Amor de Carnaval não Vinga (15)

Um conto erótico de Peu_Lu
Categoria: Homossexual
Contém 4543 palavras
Data: 19/10/2015 02:19:43

"Meu amor, olha só, hoje o sol não apareceu. É fim da aventura humana na terra...” (Eva, Banda Eva).

...

Levantei-me da cama redonda e encarei o olhar de Gustavo. O jeito tímido que ele contemplava-me à sua frente e procurava desviar a visão quando era percebido, acrescido de um leve sorriso, mexia muito comigo. Precisava admitir, estava balançado. Segui ao seu encontro, deixando-o ainda mais sem jeito.

Toquei a sua cintura, correspondendo à admiração. Ele mantinha-se estático, sem saber como agir. Segurei a base da sua camisa e, lentamente, comecei a suspendê-la, revelando o seu abdome. Vislumbrava o seu tronco em todas as aulas de natação, mas ali naquele momento, aquilo ganhava um novo contexto.

Quando se viu livre de parte da roupa, repetiu a operação comigo. Sua boca entreaberta revelava uma respiração cada vez mais espaçada. Estávamos nervosos. Trouxe-o a mim, colando os nossos corpos, e desci a cabeça para beijar-lhe o ombro. Sua pele esquentava a minha, emitindo diversos sinais que o meu sexo parecia entender perfeitamente.

Subi com a língua pelo seu pescoço, fazendo-o inclinar a cabeça para o lado e deixando-o completamente arrepiado. Não sabia afirmar, mas poderia jurar ter escutado um leve gemido. Ainda abraçando a sua cintura, girei o seu torso para que ficasse de costas para mim. Passei a mão, acariciando toda a sua coluna, até chegar à excitante curva que sua bunda fazia sob a vestimenta. Suspirei.

Compreendendo o meu desejo ansioso, Gustavo me presenteou com o som da braguilha se abrindo e começou a empurrar o cós da calça para baixo, levando a cueca a tiracolo. Enlacei o seu peito, e o apertei com força, prensando as suas nádegas contra a minha ereção. Fechei os olhos e fui levado para outra dimensão, tamanha excitação que sentia.

Estava pronto para me entregar, mas uma batida forte na porta trouxe-me de volta à realidade. Debaixo do chuveiro, percebi que a voz familiar da minha fantasia tentava se comunicar:

- Augusto, tá aí? – bateu mais uma vez.

Desliguei a ducha rapidamente e, através da passagem semiaberta do banheiro, prossegui com o rápido diálogo:

- Oi Guga! Tô no banho! - berrei dentro do boxe.

- Ah, foi mal... – escutei-o de longe – A gente vai descendo então pra adiantar. Não se atrase!

- Beleza! – retruquei.

Abri a torneira e voltei a fita-lo na minha imaginação. Apertei novamente meu membro endurecido e segui me masturbando com avidez. Aquela seca estava me matando (não considerava a “transa” com César como algo dentro do normal) e uma onda de desejos pareciam querer me domar. Precisava entender o que era aquilo. Fosse afeto ou pura necessidade sexual, tinha que buscar uma solução para aqueles sentimentos cada vez mais recorrentes.

...

Flávio me avistou no saguão do hotel, e fez sinal para me juntar a eles no café da manhã do restaurante. Ambos já se mostravam saciados com o desjejum. Estava mais ansioso do que faminto, optando por um breve aperitivo. Conversamos algumas amenidades, que sempre coincidiam com o assunto principal daquele dia. Se o martírio era generalizado, resolvi focar de vez no tema.

Voltamos ao quarto da minha dupla de assistentes para repassar novamente os principais pontos do plano. Testamos todos os equipamentos e deixamos tudo a postos. A quantidade de latas de energético e salgados em cima da bancada revelava o nível de precaução do meu funcionário:

- Com isso aqui eu aguento até a madrugada, pode deixar – alardeou.

