Dentro de Nós - Último Capítulo

Um conto erótico de Thomaz
Categoria: Homossexual
Contém 5503 palavras
Data: 07/04/2015 01:33:10
Última revisão: 07/04/2015 01:46:43

“A vida de ninguém é repleta de momentos perfeitos.E se fosse, não seriam momentos perfeitos. Seriam apenas normais. Como você poderia saber o que é a felicidade se nunca tivesse experimentado as quedas?” – P.S. Eu te amo

Embarquei no carro junto com William. Quem pilotava era novamente o Alisson. Ninguém abriu a boca durante o caminho, até que Will cortou o silêncio.

- Sabe, eu andei conversando com sua mãe hoje mais cedo... – começa.

- É? Sobre o quê? – fiquei ainda mais desconfiado.

- Sobre faculdades. Ela disse que você queria cursar biologia ou psicologia. Por quê?

- Psicologia porque eu poderia ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas, e quem sabe eu conseguiria resolver os meus também. – faço uma pausa – E biologia porque eu amo animais...

- Ah, ela disse isso. Por isso que eu te trouxe aqui. – diz Will.

Alisson para o carro na frente de uma ONG para animais resgatados de cativeiros ou abandonados.

- Will, que isso? – pergunto, surpreso.

- Essa ONG é dos meus tios, Will quer dar um presente pra você e eu pensei em ajudar. – diz Alisson, descendo do carro.

Will e eu descemos também e entramos no departamento. O ambiente era enorme, continha várias salas com muitos animais sendo cuidados por profissionais, veterinários e biólogos. Cachorros, gatos, aves, até cobras e outros animais. Eu estava apaixonado por este lugar.

- Will, meu Deus, isso é demais! – digo.

Will assente e sorri, vislumbrando o ambiente.

Alisson nos leva até uma sala com animais para adoção. Não havia apenas vira-latas, mas labradores, Rottweiler, pastor alemão e cães de outras raças, tanto que foram entregues a ONG, ou recolhidos após abandono.

- Olha esses animais... – digo.

Me pergunto o que leva as pessoas a abandonarem animais tão especiais como esses. Não só cachorros, mas eles em especial, pois a companhia deles às vezes é tão boa quanto a de uma pessoa normal. Eu me importo muito, me importo porque eles são seres como nós e também tem sentimentos, também sentem amor. Não tenho dúvidas de quê o cão é o melhor amigo do homem.

Ouvi a história de cada animal dali pela boca do condutor. Crueldade.

- Então, Thom, olha esse aqui.

Will aponta a um filhote de labrador, que dormia em uma caixa e solta um risinho.

- Ai meu Deus, Will. Que lindo!

Ajoelho-me ao lado da caixa e admiro o cachorrinho, muuuuito fofo!

- Gostou? – pergunta.

Assenti. Will e Alisson se entreolham, em seguida, Will volta a olhar para mim.

- É seu. – diz.

- O quê? – encaro Will.

- É, podem pega-lo. – diz Alisson.

Estava surpreso. Esse era o presente de Will para mim. William pega o filhote da caixa e coloca sobre um pequeno cesto.

- Ai, meu amor... – abraço Will, e acaricio o cachorrinho.

Passamos por outras alas da ONG e então vamos embora – para a minha casa. Fiquei pensando no que diria a minha mãe quando chegasse em casa com o filhotinho. Precisaria de uma desculpa convincente.

Viemos embora conversando, ao chegar em casa despedi-nos de Alisson e adentramos.

- Oi, dona Beatriz, Lilly.

- Já chegaram? – diz Beatriz.

- Já, mãe. E a gente trouxe uma coisa... – digo.

Will estava segurando o cesto atrás de mim. Viro-me e mostro para a mãe e à Lilly.

- Mas o que é isso? – exalta Lilly, que sai da mesa e vem em nossa direção.

- Veja você mesma. – diz Will, exibindo um sorriso.

Will retira o lenço que cobria o cachorrinho, exibindo o labrador mirim.

- Nossa, mas que coisa fofa. – diz Lilly, com a voz afinada – Mãe, olha isso.

Dona Beatriz se aproxima de nós e vê o presente.

- Que lindo, mas... Como vocês conseguiram ele? – pergunta.

- Ah, a gente foi numa ONG e resolvemos adota-lo. Soube que o Thomaz gostava de cachorros e queria ter um então... – Will inicia, e minha mãe o interrompe.

- Ah, é mesmo. – ela assente.

