Na Ordem do Caos 2

Um conto erótico de Hayel Mauvaisanté
Categoria: Homossexual
Contém 3506 palavras
Data: 16/10/2015 14:01:56
Última revisão: 21/10/2015 19:28:22

Na Ordem do Caos

Capítulo 2 - Habemus Piluccĭu!

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Às vezes quando via aqueles relatos raros de raios que caiem duas vezes na mesma pessoa, em certos momentos comecei a pensar que o raio não caísse duas vezes no mesmo lugar, e sim que o raio (ou as duas mesmas nuvens sofrendo descargas elétricas, vai saber) seguia a pessoa! E lá estava o raio de novo na minha frente.

— Bem interessante sua ocupação, Claus – disse ele sorrindo bobo pra nós.

— Não pode ser...– expressei desacreditado.

Naquele momento Lourenço me lançou um olhar confuso, como se exigisse uma explicação da minha parte.

— Não vai me apresentar? – continuou ele cínico.

— Não. – disse seco. — Agora tenho stalker... – complementei.

— Como não stalkear um gato desses!? –disse ele rindo e colocando a mão nas minhas costas.

Maurício mal me reencontrara e já se sentia íntimo, muito abusado da parte dele.

— Olá! Não me deixem fora dessa conversa tão 'íntima' – Lourenço se impôs e entrou no meio daquela situação. — Eu aquele que deveria ser apresentado, lembram?

— Ah sim! Sou Maurício, prazer! – disse ele apertando a mão de Lourenço. — E você? (Já que o emburradinho não quis me apresentar) – disse ele olhando pra mim.

Maurício estava estranhamente simpático e aquilo me incomodava, a situação já estava estranha por demais. E Lourenço quando soube o nome dele, entendeu tudo, então me lançou um olhar mortífero, dava calafrios.

— Prazer, sou Lourenço, regente do coral – respondeu o cumprimentando. — Você é grandão, hein. – Constatou ele simpático.

— Estava esperando já, sempre ouço isso – respondeu Maurício interagindo.

— Não é por menos. – Lourenço comentou — Então você é... – ele continuava até que interrompi:

— CHEGA! – berrei entrando no meio dos dois.

— Que isso, Claus!? – Lourenço prontamente rebateu espantado e colocando a mão no meu ombro.

— Isso é ridículo! – me expressei aborrecido.

— Calma, Claus – disse Maurício cauteloso.

— Que você tá fazendo aqui? Estava me seguindo? – exigi seriamente.

— Calma, Claus – repetiu ele — E não, eu não te segui. Vim pra cá para ver exatamente a apresentação do coral – explicou ele.

— Que bom que veio, Maurício – Lourenço agradeceu alegremente.

— Sabe que sou músico, Claus – ele argumentou logicamente.

Ele tinha me encurralado, mas a situação não podia continuar.

— Pois bem, está quase na hora – disse me dirigindo a Lourenço — Tem que ir, e não deixa essa roupa tão amassada – disse me certificando. — E você veio ver a apresentação, então se direcione aonde está o público. - completei olhando para ele.

— Certo, Monsieur! – respondeu o Lourenço — Mas depois vai ter que esperar, está devendo – disse ele ríspido. — Não precisa ficar lá com a gente hoje, vou te deixar ter uma conversa com seu amigo. – disse ele saindo e aumentando a velocidade, ou seja, fugiu.

— Ei, espera aí – pedia em vão.

Lourenço de vez em quando gostava de me atentar, e sabia como aquilo era circunstancialmente difícil pra mim.

— Cara legal, ele – aquela voz dizia atrás de mim.

— Sim, muito. – rebati seco. — Não veio aqui pela apresentação? Vai lá! – expressei irritado.

— Podemos ouvir daqui e ter uma conversa – explicou ele tentando achar aberturas.

O coral já tinha inciado seu repertório, começavam a cantar "É natal" lindamente.

Fui me afastando da apresentação, para além da árvore. Eu não já sabia lidar com essas situações, qualquer sinal perdia uma parte da razão, e me mostrava e voltava ao meu emocional impulsivo. Ainda mais perto dele, eu ficava indefeso.

