ADOLESCENTE EM APUROS • PENÚLTIMO CAPÍTULO

Um conto erótico de R.
Categoria: Homossexual
Contém 1905 palavras
Data: 06/05/2015 22:55:51

Deitei na cama. Tentei, mas não consegui dormir. Não tinha nem cabeça para ver que horas eram no visor do celular.

Dentro de casa, podia ouvir as comemorações de alguns vizinhos. Eu estava feliz por eles. Não creio que ninguém tenha tido uma "maravilhosa" passagem de ano igual a minha.

Como Oliver estaria? Será que ele estava sentido saudades minha? Ou já tinham feito uma lavagem cerebral nele?

Tantas perguntas, nenhuma resposta. Quando mais a gente se questiona, mais dúvidas nos aparecem, engraçado, não?

Afastei todos os pensamentos da minha cabeça. Voltei meu olhar para um ponto fixo na parede. E fiquei assim por bastante tempo.

Eu queria esquecer, pelo menos uma vez. Será que eu poderia ter esse privilégio? A resposta estava na cozinha.

Fui em direção ao armário. Eu me renderia a bebida. Dei a maior golada que eu consegui na garrafa vodca. Estava bom, até começar a arder.

Saí cuspindo fogo pela casa. Comecei a rir feito um bocó. Um calor subia pela minha cabeça, meu corpo vibrava.

Tomei mais um gole, e outro, depois outro. Se me perguntassem meu nome eu nem lembraria naquele momento.

Até uma formiguinha passeando pela casa se tornara interessante.

Voltei mais uma vez a cama. O sol já estava dando os primeiros sinais de vida. Os pequenos flashes de luz invadiam meu quarto. A imagem de Oliver me veio a cabeça.

Então eu apaguei.

.

No primeiro dia do ano eu fui a igreja. Não estava com um pingo de vontade de ir. Mas eu precisava ocupar minha mente. Pensar não era viável no momento.

A mãe de Oliver e a irmã foram, ele não. Elas não foram indiferentes, mas tinha algo no ar. Isso eu sentia de longe.

Eu estava com olheiras enormes, se alguém perguntasse eu botaria a culpa na cachaça. Pelo menos ela me foi útil, uma vez na vida.

Era inevitável. Qualquer coisa que eu fazia me recordava Oliver. Se eu assistisse TV ou deitasse no sofá eu me recordava de nossas tardes juntos assistindo filmes, se eu mexesse no celular eu lembraria de vê-lo jogando nele. Até olhar pra parede me fazia lembrar dele.

O pior de tudo, foi saber que seu pai sempre buscava um meio de intervir os locais que poderíamos nos encontrar. Nem na igreja eu o via praticamente mais.

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

Eu simplesmente não suportava mais.

Não aguentava mais um dia nessa cidade. Muita gente perguntava porquê eu e Oliver paramos de andar juntos, frequentar os mesmo lugares, outras não diziam nada, mas só seu olhar denunciava.

Eu praticamente não passava um dia sem chorar, escondido é claro. Minha mãe nem poderia imaginar o que se passava, todas as vezes que ela via minha olheira eu dizia que não estava dormindo direito, ou que estava indo dormir tarde demais.

Claro que ela não acreditava. Eu sabia disso. Ela sabia que eu sabia. Mas, sempre respeitamos o espaço um do outro, nosso modo de agir as vezes fazia as pessoas acharem que éramos irmãos.

Eu precisava sumir por um tempo, não demoraria muito. O que eu mais almejava era um tempinho só pra mim. Não ver nada familiar, ou que me trouxesse lembranças me faria bem nesse momento.

- Mãe? Lembra que Tia Edna me chamou pra passar uns dias com ela?

- Você pretende ir quando?

- O mais rápido possível.

- Me diz, o que...

- Não tem nada acontecendo. Só me bateu uma saudades, quero ver a cidade, ir no shopping, ver meus amigos, faz mais de um ano que eu não volto lá...

Menti, e menti feio. Eu só queria fugir da minha situação. Não estava me fazendo bem.

- Se é assim tudo bem. Vou arrumar suas roupas e amanhã você pode ir.

- Tudo bem. Não vejo a hora de ir, estou morrendo de saudades de lá.

- E vai deixar mamãe sozinha?

- Já te falei pra ter outro filho ou adotar uma criança. Eu não vou ficar aqui pra sempre.

- Já quer casar? Quem é a rapariga que vai roubar meu bebê de mim?

- Ei! Nem que fosse. Mas sei lá, não vejo a hora de ser independente. E bebê não, eu já tenho 15 anos.

