O garoto da mesa 09 capítulo 03

Um conto erótico de Wurdig
Categoria: Homossexual
Contém 2598 palavras
Data: 19/11/2015 05:19:28
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

Dricka: sério? Que bacana! Fico feliz, de verdade. Lá no romance gay eu to quase acabando a segunda temporada, muitas emoções envolvidas, kkkk. Obrigado por acompanhar. Beijo! (:

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Corro para tentar apartar a briga. Meu pai está na porta, aos berros com dois homens. Ao chegar, logo formo um espaço entre eles.

- vem pai, vamos pra casa.

Ao notar minha presença, ele se cala. Acho que a vergonha o tomou, mesmo não estando muito em si. Seu hálito é insuportável mesmo sem abrir a boca.

- leva ele daqui e fala pra ele pagar a conta, se não ele não bebe mais aqui.

- eu que não quero mais beber nessa porra. Vão a merda.

Ele mal conseguia abrir a boca pra formar uma frase. A vergonha invade meu rosto. Lembro que Felipe está de pé no meu lado.

- eu vou levar ele pra casa. Desculpa por isso.

- desculpa pelo que? Eu te ajudo com ele.

- não precisa, eu vou chamar um táxi. Te vejo segunda.

- deixa eu te ajudar, Eduardo.

Decido não insistir. Afinal o pior já havia passado. Ficamos em silêncio, e eu agradeço por ele não tentar puxar assunto. A frustração em minha cara é visível. Eu não queria que ele conhecesse esse lado da minha família.

O táxi chega em poucos minutos. Era Matias, um dos caras lá da frota. Seguimos em silêncio até em casa. Chegando na porta, ele vomita tudo o que tinha no estômago, e eu percebo que é apenas líquido. Depois eu cuido disso. O levo até o banheiro ao lado da cozinha, e o deixo embaixo da água fria. Dizem que ajuda. Sento na privada e apoio minha cabeça em minhas mãos, olhando para baixo. Não posso nem olhar pra ele. Ele balbucia alguma coisa, mas não sai nada. Isso é tão deprimente. Felipe está parado de pé do meu lado, na porta.

- ei, tá tudo bem?

- tá sim, só com um pouco de vergonha, pra ser honesto.

- não precisa ter vergonha de nada, Edu.

Solto um olhar de gratidão, e é tudo que consigo fazer. Depois o seco e Felipe me ajuda a levá-lo para o quarto. As escadas o fazer parecer mais pesado. Deixamos ele deitado na cama, e apagamos a luz. Nesse momento, quero chorar, mas me seguro. Nunca havia visto meu pai chegar em seu limite. Ele mal parava em pé.

- Não sei se conto pra minha mãe. Se contar, não vai ser agora. – estamos os dois na cozinha. Estou tomando um copo d'Água sentado na mesa. Felipe está na minha frente.

- você não pode esconder as coisas dela, Edu. Mais cedo ou mais tarde ela vai saber, e vai ficar triste se você não contar. Conta, mas espera vocês chegarem em casa.

- você tem razão. Ela precisa se concentrar no restaurante.

Restaurante, preciso me apressar. Queria ficar de olho nele, mas ele vai ficar bem. E se duas pessoas faltarem lá, eles vão ficar em apuros. Tomo um banho rápido pra me limpar do vômito e do banho de cachoeira. Felipe me espera na sala. Limpo a sujeira da entrada da casa e dou uma última checada pra ver se meu pai está bem. Estava dormindo.

Então seguimos para o centro novamente. Ao chegar na porta do restaurante, me despeço de Felipe, ainda um pouco sem graça.

- obrigado por tudo.

- não tem de quê. Me dê notícias dele quando chegar em casa.

- tá bem.

Lhe dou um abraço um pouco desengonçado e entro porta adentro. Percebo que o pessoal está se apressando. Os clientes já estavam chegando, e minha mãe se virava em dez pra terminar tudo. Carlos atendia a todos sozinho. Minha tia estava no caixa, pois João, o outro funcionário havia ficado doente e não pode ir.

- onde você estava Eduardo? – minha mãe parece muito brava.

- me atrasei, desculpe.

- o que você estava fazendo até agora?

