CORAÇÃO DE VIDRO - 19 (Penúltimo Capítulo

Um conto erótico de Homero
Categoria: Homossexual
Contém 3765 palavras
Data: 25/03/2015 11:35:23
Última revisão: 30/03/2015 00:43:54
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

Talvez ninguém esteja destinado a ser feliz, no final das contas. Talvez todos nós iremos, um dia,olhar pra trás e ver que os momentos que se passaram eram aqueles momentos que deveriam ser eternizados... aqueles simples momentos que você não faz ideia do por que está feliz... simplesmente está!

Uma caminhada na chuva. Um por do sol. Uma brisa de verão acompanhada de um arco-íris no céu... um simples olhar ou sorriso.

Pensamentos assim explodiam na minha cabeça.

Daniel acreditava que Deus estava em tudo... que éramos Deus, em uma forma imperfeita, pois fazíamos mal a nós mesmos e aos outros. Eu ouvia fascinado ele comentar comigo sua percepção de Deus.

Mas me sentia arder nos fogos da raiva naqueles instantes.

Se existe um Deus, por que há tanta crueldade no mundo? Se a benção é divina, a maldição também é! Deus e o Diabo... se Deus odeia o pecado e o Diabo pune os pecadores, então eles são aliados!

A bíblia por exemplo...

Um livro que teve inspiração divina, mas há tantas porcarias que mal me atrevo a lembrar! Fala-se em dar a filha pra estupro, bater em criados até a morte, a submissão absoluta da mulher e milhões de outras bobagens. Paulo, em seu livro na bíblia, diz que Deus abomina homossexuais... mas não diz nada sobre lésbicas, muito menos sobre assassinos e pedófilos. Uma raiva de Deus brotou do fundo da minha alma.

Ele não deveria amar todos incondicionalmente? Então não deveria apontar o dedo na cara de um homossexual e dizer que isso é pecado! O que há de errado em amar outro homem?! É errado porque a bíblia diz que é? Isso não é motivo o suficiente pra mim!

Nojo de religião! Nojo desse mundo idiota! Nojo de Deus! Deus era o culpado! Deus! E só Deus!

Ele sabia desde o começo tudo que a humanidade se tornaria! Ele não é uniciente? Ele sabe de tudo! Sabia que haveria homossexualismo, matanças, crueldade... mas ele também é um pouco assim... não fomos criados a Sua imagem, de acordo com a religião?

Nunca fui ateu... sempre acreditei em um Deus soberano. Alguém que, algum dia, iria chegar em esplendor e louvor pra salvar seu povo.

Mas aonde estava Deus, quando eu clamava por ele?

Aonde estava Deus quando Daniel chamou por ele?!

Daniel, com certeza, já deveria ter implorado a intervenção de Deus milhões de vezes. Seja levando um tapa do pai ou sendo sadomisado por ele nas mais diversas atrocidades.

Aonde estava esse Deus que tiraria a vida daquele guri inocente antes mesmo dele saber o que é ser realmente feliz?

Aonde estava esse Deus que assistia um pobre guri sofrer do começo da sua vida até o final dela, sem fazer absolutamente nada?

Eu não sabia! Eu gritava por Deus, no banheiro daquele hospital. Chorava e gemia por uma dor interna que havia se alastrado pelo meu corpo. Como se uma faca tivesse sido cravada no meu peito e tivesse sido levantada até criar um corte horrendo e profundo do peito até o ombro.

Foi chorando baixinho que Fernando me encontrou. Não quis olhar pra ele. Não quis nem ver a preocupação, o pesar e a vontade de chorar estampada no rosto dele.

-Ele precisa de você. -foi a única coisa que Fernando disse. Havia uma entonação chorosa em sua frase. Uma frase que fez todo meu choro e meu sofrimento sumirem.

Eu sofria internamente, mas o Dani deveria estar sofrendo mais que eu! Eu precisava acalentá-lo! Estar do lado dele.