- 16 mês que vem... Já tem cabelos no pintinho?

- MANHÊ!?

***

No dia seguinte eu viajei pra minha cidade natal. Fazia mais de um ano que eu não colocava os pés lá.

Parecia que tudo tinha mudado. Mas estava tudo igual, tudinho mesmo. Uma boa sensação preencheu meu peito.

Pela primeira vez em semanas eu não me sentia triste.

PRIMEIRA SEMANA

Os primeiros dias ainda foram difíceis. Mais do que difíceis. Até pensar, cogitar possibilidades me fazia mal.

Minha saudade era tão, tão grande. Mas eu teria de suportar, lidar com a dor seria meu novo objetivo.

Depois dos primeiros dias, eu me sentia até melhor. Minhas olheiras já haviam desaparecido. Mas o sentimento ainda estava ali.

.

- Binho, é você?

Nisso ele veio, rodou rodou e pulou em cima da cama.

- Que saudades de você. Ainda lembra de mim?

Ele me deu uma lambida na cara.

- Credo Bob! Bastava dizer que sim... Espera, como ele me diria se é um cachorro? Que idiota eu sou.

.

Aproveitei os dias para ocupar a mente, na primeira semana eu fui ao shopping. Incrivelmente, qualquer coisa que eu visse eu associava a imagem dele.

Imaginei como seria passar uma tarde com ele no shopping, levá-lo no cinema, comer besteiras o dia todo, comprar coisas fúteis. Ele iria adorar.

Afastei os pensamentos ds cabeça. A ideia fugia dos nossos padrões atuais. Fui aproveitar o resto do meu dia. Felizmente, eu tinha inúmeras distrações.

SEGUNDA SEMANA

Eu estava... feliz, diga-se de passagem. Os resquícios de memórias ruins já tinham passado. Apenas as memórias boas minhas e dele ecoavam em minha mente.

"Estávamos na igreja. O orador do discurso falava sobre coisas ultrajantes, se não me engano, quando ele falou a palavra "pornografia", Oliver faz uma cara de espanto pra mim e pergunta:

- Primo, o que é pornografia?

- Mas tu é sonso viu? Vai ser "inocente" assim na Cochinchina.

- Se eu não sei o que é?

- Você perguntou se eu tinha no meu celular um dia desses...

- Ah, vídeo pornô?

- Fala baixo! - disse tapando a boca dele."

" - PRIMOOOOOOO?

- O que foi? O que foi? - saí correndo em direção ao banheiro.

Fui com o coração na mão, será que ele tinha caído e se machucado?

- FILHO DA PUTA! - Quando eu entrei no banheiro ele estava cagando e rindo da minha cara."

" - Ai, Oliver! Sai de cima de mim. Que coisa chata.

- Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira! - protestou ele se deitando em cima de mim no sofá."

" - Vamos comigo lá em baixo buscar as ovelhas?

- Uma hora dessas da noite? No escuro?

- É. Tá com medo?

- Não. Vamos logo.

Fomos descendo o terreno, alguns matos altos roçavam na minha perna. Perdi as contas de quantas noites de coceira eu tive por conta deles.

- Você tá olhando pro chão enquanto anda?

- As vezes, não é difícil de caminhar, só tem mato no caminho...

- Mas aqui tem cascavel, se picar morre na hora.

- Quê??? - meu coração gelou."

"Nesse dia ele estava me parecendo tão cansadinho... Chegou na igreja morto, quase revirando os olhos.

Ele se sentou do meu lado, não tardou ele fez minha coxa de travesseiro. Até ai tudo bem.

Quando eu o acordei olhei pra minha perna, havia uma mancha enorme de baba.

- O-LI-VER? - soletrei irritado."

Volta e meia eu largava um riso bobo, um suspiro de alegria. Mas eu sabia que estava fazendo a coisa certa. Seria melhor pra nós dois.

TERCEIRA SEMANA

Eu já estava satisfeito, tinha melhorado bastante. Meu bom humor e minha auto estima retornaram. Me bateu uma saudade de casa, minha nova casa...

- Nem pensar tó! - disse minha Tia.

Ela que cuidou de mim quando eu era pequeno, enquanto minha mãe trabalhava. Minha avó materna tinha falecido quando eu era pequeno, então, ela meio que assumiu esse papel.

"Tó" ou "Totó" era o jeito que ela me chamava desde que eu me entendo por gente.

- Mas Tia... Eu só vinha passar uns dias, já estamos indo pra quarta semana. Não quero incomodar.