Pouco antes do meio dia, parti com Gustavo para o motel. Ainda era cedo, mas não queria sofrer nenhum tipo de contratempo. No caminho, experimentamos as escutas e avaliamos se a comunicação funcionava bem. Ao meu lado, meu parceiro olhava com curiosidade a orla movimentada, como se lamentasse o dia perdido da viagem. Quase uma hora depois, chegamos ao nosso destino.

- Já vi o seu carro, Augusto – Flávio nos informou através do ponto.

- Ótimo. A transmissão é rápida então – concluí – Acabamos de parar na guarita.

Pedi por um quarto com longo período – oito horas, mais precisamente – e avancei com o ritual padrão de localizar a suíte, estacionar e descer a portão da garagem. Quando adentramos o cômodo, Gustavo não escondeu uma expressão irônica.

- O que foi? – percebi, deixando a mochila ao lado da cama.

Ele tirou o fone e tampou com a mão:

- Sabe o que é mais engraçado nisso tudo? – olhava ao redor – Nunca tinha ido a um lugar assim. É a minha primeira vez em um motel, e não será para transar.

Queria pensar no benefício daquela revelação inusitada, mas só conseguia gargalhar com a situação:

- Deixa eu te dizer uma coisa – apontei para a sua mão – Não basta abafar o som, é preciso desligar a escuta.

Meu colega enrubesceu, bastante envergonhado.

- E sim, Flavinho também escutou tudo.

Assim que recolocou o aparelho, ouvimos mais risadas vindas do hotel. A zombaria também serviu de alerta a nós dois. Não podíamos comentar o que havia por trás daquele projeto, ou debater desejos ocultos. Ampliar algumas intimidades com o meu subordinado estava longe das minhas próximas resoluções, pelo menos naquela fase da minha vida.

- Isso daqui... Pra que serve?

- É uma cadeira erótica. Se tivermos êxito, te mostro depois como funciona – brinquei, tentado com a possibilidade.

O desbravamento do novato tímido continuava taciturno, enquanto separava alguns itens e parafernálias em cima de um balcão, ao lado do frigobar. Aproveitei a calmaria e a proximidade com a hora do almoço, e pedi um lanche pra gente. Cada um saboreava o sanduíche à sua maneira: eu zapeando entre os filmes pornográficos de qualidade duvidosa que a televisão exibia; e ele, espevitando a bancada, pensativo:

- O que é aquilo do lado da sacola?

- O que? – mirei para o mesmo lugar – A máscara?

- Você trouxe um disfarce? – surpreendeu-se.

- Claro! – levantei para mostrar – Não vou me dar ao luxo de revelar minha identidade pra esse cara. Quanto menos ele souber, melhor – mostrei o utensílio – Pra dizer a verdade, isso também faz parte da artimanha. Aguarde e verás...

- Não tinha me atentado para isso.

- Oportuno, né? – vesti para me olhar no espelho.

- Como assim?

- V de Vingança! Nunca leu ou viu o filme? – provoquei.

- Hum, não que me lembre.

- Não dê importância a ele, Gustavo – uma voz ecoou através do pequeno aparelho – Às vezes Augusto só quer tirar onda por ser uma enciclopédia nerd ambulante – gargalhou.

Continuaria com o clima da gozação, mas segurei o impulso quando escutei o celular tocar, indicando o contato de Vinícius. O relógio indicava quase duas da tarde. Pedi silêncio total e atendi:

- Oi, pode falar!

- Ele disse que está chegando daqui a trinta minutos – fiquei pasmo com a antecipação - O local tá confirmado e já coloquei tudo na mochila.

- Ok, pode ativar a câmera então que vou sincronizar com o computador. Deixe o telefone ligado e qualquer emergência, me manda uma mensagem. Lembre-se de tentar focalizar o número do apartamento.

- Beleza, pode deixar.

- Fica tranquilo e confia em mim. Vai dar tudo certo – tentei suavizar o clima tenso da conversa.