Levantei devagar do chão e passei uma água no rosto e na boca pra retirar o gosto do meu vômito. Queria ter uma escova de dentes... queria estar no lugar do Dani... morrer por ele e deixá-lo viver. Eu seria capaz disso... seria capaz de tudo por ele.

Não disse uma palavra a Fernando e saí do banheiro indo diretamente ao médico com a prancheta. Perguntei a ele o quarto do Daniel e, quando informado, fui diretamente para lá. O homem disse que tínhamos meia hora antes de recomeçarem os exames.

Adentrei o quarto devagar e reparei que era um quarto muito bom.

Cama, televisão, estante de livros, ar-condicionado... muito aconchegante.

Mordi o lábio inferior para conter o choro ao ver o Dani deitado naquela cama. Dormindo profundamente. Quis soltar um grito. Não pudia ser real tudo isso que estava acontecendo.

Eu queria tanto correr até ele e amá-lo para sempre. Eternizar nossos corpos juntos para que, se a morte tivesse que levá-lo, que levasse-nos... juntos!

Sua face estava tão tranquila e serena que tive medo dele estar morto, mas via seu peito subindo e descendo. Estava respirando calmamente.

Cabelo revoltado e as mãos a frente do corpo, coberto por um lençol. Ele ainda trajava a minha cueca.

Estava tão lindo e sereno. Nem parecia estar... estar...

Soltei um grunhido!

Não! Ele não estava morrendo! Ele não estava!

Observei assustado ele abrir levemente os olhos e encarar minha face, impassível. Ele soltou um bocejo pequeno.

-Oi. -sua voz estava rouca. Seus olhos viajavam para todos os lados, a procura de alguma coisa.

-Você sabia disso tudo. -acusei, baixinho.

Não reconheci tanto autocontrole. Eu deveria estar chorando de tristeza ou de raiva. Mas queria explicações! E ele sabia me dar essas explicações!

-Do tumor? Sabia, sim. -seu olhar não vacilou.

Senti um tapa de mão fechada ir contra meu rosto.

-Por que não me contou?

-Não iria fazer diferença.

-Mentira!

-Não iria fazer diferença.

-Você sabia o tempo todo!

-Homero, você não sabe...

-VOCÊ SABIA O TEMPO TODO, DANIEL! -explodi em gritos. -VOCÊ SABIA! -queria quebrar alguma coisa ou extravazar minha dor socando algo pra sentir mais dor.

Praguejei alto e chutei uma mesa próxima de mim. Ela se espedaçou, mas não diminuiu minha raiva e tristeza.

O Daniel assistia tudo com a calma e a paz de um monge. Suas feições eram tranquilas e serenas, mas havia um pouco de tristeza em seu olhar.

-Eu pensei em me matar antes disso. -não acreditei ao ouvir isso da boca dele. -Pensei em beber como meu pai, desenhar um pouco tendo inspiração do meu "eu bêbado" e depois morrer como grandes artistas morreram... cometendo suicídio. Seria a coisa mais poética e libertadora que eu sonharia fazer... libertar-me das garras do montro sacrificando a única coisa que eu tinha. -ele balançou a cabeça. -Minha própria vida.

Um sorriso se abriu na sua face e perdi o ar ao ver que era um sorriso verdadeiro. Um genuíno sorriso bem humorado.

-Tive a primeira crise faz oito meses. -ele comentou, se ajeitando na cama. -Diagnosticaram o tumor já em fase terminal e foi escolha minha não fazer o tratamento. Meu pai nem sabe disso, também não era da sua importância.

Precisei sentar em uma cadeira, para oxigenar meu cérebro. Era muita coisa pra processar em um dia só.

-Os médicos esperaram que eu retornasse para o tratamento, mas nunca retornei. Jamais quis essa vida. Foi tão reconfortante ver uma luz no final do túnel.

Seu sorriso só se alargou.

-Achei que minha luz no final do túnel seria a minha morte, mas ela foi você, senhor Lopes. Você que apareceu para me dar, pelo menos, alguns dias de paz... foi Deus que me deu o senhor.

-NÃO FALE DE DEUS PRA MIM, DANIEL! -gritei.

