Sombra - Quando o amor perdura

Um conto erótico de Kerouaquiano
Categoria: Homossexual
Contém 585 palavras
Data: 08/08/2015 08:41:19
Última revisão: 08/08/2015 12:50:03
Assuntos: Gay, Homossexual

Bebíamos até o amanhecer (nada de saideira), se lembra de quando nos escondíamos da polícia depois de perturbarmos a vizinhança?, a gente sabia que o pior risco era que os caras pegassem nosso estoque de estimulantes. Nós éramos o retrato da geração degenerada, mas não tínhamos tempo pra pensar nisso enquanto ouvíamos nossos discos.

A agitação era louca, constituíamos nossas vida do ar puro da liberdade rebelde pós-ditadura, penso que em algum lugar você pode estar me observando escrever, decodificando minha mensagem e sei, com toda a certeza, que você esta revivendo as sensações que o meu dizer evoca. Poderia ser tudo diferente, você ouvia eu pedir pra ficar, ganharíamos um montão de dinheiro na capital, teríamos cinco gramas de cocaína no Copacabana Palace, duas prostitutas e, quem sabe aquela viagem para Berlim.

Fiz na sua sombra a minha casa, desaprendi a dormir no relento; aí seu frio vento, violento, esmoreceu meu muro. À luz de paredes infernais eu derretia enquanto te via ir, o que eu poderia fazer, senão fingir ter forças enquanto tudo caía? Agora sou solilóquio, que te evoca em palavras que suam rios de um significado em comum: luto.

E não há esconderijo, te vejo de olhos abertos, em todos os pontos cardiais tem partes suas, quando não vejo, lembro, sinto falta, e a sua sombra volta a me cobrir. Volte por inteiro... ou suma totalmente.

Quando o vi, era claro que para mim que ele era o homem da minha vida. Terceiros diziam que não duraríamos, pois duas almas que clamam por liberdade não se complementam. Ele era de uma superioridade inerente, um mistura de homem e deus, como um faraó. Era como se ele pairasse sobre todos, como um ser etéreo, cuja superioridade subordinasse o mundo. Quando ele falava todos se calavam, pois sua voz era baixa, mas quem não queria saber o que você tinha a dizer? Eu o amava. Eu ainda o amo. Sempre o amarei.

Adolescentes em busca da lapidação do prazer bruto, por coincidência brutal e ferino. Em pensar ainda tínhamos nossos samba-canção infantis, o papel de parede da Marvel, nossos quadrinhos que deixamos de lado para sermos adultos.

Quando o conheci eu ainda estava no Ensino Médio, diferente do que os professores pensavam, tínhamos sim um plano, nada convencional, mas ainda assim um plano, como aquele velho sonho de viver de arte, como os da geração beat.

Numa noite de sintonia entre almas que se confundem, sobrepomos nossas almas. Foi quando finalmente o nosso corpo pôde entrar de modo físico, no corpo do outro, como um correlativo dos encontro de nossas almas. Sem lançar mão de camisinhas, sem sequer um aviso, tudo foi conduzido. Carne, fantasia, intuição, união, me pergunto até que ponto ele se entregou, se ele equacionou tudo com o sexo.

Enquanto ele me penetrava eu me sentia dele, ao menos naquele momento eu sabia onde pertencia, ou a quem. Era diferente do sexo comum, desses que equivalem ao gozo. Quando o penetrava, senti que ela era meu, ao menos naquele momento.

Mesmo depois de tudo, ele não quis ficar, tentou a sorte no oceano da estrada aberta. Eu dizia “não vá”, ele parecia não ouvir, pois sua gana por mais liberdade era tão intensa que nada o poderia deter. Depois vieram os problemas, as detenções, por último, sua eternalização pela morte, o que o transformou numa alma que vaga em busca do que a faça descansar, que clama por mim, por um pouco de amor além-túmulo. E eu ainda o amo!

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Comentários

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Lindo. É diferente dos outros contos seus. Mais romantico e sensivel. Muito bom!

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