Despedimo-nos e apressei-me em ligar os laptops. A transmissão dos óculos era parte fundamental do processo. Sem este item, a probabilidade de sucesso caía bastante. A outra máquina ficaria em stand by, para quando as filmagens da mochila fossem efetivadas.

- Pessoal, vai começar – acionei o rastreamento via GPS do dispositivo.

Gustavo se aproximou para averiguar as imagens. Só nós dois teríamos acesso à visão do coligado, evitando interferências desnecessárias e preservando a concentração de Flávio no sistema interno do estabelecimento. Nossos papéis estavam bem divididos.

- Tô me sentindo o Ethan Hunt. Cadê a musiquinha de Missão Impossível? – meu aliado comentou, arrancando novas risadas dos três.

A gravação surgiu no vídeo. A partir dali, éramos um só olhar. Antes do horário combinado, nosso espião saudou os pais e partiu, alegando ir à casa de Lúcio. Um veículo – o mesmo presente nas outras projeções capturadas – o aguardava no outro lado da rua. Assim que abriu a porta, o rosto do nosso algoz se revelou. A felicidade estampada nos seus traços me lembrou da breve reunião de amigos dentro do bloco, deixando-me incomodado com aquela cena.

- Isso... Vai rindo – meu cúmplice começou a se empolgar com a empreitada.

- “E aí? Vamos nessa?” – deu partida no carro.

As lentes subiam e desciam, denotando a afirmativa do nosso integrante.

- “Senti falta de você, sabia? Fiquei feliz com a sua mensagem”.

- “Eu também” – Vinícius desceu a mirada, revelando a mão do motorista na sua coxa.

- “Tá usando óculos agora?” – puxou assunto.

- “Ordens médicas, mas o grau é pequeno”.

- “Saquei. Quer ir mesmo naquele lugar?”.

- “Gostei de lá. É mais reservado”.

- “Também acho”.

O trajeto parecia tranquilo, evidenciando o dia ensolarado que fazia. Avisei a Flávio que eles já estavam a caminho e voltei a observar o monitor. Era impossível não denunciar uma inquietação crescente.

- “Vamos repetir tudo que fizemos?” – Júlio fazia uma expressão maliciosa.

- “Se você quiser, sim”.

- “Lógico que eu quero. Falei que ia gostar e não iria se arrepender”.

A cada frase proferida, o nojo e desprezo que eu sentia pelo membro da Liga do Mal cresciam ainda mais. A viagem foi recheada de elogios forçados, diálogos de teor sexual e insinuações. A certa altura, o lobo em pele de cordeiro estacionou o carro em uma rua mais afastada e deserta, e decretou:

- “Você precisa se esconder de novo, ninguém pode desconfiar”.

- “Tudo bem”.

- “É rapidinho, logo, logo chegamos”.

Vinícius abriu a porta e se dirigiu para o porta-malas, já aberto. Em poucos segundos, toda a tela ficou escura. Repeti a interação para a nossa central de operações. Estávamos cada vez mais próximos. Cerca de quinze minutos depois, senti um imenso calafrio com a notícia que recebemos:

- Estão se acercando – Flávio aclamou.

- Grava esse intervalo – solicitei – Será muito importante.

- Acabaram de entrar – continuou – Não dá pra saber o número do apartamento, mas é na mesma rua que vocês estão.

- Ótimo – tentava absorver tudo.

- E agora? – Gustavo estava aflito.

- Será tudo muito rápido quando eu sair. Preste atenção em tudo o que está acontecendo e vá narrando pra mim – relembrei as instruções – Flavinho, fique a postos para interromper as câmeras.

- Já estou resolvendo isso aqui.

Um clarão apareceu no computador e logo a iluminação foi estabilizada. O prisioneiro estava livre do esconderijo improvisado.

- “Prontinho!” – Júlio ofereceu a mão para auxilia-lo a levantar-se.

Em silêncio, ambos começaram a subir as escadas. Enquanto nosso alvo destrancava a porta, a isca focava na placa presa à mesma.