- nada mãe, só perdi a noção do tempo.

- você tem notícias do seu pai? Ele também resolveu não dar as caras hoje.

Fico em silêncio. Não posso contar agora. Seu humor já está péssimo, e com razão.

- hein Eduardo.

- não sei mãe.

Não consigo esconder nada dela.

- você está escondendo alguma coisa. Me fala.

Tento escolher as palavras, mas elas saem apressadas.

- encontrei o pai num bar brigando. Levei ele pra casa.

Seus olhos ficam úmidos, e a expressão de raiva muda para tristeza.

- eu não sei mais o que fazer com ele.

Vou ao seu encontro e a abraço, e ela desaba.

- precisamos fazer uma intervenção, mae. Ele precisa se tratar.

- eu já tentei, filho. Ele não me ouve.

- então temos que tentar de novo. A gente precisa fazer alguma coisa.

Permanecemos em silêncio por algum tempo, apenas nos abraçando. Quando Carlos entra na cozinha, rapidamente nos ajeitamos.

- Edu, você me ajuda lá? O movimento tá aumentando.

- claro Carlos, já to indo.

A noite passou lentamente. O clima estava pesado, e eu estava preocupado com meu pai. Por deixar ele sozinho em casa, e pela situação dele.

- mãe?

- oi Edu.

- quando você conheceu meu pai, ele já tinha esse problema? Você sabe, com a bebida.

Ela me olha rapidamente avaliando minha pergunta, mas logo volta sua atenção à estrada.

- não. Ele já trabalhava no taxi, era um homem muito trabalhador, assim como hoje em dia. Não sei em que parte ele se perdeu.

Então, seguimos o resto do caminho em silêncio. Já havíamos deixado minha tia em casa. Ao chegar, vou direto para a cama. Estou me sentindo muito cansado. O dia foi muito corrido, e com muitas emoções. Só agora me lembro de avisar Felipe que estava tudo bem.

“Ei, acabei de chegar do restaurante. Meu pai está bem. Mais uma vez, obrigado por tudo.”

“Ei, que bom que ele está bem. E não precisa agradecer. Foi legar conhecer sua casa, apesar da situação.. Espero que as coisas melhorem. Até segunda.”

Só após deitar na cama que sinto os resultados do banho na cachoeira. Meu nariz estava começando a escorrer, e uma leve dor de garganta estava se instalando.

“Merda.”

Me deito na cama e logo apago em um sono profundo.

Desperto pela manhã naturalmente, sem nenhum som me induzindo. Ah, o domingo. Olho para o relógio, são 9:46. Bem que eu queria ficar mais na cama, mas meu nariz esta escorrendo de uma maneira irritante. Vou até o banheiro para limpá-lo, e escuto acidentalmente a discussão entre minha mãe e meu pai.

- o que você tem na cabeça, Paulo? É a segunda vez essa semana que você arruma confusão. Achei que depois que eu tive que entrar lá dentro pra te trazer embora você aprenderia.

- não foi nada demais Helena. O Eduardo como sempre exagerando.

Entro no quarto sem pensar, com meu sangue fervendo.

- exagero, pai? Seu colega de trabalho viu você quase desmaiado no carro, e depois vomitando nossa varanda. Isso é exagero?

Ambos se assustam com minha entrada repentina no cômodo, e meu pai agora me olha sem reação.

- isso aqui é briga entre eu e sua mãe Eduardo, não se mete.

- não pai, isso é uma briga de família. Você nem tá percebendo, mas você tá se matando aos poucos. Se não te der uma cirrose, você vai acabar causando uma tragédia nesse bar. Por favor, pela sua saúde, para de beber desse jeito.

Ele não fala nada. Não tem como replicar. Espero que ele caia em si.