Conversamos um pouco e decidimos juntos que o filhote se chamaria Dave. Will passou a manhã comigo e entreguei meu presente a ele. À tarde fomos para a aula. Correu tudo bem este dia, William e eu sempre juntos e com nossos amigos. Ao fim da aula, Will foi para a sua casa e eu para a minha. Mas no caminho, encontro Sophia.

- Thomaz? – indaga.

Interrompo meus passos e viro-me para trás. Ela estava linda, com o cabelo mais longo e tingido.

- Oi, Sophia. – dou uma bitoca em sua bochecha – Quanto tempo...

- Pois é, nunca mais apareceu lá no restaurante.

- Ah, verdade, uma hora vou lá.

- E o William? – pergunta, sorridente.

- A gente tá junto. – respondo, acompanhado de um sorriso bobo.

- Desde aquela vez? Que bom, eu sabia que vocês voltariam. Espero que estejam felizes.

- E estamos. – afirmo.

- O restaurante vai promover um jantar neste sábado à noite, para casais... – ela faz uma pausa – Você e o William deveriam ir, faríamos por conta da casa para vocês dois.

- Não, sem essa.

- Thomaz, vocês estão há quase seis meses juntos, vocês são um casal, e vocês não serão os únicos gays que estarão lá. Então? – estava praticamente implorando.

- Ok, Sophia. Eu vou conversar com ele sobre isso, mas não confirmo nada.

- Vejo vocês lá, então. – ela se despede e caminha para algum lugar.

Fui embora e tomei um banho. Ao entrar no quarto, me deparo com Dave dormindo na ponta da minha cama, muito fofo. Faço um carinho nele, que não o acordara, e fico deitado até pegar no sono, o que não demorou.

No restante daquela semana, Will não veio aqui, apenas trocávamos mensagens e nos víamos na aula. Fui a casa dele na sexta-feira e dormi lá. Voltamos no sábado à tarde, pois à noite iríamos no jantar do restaurante onde a Sophia trabalha – sim, iríamos.

Em casa, brincamos com Dave e conversamos com Lilly, Eduardo, Beatriz e, Heitor. Lilly e Eduardo estavam apavorados e mal paravam em casa, estava uma correria para o casamento que seria daqui cinco dias. No tempo em que estavam conosco, só falavam do casamento também, oh glória! Will e eu nos arrumamos e fomos ao restaurante.

Ambos com roupa social. Will estava “ajeitadinho”. Não, lindo mesmo, ficava superbém assim. Eu até que tinha ficado bem com a roupa. Chegamos no restaurante e o que víamos era casais, aqui e ali. Cada casal ocupava uma mesa, estava tudo bem arrumado. Procurei algum outro casal que fossem formados por dois homens, e encontrei dois. Havia um casal de mulheres também. Sentei junto com Will em uma mesa e um casal nos encarou com uma feição estranha.

- Deixa eles, amor. – diz Will, ajeitando-se na cadeira.

- Tudo bem.

Sophia nos vê e vem em nossa direção com o cardápio especial.

- Oi, que bom que vieram. – diz, com um sorriso largo no rosto.

Assinto.

Ela nos entrega o cardápio e escolhemos o que iríamos comer: bacalhau. Logo ela volta com uma bandeja e nos serve, colocando também uma garrafa de champanhe sobre a mesa.

- Deve estar bem bom. – diz Will, após Sophia sair.

- É. – concordo, cortando elegantemente um pedaço do peixe.

- Thomaz, o que cê tá fazendo? – pergunta, me olhando estranho.

- Tô cortando o peixe.

- Precisa ser desse jeito? – ele começa a rir.

Percebo o quão idiota eu estava parecendo, então ajo normalmente.

- Assim fica melhor. – diz.

- Cala a boca.

Comemos, tomamos o champanhe e aproveitamos a noite ali. Após algumas horas resolvemos ir embora.

No caminho de volta para a casa, ficamos em silêncio. Will para no meio do caminho e me puxa contra seu corpo. Próximos e olhando um no olho do outro, Will beija a minha testa.

- Eu te amo muito, sabia? – diz.

- Não tanto quanto eu te amo.

Nos beijamos e fomos para a casa onde fizemos o que temos que fazer.

Will e eu passamos o domingo ajudando Lilly e Eduardo a organizar os preparativos do casamento. Will às vezes tentava me dar um beijo, e Lilly e Edu trocavam olhares quando ele fazia isso.

- Falta pouco. – diz Lilly.

Eduardo expressa nervosismo.

