Só nós conhecemos (3° temporada) - Parte II

Um conto erótico de Cesar Neto
Categoria: Homossexual
Contém 4766 palavras
Data: 03/03/2015 16:30:25
Assuntos: Gay, Homossexual

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II- Um amor que só o Rodrigo conhece

Oi meu nome é Rodrigo, talvez eu esteja meio louco, talvez eu esteja meio confuso, talvez. O talvez sempre esteve em minha vida, e cá entre nós, minha vida nunca foi muito simples de se entender. Por isso estou escrevendo essa minha história. Para relembrar todos os fatos e acontecimentos que me trouxeram aonde eu estou hoje.

Por onde começar? Do momento em que eu nasci ? Do momento em que eu fui pela primeira vez a escola? Do momento que ele resolveu me chamar naquela maldita sala de aula? Do momento em que eu me apaixonei pela primeira vez?

Eu poderia ficar aqui escrevendo diversas histórias, e sim são muitas, sobre o meu primeiro namorado. Mas eu vou começar pelo final dessa história, pois é a partir dela que eu descobri o meu VERDADEIRO AMOR. Verdadeiro pois foi nesse momento que eu senti o que era ter um amor real, que todos conheciam e não era escondido, errado.

Todo a vez que uma porta se fecha, outras duas se abrem no lugar. Não sei se o ditado é realmente esse mas, mesmo se for, ele não se aplicou na minha situação. Terminar com Cesar, meu primeiro namorado, não me trouxe um mar de oportunidades.

- Eu te amo – ele disse.

- Eu também te amo – eu respondi.

E o pior de tudo era que aquilo era real. Eu amava Cesar e ele me amava. Terminamos pelo simples fato de querermos coisas diferentes em horas diferentes. Não vou entrar muito nesse assunto pois a história do meu verdadeiro amor não é essa. Ela começa daí, do dia em que eu terminei com Cesar. Do dia em que eu me senti livre para ser quem eu era.

Meu pai me buscou no ponto de ônibus. Ele parecia preocupado comigo mas eu inventei uma dor qualquer, igual eu sempre fazia, e ele parou de se importar. Quando eu cheguei em casa, me joguei na cama e desatei a chorar. Chorei por causa do Cesar, chorei por causa de tudo que eu teria que enfrentar, amanheceu e eu ainda chorava sem nem saber o motivo mais. Puxei do meu bolso o colar que Cesar havia me dado e o arramecei com tudo na parede. “Como eu seria forte com um pedaço de pedra Cesar? Eu preciso de você para ser forte seu idiota.”

Meu pai bateu na porta do meu quarto me chamando para tomar café. Fingi que estava dormindo mas ele não desistiu, fez questão de chamar a minha mãe e lá estavam os dois batendo na porta do meu quarto. Quando Dona Ana (minha mãe) e o Senhor Eduardo (meu pai) teimavam com alguma coisa eles iam até o fim e pelo jeito de hoje eles não iriam me deixar em paz.

Quando eu abri a porta do quarto e vi os dois com cara de preocupados, desatei a chorar. A última vez que eu chorei assim já se faziam décadas mas eles me abraçaram com tanto carinho e ternura como se eu ainda tivesse os meus 5 anos e acabasse de cair da bicicleta. “É só falar essa simples frase, eu sei que você consegue”, respirei fundo e com a maior simplicidade do mundo eu acabei com meu sofrimento:

- Eu sou gay.

Meu pai olhou para minha mãe buscando alguma resposta mas eles apenas voltaram a me abraçar. Minha mãe também era uma manteiga derretida e chorou junto comigo. Meu pai começou a sussurrar até eu conseguir ouvir o que ele estava dizendo:

- Tudo bem filho, a gente te ama.

Eu tinha conseguido! Queria sair comemorando, mandando todo mundo ir se foder ou qualquer coisa do tipo, queria ligar para o Cesar e contar para ele o que eu tinha feito mas... Pensar nele me fez ficar triste novamente.