— É seu, namorado? – perguntou ele curioso.

— Depende. – respondi olhando para ele.

— Explique. – Ordenou ele.

— De Segunda e Terça, ele é meu amigo, Quarta e Quinta, ele é meu irmão, Sexta e Sábado, somos namorados. E Domingo é dia livre - disse o examinando com que eu acabara de dizer.

— Peculiar – disse ele colocando as mãos no bolso. — Gostei da ideia, parece boa – completou sorrindo irritantemente.

— É cansativo - rebati. — Mas vale a pena – confessei debochado.

— Nunca te imaginei em algo assim – comentou ele impressionado.

— Nunca imaginei muita coisa que me aconteceu também – disse e olhei sério. — A vida de fato é bastante inesperada. – ressaltei.

— Não eram expectativas da vida, e sim fé em um amigo – disse ele com as mãos nos bolsos.

De fato, parecia o antigo Maurício que conheci, e isso só tornava minha situação mais temerosa.

— Eu ainda estou desconfiado. – afirmei.

— É compreensível, eu não posso te obrigar a confiar de novo – estranhamente ele demonstrou entender a situação, e eu estava pirando.

— Escolha! – ordenei de súbito. — Quem seria você? Fenrir? Hel ou Jurgmund?

— Os filhos de Lóki? – rebateu de imediato. — Você tem um talento para mudar de assuntos para coisas aleatórias – comentou ele.

— Tanto faz. Apenas escolha – respondi inflexivo.

— OK. Participarei de suas análises incomuns – respondeu como se fosse uma brincadeira. — Sério que você não sabe quem eu seria entre um lobo, uma morta-viva e uma cobra colossal, Claus? - indagou ele convencido e debochado.

— Aff! Eu devia esperar isso de você. – disse ingenuamente e irritado comigo mesmo.

— E eu isso de você. – Respondeu rindo. — E foi engraçado, até consegui tirar um sorriso teu – inferiu ele.

Eu realmente tive uma risada com aquilo, ele sempre foi hilário de um modo safo e ácido. Entretanto, o sorriso não deveria significar que voltei a me abrir.

— Lóki era um gigante, ou deus das travessuras e da trapaça – comentou ele introspectivo.

— Exato. – cochichei levianamente. — Um gigante e deus, único entre Aesir, um embusteiro, um deus nada confiável, duvidoso... – dizia com gana nas minhas palavras.

— Ainda assim ele ajudou muito seu irmão Thor, Odin e outros deuses do panteão nórdico. – comentou me contrariando.

— Sim. Ele era uma faca de dois gumes, as duas faces de uma pessoa. Por isso duvidoso. – comentei sério enquanto o olhava fixamente. — E algumas coisas ele tinha que fazer para se redimir de suas cagadas. – E tomei fôlego e me virei para frente e continuei a caminhar pela grama.

— Articuloso, como sempre. – cochichou ele me seguindo.

— É o que se tem quanto se está tanto tempo sozinho. – disse friamente.

— Entendo bem. - disse ele com angústia. — Por coincidência te encontrei aqui, foi muita sorte – Revelou ele olhando para o céu que parecia formar nuvens negras.

— Sorte por quê? – Perguntei curioso.

— Por ser você. – afirmou olhando dentro dos meus olhos.

— Humpf! – Demonstrei estar desacreditado e entendido como piada.

No fundo fiquei desnorteado, ele estava tão singelo ali, doce e afável como o conheci uma vez. Mas isso tudo sempre significava se perder numa floresta densa, aparentemente linda e mágica, mas cheio de animais selvagens. E eu não me colocaria na armadilha de urso de propósito.

— E você esqueceu também de me passar teu contato, sabe? – disse ele parando um pouco.

— Não esqueci. –respondi seco. E me virei de frente a ele.

— Vamos lá! – Pronunciou ele insatisfeito.

— Se você realmente quisesse meu contato, conseguiria fácil – resmunguei. — Ainda mantém amizade com alguns "amigos" meus – completei inflexivo.

