazer o seguinte, toda vez que tu estiveres angustiado, que estiveres sofrendo com tudo isso me fala, não guarda só pra ti.
- Eu não quero te dar mais preocupação.
- Tu és a minha única preocupação, amor. Eu não quero te ver sofrer, não quero te ver angustiado como eu venho te vendo nos últimos dias. Não sofre sozinho, fala comigo. Eu fico mais preocupado quando eu te vejo sofrendo pelos cantos.
- Tudo bem! – Ele ficou em silêncio e depois retornou a falar – Nós vamos passar juntos por isso, viu? Eu vou estar sempre ao teu lado!
Eu não sabia se isso era bom ou ruim. Era bom por que eu sabia que ele realmente estaria ao meu lado em todos os momentos do tratamento, mas era ruim por que eu tinha certeza que ele iria sofrer a cada exame, a cada sessão de quimio, a cada cirurgia, a cada enjoo, a cada desmaio, a cada dia que eu não conseguisse levantar da cama, a cada momento que eu não tivesse apetite pra nada, a cada minuto dos dias que estavam por vir, a cada segundo...
- Tu me prometes uma coisa?
- Que coisa?
- Que se o pior acontecer, tu não vais ficar ao meu lado. Se o pior acontecer tu vais me deixar e vai voltar para a França.
- Eu não posso prometer isso!
- Eu não quero que tu te destruas por mim...
- Isso será inevitável, se eu não estiver ao teu lado. Por isso, nós vamos agir antes do câncer, eu não vou te perder. Isso eu te prometo.
Eu poderia ter o corpo minado de câncer, isso era uma má sorte do caramba. Mas, eu tive muita sorte em encontrar o Bruno. Eu sabia que Deus me amava só por ter colocado aquele cara na minha vida. Só por ter feito eu amá-lo com tanta força. E ainda por saber que esse amor era reciproco.
- Vamos comer, senão vamos ter que esquentar tudo novamente. – Ele disse
Nós comemos e fomos para o quarto, ele tomou banho e depois eu fui. O clima não estava o dos melhores, ele enfim estava demonstrando o que ele realmente estava sentindo.
Quando eu voltei do banheiro, ele tinha adormecido com o computador ligado. Eu puder ver que ele estava estudando o osteosarcoma. Eu tirei o computador do colo dele, eu o ajeitei na cama e o cobri com a coberta. Eu me deitei ao lado dele e também adormeci, afinal aquele dia já tinha dado o que tinha que dar.
Eu acordei e senti os braços do Bruno. Eu consegui tirá-los sem que eu o acordasse, resolvi deixa-lo dormir até mais tarde. Fui ao banheiro e fiz minha higiene matinal e desci, fui direto para a cozinha.
- Bom dia! – Eu cumprimentei dona Cacilda
- Bom dia!
- Huuuum... sinto cheiro de bolo...
- Eu fiz um bolo de cenoura com chocolate para vocês tomarem café.
- Eu já disse que lhe amo?
Ela ficou toda sem jeito. Mas eu adorava a dona Cacilda. Sem ela, Bruno e eu estaríamos lascados.
- Cadê o seu Bruno?
- Eu deixei ele dormir mais um pouquinho.
- Mas ele está bem? Ele não é de dormir até tarde...
- Tá, sim! Ele só tem se ocupado bastante da minha doença, e isso tá fazendo ele ficar cansado demais, foi por isso que eu não quis acordá-lo.
- Entendi! E o senhor já vai querer tomar café?
- Não, vou esperar ele acordar. Pode terminar de fazer suas coisas com calma.
- Bom, já que é assim... eu vou aproveitar para fazer um cuscuz.
- Assim a senhora já quer me engordar, não é? Como que eu posso me controlar desse jeito, meu Deus? Não dá!
- Imagina, tu estás é magrinho, meu filho.
- Olhe isso, Dona Cacilda. Isso se chama banha! – Eu disse pegando um pneuzinho da minha barriga.
- Imagina! – Ela disse sorrindo – Ah, vou fazer uma tapioquinhas também, eu sei que o seu Bruno adora.
- Senhor, dai-me controle.... Não é só ele quem gosta!
- Eu sei! – Ela disse com cara de sacana – Tome, beba isso. Não pode ficar com o estomago vazio. – Ela me entregou um copo com iogurte.
- Obrigado, a senhora é um anjo!!!
Eu a deixei terminando de fazer todas aquelas coisas gostosas e fui até meu quarto. Bruno ainda estava dormindo. Eu sentei peguei meu computador, meus fones de ouvido e sentei na poltrona que ficava ao lado da cama. Fiquei navegando na internet até o Bruno acordar. Fazia tempo que eu não tirava um tempo para ouvir músicas, ficar de bobeira na internet.
