Sankofa: o retorno e o recomeço (cap. 12)

Um conto erótico de Mmaah
Categoria: Homossexual
Contém 2021 palavras
Data: 12/06/2015 16:18:07
Última revisão: 12/06/2015 16:51:52

Acordei no dia seguinte com a cabeça prestes a explodir. Era sábado, dia dois de maio desse mesmo ano. Levantei para ir trabalhar. Tomei um banho, Thy e Ruth já haviam saído. Estava moída. Ainda de pijama, sentei na sala e fiquei olhando a hora passar. E se tudo aquilo realmente fosse verdade? Quer dizer, mentira. Por outro lado, se ela de fato estivesse doente, aquilo poderia me custar muito também. Mas qual razão a Ruth teria para me falar algo assim? Ela nunca havia visto Ci na vida. Nada fazia sentido. Quando deu minha hora, peguei as e sai de casa. Já no ônibus, lembrei do celular. Havia uma mensagem dela, no Whats App.

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Ci: Hey, obrigada por ontem. Tava com saudades de fazer algo com você. E sua companhia é importante pra mim. Vou ficar bem e logo tudo isso vai passar. Você vai ver.

Eu: De nada. Vi você beber, mas como acordado, não vou lhe tratar como uma criança. Você sabe o que faz.

Ela: Mah, muito obrigada por me entender. De verdade! Eu estou bem. Já superei tantas coisas, essa vai ser fichinha. Lembra lá de SP, do resultado errado? Então, aqui não está errado, mas sei que vou ficar bem. Te prometo. Ainda vamos dar risada disso tudo.

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Visualizei e sai do aplicativo.

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Depois de uns minutos mais, desci do ônibus e cheguei no trabalho. O dia se arrastava. Eu parecia esperar uma resposta de alguma coisa que estava prestes a cair do céu. Chamei a Thy no Whats.

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Eu: Tampinha, tá aí?

Ela: Aqui.

Eu: Conseguiu falar com seu amigo?

Ela: Mah, ele casou e está em lua de mel. Vi no face. Mas mandei uma mensagem pra ele.

Eu: Como vai fazer para descobrir algo?

Ela: Simples. Eu contei pra ele que tenho uma amiga que mora sozinha aqui em JP, e que foi diagnosticada com câncer. Ela não quer que a família saiba, e também anda bebendo e fumando, apesar da quimioterapia. Então queria a ajuda dele para realmente saber o estado dela, para conversar com os parentes.

Eu: Hummm. Boa ideia.

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Nisso, vejo notificação de Ci me chamando.

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Ela: Mah.

Eu: Oi. Aqui.

Ela: Olha, Malu decidiu ficar hoje. Passem aqui em casa, pra gente fazer algo mais tarde.

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Visualizei e fui falar com Thy. Copiei a mensagem e reenviei pra ela.

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Eu: Dá uma olhada nisso.

Ela: Cara, que raiva dessa menina. Mah, o Guto só vai confirmar pra gente o que já é óbvio. Tá na cara que é mentira.

Eu: Tá. Mas e agora? A gente vai?

Ela: Bora. Mas a gente diz que não pode demorar. Aproveitamos pra dar uma sondada.

Eu: Ok.

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Fui falar com Ci.

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Eu: Huuumm.. joia. Vamos sim. Mas não podemos demorar.

Ela: Por que?

Eu: Porque temos um compromisso.

Ela: Engraçado, quando te chamo pra gente sair tu nunca tem tempo. Mas com a Thy você sai de boa.

Eu: Ci, presta atenção. Quando EU saio, eu ando de ônibus. Logo não posso voltar pra casa tarde. Nem gosto. Quando saio com Thy, estamos de carro. Então não me preocupo com os horários.

Ela: Mah, já te chamei mil vezes para dormir aqui em casa. Podemos sair, e voltamos juntas pra cá. Mas estou cansada de correr atrás de você. Se você quiser vir com ela mais tarde, estaremos em casa.

Coloquei o polegar de legal, e disse: Iremos sim. Estou com saudades da Malu. E sempre demoro pra vê-la. Então vou aproveitar.

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Ela não respondeu mais. Nem eu falei também.

Às 20h, pontualmente eu larguei do trabalho. Quando saí, Thy me esperava dentro do carro. Atravessei a rua, e abri a porta.

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Thy: E aí... tá bem?

Eu: Mais ou menos. Estou com medo.

Ela: Do que?

Eu: Disse a sua mãe que não voltaríamos lá. Sabe Thy, eu recebi sua mãe como a minha própria. Levo muito em consideração tudo que ela fala.

Ela apertou minha mão : Vai ficar tudo bem. Te prometo que vamos descobrir a verdade e que esse pesadelo vai acabar logo.