— Tá certo. Eu não tinha pensado nisso antes, mas... – dizia olhando para atrás onde estava o público. — Depois que você sumiu, eu não consegui ficar próximo deles como antes, você era minha ligação. – revelou indiscretamente.

Eu não sei ao certo dizer se eu ainda tinha amizades daquela época, praticamente sumi da vida deles, foram mais eles que fizeram questão de guardar contato comigo, aquelas pessoas com quem conversamos menos o que podemos contar de dedos em uma mão por ano. Alguém como ele não tinha porque estar tão preso à tão alguém que pareceu ser sem importância, a ponto de se afastar.

— Entendo. – falei introspectivo.

— Quando vai quebrar essa sua parede de gelo? – indagou ele ansioso.

— Paredes de gelos não são fáceis de quebrar, quase impossível só para um humano. – respondi voltando a andar. — A sua nunca foi quebrada. - completei indelicado.

— Não é bem assim... – disse ele pensativo postergando.

— Tem algo a dizer? – perguntei curioso.

— Agora não. – disse sério. – E pra onde vai andando?

— Você deveria apenas me seguir, já que quis tanto falar comigo. – respondi ríspido.

— Devo tá merecendo mesmo! – exclamou ele nervoso.

Eu quase tive impressão que ele fosse me espancar ali mesmo, ao lado da igreja. Todavia, nunca tinha visto o lado violento dele.

— Vou dar algumas voltas ao redor da Catedral e parar pela adra, tudo nos conformes, agora? – disse irônico.

— Se não se tratar de penitência. – respondeu sarcástico.

— Se fosse, não deveria esperar ter um fim. – rebati.

Questionava-me ao olhar para aquele edifício antigo enquanto caminhava, parecia ser uma construção de estilo eclético, mas os traços neogóticos eram expressivos em suas janelas e cúpulas.

Quando ainda éramos amigos, eu o tratava como a pessoa mais importante do mundo, era como se fosse o maior diamante do mundo. Brilhante e duro. De fato, tivemos ótimos momentos, nos tratando de forma além da amizade às vezes. Porém, esses momentos eram pequenos intervalos em uma programação cheio de relapsos de uma pessoa fria, fechada e indiferente.

Quando percebi, ele estava mexendo no bolso do casaco, procurando algo.

https://youtu.be/ei-GhGeGGDA

— É pra você. – disse ele tirando um pequeno objeto em um saco de plástico. — Vi hoje em uma loja – relatou e colocou na minha mão.

Quando abri a sacolinha, foi como um choque.

— Pelúcia... – Foi só o que eu consegui dizer.

— É, eu lembrei que uma vez me deu um, nunca retribui. É pequeno, mas acho que combina com você. – disse sorrindo. — E eu tinha me lembrado que você dizia nunca ter ganhado um. - completou nostálgico.

Aquilo representava muito mais que uma pelúcia, e ele sabia disso. E aquilo me quebrou de um modo muito espantoso. Era tudo o que sempre quis ganhar dele, materialmente falando. Ele arrancou dos meus mais profundos desejos infantis e bregas em diminutivos tortos após 6 anos. Devia ser o Maurício por quem eu me apaixonei. Eu queria que fosse.

Aquele altura já estávamos atrás da catedral e parado de andar.

— Não vai dizer, nada? – indagou me chamando atenção.

— Difícil... – sussurrava enquanto olhava para a pequena pelúcia na minha mão. — Obrigado, muito obrigado. - arfava enquanto tentava me encontrar.

Os agradecimentos nem sempre significaram uma gratidão verdadeira, as subdivisões particulares dominava aqueles que estavam sujeitos ao contexto.

— Agora sim, parece você, Claus – eu ouvi aquela voz, como se ouvisse naquela época, 6 anos atrás. Tinha um sotaque refinado, grave, grossa, era charmosa e encantava quanto cantava.

— Por quê tudo isso agora? – disse repentinamente enquanto me fixava no presente. — Não faz sentido – E olhei para ele. — Você não devia brincar comigo de novo – afirmei drasticamente.