Uma semana se passou e eu ainda chorava todas as noites sofrendo e tentando tomar coragem para falar com Cesar. Eu já estava disposto a aceitar o fato dele não querer se assumir, mas eu não sabia se ele estaria disposto a continuar comigo, mesmo se fosse escondido. Mas a última noite de choro chegou quando eu entrei no meu Facebook e o procurei na lista de amigos, ele não estava mais lá, ele tinha me excluído. Uma parte de mim parece ter desaparecido aquela noite, uma parte de mim simplesmente sumiu, eu tentei procurar um motivo para aquilo tudo mas eu não encontrei nada. Chorei tudo o que eu tinha para chorar naquela mesma noite pois quando eu acordei já não tinha mais motivos para isso. Sequei as lágrimas e jurei que jamais iria chorar novamente.

Com outra energia eu me levantei da cama e fui tomar café junto da minha família, meu pai me acordou com um grande bom dia, pelo seu tom ele tinha boas notícias e eu acertei pois quando eu me sentei ele falou:

- Arrume suas coisas Rodrigão, eu aluguei uma chácara para passarmos o fim de ano. Seu irmão vai chegar na cidade amanhã e vamos partir logo cedo. Fechou?

E essa viajem é o ponto de partida dessa história de amornovo ano tinha começado e eu prometi a mim mesmo que aquele seria um ano de recomeços, de novas jornadas. Meu pai caprichou para a virada, os fogos brilharam lá no céu e o som dos rojões eram ensurdecedor. Um novo ano tinha começado e eu me sentia diferente, a tristeza já tinha me abandonado e agora só restava a esperança de tempos melhores.

Meus irmãos foram os primeiros a chegar até mim e me abraçar:

- Feliz ano novo maninho – o mais velho disse deixando cair da sua garrafa um pouco de vinho em mim.

- Pra você também cara – eu retribui o abraço.

- Feliz ano novo Tatá – o menor pulou em minhas costas e eu o levantei no alto respondendo aos abraços.

Meus irmãos são uma figura em todos os sentidos e completamente diferentes de mim, o mais velho se chama Túlio. Alto, magricela, o cabelo bem curtinho e sem nenhum exagero de beleza. Sua cara era meio quadrada e ele era bem mais bronzeado do que eu. Ele tinha terminado a faculdade de engenharia civil em outra cidade, ele era muito inteligente e tinha essa fama por ser o CDF da família.

O menorzinho tinha sete anos e era um completo pirralho. Vivia enchendo o meu saco dia e noite mas mesmo assim ele era o único que quando eu estava triste, conseguia me tirar boas gargalhadas. Seu nome é Vitor.

Passar as semanas na chácara com minha família estava sendo demais. O lugar era lindo e muito aconchegante. Muitos parentes vieram passar o Natal e o ano novo com a gente e apesar de ter que dar a notícia de que eu era “homossexual” para todos os tios e primos , tudo estava correndo bem.

O primeiro dia do ano tinha chegado com uma chuvinha de verão caindo lá fora forçando a maioria da família ficar presa dentro da casa. Eu dividia um quarto com o meu irmão mais velho e no momento estávamos nós dois deitados na cama esperando o almoço ficar pronto.

- Mas fala aí Rodrigo – ele começou a puxar assunto – você já tem umas paquerinhas?

A pergunta me pegou de surpresa. Quando meus pais deram a notícia de que eu era gay para ele, Túlio nem se importou. Ele olhou para mim e disse que eu continuava sendo um “zé ruela feio que tinha sido adotado”. Na verdade ele era o único que continuava a me tratar da mesma forma e por isso eu era agradecido por ter um irmão como ele.

- Nem tenho não – eu respondi rápido e certeiro.

- Ahan, sei... – disse ele se sentando na beirada da cama – então como você descobriu que era gay sem nem ao menos sentir uma atração por um garoto? Foi intuição?

Eu podia confiar no meu irmão, por isso contei tudo para ele. Todo o meu namoro com o Cesar, desde os momentos felizes até os momentos tristes.

- Esse cara é um otário mesmo – Túlio disse se referindo ao Cesar – Como ele faz um negócio desses com você? Tem certeza que ele te ama mesmo ou só estava fazendo alguma palhaçada? Fala para mim que eu arrebento a cara dele.