Decido simplesmente sair de lá e deixar que os dois agora resolvam o resto por si só. Mas pra mim é uma surpresa que ele tenha arranjado mais confusão essa semana lá no bar. Vou direto para meu quarto, e decido retomar minhas leituras. O dia estava chuvoso, e um livro somado a um cobertor e uma xícara de chá quente eram os companheiros perfeitos para alguém com gripe. O rolo de papel higiênico já estava posicionado do lado da cama, pois eu já sabia que o usaria muito ao longo do dia. Quando termino meu livro, já está quase anoitecendo. Só então percebo minha barriga roncando. Não havia comido nada o dia todo. Passo próximo ao quarto dos meus pais e a porta está entreaberta. O som da TV indica uma partida de futebol. Meu pai deveria estar lá Desço para arrumar algum lanche. Minha mãe estava na frente da casa limpando os vidros da sala. Enquanto preparo um sanduíche, ela vem até a mim.

- não saiu do quarto o dia todo. Tá tudo bem?

- tá sim, só um pouco de dor de garganta e nariz fungando. Nada demais.

- tem que tomar remédio, filho.

- acho que não precisa mãe, logo eu melhoro.

Parecíamos evitar de tocar no assunto. Prefiro não forçar a barra.

- vou voltar pro meu esconderijo. Se precisar me chama.

Planto um beijo em sua testa e subo as escadas novamente. Ligo o computador e fico navegando na internet. Acho o perfil de Felipe em uma rede social e envio-lhe uma solicitação. Seu perfil é público, então decido mexer um pouco em suas fotos. Ele já viajou pra muitos lugares. Não encontro nenhuma foto dele com a família. Fico curioso pra saber como são. Após alguns minutos, desligo tudo e procuro pela caixa de remédios. Estava muito desanimado. A gripe havia me derrubado. Após tomar um comprimido, volto pra cama, e então durmo novamente.

Acordo com o despertador rugindo, e agora ele parece ser mil vezes mais irritante. A dor de garganta havia piorado. Acho que estou com febre. Me levanto e pego mais dois remédios na caixa, o mesmo que tomei ontem e outro para controlar a febre. Ouço alguém batendo na porta.

- pode entrar.

- oi filho, melhorou?

Me esforço pra parecer o mais saudável possível.

- sim, só o nariz que ainda está incomodando.

- se você não melhorar eu vou te levar no medico.

- não se preocupa mãe. Se eu não melhorar eu mesmo vou. Mas eu estou bem, eu falo sério.

- tudo bem. Quer que eu te traga alguma coisa?

- uma xícara de chá, por favor.

Estar doente tem suas vantagens. Os mimos aumentam muito mais.

Meu celular toca. Mensagem do Felipe. Caramba, o tempo havia passado rápido. Já passavam das 7h.

“Ei, cheguei na escola e não te vi. Que milagre é esse, eu chegando antes que você?”

“Ei, eu não vou hoje. Estou gripado. A cachoeira foi ótima, mas não foi boa ideia.”

Não recebo resposta. Logo em seguida minha mãe aparece com minha xícara de chá. Morango, meu favorito.

- obrigado mãe.

- por nada filho. Qualquer coisa me chame.

Ligo a televisão, e Hitchcock acabara de começar. Gosto desse filme. Então, me distraio assistindo. Ouço o barulho do carro saindo, meus pais costumam sair mais cedo nas segundas feiras. Pouco tempo depois, ouço a campainha tocar. “Quem será?” Pergunto pra mim mesmo em voz alta. Ao abrir a porta, lá estava ele.

- é aqui que tem um doente?

- aqui mesmo. – respondo fungando o nariz teatralmente. Ele sorri. – entra ai.

Fecho a porta e só então reparo no que estou usando: uma camiseta branca de mangas curtas bem velha, uma calça de pijamas azul marinho e pantufas. Sem dúvida uma roupa super adequada pra encontrar a pessoa que você ocasionalmente está gostando.

- você achou fácil aqui.

- guardei bem o caminho. Você tá melhor?

- estava com febre agora a pouco mas já tomei remédio. Acho que passou. E você, não tem vergonha de faltar aula não?

- sabe, acho que a aula seria um saco sem você lá.

Por essa eu realmente não esperava. Meu coração pula dentro do meu peito. Não sei o que dizer.

- eu tava assistindo um filme, quer ver também?

- bora lá.

Subimos até meu quarto, e eu me sento escorado na cabeceira da cama, e Felipe se senta do meu lado.

- bom gosto pra filmes.

- esse filme é incrível.