— Não estou brincando, Claus, entenda – dizia ele energético.

— Me diga! – ordenei. — O que pretende com isso? - perguntei levantando a pelúcia. — Isso não é certo – E joguei nele e tentava não demonstrar o que meu corpo queria e minha mente negava. Me afastei e sentei num banco.

— Claus... – dizia meu nome se aproximando — Precisa deixar eu falar – e me segurou nos ombros.

— Não agora... – eu cochichava — Não comigo...

Meus olhos já estavam marejados. Eu lutava contra mim mesmo, para ter controle emocional.

— Você me chamava de Pequeno Urso – ele falava enquanto podia sentí-lo perto de mim. — Quando conversamos pela primeira vez. – deu uma pausa e se abaixou diante de mim a ponto de me olhar nos olhos. — Era tão íntimo, eu fiquei um tanto receoso com você, mas isso logo passou. – completou. — Aliás, foi eu que te procurei, né? – indagou singelamente. — E todas as outras vezes era só você, mesmo depois de todos os erros que eu cometia... – ressaltou.

— Não acha que está tarde para isso? – respirei fundo e levantei, retirei-me de perto dele. — Vê meus olhos marejados? Vão continuar nesse estado. – me virei para frente dele e apontando para meu olho. — Eu prometi não mais desperdiçar lágrimas por sua causa. – disse decidido.

— Claus, eu já te pedi perdão. – disse ele com um olhar triste.

— E eu já te perdoei. Que mais quer de mim? Já te dei tudo que eu podia te dar uma dia, e sem esperar nada em troca além da sua amizade. E nem isso você respeitou. – revelei com um ar triste. — Eu já não tenho mais nada além disso, nada além da minha própria vida. – terminei apertando a pequena pelúcia em minhas mãos.

Isso foi raro, eu não me abria tanto assim pra ninguém. Foram duas pessoas com quem conseguia falar tudo o que acontecia e aconteceu comigo. E umas delas não era ele. Porque quando estávamos juntos, eu não me sentia perto dele. Era apenas uma espectro onde apostei todos meus sentimentos. Aos poucos percebi em como construía um castelo sem chão.

— Eu não sei o que eu quero, Claus – suspirou ele com os olhos marejados. — Você sabe dos meus problemas. - E olhou diretamente pra mim.

— Não, eu não sei. – pronunciei firme. — Você nunca me contou o que realmente acontecia com você. Eu sempre sentia que havia algo errado com você. E não era sua bipolaridade. – respirei fundo. — Até porque um dia eu prometi ficar do teu lado e te aguentar mesmo assim. Mas você nunca quis compartilhar suas dores comigo. E isso me matava – disse olhando para o céu escuro.

— Você tem que saber... – Cochichou ele tristonho.

— Eu não vou saber. Eu não quero saber. – respirei fundo e segui adiante. — O passado não deve voltar. – completei.

— Você desistiu mesmo de mim? – perguntou ele se recompondo.

— Eu desisti de nós. – disse rígido. — Desisti de nós porque te amava. – confessei com dor minhas palavras.

A bomba-relógio dele era a mesma da minha. Todavia, estávamos em dimensões diferentes. E a culpa era só minha, eu tinha que ser destruído sozinho, enquanto ele me torturava, ainda sim, já não estávamos mais juntos. Foi-se o que eu sempre soube que um dia acabaria. Só não sabia que deixaria tanta cicatrizes.

Ele já não dizia mais nada. Estava calado, e no fundo só havia a eufonia do coral cantando "Então é Natal". O clima era tenso, em algum tempo logo choveria.

— O passado deve ficar onde está. – afirmei sério enquanto me aproximava dele. — Nada é como antes. – continuei. — Mas se eu te dissesse que não somos feito de passado e arrependimentos, eu estaria mentindo. – e o abracei.

— Se não existisse esperança, por que ainda estaríamos aqui? – indagou ele ao meu ouvido e me apertou.

Só conseguia olhar para pelúcia, e aquele objeto representou pra mim o presente e o passado. E eu tinha novas perspectivas do futuro mais uma vez.