- Vai ter despedida? – pergunto a Eduardo, e Lilly me fuzila com o olhar.

- Vai? – pergunta Edu, olhando de rabo de olho para Lilly.

- Eu te capo. – diz, rispidamente.

Rimos.

- E vocês, não vão casar? – pergunta Eduardo a nós dois.

William desvia o olhar a mim e arqueia a sobrancelha.

- Vamos sim. – diz ele.

- Opa. – Lilly sorri – Agora vai ter que ter hein?

- Claro, vai ter. – completa ele.

Fico quieto.

A semana seguinte iniciou tumultuada. Eram as últimas semanas de aula, e esta semana seria a semana de provas. Cheguei à escola segunda-feira e Will ainda não havia chegado. Fui conversar com Juliane, que estava acompanhada de Jéssica. Quase caí no chão quando a vi.

- JÉSSICA! – grite, correndo em sua direção.

- Oi, Thomaz, que saudade. – diz, abraçando-me apertado.

Jéssica estava muito diferente de antes da reabilitação. Estava aparentemente saudável, estava encorpada.

- Meu Deus, você tá bem? – pergunto.

- Sim, eu tô ótima, Thom. – diz, com um sorriso branco nos dentes.

- Faz quanto tempo que você saiu? A Jade saiu também?

Juliane, que estava ali também, estava sobrando.

- Umas três semanas, e não fiz nada ainda, nem quero. – diz.

- Isso a gente vai ver, né. Mas e a Jade? – insisto.

- Ela saiu também, tá na casa dela. Ficaria feliz se você fosse visita-la.

- Claro, eu vou quando puder. Nossa, tava com saudade de ti! – abraço-a novamente.

Jéssica se despede e diz que tem que ir a algum lugar. Fico ali com a Jú.

- Agora você me viu aqui, né? – indaga.

- Desculpa. – digo.

Juliane assente.

- Como foi o fim de semana? – pergunta.

- Will, casamento, Will, casa...

- Mento. – completa Will, parando ao meu lado.

Juliane o cumprimenta com um sorriso.

- Oi, amor. – olho ao meu redor, e dou um selinho nele.

- Desculpa à demora, ônibus atrasou.

- Ok. Vamos entrar, então. – digo.

Juliane, William e eu vamos até o jardim, e ficamos conversando por lá, enquanto nossos outros amigos não chegavam.

As aulas seguiram tediosas, e a última foi educação física: jogo. Os times haviam sido montados, e eu caí no mesmo do Will. Time forte, até. O jogo começou e logo Will fez um passe arriscado, recebido por Tony. Este, após driblar alguns jogadores, toca a bola para mim. Nisso, Will corre até a área do gol, e lanço um passe longo. A bola toca a cabeça de Wesley, do outro time, mas cai próxima ao William. Corro para a área também, e Will consegue pegar a bola. Os jogadores vem em sua direção e então ele chuta a bola em direção ao gol, feito. Após alguns minutos, nosso time ganhou o jogo por 3x1, dois gols de William e um do Vincent. O time comemorou, todos se abraçaram suados, melaram e fomos embora.

Esperei o ônibus de Will com ele, embarcamos e fomos para a sua casa. Dormiria lá esta noite. Ao chegarmos, a casa estava vazia então arriscamos tomar um banho juntos. Brincamos no banho, ensaboamos um ao outro, e Will ficava relando seu pau na minha bunda toda hora. Dei liberdade, e Will empurrou-me à parede, deixando-me imóvel e de costas para ele.

- Will... – murmuro.

- Você é a minha presa. – não.

William cola seu corpo ao meu na parede do banheiro, e sinto-o posicionar seu pau na entrada do meu cu. Viro meu rosto para o lado e ele morde levemente a minha bochecha. Will ergue minha perna esquerda e introduz a cabeça de seu pau, parando por um momento.

- Vi isso em alguns filmes. – diz ele, dando leves chupões nas minhas costas.

- Mas isso não é um filme! – exclamei, virando-me para ele e empurrando-o contra a parede do Box.

Tomo um beijo de Will, e conduzo-o com nossos lábios colados até seu quarto, encharcando o piso com nossos corpos molhados. No quarto, derrubo-o sobre a cama.

- Amor, isso tá certo? – pergunta, estranhando a situação.

- Cala a boca, viado. – deito-me por cima dele e voltamos a nos beijar, mais ferozmente.

Will interrompe o beijo e me olha curiosamente, arqueia uma das sobrancelhas.