- Quarto 23! – Anunciei em voz alta para que todos assimilassem a informação – O nosso é o 28, são cinco garagens a menos.

- Você vai por fora mesmo? – meu acompanhante se preocupou.

- Acho menos arriscado. Se for pelo corredor externo, pode aparecer algum funcionário.

- Sistema sob controle... – escutei pelo aparelho – Quando quiser.

- Precisamos esperar o sinal combinado – avisei.

Naquele momento, nosso agente espreitava seu opressor despir a camisa.

- “Não vai tirar a roupa também?”.

- “Eu esqueci a mochila no carro. Empresta a chave?”.

- “Mochila? Pra que?”.

Meu coração batia forte de tensão.

- “Acho melhor tomar um banho depois. Meus pais podem estranhar” – inventou.

- “Tudo bem, mas se lembra de apertar o alarme depois. Não demora”.

Mandei uma mensagem para Vinícius, alertando o acionamento da segunda filmadora e a posição da mesma no quarto. No monitor, as mãos trêmulas segurando o celular demonstravam que o recado foi visualizado. Prontamente, abriu a sacola e ligou o aparato; mais uma vez, focalizou a chave, para nos dar certeza do número do aposento; e galgou as escadas, sem antes trancar o automóvel. Assim que voltou, fingiu mexer na fechadura, mas só fechou a porta, efetivamente.

Júlio já estava de cueca, à espera da sua presença. O par posicionou o pertence como estudado previamente e, no segundo laptop, começamos a verificar se o ato permitia plena visão do que aconteceria em breve. Tudo nos conformes.

O infiltrado abriu a bagagem e retirou um pedaço de corda, enchendo os olhos do seu opositor, que agora exibia um largo sorriso. Entregou a ele e sussurrou:

- “Achei que você iria gostar”.

- “Curtiu mesmo a brincadeira, hein moleque? Vamos nos divertir muito”.

- É agora – respirei fundo – Não pare de falar um só instante – supliquei ao meu colega.

- Vou congelar as câmeras. Só temos vinte segundos antes que o sistema detecte algum tipo de problema. Sem vacilo, tá? – a matriz do comando advertiu.

- Boa sorte – escutei do meu comparsa, acenando da cadeira.

Assenti, vesti o disfarce, desci correndo para a garagem e me posicionei no espaço entre o portão e o chão.

- Tô pronto – informei.

- E... Valendo! – escutei.

Rolei para a rua, me levantei e comecei a caminhar com calma para não chamar atenção.

- Eles estão se beijando, perto da televisão – Gustavo narrava.

- Treze segundos, Augusto.

Sem denotar nenhuma presença nos arredores, comecei a correr. Ainda faltava uma distância equivalente a três apartamentos para chegar. Repeti o procedimento, me deitei e rolei para o estacionamento.

- Dentro! – sussurrei.

- Câmeras reativadas. Tudo certo até agora.

- Júlio está tirando a camisa dele. Ambos continuam em pé.

Ofegante, procurei me tranquilizar. Precisava ter sangue frio para agir. Verifiquei a placa do carro e confirmei estar no local correto. Subi sem fazer barulho e girei lentamente a maçaneta.

- Ele pediu para o outro tirar a sua cueca – a narrativa prosseguia.

Com a porta entreaberta, notei que o estuprador situava-se de costas para mim, enquanto Vinícius completava a operação com a roupa íntima, de joelhos.

- Agora me chupa um pouco – ordenava.

- Tá pedindo para fazer sexo oral nele – a escuta me avisava.

O acontecimento e a descrição detalhada já se confundiam. Olhei rapidamente o espaço e averiguei que todas as peças estavam no tabuleiro. Era a hora de movimenta-las.

- Anda, mete a boca – praguejou.

Antes que o pedido fosse concretizado, dei mais dois passos e o agarrei por trás. Com o susto, nosso alvo começou a se debater e reclamar, forçando-me a dar uma chave de braço no intuito de aquieta-lo. Vinicius estranhou a aparência mascarada, mas não tinha dúvidas da minha identidade. Sufocado, nosso carrasco ainda não tinha ciência do que ocorria.