Mandei ele baixar a bola porque o Cesar não era tão culpado assim. Imaginei ele fazendo o mesmo que eu fiz, numa hora dessas a sua madrasta já estaria mandando um batalhão de exorcistas para cima dele. “Mas eu estaria ao seu lado para ajuda-lo”, pensei meio decepcionado.

- É cara – Túlio começou a dizer – é uma pena que eu não vou estar mais por aqui para poder te ajudar.

- Como assim? – eu perguntei incrédulo – Você não terminou a faculdade?

- Terminei sim – ele falou – mas eu consegui um trampo em São Paulo daqui uma semana eu estarei partindo e vou ficar por lá mesmo.

E lá estava eu perdendo mais uma pessoa que eu amava. Pensei em chorar, pensei em implorar para ele não ir. Mas ao invés de tudo isso eu levantei e dei um abraço bem apertado nele.

- Sucesso cara, você merece!

O ano novo tinha passado mas as festas ainda rolavam com toda a família. E agora comemoramos a despedida do meu irmão. Muitos amigos da faculdade tinham chegado, velhos amigos da escola também e a chácara ficou pequena para todas aquelas pessoas.

Bebemos, brincamos, nos divertimos mas no final do dia tudo acabou. Meu irmão entrou no seu carro e foi embora me deixando mais uma vez solitário.

- Seu irmão se tornou um homem incrível – escutei a voz do meu pai.

- Pra mim ele ainda é um nerd sem noção – falei rindo.

Meu pai parou e ficamos vendo o carro do meu irmão indo embora pela estrada, seu silêncio me assustava e por isso eu comecei a falar:

- Pai eu... – tentei pensar em alguma coisa para falar.

- Você também será um grande homem também filho – ele disse me cortando - e eu sentirei orgulho por cada conquista sua, está bem?

Como resposta eu passei meu braço através do seu ombro e terminamos de ver o carro do meu irmão desaparecer da nossa visão.

- Agora vamos jantar – ele disse – vai se arrumar que estamos indo em 10 minutos.

- Aonde ? – Eu perguntei.

- Bem, eu ouvi dizer que tem um pesque-pague bem gostoso por aquiBoa noite, posso ajudar?

E essa foram as primeiras palavras que eu ouvi da boca dele.

Sentado atrás de um balcão, um garoto nos atendeu. Ele era lindo, mas tipo, muito lindo mesmo. Seu rosto era meio misterioso, seus olhos verdes pareciam querer esconder alguma coisa, um sorriso meio cansado era dado a todos os clientes que ele atendia. Fiquei o observando e perdido nos meus pensamentos acabei esquecendo de dar uma resposta.

- Oi? – eu disse meio perdido.

- É... – ele me encarou, provavelmente me julgando – posso ajudar?

- Eu queria – nesse momento eu já nem me lembrava do que eu queria – humm... me vê mais uma latinha de coca-cola.

- Não temos coca-cola – ele respondeu secamente.

- Ah sim, obrigado – eu sai de lá e procurei o primeiro buraco para enfiar a minha cara e se esconder.

Quando eu me virei, escutei as risadas atrás de mim.

- Cara, a coca-cola está aqui na sua frente – o rapaz falou se divertindo – tem certeza que você está bem?

“Aquilo não ia ficar barato”, pensei rindo. “Eu estudei na escola de Cesar Neto, o maior trollador do universo, no mínimo eu aprendi algumas coisas”

- Porra cara, sabe o que seria mais engraçado – eu falei – se eu contasse para o seu chefe as gracinhas que você anda fazendo com os clientes.

O sorriso dele morreu e o meu começou a nascer. Ele me olhava arrependido com aquelas duas pelotas verdes, muito lindo. Quando a sua boca começou a se abrir para pedir desculpas eu dei o troco.

- Cara, tô brincando – eu ri – Você precisava ver a sua cara!!

- Pois saiba que isso vai ter volta – ele disse meio envergonho ainda – mas mesmo assim desculpa.

- Foi nada não – eu falei pegando a latinha de coca – até mais cara.