- Thomaz, tá errado. – diz. Nego com a cabeça, e ele muda a expressão, parecendo entender. – Ah, meu Deus.

Will ri, e me dá um beijo. Vou descendo pelo seu corpo dando leves chupões por todo ele, e a todo tempo Will me fitava com seus olhos. Parei a poucos centímetros de seu pau, e então alojei boa parte dele na minha boca. Will gemeu e pôs sua mão sobre minha cabeça, puxando meu cabelo.

- Thomaz... – murmura.

Deslizo com a boca até a base do seu membro, e dou uma sugada. Sinto o gosto salgado de seu pré-gozo na minha boca. Retorno com a boca até a cabeça do seu pau, e passo a língua sobre ela. Começo a chupa-lo, e assim fico por alguns minutos até que sinto a cabeça da rola de Will inchar, e ele goza. Ele, que até então estava com os olhos fechados e não parava de gemer, abre-os e sorri para mim. Engulo toda a porra, e subo até ficar próximo de seu rosto.

Will se mexe na cama e pega uma camisinha na gaveta de seu criado mudo. Ele retira da embalagem e quando iria encapar o seu pau, tomo-a de suas mãos.

- O que você vai fazer? – pergunta, com um sorriso nervoso na cara.

- Nada, só relaxa. – digo, confesso que também estava nervoso pelo que ia fazer a seguir.

Encapei meu pau, sob a supervisão de Will, que me fitava aguardando o que eu iria fazer. Dei um beijo em sua boca. Will se fez de entendido, e ergueu as pernas, entrelaçando na minha cintura.

- Não acredito que vou te deixar fazer isso. – diz, demonstrando nervosismo.

Mandei relaxar, mas para evitar imprevistos, utilizei um pouco de lubrificante, assim como foi feito na primeira vez que transamos. Will envolveu seus braços em meu pescoço, e me beijou. Ajustei meu pau na entrada de seu cu, e comecei a forçar. Com o tempo, a cabeça foi entrando e o restante do pau também.

- Puta que pariu, que dor do caralho! – exclama ele.

- Tá vendo como é? – solto um risinho – Quer que eu pare? Eu paro. – digo, ameaçando tirar meu pau de seu cu.

- Não, não, Thom. – ele respira fundo e olha para baixo – É justo isso, só não sabia que doía tanto assim.

Isso que nem havia começado. Iniciei os movimentos calmamente, mantendo olhar fixo nos seus olhos. Ele demonstrava medo. Não forcei, nem acelerei os movimentos, pois não queria machuca-lo. Certo momento senti meu saco encostar na sua bunda, sorri para ele e tive o sorriso retribuído. Os movimentos começaram a se intensificar, mas nada frenético, ainda com calma. Will foi mudando sua expressão, agora parecia estar gostando. Dei um selinho nele, e comecei a dar alguns chupões e beijinhos no seu pescoço enquanto o fodia.

- Isso tá bom. – diz, com os olhos fechados e um sorrisinho no rosto.

Depois de um tempo, dei uma primeira estocada e ele gemeu. Começou a mexer o quadril, de modo que rebolasse e ele mesmo acompanhasse a penetração. Acelerei um pouco os movimentos e comecei a meter um pouco mais forte.

- Parece que a presa se transformou em predador. – digo, e Will ri.

- Não é tão ruim assim. – admite. Ele me beija e continua a rebolar.

Voltei a estocar, e a cada estocada ouvia um gemido de Will, que me deixava louco. Metendo em um ritmo acelerado, certa hora sinto a camisinha inundar. Havia gozado. Continuei os movimentos, diminuindo cada vez mais a velocidade até parar. Retiro meu pau do cu de William e dou um beijo em sua boca.

- Foi bom? – pergunto.

- O melhor sexo da minha vida. – conclui.

Nos beijamos novamente.

No restante da semana passamos com nossos amigos. Eu ia para o serviço de manhã, a tarde para a escola e a noite saía com eles, acompanhado obviamente de Will.

Na quinta-feira fui ao hospital visitar Samuel e levei comigo o caderno em que ele registrava as suas memórias. Deixei meus dados e me dirigi à sala de espera. Samuel continuava na UTI para a sua recuperação, e dependendo de seu estágio, poderia ser transferido para o quarto futuramente. Doutor Pedro aparece na sala e me cumprimenta.

- Visita? – pergunta.

- Sim, já tá marcado. – respondo, rouco.

- Ah, ok. Me acompanhe. – diz.