— Está quase na hora. – disse me soltando. — Preciso ir aguardar o regente do coral. – E me recompus.

— Está bem. Vou ver o final – Disse ele me acompanhando.

E assim demos uma última volta até chegar onde estava a apresentação.

— Quero que me ouça tocar aquela música que te prometi. – disse ele enquanto estávamos em frente à Matriz.

— Eu não sei... – suspirei confuso. — Se tiver de ser, será. – continuei e eu sorri.

— Você sabe quando quiser, sei como era especial – declarou ele entusiasmado.

— Ah... HURGHHHH UUUAAAAGGHH

Eu estava passando mal, eu não aguentei e vomitei bem na frente da igreja. Já estava tenso, tinha tomado café que não me fazia sentir bem, passei por um temporal de emoções. E descarreguei todo conteúdo gástrico que estava preso no estômago em frente daquele local sagrado e na frente dele.

— Claus! – ele clamava meu nome. — Que há com você? Está doente? – indagava preocupado.

Meu estômago embrulhado, fazia contrações na musculatura abdominal para pôr tudo pra fora enquanto estava muito tonto. Não poderia falar nada a não ser esperar ficar melhor, e ele me ajudou. Passava as mãos na minha costa.

— Põe tudo pra fora – dizia ele obviamente.

— Em estado de enfermo deve ser impossível raciocinar. – disse nauseado entre os jatos de vômito.

— Cala a matraca e vomita! – esbravejou ele grosseiramente e bateu forte nas minhas costas.

— Agora parece você – eu ria de certa forma.

Fiquei estupidamente impressionado com minha êmese. Observava porque se eu reparasse ao redor teria um ataque de pânico. Então a melhor opção era pensar no meu próprio vômito. Questionava-me se minha êmese seria pós prandial ou biliar? Aquele líquido aguado, esquisito, um pouco espumante, não tinha quase nada pra vomitar, eu não tinha comido quase nada no dia anterior, e café de manhã cedo foi uma espécie de estopim para expelir tudo pela boca. Em certo momento eu achava expelir só os sucos gástricos, mas depois que o café saiu, uma sensação da minha garganta arranhando vigorosamente, com certeza era vez do suco gástrico corroendo minha mucosa, o gosto amargo e azedo só me fazia piorar, todo aquele ácido clorídrico amarelado como urina, porém mais densa, com traços esverdeados, talvez providas do líquido da vesícula biliar. A cada jato e tentativa, ficava mais fraco, muita força para expulsar, meu diafragma se reprimia e minha respiração dava uma parada.

— Bizarro... – Enquanto regurgitava, achando estar acabando. — Isso é constrangedor. – balbuciava enjoado.

— Pode acontecer com qualquer um. – disse ele tentando me confortar.

— Não. É a situação escatológica mais estranha que me encontrei – disse me levantando.

Estávamos bem na frente da igreja e da apresentação. Então tinha um número considerável de pessoas nos observando.

— Droga! Só você mesmo para fazer algo assim – Lourenço apareceu para me socorrer.

— Você não devia estar aqui. – resmunguei enquanto me sentava na elevação do piso da igreja.

— Relaxa, se não percebeu já acabou. E logo vai chover – disse Lourenço colocando a mão na minha costa e me oferecendo um lenço.

— Certo, o público já está se recolhendo – afirmou ele em de meio nós.

Apesar disso, ainda tinha gente o suficiente, algumas ao redor de nós bisbilhotando pelo o que eu passei, acredito que até o padre da igreja, mas não estava muito ciente com tamanho pandemônio em minha volta.

— Não vai ter reunião hoje – disse o Lourenço me mantendo informado. — Podemos ir para casa, se quiser – ofereceu ele atencioso.

— Eu tenho carro, posso levar ele – declarou ele pegando as chaves.

— Se você viu ele vomitar, não vai achar boa ideia isso não. – Rebateu Lourenço que estava mais ciente da minha situação.

As vozes ao redor martelavam em minha cabeça, um clima tenso e insuportável

— Caramba! Eu só vomitei, não me machuquei nem nada. – esbravejei insólito.