Sentei na mesa junto com minha família. O lugar era bem simples, tinha umas cadeiras espalhadas por um gramado e o calor me fazia suar mesmo já sendo umas 9 horas da noite. Tudo isso valia a pena pois a paisagem era magnífica, cheia de árvores, rios e um céu estrelado.

A porção de peixe chegou e para minha surpresa o rapaz dos olhos verdes é que veio nos servir. Em ´pé eu pude observar mais o seu corpo e assim a sua beleza triplicava. Ele era magro mas não mostrava nenhum sinal de ser fraco, aliás, o seus músculo exprimia a fina camisa branca com que ele trabalhava. Ele era um pouco mais alto do que eu, talvez só alguns centímetros, seu cabelo era castanho um pouco mais claro e bem mais comprido. Ele percebeu que eu não tirava os olhos dele e, não sei se foi impressão minha, ele ficou me observando também.

- Lugar lindo esse aqui não? – Meu pai disse puxando assunto com o garoto.

- Sim – ele respondeu – Felizmente o dono dessas terras resolveu preservar a pequena mata que tinha por aqui.

- Tem alguma cachoeira por aqui perto – minha mãe perguntou. Ela estava morrendo de vontade de ver uma cachoeira pois ela jurava que nunca tinha ido em uma. Também não me lembrava de ter conhecido alguma.

- Tem sim – ele disse - a mais perto fica a uns 3 quilômetros de caminhada daqui.

- E aí amor, o que acha? –minha mãe falou – Amanhã é o nosso último dia aqui, vamos lá conhecer a cachoeira?

- Se seu irmão souber chegar até lá – meu pai disse pois ele também não conhecia nada.

- Meu irmão não sabe de nada – minha mãe estava desapontada. Ela olhou para o garoto, pensou um pouco e voltou a falar – Você conhece certinho aonde fica?

- Sim – ele respondeu timidamente.

- Você poderia nos levar até lá amanhã? – minha mãe perguntou esperançosa – a gente paga e tudo mais, estamos precisando de um guia.

- Que isso, não precisa pagar nada não – ele disse e mais uma vez eu senti seus olhos sobre mim – Pode deixar que eu levo vocês até lá.

- Ótimo – minha mãe disse animada – amanhã a gente vai logo cedo então, como é o seu nome mesmo?

- Eu me chamo Otávio – ele respondeu – é só me procurarem por aqui que eu estarei esperando logo pela manhã.

E eu também fiquei esperando a noite inteira, ansioso pela chegada da manhã.

...

A cachoeira é uma das coisas mais linda que tinha por lá. Pelo menos foi o que minha mãe disse já que eu não fui.

Encontramos Otávio logo pela manhã mas para minha decepção ele estava acompanhado por um outro garoto mais velho do que ele.

- Pessoal – ele disse para minha família – Eu não vou poder acompanhar vocês mas eu pedi para meu amigo e ele está mega disposto a mostrar para vocês o caminho e tudo mais.

Meus tios e meus pais não pareceram se importar com a notícia mas eu me importava. Ver Otávio abaixar ir embora de cabeça baixa foi de partir o coração. Ele pareci mesmo chateado por não poder ir, pensei em ir atrás dele para perguntar pelo menos o motivo mas então eu me lembrei que eu mal o conhecia.

Mudei de ideia quando ele virou para trás e ficou me observando. Naquele momento eu desisti de ir para qualquer cachoeira do mundo para ir lá e conversar com ele. Inventei qualquer desculpa para meus pais e fui correndo para procura-lo. Tentei segui-lo mas ele já tinha desaparecido, voltei para trás e fiquei procurando por uma meia-hora. Voltei para o pesque-pague e sentei em uma das cadeiras, em nenhum momento eu pensei em desistir mas mesmo assim já estava morrendo de sede.

Pedi informação para uma outra atendente e ela não me deu nenhuma informação. Desanimado, me dei por vencido e voltei andando até a chácara .Minhas coisas ainda estavam uma bagunça e íamos embora depois do almoço. Comecei a arruma-las e encontrei no meio de umas camisetas o colar que o Cesar tinha me dado. “Isso é para te proteger e te dar forças... e para você lembrar que tem um bom amigo para quando precisar...” me recordei das suas palavras e uma tristeza bateu em meu peito. “Talvez eu jamais encontre alguém para substituir o Cesar mesmo”, pensei vestindo o colar.