Dr. Pedro me leva até a ala onde Samuel estava internado, e me deixa a sós com ele. Seus batimentos estavam calmos e ele dormia. Informações passadas a mim era de que Samuel não estava em coma, e que estava se recuperando gradativamente.

Samuel estava deitado na cama, com um aparelho respiratório e estava entubado. Tinha uma faixa na cabeça, e estava pálido. Sento-me na beirada da cama, e mantenho o caderno em minhas mãos. Percebo que Samuel começara a abrir os olhos, muito lentamente e desviara-os para mim. Com dificuldade, virara sua mão, de modo que a palma ficasse para cima. Seguro-a, e sinto uma lágrima escorrer de meu olho. Nos olhamos por alguns segundos, e então ele desviara os olhos ao caderno.

- Ah, eu trouxe ele... – digo, com voz baixa e rouca.

Ele faz um movimento com a cabeça e volta a olhar para mim. Sinto sua mão apertar a minha. Respiro fundo e abro o caderno, folheando algumas páginas, ele acompanhava com o olhar. Ao passar uma página, que eu ainda não havia lido, Samuel toca-a com a ponta dos dedos, impedindo-me de ir à próxima.

- Essa aqui? – observo. Samuel movimenta a cabeça, afirmando. – Tudo bem.

Leio algumas linhas com o pensamento, e desvio meu olhar a Samuel, que me fitava. Olho para a tela e vejo que os batimentos de Samuel continuavam calmos. Começo a ler o que estava escrito em uma das páginas do caderno em tom que apenas nós ouvíssemos.

- “Não tenho ideia de como serão meus últimos dias, mas quero aproveita-los até que os mesmos cheguem. Aproveita-lo com a minha família, com meus amigos, e em especial, com Thomaz. Espero que até lá tudo já tenha se resolvido entre ele e William, pois para mim a sua felicidade é o mais importante." – faço uma pausa e mais lágrimas escorrem. Samuel me olhara atento. – "Não só a dele, mas a de todos. Não quero que lamentem a minha deixa, não quero choro, lágrimas, quero garra. Sei que são fortes o suficiente para isso. Sei o amor que eles tem por mim, e o que eu tenho por eles.” – algumas linhas são destinadas aos pais e irmãos de Samuel.

Paro de ler por alguns instantes e observo Samuel. Seus olhos encheram de lágrimas, e os meus também. Sinto-as escorrer sem parar pelo meu rosto. Continuo a leitura, nas últimas páginas do caderno.

- “E Thomaz, ah Thomaz... Que você aproveite toda esta vida que tens pela frente, ao lado de quem você ama, sabe de quem estou falando. Você deve ser forte, se entregue e batalhe por aquilo que você, pois nessa vida não há vitória sem luta. Saiba que onde eu estiver, não importa o que aconteça, eu vou estar sempre pensando em você. Saiba também que, meu amor por você passa de outras vidas, é eterno e inabalável. Aproveite, viva, estarei esperando por você aqui em cima. De seu grande amigo, Samuel.”

Após terminar, vejo algumas outras fotos coladas nas últimas páginas. Desvio meus olhos a Samuel, e seu olhar estava fixo a mim.

- Samuel, isso... – neste momento, percebo que havia algo errado em Samuel.

Seus batimentos começam a diminuir muito rapidamente segundo a tela. Samuel estava imóvel e não estava puxando ar. Sua mão se desprendera da minha.

- Samuel? – murmuro incrédulo.

Ouço um apito vindo do aparelho de Samuel. Ele estava morrendo. Me afasto da cama, com o caderno em mãos e desabo em lágrimas, antes de doutor Pedro aparecer junto com duas enfermeiras e um outro médico.

- Samuel! – insisto, ainda não acreditando no quê estava acontecendo.

O outro médico retira o aparelho de Samuel. Fico imóvel, em choque ao ver a cena, e sinto duas mãos segurarem meus braços e me puxarem para fora dali. O caderno escapa de minhas mãos e as folhas se espalham pelo chão da ala. Sou levado para o corredor e lembrando as imagens que havia visto agora a pouco, acabo desmaiando.

Acordo algumas horas depois, deitado em uma cama, em um quarto de hospital. Há uma enfermeira no meu lado, com uma expressão triste no rosto.

- Samuel! – exclamo. Sua expressão piora ainda mais.

- Vou chamar o doutor Pedro. – diz, saindo do quarto.

- Não, volta aqui! Cadê o Samuel? – insisto.

Queria acreditar que tudo o que havia acontecido horas atrás tinha sido um sonho, e que Samuel continuara dormindo na UTI, em recuperação.