Percebo que o clima está muito diferente entre eu e ele. Enquanto tento me concentrar no filme, percebo ele me olhando discretamente, de canto. Meu estômago se revira. Eu quero tanto encará-lo também, e abraçá-lo como fiz ontem, e beijá-lo. Mas não posso. Me contento a passar a manhã rindo, conversando, navegando na internet com ele, rindo de reportagens e dos perfis de nossos colegas narcisistas nas redes sociais. Quando bate a fome, descemos até a cozinha para preparar alguma coisa pra comermos.

- então quer dizer que hoje eu vou conhecer as suas habilidades culinárias? – seu tom de voz é de um entusiasmo genuíno.

- claro. Quer dizer, vou tentar não derrubar nenhuma secreção dentro da panela.

Foi a piada mais nojenta e mais idiota que eu já havia feito na vida. Mas ele riu. E eu também.

Não podia decepcionar ele de forma alguma. Decido por fazer uma coisa pratica e não tão trabalhosa: arroz, salada de beterraba e alface, e alguns bifes de frango recheados com queijo e bacon. Enquanto eu douro a carne na panela, ele me ajuda picando a cebola pra temperar, e fazendo a salada. A beterraba estava cozinhando na panela de pressão, e o arroz estava quase pronto.

- esse cheiro tá divino, Edu. Acho que vou te roubar pra mim só pra cozinhar lá em casa.

- fico lisonjeado com o convite, mas prefiro não ser roubado. Aliás, não quero saber de ouvir sobre roubos ou afins tão cedo.

Começamos a rir, e eu lembro do episódio. Foi sem dúvida uma lembrança interessante.

Depois de terminar tudo, arrumo a mesa e então almoçamos. Podia ver a satisfação de Felipe ao provar minha comida. Fico aliviado por não ter feito feio.

- almoço não é almoço sem sobremesa. – diz ele enquanto eu retiro a louça da mesa. – se você não se importa, eu queria fazer uma sobremesa que eu aprendi com a minha avó, só pra te mostrar que não é só você que manda bem nesse negócio de cozinhar.

Solto um riso involuntário.

- tudo bem. Qual a sobremesa.

- creme de chocolate com côco ralado. Você tem as coisas?

- acho que tenho.

Então, pegamos tudo e ele mistura o leite condensado, o creme de leite, um pouco de leite e o achocolatado no liquidificador.

- ei, o que é isso aqui? Uma sujeira?

- como assim? Onde?

- aqui ó. – ele aponta pra borda do liquidificador, do lado de dentro. Me aproximo pra ver melhor, e então ele liga o botão e salta creme de chocolate na minha cara.

- filho da puta!

Ele ri, e eu estou coberto de chocolate. Tiro o excesso do meu rosto, e decido não deixar barato.

- vem cá, Felipe. Acho que tem uma sujeira aqui também. Dito isso, começo a correr atrás dele com o copo do liquidificador na mão. Começamos uma caçada. Ele ri cada vez mais alto, e eu enfio a mão dentro do creme e atiro em sua direção. Acerto sua cabeça em cheio, respigando pelo fogão. Ele se vira e vem ao meu encontro pra tentar tirar o liquidificador de mim. Então, eu caio no chão, e ele por cima de mim. Acalmo meus risos, e ele também, e então percebo que ele está me olhando fundo nos olhos. Seu peso está todo por cima de mim, e eu estou sem saída. Então, ele me beija.

Seus lábios quentes e úmidos tocam os meus, e eu vou até o céu e volto. Mas assim que tenho um vestígio de juízo, o afasto. Não podemos fazer isso.

- desculpa. – ele diz desnorteado. Eu não consigo dizer nada, muito menos olhar pra ele. Esse beijo era tudo o que eu queria, mas apenas na minha imaginação. Fora dela era um grande problema. Então, ele vira as costas e sai rumo a porta. Tento falar alguma coisa, mas não sai nada. Então, a porta se fecha, e ele vai embora.

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Comentários

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Que isso de deante das coisa que precisa se tomar uma atitude rapida vc paraliza como assim. . . Gostando do conto!!

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Sério bonitinho!!! eu não consegui fazer o meu perfil lá então eu só lia e adorava. Vc é de um sentimentalismo incrível! Agora aqui eu posso comentar!

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