- Incomodar o quê meu filho? Já está decidido.

- Eu vou pra casa?

- Não. Você fica!

QUARTA SEMANA

Eu não podia ir na minha antiga cidade sem visitar minha escola. Não, não mesmo. Aquele lugar foi palco dos anos mais loucos que eu passei, foram só dois, mas pra mim foram muito importantes.

Lá eu conheci pessoas loucas, inteligentes, maduras, irresponsáveis, brincalhonas. Todos, sem exceção eram meus amigos. Só um doido pra fazer amizade com outros, não?

- Ei, psiu...

Ela se virou com os olhos esbugalhados.

- AMIGOOOO!

- MEEEEEL!

- QUANTO TEMPO!!!

- VERDADE!!!

- PORQUÊ A GENTE RÁ GRITANDO?

- HAHAHA - gargalhamos ao mesmo tempo.

- Eaí, me conta, como vai sua vida lá na roça?

- Haha. Ia te convidar pra ir lá. Mas deixa quieto.

- Ah, estou esperando a anos esse convite.

- Mmm - fiz beicinho. - Que drama gente...

- Haha! Você não presta.

- Presto sim... Sou um docinho de côco.

- Aham, só se for de cocô.

- Assim o amor deixará de ser recíproco. Me respeita viu?

- Sim senhor...

- CARA DE PAU!

.

Eu definitivamente precisava voltar pra casa. Amei ter reencontrado todas as pessoas e lugares que eu amava naquela cidade, mas era hora de voltar, e encarar todos os meus problemas de peito erguido. Mesmo que o pior me esperasse.

Por um lado, eu me sentia culpado por ter desistido dele. Por outro, eu me sentia feliz, não feliz por mim, mas por saber que nada de ruim aconteceria a Oliver.

Eu me culparia eternamente por qualquer arranhão que ele levasse por minha culpa. Para mim estava sendo muito difícil, mas eu iria superar.

***

- Mãe? Quando eu posso ir lá no sitio?

- O quê garoto? Você acabou de chegar de viagem.

- Ah, é que me bateu uma saudade imensa de Tia Lenir.

- No fim de semana você vai. Que menino afobado!

Fui deitar na minha cama, não sei desde quando, mas o teto virou meu melhor amigo por um longo período de tempo. Éramos eu, ele e os pensamento. Do nada, várias lembranças vieram. Momentos nossos, verdadeiros, únicos.

" - Pode tratar de colocar mais comida nesse prato!

- Tia, eu estou comendo até demais hoje. - exclamei.

- Isso ai nem mela os dentes."

" - Sabe, eu gosto tanto desse lugar...

- Gosta? Geralmente o pessoal que vem da cidade só quer passar uns dias e ir embora de volta.

- Não... Se eu pudesse eu moraria num ligar igual a esse.

- Eu moro aqui desde que me casei, nunca quis sair daqui.

- Aham, esse lugar é tão lindo."

Muitos e muitos outros vieram, as vezes eu ria, mas em certo momento, uma angústia começava a me rodear.

Achei que seria saudades de meu baixinho, mas não. Eu nem sequer havia pensado nele hoje. Eu sempre procurava algo pra substituir ele dos meus pensamentos, até as músicas tristes estavam fora da minha playlist esses dias.

Mas eu sabia que algo em breve aconteceria. Infelizmente.

.

- Filho?

- Oi, mãe?

- Já tava dormindo?

- Não. O que aconteceu?

- Tia Lenir... Faleceu.

***

@Kaahh_sz, leopinheiro, otaku tarado, Araujjo, ferdinand, e todos os outros leitores: Nem tenho palavras, mas muito obrigado por terem lido, do difícil? Sim. Mas passou, a vida continua. A gente se levanta, toma outra porrada, e se levanta novamente.

Analisem. Se possível votem e comentem.

Ah, não se preocupem. Aqueles que gostaram do relato do meu fantástico mundo da lua, eu provavelmente irei continuar. Mas depois, não agora. xD

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Comentários

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Manoo sem palavras pq que tem que ser assim em sua historia e linda mais muito triste

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Vc é um fio da mãe! Se eu te fiz chorar com o SEGUNDA DANÇA, vc está me fazendo chorar rios com sua história. Vontade de te abraçar a cada palavra que leio.

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Mais um momento dificil 😢

Esses ultimos capitulos pra mim estão sendo angustiantes; era tão bom ver os 2 sempre juntos, parece q ta faltando algo.. Mas, como vc disse, vida q segue

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