Doutor Pedro entra no quarto com um olhar abatido.

- Doutor, por favor, o Samuel... – sou interrompido.

- Sinto muito. – diz ele. Engulo em seco. – Ele sofreu um derrame, não tivemos o que fazer.

- Não, ele tá vivo, ele tá lá, me deixa ver ele! – imploro.

- Thomaz, não há nada a ser feito. Samuel lutou, você foi muito importante nessa luta. Acreditávamos que havia dado certo mas isso não estava fora de cogitação, poderia sim acontecer e infelizmente aconteceu.

Sinto meu corpo todo arder, e volto a chorar.

- Eu não acredito – soluço -, isso não pode estar acontecendo!

Não, não podia ser verdade. Samuel se tornara meu amigo fiel, e não esperava perde-lo tão cedo, não esperava perde-lo nunca.

Ao sair do hospital, William me esperava acompanhado de Lilly, Eduardo e minha mãe. Recebi o abraço dos quatro.

- Will, o Samuel... – tentei terminar a frase, mas fui interrompido pelas lágrimas. Me prendi a William, que acariciava meus cabelos.

- Filho, ele está num lugar melhor. – dizia minha mãe, me abraçando também.

- Thom, podemos transferir o casamento pra outro dia se preferir. – diz Lilly.

- Não, não façam isso. Vocês casarão sábado, nada de mudar a data. – digo, enxugando minhas lágrimas.

Samuel seria enterrado na sexta-feira de manhã. Cheguei cedo ao cemitério e dei todo o apoio à família dele. Anderson estava em estado de choque, não falava nada e mal se mexia. O padre realizou a missa e fez os comentários de despedida a Samuel. Fui escolhido na hora para dizer algumas palavras.

- Samuel foi um exemplo para todos nós. Exemplo de luta, de força, de superação. A sua luta chegou ao fim, mas nada do que ele fez será esquecido. Ele teve a sua missão aqui, Samuel espalhou o amor a quem o conheceu. Samuel me mostrou o amor, me mostrou o sentido real dessa palavra. Amar não é só dizer “Eu te amo”, não é só beijo, não é só sexo. Amar é estar presente, amar é se importar em cultivar a felicidade de alguém, mesmo que isso custe a sua. Mas nem sempre é preciso estar junto de alguém para demonstrar seu amor, e Samuel me ensinou isso. Não vou esquecer nunca o que ele fez por mim, fez o quê acredito que ninguém mais faria. Me mostrou o caminho da felicidade, e eu só tenho a agradecer por isto. Obrigado Samuel, obrigado. – coloco uma rosa sobre o caixão de Samuel e saio dali. Will me segue.

- Ei, amor. – diz, me segurando pelo braço.

- O quê, Will? – pergunto, com os olhos já molhados.

- Foi linda a sua homenagem. – diz, abraçando-me. – Ele deve ter gostado muito.

- Era o mínimo que eu podia fazer. Só acho que algumas pessoas vão desconfiar do que eu disse, achar que eu possa ter tido alguma coisa com ele.

- Deixei que digam, você teve, e você foi sincero ali.

Nos abraçamos novamente e Will me dá um beijo. De longe, vimos Samuel ser enterrado.

Ao fim, fomos Will, Lilly, Edu, mãe, Heitor e eu a nossa casa. Nem eu, nem Will fomos à aula, ficamos em casa em luto. De todos os pensamentos que tinha em minha cabeça, eu sentia um peso em esconder ainda assim o meu amor por William da minha mãe, da minha família. Estava com isso entalado na minha garganta há muito tempo, e estava cansado de esconder, de não poder ser eu mesmo na frente das pessoas que eu amo e sei que me amam também. Perto de anoitecer, com Will ainda em minha casa, chamei minha mãe em meu quarto para conversarmos.

- Então, filho. O que você tem pra me contar de tão importante? – pergunta, atenciosa.

Will estava ao meu lado, e seguro em sua mão. Ele estava tremendo, ou era eu, ou ambos estavam. Respirei fundo e olhei no fundo dos olhos azuis de minha mãe, que já fitara nossas mãos unidas.

- Mãe, como vou te falar isso? – pergunto – Nossa, eu não sei mesmo como dizer. Acredito que não escolhemos o que queremos ser na vida, né? Tudo que acontece, acontece com um propósito. Esperei muito tempo pra dizer isso, por medo, por receio, por não imaginar o que ouviria de sua boca caso eu confessasse. – olho para ela, que estava com um olhar calmo, por enquanto.