- Pega ali! – falei tentando conter a euforia do capturado, acenando em direção ao objeto desejado.

Meu cúmplice ergueu-se em direção à cama, apossando-se da corda de comprimento considerável. A voz de Gustavo cessou, provavelmente por já estar assistindo a execução da estratégia. O que faríamos, porém, ninguém tinha conhecimento, com exceção das duas vítimas violentadas dentro daquele quarto. Começamos a colocar em prática todo o ensaio da tarde anterior.

- Passa por trás primeiro, dá um nó inicial e continua dando as voltas. Vai sossegado que eu tô segurando ele. Temos tempo.

O detido voltou a resmungar mais alto, fazendo-me calar a sua boca com a mão. Na terceira volta, tomei a corda e continuei amarrando-o, velozmente. Apertava o máximo que conseguia, avaliando cada laço e evitando uma possível fuga.

- Que porra é essa? Socor...

Antes que completasse o grito, voltei a silencia-lo. Fitando o meu aliado, que estava acuado na parede, sinalizei que a próxima etapa deveria se iniciar. Nervoso, ele recolheu o celular estrategicamente posicionado e se dirigiu ao banheiro, fechando a porta. Agora a sós, o empurrei no leito e voltei a encarar o seu olhar angustiado:

- Me solta cara, pelo amor de deus, me solta. Eu pago o que quiserem.

- Você não faz ideia, né? – sorri – Não sabe quem eu sou, o que está se passando aqui...

- Ele tá ligando pra polícia – Gustavo voltou à ativa.

- Não sabe o que os seus próximos dias reservam...

- Disse que foi sequestrado e tá num motel, escondido no lavabo – escutava atento aos desdobramentos – Revelou o número do quarto.

- Não me mata, cara, por favor...

- Pra comer o garoto é valentão. Pra responder por isso é covarde, não é? – instigava-o ainda mais.

- Declarou que não tem como pedir ajuda, porque acha que o dono do lugar sabe – a missão seguia em pleno exercício.

- Eu não comi ninguém, ele é meu amigo. Pergunta pra ele – suplicou.

- Fica aí calado. Não quero ouvir um pio seu – levantei impaciente.

- Contou que se desprendeu, brigou com o dominador mascarado e conseguiu amarra-lo.

Procurei a calça, olhei nos bolsos e encontrei o celular. O aparelho solicitava senha por biometria. Peguei o dedo do prisioneiro, posicionei sobre a tela e acessei as configurações para mudar a senha, confiscando-o em seguida.

- Ele vai sair.

A porta do cômodo se abriu e Vinícius retornou um pouco atordoado.

- Vini, conta pra ele – Júlio se apressou por uma solução - Diz de onde você me conhece, que somos íntimos...

- Eu disse que não queria ouvir nada, e não pretendo repetir – manifestei mais uma vez.

- Nossas mães se conhecem, ele pode confirmar.

- Augusto, cuidado com o barulho. Tem gente passando no corredor agora – tentava me concentrar na voz de Flávio no meio da discussão.

- Pega uma toalha de rosto no banheiro – solicitei.

Meu pedido foi prontamente acatado e efetivado, fazendo o componente da gangue estranhar a obediência do parceiro. Enfiei boa parte do tecido na boca do estorvo e o silêncio voltou a reinar. Satisfeito, aproximei-me do seu ouvido e sussurrei triunfante:

- Um dia da caça, o outro do caçador – dei um leve sopapo no seu rosto. Apesar da imensa vontade, deixar alguma marca de violência no seu corpo poderia pesar contra nós.

Ele acompanhou a minha trajetória com o olhar, enquanto me sentava ao lado do garoto, próximo ao toalete. Ficaria protegendo-o e só sairia quando as autoridades chegassem ao local. O fomentador da ideia, é claro, não sabia disso.