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Dei um riso de canto de rosto.

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Eu: Muito obrigada.

Ela: Pelo que?

Eu: Por tudo. De verdade. Nem sei como passaria por isso sozinha. Ter você ao meu lado fez toda a diferença. Obrigada de verdade pela tua amizade, por você ser quem você tem sido pra mim. Acabei de envolvendo nos meus problemas.

Ela colocou o dedo na minha boca: Xiii. Não fala assim. Nossa amizade é pra tudo. Não é só pras horas boas. Eu vou estar com você sempre. Ouviu?

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Balancei a cabeça. Ela ligou o carro e seguimos pra lá.

Chame a Malu no Whats durante o caminho.

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Eu: Hey, estamos chegando. Pede pra Ci ir abrir o portão.

Ela: Eu vou. Ci está aqui deitada, com dores. Mal consegue se mexer. Não sei o que ela tem.

Eu: Ah, tá bom.

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Falei pra Thy: Olha, a Malu tá dizendo que a outra está lá com dores.

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Thy: Imaginei que isso fosse acontecer. Ela agora vai aproveitar tudo que é momento pra fazer cena.

Disse isso e fomos nos aproximando da casa. Descemos do carro, e Malu abriu o portão. Dei um abraço apertado nela. E fui entrando. Bati na porta e abri. Ela estava deitava na cama.

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Eu: E aí...? Que houve?

Ela: Normal. Reações da quimio.

Eu: Ah, acontece mesmo. Mas amanha você vai estar melhor. Relaxa.

Ela: É... agora vai ser assim. Pelo menos hoje tenho a Malu aqui. Mas sei que logo vai ser apenas eu por mim. Mas Deus nunca me desamparou.

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Estava bufando de raiva já. No fundo, mesmo que eu ainda não tivesse provas, aquilo tudo já me cheirava demais a mentira. Mas disfarcei o melhor que pude. Malu e Thy chegaram no quarto. Mas a Thy não disfarça mesmo. Ela entrou, cumprimentou Ci, mas ficou mais introspectiva, apresentando mudança considerável com relação ao dia anterior. Ci que não é boba nem nada notou a mudança. Provavelmente por ela mesma está cismada de que pudéssemos desconfiar.

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Ci: Thy, tá diferente. Tá com raiva?

Thy: Não, nega. Estou de boa.

Ela: Tem certeza? Tá calada hoje.

Thy: Tô sim. Tô de boa.

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Eu pra disfarçar o clima, deitei no colo de Ci. E ela mexeu no meu cabelo. Mas cara, que raiva que eu tava. Me vinha um asco cada vez que ela me tocava. Eu tava quase passando mal já.

Thy cochichou com ela algo, e eu saquei que ela perguntou a razão de Ci estar daquele jeito.

Pra disfarçar a situação pra Malu, puxei papo com ela. Assim, ela não iria desconfiar de nada.

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Ci, levantou e disse: Eu e Thy vamos aqui conversar e já voltamos.

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Malu olhou meio assustada.

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Eu: Huuuum, tão de segredinho? Kkkkkk

Thy: Não sua palhaça.

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Malu entrou na zoação e rimos um pouco. Elas saíram.

Agora eu vou narrar o que a Thy me contou da conversa. Ela disse que Ci já chegou lá fora falando.

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Ci: Então, olha... eu tava pensando... acho que vou embora pra SP outra vez. Lá tem o Hospital de Barretos, que é referência. Falei com minha ex-patroa já, e eles podem me dar uma força.

Thy: Mas Ci, você não pode interromper o tratamento assim. Esperar terminar e você vai. Não é hora de você viajar.

Ela: Eu acho melhor, sabe. Volto curada e tudo isso vai ter acabado.

Thy: Bom, então se você vai... precisa transferir o tratamento. Posso te ajudar.

Ci: Como?

Thy: Olha, tenho um amigo que trabalha no Hospital que você está se tratando. Me dá os números dos seus documentos e o cartão da sua quimio. Eu desenrolo tudo isso pra você.

Ci: Aaah então, deixei meus documentos e o cartão lá no trabalho. Mas olha, não se preocupa. Qualquer coisa, eu recomeço o tratamento. Deus é comigo. Não cai uma folha do pé de árvore sem que ele permita.

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As duas voltaram para o quarto, e Ci pareceu apreensiva.

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Eu: Bom, tá na hora de irmos, neh Thy?

Ela: Tá sim.

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Nos despedimos e quando a Thy dobrou a rua da casa dela, começou a espancar o volante.

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Eu: O que houve?

Ela: Ela é mala, Mah. Ela já sacou tudo. Sacou que estamos desconfiadas. E agora vai fugir.

Eu: Fugir pra onde?