- E aí? – indaga.

- Mãe, eu... Nós – olho para William -, sei que você quer ter netos, quer que eu tenha uma família, mas o principal... Você me disse uma vez que não importava como, mas você queria acima de qualquer coisa ver os seus filhos felizes, e eu só tenho a dizer que, você está diante do filho mais feliz do mundo.

Dona Beatriz olha para mim, e em seguida desvia o olhar a William.

- Vocês. – diz, calma.

- Sim, minha felicidade está no William. – digo, receoso do que ouviria a seguir. Minha mãe nos encara sem dizer nada por alguns segundos.

- É. – diz – Se você, meu filho, está feliz dessa forma, com o William, se amando, por que eu devo impedir?

Sorrio, e William também.

- Só tenho a dizer que tenho o melhor filho que uma mãe pode ter, e o melhor genro também. – diz, com um enorme sorriso no rosto.

Dona Beatriz dá um abraço triplo em nós. Boa parte do caminho andado faltava agora revelar aos pais de William. Diz ele, que tinha uma ideia de como contar, mas isso eu saberia apenas na hora.

Sábado, o tão esperado dia. Procurei me distanciar dos pensamentos relativos à morte prematura de Samuel. Procurei focar na felicidade da minha irmã, Lilly, e de Eduardo. De manhã, ela e minha mãe já estavam no salão de beleza se arrumando, enquanto eu e Eduardo terminávamos de organizar o salão para a festa. Will veio ajudar, isso facilitou muito. A tarde, já estava tudo preparado.

- Ótimo, agora é só esperar. – diz Eduardo, nervoso.

- Calma, vai dar tudo certo. O sim dela é o mais importante. – digo – E o seu também.

Will trouxe seu terno que iria usar. Perto da hora do casamento, os parentes já começaram a chegar e lotaram a casa, meu Deus. Eu estava perdido, Heitor só sabia conversar e ajudar que era bom, nada. Eduardo estava com as pernas bambas só pensando na hora de entrar na igreja. Eu e William tentávamos dividir a atenção a todo mundo. Minha mãe chegou em casa perto das seis da tarde, toda emperiquitada para o casamento. Nos arrumamos e as sete fomos para a igreja. Juliane, Jade, Jéssica, e outros amigos tanto meus quanto de William também haviam sido convidados.

Às oito e meia, ou um pouco mais que isso, os músicos começaram a tocar. Petaleira, padrinhos, e noivo adentraram a igreja. Eduardo foi acompanhado da mãe e do pai até o altar. Portas fechadas, Will estava lá dentro junto com seus pais – que também haviam sido convidados. Lilly descera do carro e fora fotografada durante alguns minutos. Sem a presença do pai dela, que não é o mesmo que o meu, ela entrou na igreja acompanhada de nossa mãe e eu. Na cerimônia, ouvimos o tão esperado “sim” de ambos, e declarados casados, fomos todos ao salão onde seria a festa, ao lado da igreja.

Curtimos a festa, alguns convidados foram embora cedo, mas a maioria permaneceu lá. O buquê jogado por Lilly foi pego por Danieli, uma amiga dela lá. Em certo momento, Will me puxaram para uma sala do salão, onde era guardado as vassouras, etc.

- Will, a gente precisa voltar. – digo.

- Eu sei. – responde, me enchendo de beijos – Eu vou fazer uma coisa agora, que olha... Vai ser loucura, acredito, mas preciso fazer isso.

- O quê? Will, o que vai fazer? – pergunto, sem entender. Will me dá um último beijo e me leva de volta a pista.

William pega o microfone do DJ e se dirige aos seus pais, levando-os ao palco. Chama também minha mãe, e por último eu. Céus, o que ele iria fazer?

- Peço a atenção de todos vocês. – diz.

- Opa! – exclama Lilly, aproximando-se do palco junto com Eduardo.

- Eu tenho umas palavras a dizer. – inicia. Meu corpo gela. – Thomaz...

Nesse momento, a luz é direcionada a mim. Sinto meu rosto arder, devo ter virado um tomate. Todos olham para mim, inclusive os pais de William, que encaravam-nos. Meu coração acelera e minha respiração fica ofegante.

- Cara, como te agradecer a tudo de maravilhoso que fizemos juntos? – indaga – Mãe, não desmaia aqui, por favor. Pai, não me bate. – diz, olhando para os dois, que nos fitavam curiosos.