- Houston, nós temos um problema – meu empregado alertou.

Não poderia responder naquele momento. Para todos os efeitos, nosso intermediário imaginava que eu estava sozinho ali. Não queria denunciar uma força-tarefa para prender o riquinho filho do político. Aguardei ele pronunciar o imbróglio, torcendo para que entendessem o motivo da minha mudez.

- Augusto, tá aí? – continuou – Tem um técnico com uma rádio patrulha caminhando para a câmera que eu bloqueei temporariamente, e outro na sala da gerência averiguando o painel.

“Era só o que me faltava...”, gelei.

- Não sei exatamente o que eles pretendem, mas já não acho inteligente você ficar aí até o fim.

- Vinícius... – não esperei uma confirmação – Vou precisar voltar para o meu quarto, porque eles já devem estar a caminho – menti pesaroso.

O jovem mostrou-se preocupado, visivelmente apavorado.

- Fica longe dele, não vai demorar muito – incentivei – E saiba que você foi excepcional – agradeci.

Júlio se debatia no móvel, tentando balbuciar algo.

- E você... – contemplei a sua agonia – Não nos veremos novamente, mas cuidado quando for tomar o banho de sol no presídio. Dizem que os caras são sedentos pelos mais novos.

De costas, tirei a máscara e entreguei ao jovem recolhido no chão. Aquilo serviria como pretexto para o fato de que ele não sabia quem era o sequestrador. Despedi-me com um aperto nos seus ombros e desci para a garagem. Quando tudo estivesse terminado, faríamos novo contato, esse era o acertado. Posicionei-me novamente e voltei a me comunicar:

- Flávio, às suas ordens. Já tô aqui embaixo.

- Espera, tá parecendo que eles querem fazer algum tipo de manutenção. Segura a onda aí.

Continuava deitado atrás do veículo, aguardando.

- O cara tá voltando, tem dois carros entrando. Assim que eles passarem, te aviso.

Observei os passos tranquilos do funcionário se distanciar, seguindo do barulho de um motor.

- Um já foi... – escutava atento, suando naquele cubículo quente.

Presenciei o outro passar, já me preparando para sair.

- O outro acabou de ocupar o apartamento vizinho ao seu.

O tempo, naquele exato instante, não era favorável à nossa causa.

- Desceram o portão. Pronto, vai nessa.

Trilhei o meu retorno e corri de volta para o quarto sem ser percebido. Entrei esbaforido e percebi que Gustavo seguia hipnotizado pela exibição. Procurei me recompor e sentei ao seu lado.

- Você tá bem?

- Eu tô ótimo. Se tudo der certo, estarei ainda melhor.

Tirei o celular do meu inimigo do bolso, conectei ao segundo laptop e comecei a salvar todos os dados em uma pasta que teria muita utilidade, em outras ocasiões mais propícias.

- Essa quietude é angustiante – meu amigo continuava estudando o cenário da armadilha.

Mil possibilidades atravessavam o meu pensamento. Temia o tipo de perguntas feitas pela polícia, como ele poderia titubear ou se enrolar para responder, se o criminoso criasse uma história mirabolante, qual versão ele defenderia... Muita coisa ainda poderia acontecer. Estávamos longe da nossa zona de conforto.

- A gente deu sorte – o comando do hotel retornou – os caras voltaram com uma escada. Devem ter estranhado a câmera travar, mas acho difícil descobrirem alguma coisa.

“Droga!”, pensei alarmado.

- “Eu achava que éramos amigos...” – escutamos o áudio do computador e nossa atenção voltou-se a Vinícius, que se levantou do chão – “Você sempre foi gente boa comigo, me tratou bem. Porque fez isso? Porque estragou tudo?”.

Júlio começou a se revirar na cama, esfregando o rosto no lençol para tentar se livrar da toalha que obstruía as suas queixas. Aquele lamento não vinha em boa hora. Insistente, o tirano começou a assoprar até, enfim, conseguir cuspir o tecido. Ainda arquejante, retomou o diálogo:

- “Eu também gosto de você, já te falei. Não precisa de nada disso, vamos conversar”.