As palmas na frente da casa me assustaram. Com um pouco de receio eu fui até a janela e para a minha alegria eu reconheci Otávio em cima de uma bicicletinha batendo palma na frente de casa. Dei uma arrumada no cabelo, sem saber o porque, e fui atende-lo.

- Opa, e aí ? – eu falei abrindo a porta da casa.

- A Denise disse que tinha um garoto me procurando hoje cedo, sabe quem era? – ele perguntou já sabendo a resposta.

- Não faço a mínima ideia – menti na cara dura.

- Eu tenho um palpite – Otávio ergueu as sobrancelhas deixando claro que sabia que era eu – Tá afim de dar uma volta?

Não me fiz de difícil e fui rápido. A qualquer momento minha família já estaria de volta, e depois disso era ir para casa e nunca mais ver o Otávio na vida.

- Então – ele disse enquanto caminhávamos por uma trilha – o que você precisava falar comigo?

Dessa vez eu não menti:

- Eu estranhei você não ter ido com a gente, então fui te procurar para pelo menos ganhar uma explicação.

Seus olhos procuraram o meu e ele parou de andar.

- Você tem certeza que quer uma explicação? – ele perguntou.

Fiz que sim com a cabeça e ele voltou a falar:

- Bem, meu patrão acabou de vender sua fazenda para abrir um negócio na cidade. Eu vou me mudar com ele para ajuda-lo na loja, ele vai me paga mais do que eu ganhava com ele e no pesqueiro junto. Ele deve estar me procurando nesse exato momento para irmos.

Ele se explicou mas eu ainda fiquei boiando.

- Mas calma aí – eu disse – quantos anos você tem?

- 17 – ele respondeu rindo – meu patrão ficou com a minha guarda depois que meus pais... bem, depois dos meus pais terem me expulsado de casa.

Fiquei imaginado que tipo de pais teriam mandado aquele garoto lindo embora de casa.

- Porque ? – eu perguntei percebendo que eu já estava fazendo perguntas demais.

- Eu sou homossexual e eles não ficaram muito contente quando descobriram...

Eu tentei processar mas era muita informação para um momento só. Olhei para ele e sem pensar eu disse:

- Cara, mil desculpas eu não queria...

- Relaxa – ele disse – está tudo bem. Foi meio difícil no começo mas eu já estou melhor.

Não, ele não estava. O jeito com que ele falou dos pais, eu pude sentir a tristeza do abandono em sua voz. Seus olhos perderam o brilho no mesmo instante, fiquei completamente sem reação .”O que eu devo fazer?” me perguntei pensando o quanto eu era sortudo por ter pais que me entendem, por ter amigos que me apoiam e por ter...

“O COLAR!!!”, pareceu ridículo mas aquela linda pedra azul e seu cordãozinho podiam ter realmente me dado forças como o Cesar tinha dito e as palavras dele voltaram a minha mente: “Isso é para te proteger e te dar forças.”

Arranquei o colar do meu pescoço e mostrei para Otávio.

- Isso aqui me ajudou muito, dizem que é um colar da sorte que da algum tipo de força ou sei lá o que. Quando eu me assumi para os meus pais me ajudou um pouco.

Ele olhou para o colar atônito.

- Eu... você?... gay?... – ele estava tentando entender alguma coisa mas não conseguia chegar em nenhuma conclusão.

Fiz questão de colocar o colar nele, e quando eu terminei de por, pude ver seus olhos cheios de lágrimas.

- Cara o que houve? – eu perguntei tentando entender o que estava se passando.

Como resposta ele me beijou. Eu retribui, me deixando levar pelo sabor doce daquela boca. Ele beijava devagar, e calmamente, seu beijo não me deixava excitado, mas me transmitia paixão. A sensação de encontrar o amor da minha vida, a pessoa ideal, a perfeição... parecia ilusório demais mas era real. Eu senti por aquele beijo que eu tinha achado o verdadeiro significado da palavra amor.