- Oi, amor! – Ele disse se espreguiçando.
- Oi, meu bem!
- O que tu estás fazendo aí? Por que não estás na cama?
- Eu acordei cedinho, aí não quis te acordar. Eu resolvi ficar aqui quietinho te observando e ouvindo musica.
- Que horas são?
- 9h.
- Tudo isso?
- Ainda está cedo, amor.
- Vem cá, vem?! – Ele me olhou todo manhoso.
Eu me levantei e fui até ele. Eu me deitei e ele me puxou para cima dele. Nós ficamos nos olhando e ele estava tão gostoso daquele jeito. Ele me beijou e nós ficamos trocando caricias. Depois de um tempinho, nós nos levantamos e tomamos banho.
Após o banho nós descemos e tomamos nosso café, nós comemos tanto que eu fiquei até com dor na barriga.
- Aí, Bruno!
- O que foi? Tá doendo o joelho?
- Não, minha barriga! – Eu disse rindo
- Palhaço!
- Sério, amor, tá doendo.
- Quem mandou comer daquele jeito?
- Eu estava com saudade da comida brasileira, tá?
- E precisava comer tudo aquilo?
- Precisava! – Eu sentei na perna dele
Nós estávamos na sala. Eu amava minha casa, mas ela era imensa só para nós dois.
- Hoje é um dia estranho, não é, não? – Eu falei
- Estranho? Por que?
- Ninguém ligou, ninguém veio aqui... não sei, não...
- Eu já estava acostumado a ficar só nós dois lá em Paris que eu nem percebi, mas é verdade.
- O que eles estão aprontando?
- Boa pergunta, mas boa coisa não deve ser... O Dudu não iria ficar sem ligar, a Jujuba então, nem pensar!
- Bom, já que estamos sozinhos, vamos lá para o quarto.
- Safado!
- Na verdade, eu não estava pensando nisso, maaaaaaas se tu queres, eu não vou recusar.
- Safado!
- Vem, bobo, vamos lá para o quarto, eu não estou falando de sexo, não. Dona Cacilda está aí, eu não vou deixar essa senhora nos ouvir. – Ele disse rindo.
- Mas tá bom aqui, amor, já que não vamos fazer nada.
- Vamos, eu quero deitar, mozão.
- Tá, tá, tá...
Nós nos levantamos e fomos para o nosso quarto. Chegando lá, Bruno ligou a central no mais frio possível.
- Tu vais matar a gente!
- Eu me acostumei com o frio, até eu me acostumar com esse calor descomunal, vai ser difícil.
O quarto rapidinho ficou bem geladinho. Bruno ligou a caixinha de som no computador dele e começou a tocar Roberto Carlos.
- Amor, sério? Roberto Carlos agora?
- Eu gosto!
- Amor...
Ele não deixou nem eu reclamar e já colocou logo pra tocar. Ele queria me fazer dormir, só pode. Ele deitou e eu deitei também, mas eu coloquei minha cabeça na barriga dele.
- Curti a música... – Ele segurou meu braço que não ficava quieto
- Se eu curtir eu vou dormir!
- Só relaxa!
Eu tive que fazer o que ele estava pedindo, fiquei quietinho. Tão quietinho que eu cochilei.
- Acorda! – Ele me cutucou
- Ai!
- Não dorme, amor!
- Eu te disse que eu iria dormir com essas músicas, esse frio...
- Não dorme, eu quero que tu ouças algo.
- É impossível não dormir... – Meus olhos estavam querendo fechar
- Não dorme! – Ele me cutucou de novo
- Amor...
- Não dormeeeeee!!! – Ele fez cosquinha em mim
- Para, amor!
- Então, não dormeee!!! – Ele fazia cosquinha e era inevitável não rir
- Para, para!
- Não, senão tu vais dormir!
- Para, Bruno, para, para!!!
- Tu vais dormir de novo?
- Não!
- Oi? Eu não ouvi!
-NÃO, EU NÃO VOU DORMIR! – Eu disse rindo demais
- Ah, assim, sim!
- Isso não foi legal! – Eu ainda ria
- Foi, sim, pelo menos para mim! Vem mais pra cá, eu não vou te deixar dormir.
- Não sei por que eu não posso dormir...
- Eu quero que tu ouças uma música.
- E tu não podes colocar logo nessa musica?
- Deixa eu ouvi as musicas, chato!
Eu me deitei normalmente no meu lado da cama.
- Eu disse pra ti vim pra cá! – Ele disse se aconchegando em meus braços.
- Tá todo manhoso, hoje. – Eu comecei a fazer carinho no rostinho dele
- Eu só queria ficar assim contigo.
- E por que não falou logo?
- E precisava eu falar?