- “Achava que a gente podia ter alguma coisa depois de tudo que foi dito, que foi demonstrado de sua parte...”.

- Cala a boca, porra! Não dá trela... – pensei em voz alta.

- “E a gente pode, você sabe que a gente pode. Quem tá estragando tudo é você”.

- Flávio, me dá uma luz – supliquei.

- Os caras ainda estão recolhendo o material, mas antes preciso testar se é possível congelar as imagens – indicou.

- “Você é diferente dos outros, Vinícius. É especial, bonito, íntegro... Muita coisa é novidade pra mim também, não esperava estar afim de outro cara, principalmente do amigo de meu irmão. Me dá uma chance, cara, deixa eu te mostrar o que eu sinto também”.

O silêncio pairava e me vi prestes a ter uma síncope nervosa, enquanto digitava uma mensagem angustiante para o seu celular:

- “Fica quieto, isso é jogo dele”.

Escutamos o som da notificação, mas ele não verificou.

- “Vai, me solta, por favor”.

A vítima sentou-se rente ao corpo do adversário, avaliando o que fazer. Aquela espera era mais torturante do que qualquer agressão física. Estava de mãos atadas naquela circunstância.

- “Tudo bem...” – ele se decidiu – “Mas acho melhor a gente ir embora daqui”.

- Puta que pariu! – berrei exasperado.

- Liga pra recepção, inventa uma história – Gustavo tentava raciocinar, aflito.

- O que tá acontecendo? – Flávio questionou, sem resposta.

Peguei o aparelho no criado mudo e disquei, assistindo os nós sendo soltos lentamente. Aquela atitude precipitada era um barril de pólvora e nós, uma simples plateia, nada poderíamos fazer, senão observar.

- Recepção, Marlene, boa noite? – uma voz anasalada atendeu.

- Oi, boa noite – tentava transparecer calma – É que estamos escutando um barulho estranho, como se alguém estivesse gritando em um quarto próximo ao nosso...

- Senhor... – riu, interrompendo – Com todo respeito, isso é muito comum em motéis. As pessoas gostam de se soltar, realizar fantasias e...

Desliguei o telefone na cara dela, chateado:

- Isso não vai funcionar – alertei – Eu vou lá.

- Sem chances... – o operador do hotel preveniu – As câmeras externas estão sendo reiniciadas, me dá cinco minutos.

Na projeção, Júlio já auxiliava no desatar do último laço. Nu, e em pé, tínhamos a sensação que ele estava nos encarando. Após um breve sorriso cínico, desferiu um soco no rosto de Vinícius. Os óculos voaram longe, caindo no chão.

- “Seu filho da puta” – gritou – “Tá querendo foder minha vida?”.

A gravação agora só alcançava os pés do agressor, fazendo-nos correr para checar as imagens da mochila, exibidas no outro computador. Quando alçou o rapaz à força, percebemos que o seu nariz jorrava sangue. Em seguida, começou a amarrá-lo com o material antes destinado a ele.

- “Quer dar uma de esperto pra cima de mim?” – rasgou a bermuda para despi-lo, jogando-o na cama – “Vou te ensinar uma coisa agora que nunca mais vai se esquecer. Quero ver você sentar depois de hoje...”.

O choro do castigado era audível e claro. Não dava para ficar ali parado. Tinha uma obrigação e era meu dever cumpri-la até o fim.

- Eu vou pelo corredor... – meu lado impulsivo voltava a domar os meus sentidos.

- Tá louco? Augusto, é perigoso, fica aqui.

- Ele vai matar o menino!

- A polícia chegou! – Flávio gritou – Acabaram de entrar na recepção.

A notícia me segurou no quarto. O molestador desferia uma, duas, três palmadas fortes na bunda do abusado. O plano tinha saído totalmente dos trilhos e o clima de desespero era evidente.