- Porque você está chorando? – eu perguntei após os beijos terem cessado.

- Porque eu acho que encontrei o amor da minha vida.

Como resposta eu o beijei novamente. Depois disso voltamos para a casa, sem saber o que o futuro nos esperava, sem realmente se importar com isso, só aproveitando o começo de uma nova história de amor.

E de mãos dadas estávamos dispostos a ir juntos até o fimVocê quer casar comigo? – Otávio disse com os olhos cheios de lágrima.

Um ano passou voando. Tudo foi rápido de mais. Meu namoro com Otávio tinha sido incrível mas...

O baile estava muito animado lá na quadra. Não era para menos, com Cesar na organização, pela primeira vez aquela escola teria uma festa digna. Eu não estava na quadra me divertindo como os outros. Eu estava no corredor da minha sala de aula tendo que tomar uma difícil decisão.

- Tatá eu... – eu não queria, mas não conseguia expressar isso em palavras.

- Por favor, você é... você é muito especial para mim – Otávio disse ainda ajoelhado – esquece tudo isso que aconteceu e vamos ser felizes para sempre.

Eu não tinha coragem. Meu amor por ele ainda era muito forte mas o medo das incertezas, o medo do que iria vir depois, isso sim era muito mais forte.

- Eu não – “seja forte Rodrigo” – Eu não consigo, sinto muito.

Otávio se levantou, virou as costas e partiu.

Assim os felizes para sempre tinha acabado.

Uma única briga, um único desentendimento, um único objeto para destruir meu coração e desfazer a magia do "amor encantado" que tinha sido meu namoro com Otávio...

Fui para o lugar aonde tudo tinha começado, não sei o porque, não sei pra quê, não sabia de absolutamente mais nada. Só precisava de um lugar para pensar. O ponto de ônibus tinha o sido a minha primeira opção.

Mais um ano bom que tinha acabado em tristeza. Meu namoro com Otávio tinha durado 11 meses, 11 perfeitos e incríveis meses. Mas tudo acabou em menos de uma semana. O motivo não vem ao caso, o amor desapareceu pois ele tinha sido construído de forma completamente errada. Eu ainda o amava, mas não era um amor tão forte a ponto de aceitar uma proposta de casamento.

Eu não chorava mais. Aprendi com Otávio a ser forte, tivemos que ser na realidade. Me senti orgulhoso por ser o primeiro casal gay da escola, mas isso nos trouxe grandes encrencas e dores de cabeça.

- Você demorou – eu disse quando Cesar chegou no ponto de ônibus.

Eu tinha certeza que ele viria atrás de mim.

- Eu já cansei de te explicar que nesse horário não passa ônibus – ele me disse rindo - Sempre soube que eu era um ótimo professor.

- E eu, um péssimo aluno – respondi sorrindo.

- “Você é péssimo em várias coisas também” – Cesar falou imitando a minha voz.

- “Também sou um péssimo namorado?” – dessa vez quem o imitou fui eu.

Rimos que nem duas crianças. Fazia exatamente um ano que tínhamos terminado e recordar de tudo aquilo era estranhamente engraçado.

- Eu me lembro – Cesar falou sério agora – de você me perguntando onde estaríamos depois de um ano e olha para gente agora cara.

Ele apontou para nós dois. Eu tive que rir novamente, rir daquilo considerado um puta problema. Cesar tinha me ensinado uma bela lição.

- Parece que tudo na minha vida sempre acaba voltando para você – eu disse.

- E isso é algo bom? – ele me perguntou.

- É estranho... mas de certa forma é bom.

- Você ainda me ama? – ele me perguntou como se estivesse perguntando que horas eram.

“Sim”, foi a primeira resposta que veio na minha cabeça. “Sempre te amei, o amor que eu tive pelo Otávio tinha nascido por causa de você, foi você que me deu aquele maldito colar, foi você que me ensinou a ser o que eu sou hoje, tudo na minha vida se resume a você, então sim... eu ainda te amo e vou sempre te amar” .

Ao invés de dizer tudo aquilo eu fiquei em silêncio.