Ela: Ela tá querendo ir pra SP. Disse que falou com a ex-patroa e que vai se tratar em Barretos.

Eu: Cara, é mentira mesmo. Ela tá querendo fugir agora, porque sabe que estamos suspeitando.

Ela: Você ainda tem dúvidas? Tá na cara que é mentira. Pedi os documentos dela, pra tentar agilizar o processo de transferência, e ela disse que havia deixado no trabalho. Porra nenhuma. Ela sabe que eu tô ligada na dela. Ela sabe que eu vou descobrir tudo e agora quer fugir.

Eu: Cara, é de lascar.

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Chegamos em casa e a Ruth foi logo perguntando como estava as coisas.

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Thy: A vadia quer fugir.

Ruth: Como assim?

Thy explicou tudo e ela: Eu num disse? Eu num disse que tinha algo errado com essa moça?

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Eu deitei no sofá. Queria dormir e acordar pensando que tudo aquilo era um pesadelo. Me despedi das duas e fui para meu quarto. Tomei um banho, um comprimido e apaguei.

No dia seguinte, acordei com uma mensagem dela.

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Ci: Mah, não vou deixar a Malu ir embora. Ela está com muita cólica. Mal consegue andar.

Eu: Bom dia, Ci. Eita, bom... então não deixe mesmo. Ela pode passar mal e no ônibus é de lascar.

Ela: Pensei nisso tbm.

Eu: E você, está melhor?

Ela: Mais ou menos, nega. Mas tô aqui forte, por conta dela. Acredita que ontem eu perguntei pra ela como ela reagiria se eu raspasse o cabelo, por algum motivo de doença e tal. Ela me disse que rasparia também. Choramos bastante. Não sei como vai ser, quando ela me ver de cabelo raspado mesmo. Afinal, não posso esconder isso dela por muito tempo.

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Li aquilo bufando de raiva. Ela estava brincando com os sentimentos das pessoas.

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Eu: Huumm. Realmente. Logo teremos que dizer a ela. Mas na hora certa.

Ela: É. Mah... a Thy falou pra você o que ela conversou comigo ontem?

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Eu dei uma de louca.

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Eu: Não. Perguntei mas ela não quis me dizer. Disse que era coisa sua e dela, rs...

Ela: Ai Mah, estou tão decepcionada com ela, sabe?

Eu: Mas por que, Ci? O que houve?

Ela: Ela está desconfiando de mim, Mah =(

Eu: Como assim, Ci? O.o

Ela: Disse a ela que estou pensando em ir me tratar em SP. E ela veio com um papo de que queria meus documentos e tal. Pra checar como está minha situação e agilizar a transferência. Mas eu não quero, Mah. Não quero a ajuda dela. Por favor, não comenta nada com ela sobre isso não, tah?

Eu: Não, Ci. Relaxe. Nunca pensei que ela pudesse fazer algo assim. Nossa, pensar que você inventaria algo desse tipo. Imagina que loucura? Rs...

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Ironia nível hard. Eu merecia um Óscar.

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Ela: Pois é. Mah, outra coisa eu ia te perguntar. Você ainda tem o número dos meus documentos?

Eu: Não, Ci. Como poderia ter? Por que? O que houve?

Ela: Então... eu perdi =(

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Impressionada com a quantidade de coincidências nessa história. Justo agora, ela perdeu os documentos.

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Eu: puxa, Ci... como foi isso?

Ela: Não sei. Mas não se preocupa, vou dar um jeito.

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Sai do whats e tive certeza: Sim, era mentira. E ela sabia que aquele circo todo estava pra acabar. Agora eu precisava ter cautela, e pegá-la antes dela fugir.

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No dia seguinte fui visitar meus pais. Estava deitada na minha cama, refletindo sobre tudo isso, quando lembrei que sim, eu possuía o número do RG dela. Claro, como eu não pensei nisso antes. Nas viagens interestaduais, eles solicitam o RG para emitir as passagens. E eu sempre guardava nossas passagens. A última havia acontecido quando o irmão dela se acidentou. Corri pra abrir uma caixa que continha as coisas relacionadas a ela, e tcharam... eu encontrei. Agora sim, eu tinha absolutamente tudo em mãos, para descobrir a verdade.

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Comentários

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Passada aqui, com o que acabou se tornando uma história tão linda !!!

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nossa amando seu conto .. mais velho a Ci tem doença sim mais nao cancer e sim mental , como alguem consegue brincar com sentimentos das pessoas fiquei chocada

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nossa conheço pessoas q menti mas desse jeito nunca vi é até um pecado ela mentir dessa maneira pode até receber um castigo de Deus por fingir viciada no seu conto

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Nossa como tem seres humanos com essa capacidade de mentir já é feio demais mentir ainda com algo tão grave

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