Jade, Jéssica e Juliane gritavam no fundo do salão.

- Quando eu disse que eu estava apaixonado, há alguns meses atrás, e não disse a vocês quem era – declarava a seus pais -, eu não estava mentindo. Havia sim alguém que tinha me domado, que tinha me mudado... Deixei de ser o cara que pegava todas e passei a me interessar cada vez mais apenas por essa pessoa.

“Quem?”, interrogavam-se algumas pessoas. O pai de William demonstra nervosismo, a mãe, curiosidade, com um sorriso disfarçado no rosto.

- Há cinco meses, estes que foram os melhores da minha vida, eu amei uma pessoa, e continuo a ama-la, cada vez mais. Amor que não dá pra medir. Não importa o que digam, o que tentem fazer pra impedir, não vou deixar de amar essa pessoa. Mãe – nisso, ele pega na minha mãe e me encaminha até a frente de seus pais. PUTS! Queria ter um buraco de baixo dos meus pés, pra cair ali e sumir. Os pais deles me encaram, sérios. Todos ficam em silêncio, menos Jade, Jéssica e Juliane, que continuavam a fazer escândalos. -, esse aqui é o genro de vocês, Thomaz.

- Oh meu Deus. – diz a mãe dele. Ela me encara por alguns instantes e em seguida me puxa para um abraço bem apertado. O pai dele bufa.

- Vocês são gays? – cochicha. Will e eu concordamos e ele pensa um pouco. A mãe mostra-se feliz. – Céus!

Os convidados batem palmas, e comemoram.

- É isso, pai, mãe. – diz, no microfone. Sérgio pega o microfone da mão de Will.

- Se vocês estão felizes, nós estamos felizes, parabéns meu filho! – diz, abraçando-nos em seguida. Novamente somos aplaudidos.

- Muito bem, muito bem. – diz William, pegando o microfone de volta.

- O quê? Will, não acabou ainda? – pergunto, nervoso.

- Melhor parte é agora. – grita Lilly. Todos os convidados mantem a atenção em Will.

- Will, meu Deus. – digo.

- Thomaz – ele ajoelha-se em minha frente. A galera vai à loucura. Ele retira de seu bolso uma caixinha, com duas alianças. Não acredito que ele vai fazer isso. – Thomaz, meu amor. Diante de todas essas pessoas, das nossas famílias, eu te faço esse pedido.

Olho no fundo de seus olhos, que brilhavam. Desvio meu olhar a minha mãe, que estava segurando algumas lágrimas, aos meus amigos e a William novamente.

- Você quer casar comigo? – pergunta.

TODO MUNDO, absolutamente todo mundo grita, e em coro dizem “sim, sim, sim”. Eu estava completamente sem reação, meu rosto pinicava e meus olhos seguravam rios de lágrimas. Faço Will levantar e fico com o rosto bem próximo do seu. Desvio meu olhar a todos os convidados, que me olhavam esperançosos.

- Eu aceito. – digo, antes de Will colar sua boca na minha e dar um beijão. Os convidados comemoram, e somos rodeados por eles.

De mãos dadas, somos erguidos pelos convidados.

“O amor está em simples gestos, e palavras com significados não tão simples, além de qualquer compreensão e sim doação e criação. Amar é se abdicar de certas intempéries humanas, é viver a fútil existência da dor, esta que anda a par, assim como o andar do amor.” – Alef Henrique.

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Oi, vocês. Apesar de meu longo afastamento da casa, só tenho a agradecer vocês. Agradecer por terem me apoiado a continuar a escrever, agradecer pelo carinho e compreensão de vocês, agradecer por tudo. Esse sem dúvidas foi o capítulo mais longo e difícil de escrever, sério, precisei da ajuda de uma grande amiga minha para terminar: Milena, muito obrigado, sem você, esse capítulo não sairia hoje, nem sei quando. Havia escrito dois finais, mas este foi o mais conveniente a se publicar. Mas então, me despeço de vocês aqui. Quem sabe um dia eu volte com uma outra história(que estou produzindo), mas por enquanto descansarei da CDC. Postarei essa história em uma versão parecida mas com correções no wattpad, após algumas pessoas me aconselharem. Pode ser que no fim do ano eu esteja de volta, desta vez, comprometido em cumprir o combinado de capítulos semanais, não um por mês, rs. Mereço ser apedrejado. E acabou. Obrigado mesmo!

Caso queiram entrar em contato, aqui está meu e-mail: omarcillinos@hotmail.com

A postos, beijo!

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