- Vamos voltar ao baile? A festa ainda tem muito para bombar – Cesar disse, esquecendo completamente da sua última pergunta.

- Não – essa eu tive coragem de responder – é melhor eu ir para casa.

Não podia me entregar ao amor do Cesar, não mais. Ele agora tinha uma meta na sua vida, um caminho a ser seguido, planos a serem cumpridos... e eu não fazia parte disso. Por esse motivo eu não iria me entregar a ele de novo. Por esse motivo e por medo também.

O beijo do Cesar veio rápido e certeiro em minha boca. Tentei resistir mas o seu cheiro, a sua pegada, tudo era mais forte do que eu. Seu beijo me excitava e me fazia se arrepiar da cabeça aos pés. Era uma sensação tão boa, tão familiar, tão maravilhosa... mas por outro lado eu também tinha sensação que era errado.

- Escuta – ele disse ainda com a testa colada na minha e nossas bocas a pouco centímetros de se juntarem novamente, seus olhos estavam fechados e as mãos seguravam a minha repousando ele em seu peito, sentir a batida do seu coração me destruiu por inteiro – Uma parte de mim é você Rodrigo. Você sempre estará aqui comigo, não importa aonde eu for, o que estiver fazendo, com quem eu estiver fazendo. Você sempre estará em mim até o fim dos meus dias.

Sua boca selou suas palavras com mais um beijo.

Ele se levantou e foi embora. Me levantei também e fiquei vendo-o partir. Queria que ele voltasse para dizer que eu também tinha uma parte dele que nunca sairia de mim, mas eu não tive coragem. “Se ao menos ele olhasse para trás para ver que eu ainda estaria o esperando”, pensei.

Cesar seguiu o rumo e continuava a andar.

“Olhe para trás”, meu coração dizia, mas minha boca permanecia calada.

“Volta para mim”, “Diga que me ama”, “Ou pelo menos olhe para trás”.

Cesar dobrou a primeira rua a esquerda e desapareceu, para sempre, sem olhar para trás.

Eu me sentei novamente no banco do ponto de ônibus e jurei que iria ser forte, mas isso não foi possível.

Abaixei a cabeça e comecei a chorar.

...

E essa é minha história de amor.

Eu poderia ter terminado essa história fingindo que tudo acabou bem, que tudo teve um “final feliz”, mas eu fui aprender no final daquele ano que a vida não é um conto de fadas.

Como diria Camões e o seu poema que eu acabara de escutar na última aula de português “Que seja mortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”, não me lembro se realmente era isso, pois eu estava com sono quando a professora o declamava para a sala mas ele é o que mais representa a minha relação com Cesar e Otávio.

Foi infinito enquanto durou, mas eu acredito que tudo tenha o seu fim, e esse fim foi completamente culpa minha. Eu tive medo. Não medo do que os outros iriam pensar, medo do que poderia acontecer. Meu medo era de mim mesmo, medo do que as minhas atitudes poderiam causar nas pessoas que eu tanto amava. Complicado? Sim, mas talvez vocês entendam, talvez... eu disse que minha vida era cheia de “talvezes”

Otávio voltou para sua cidade junto dos pais que agora entendia a sua opção sexual. Cesar foi embora fazer faculdade e tocar a sua vida alegre e feliz. E eu continuo aqui na escola, no meu auge dos 17 anos, sem amigos de verdade, sem o amor de verdade, sozinho por causa desse medo bobo que me corrói por dentro. Abandonei todos os meus amigos por conta desse medo, abandonei Cesar, abandonei Otávio e hoje eu sofro com essa dor. Talvez um dia cure, mas vai curar pelo esquecimento e eu jamais vou esquecer o meu namoro com o bobalhão do Cesar, ou com o misterioso Otávio e então o que me resta é seguir em frente com essa dor pois, como um grande gênio um dia me disse, “Ligue o foda-se e vá ser feliz”

Pois é, talvez ele tivesse razão.

Minha intenção não era a de estragar o “Felizes para sempre” mas sim a de deixar a mensagem para quem quer que esteja lendo isso.

Não deixe que o medo te impeça de agir.

Não faça o que eu fizContinua...

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