Logo houve um certo silêncio e calmaria, e do céu negro chucviscava...

— Eu vou para minha casa, e o Lourenço vai me acompanhar, ficaremos no terminal do metrô e quando achar melhor, iremos. – expliquei mais calmo.

— Claus... – proferia ele decepcionado.

— E você não venha. – disse pra ele enquanto me preparava para sair.

Eu o deixei lá, eu não queria mais saber mais nada dessa situação por hora, e minha saúde e paciência já tinham passado do limite para sobreviver à insustentáveis eventos que só trouxeram desordem.

— Está bem? – Lourenço perguntava enquanto me acompanhava.

— Essa pergunta sempre foi a mais difícil de responder – disse sério olhando para frente enquanto sentia as gotas de água.

— Não esperava em palavras. – suspirou ele enigmático. — Vamos, temos que nos proteger da chuva – disse ele me levando para perto de um prédio.

https://youtu.be/0RwUKa-XJ6g

===== Em um prédio por perto 10h46min =====

Era alguma espécie de bar ou restaurante, não prestava atenção em nada mais. De longe via a chuva em uma janela de vidro. Tentava fazer uma medição de acontecimentos, refletir sobre as coisas. Não cheguei a concluir nada. Do nada tentava responder a pergunta mais difícil da minha vida, aquilo me causou uma amargura na alma, não saber ou entender como si mesmo está. Eu só sabia que sentia muitas coisas e ao mesmo tempo não conseguia identificar nada, eram pensamentos sem razão.

— Eu tenho que sair, esqueci umas coisas com o pessoal do coro. – explicava Lourenço do meu lado – Volto em alguns minutos pra te buscar, OK?

Apenas fiz sinal de positivo com a cabeça. E ele foi.

De fato, eu já pensava em coisas aleatórias. Em como eu estava com fome, e via comida por perto ou em como eu estava um caco, tanto por dentro como por fora. Porém o interessante disso tudo é como eu sorria em alguns momentos quando repassava as coisas na minha cabeça. São coisas memoráveis, mas ainda no fundo pensava em me enterrar em um buraco pelo ocorrido na igreja. Em questão de tempo até chegada de Lourenço, resolvi temporariamente pensar na minha faculdade, trabalho e em casa, tinha dois gatos para cuidar. O resto devia ser o resto, como defini há alguns anos.

Lourenço chegou mais sóbrio, parecia entusiasmado, entretanto, um olhar pérfido.

— Quando chegarmos, eu te falo tudo o que estou te devendo, mesmo que imagine metade. – disse ríspido me ajeitando.

— Certo. – concordou ele de maneira compreensiva.

===== Vagão do Metrô 11h03min =====

Em dado momento, não falamos nada. Só esperamos a chuva passar e seguimos para o metrô, onde cortamos o silêncio no meio do vagão. Eu estava ainda reflexivo e receoso de passar mal no metrô de novo, minha cinetose me deixava apreensivo. Às vezes perdia o controle.

— O que é isso em suas mãos, Claus? – perguntou ele percebendo o pequeno objeto em minha mão desde que me pegou.

E eu olhei para pelúcia, e tive um dos meus transes que se tornavam cada mais frequentes. Eu podia não responder, como era costume meu com Lourenço. Mas preferi observar a pelúcia apertada em minha mão.

— É um presente. – virei-me, olhei para ele e respondi direto e subitamente e direcionei meu olhar para frente.

Lourenço me olhou fixamente para mim e depois para o objeto, e se calou novamente até chegarmos.

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Comentários

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Muito complexo , enigmatíco , intrigante . Esta tudo perfeitamente bem escrito , nota mil . Beijos de sangue e fogo de um targaryen .

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Muito enigmático este conto, gosto disso, ainda tento entender o enredo dele, de certa forma, peculiar eu acho, parabéns

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Sabe, eu já conheci um "Mauricio", não que eu tenha passado por um situação dessas, eu estava mais para Lourenço rsrs... Apesar de tudo ainda fico tentando sacar direito qual é a do Mauricio rs

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