Ponto pra ele! Não precisava mesmo, mas eu não sabia que ele queria ficar assim...
-É essa, escuta essa música. Ela é linda! Toda vez que eu a escuto, eu lembro de ti.
A múscia começou a tocar e eu prestei bem atenção na letra da música. (Se vocês quiserem acompanhar, escutem clicando nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=0L1KOAaTQ_8 )
Com você
Conheci a grandeza do amor
Com você
Vi que o sol tem mais luz e mais cor
Com você
Aprendi a sorrir e viver
Porque tudo o que eu sempre quis ter
Muito mais eu encontro em você
Ele fazia carinho na minha barriga enquanto a gente ouvia a música.
Com você
É que a vida pra mim tem valor
Com você
Não existe a tristeza e a dor
Com você
Vou além dos limites de um ser
À procura do que possa ter
De mais lindo pra te oferecer
Você é muito mais que a minha própria vida
É o sol e as estrelas do meu universo
Você é a canção mais bonita que eu canto
É a frase de amor mais linda do meu verso
Você, você é meu amor
Você, você é meu amor
Com você
Vou além dos limites de um ser
À procura do que possa ter
De mais lindo pra te oferecer
Você é muito mais que a minha própria vida
É o sol e as estrelas do meu universo
Você é a canção mais bonita que eu canto
É a frase de amor mais linda do meu verso
Você, você é meu amor
Você, você é meu amor
- Amor, se meu coração pudesse falar, ele cantaria essa música pra ti. Ela traduz todo o meu sentimento.
Eu era tão bobo, que eu já estava chorando.
- Eu sei que tu amas músicas, então, eu quis te falar o que eu sinto por meio de uma música que eu gosto. Uma música que me faz pensar em ti, me faz lembrar de ti toda vez que eu escuto. Tu és minha vida, é por ti que eu luto, é por ti que sempre quero mais. Tu és a pessoa que eu escolhi pra viver comigo até meus últimos dias. Não vai ser uma doença que vai estragar tudo isso. Eu te prometo, nós vamos viver por muitos anos ainda.
Ele olhou para cima e viu que eu estava chorando.
- Não era pra ti chorar! – Ele disse sorrindo.
Eu amava aquele sorriso. Eu amava aquele cara. Se eu era a vida dele, ele era a minha.
- Eu não sou tão bom em falar essas coisas, eu não falo sempre como tu falas, mas nunca esquece que eu te amo. Nunca esquece, que eu dei sentindo a tua vida, tu deste a minha. Se tu vives por mim, eu vivo por ti. Se tu lutas por mim, eu luto por ti. Nós não estamos somente casados, nós estamos juntos, unidos.
Eu o beijei. Foi um beijo lindo, enlaçado por muito sentimento, por muito amor.
COMENTÀRIOS DO AUTOR.
OIIIIIIIIEEEEEEEEEEEEE, MEUS AMORES!
Desculpem-me a demora para publicar, mas dessa vez, a culpa não foi minha. Eu vinha sempre aqui publicar, mas eu não estava conseguindo. Eu até avisei vocês por meio de comentários no capítulo 98, mas acredito que vocês não viram.
DESABAFO 1: Eu li um comentário e fiquei bem, bem, bem chateado, por isso eu gostaria de desabafar. MINHA HISTÓRIA NÃO É UM FILME PORNÔ, GENTE. Eu sei que aqui a gente encontra várias histórias assim, e eu não tenho nada contra, já li algumas, inclusive. Mas, há também várias histórias de vida. A minha está nessa segunda classificação. Se lerem bem, há sexo, há erotismo em determinados momentos, mas minha vida não gira entorno de sexo, né? Então, não dá para eu descrever em cada capítulo as cenas de um filme pornô, pelamor, né? Eu não irei mudar meu jeito de escrever, não vou me adequar a pouquíssimos leitores que não compreendem o motivo de eu estar aqui dividindo a minha história com vocês.
DESABAFO 2: O que está acontecendo? Por que há tão poucos comentários? Tá certo que eu estou em dívida, mas poxa, teve capítulo que teve 3 COMENTÁRIOS. Fico chateado com isso, de verdade. Pode até parecer que eu esqueço de publicar, mas não é isso não. Quem tem histórias publicadas aqui, sabe como é difícil escrever, revisar e publicar diariamente. Não é fácil, não. E o que nos motiva a continuar é quando vocês interagem com a gente. Portanto, eu gentilmente peço a vocês que voltem a comentar. Teve gente que sumiuuuuuuuuuuuuuuuu.... Fico triste com isso. Desculpem-me falar isso, mas poxa... fiquei bem triste quando vi somente 3 comentários.
Amanhã tem maaaaaais, beijo em todos!!!