- Um oficial ficou lá. Tem outros dois seguindo o gerente.

O facínora cuspiu na mão e começou a lubrificar o pau, possesso. Acercou-se e, com violência, abriu as pernas da presa, que não oferecia resistência. O pior estava por vir mais uma vez, no mesmo lugar e sob a nossa vigia.

- Vai logo, vai logo... – tremia assustado, enquanto o irmão da minha sócia permanecia em estado de choque, paralisado ao meu lado.

- Eles vão entrar! – a narração prosseguia.

Prestes a penetrá-lo, a porta se abriu.

- “Parados!” – duas armas foram apontadas para os envolvidos – “Encosta na parede, agora!”.

Assustado, Júlio elevou-se surpreso com as mãos para cima, sem entender o que sucedia.

- “Não se mexa!” – um dos oficiais retrucou, ao mesmo tempo em que o outro libertava Vinícius.

Só então pude voltar a ouvir os batimentos do meu coração, e me dei conta de soltar o ar preso em meus pulmões. Levantei ainda ofegante, e recostei-me na parede, preocupado com todo o ocorrido. Estava com um nó na garganta, pensando no que tinha causado.

- Ele tá saindo algemado pelo corredor – nosso informante continuava atuando.

Tirei a escuta e joguei na cama. Gustavo se aproximou complacente, e tentou me consolar:

- Vai ficar tudo bem, Guto. Não foi culpa sua.

Esbocei um meio sorriso e o puxei para um abraço apertado. Deitei a cabeça no seu ombro, constatei sua respiração tranquila no meu abdome e me senti melhor. Afastei-me um pouco e encarei o brilho do seu olhar, disposto a tudo para me acalmar. Com cuidado, puxei o aparelho do seu ouvido e atirei de encontro ao meu, entre os travesseiros. Segurei o seu rosto com ternura e voltei a me aproximar.

Nenhum dos dois parecia acreditar naquele momento, mas estava acontecendo. Quando nossos lábios se encontraram, senti um arrepio. Segurei a sua nuca e completei o beijo, já dando início a outro, e mais outro. O gosto da sua saliva quente era diferente, e não sabia explicar a percepção. Desliguei os medos do passado e as dúvidas na mente, e me entreguei.

Como tudo naquele dia, porém, a dose extra de surpresas ainda não tinha terminado, e uma batida na porta – sempre elas – nos trouxe de volta à realidade.

- Polícia! Abram a porta! – escutei o aviso, descerrando os olhos assustado.

(continua)

...

Oi pessoal! Custei um pouco a revisar este capítulo, mas tá na mão! Drica Telles (VCMEDS), pois é, também me amarro nesses detalhes, em saber como tudo funciona exatamente. Que bom que esteja curtindo essa parte também (aliás, foi você que me adicionou recentemente no wattpad?); Plutão, como eles seguirão eu prefiro deixar no ar, mas com certeza muitos objetivos serão atingidos. O ruivo também manda um abraço, :)! Irish, eu enxergo toda essa jornada mais como um processo de renovação e conhecimento do que uma simples vingança, e no final você vai entender o porquê, ;)! Obrigado por seguirem firmes na leitura, isso me alegra muito! Até o próximo capítulo!

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Comentários

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Coração a mil, adorei!!! E sim sou eu no Wattpad, vai ter que me aturar lá também, ninguém merece.kkkkkkkkkkk

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Quase tive um taquicardia lendo esse capitulo!! Ta demais cara, continua logo por favor =)

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Adrenalina pura! A inocência e a vontade de crer no algoz levou Vinícius a agir desta forma. Espero que tenha aprendido. Preocupado com o que os policiais encontrarão no quarto de Gustavo e o companheiro. Um abraço carinhoso para ti e para o ruivo,

Plutão

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Tensao total este capitulo e terminou de um jeito que me deixou mega curiosa aqui rs. Quero muito esse casal junto :) Abraços cara!!!

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