Minhas lágrimas haviam secado. Eu só sentia raiva... raiva de tudo e Deus era o primeiro alvo da minha hostilidade.

Daniel apenas estreitou os olhos. Fui e apontei o dedo na sua cara. Minha mão tremia.

-Deus ferreu tudo! Ele fez isso tudo! É culpa Dele!

-E por que seria culpa Dele?

-Ora essa, Daniel! Você crê que Ele é dono do universo? Foi Ele que fez as coisas ruins! Ele que tê deu a sua vida assim e ele quem dará o desfecho final! -minha voz estava ficando mais rouca, pela quantidade de gritos.

-Ele sabe o que é melhor pra mim. -a voz do Dani estava inabalável. Calma.

-O MELHOR PRA VOCÊ SERIA FICAR DO MEU LADO!

Uma ardência se apoderou dos meus olhos.

-Eu sei que não é justo. -o Dani segurou minha mão trêmula, delicademente. Mordi o lábio inferior pra conter o gemido pelo prazer daquele toque.

Seus lábios tocaram as costas da minha mão e ele novamente a segurou.

-Os romances mais bonitos e verdadeiros da história são iguais ao nosso... alguém tem que partir. -desviei o olhar do dele. Eu não iria chorar! Não iria chorar! Chega de chorar!

-Isso não me conforta em nada! -tentei entonar minha voz para uma irritação aguda, mas ela saiu apenas mais rouca pelo choro.

-Promete pra mim que não vai chorar?

-E quem tá chorando?! -uma lágrima teimosa escapou antes de eu contê-la.

-Você. -ele sorriu com amor e eu me desarmei todo.

Balancei a cabeça, negando, e depois me deitei do lado dele bem devagar.

Não nos tocamos. Ficamos deitados, lado a lado, sem falar uma palavra por alguns instantes. Então virei meu corpo de lado e o abracei, deixando minhas lágrimas cairem silenciosas.

-Estou com tanto medo. -revelei, baixinho.

-Eu também.

Fechei os olhos.

-Dani, eu amo tanto você. Eu daria minha vida pra manter a sua. -beijei seu pescoço e ele se virou pra me encarar. Ele me olhava com o mesmo amor que eu o olhava.

-Eu amo você mais do que você pode imaginar, senhor Lopes.

Senti seus doces lábios envolverem os meus. Fui tomado por uma urgência do seu corpo arrebatadora. Beijei seus lábios com fúria e o segurei possessivamente... talvez, assim, nem a morte o tiraria de mim! Teria que passar por mim primeiro.

O nosso beijo selvagem acalmou-se em um beijo doce e terminou em selinhos.

Minha cabeça repousava no pescoço dele e eu aspirava todo o seu cheiro, que era viciante.

-Se Deus existe... ele poderia te deixar comigo. -disse, depois do silêncio.

Dani sorriu.

-Deus fará o que é melhor. Nós entendendo a Sua vontade ou não.

Ele me abraçou forte.

-Deus sempre parece muito mais cruel do que bondoso, sabe? Porque nós lembramos muito de praguejar contra Deus quando algo dá errado, mas é difícil lembrarmos dele e agradecer quando algo dá certo.

Bufei contrariado.

-A questão é que você não vai me deixar tão fácil!

-Eu sei que não! -ele riu, baixinho. -Você acha que vou deixar meu macho dando sopa por aí? Nem em morte! -ele riu.

Quis ficar extremamente irritado com essa piadinha infame dele, mas não consegui me controlar. Soltei uma gargalhada tão espontânea que, quando acabou, estávamos nós dois rindo.

Ouvimos duas batidas na porta e depois Fernando colocou a cabeça dentro do quarto.

-Oi. -sua voz estava envergonhada. -Posso entrar?

O Dani olhou pra mim, confuso. Ele ainda não conhecia o Fernando.

-Pode, sim. -Falei, beijando a mão do Dani para tranquilizá-lo.

Fernando entrou no quarto, completamente deslocado, e se colocou em uma distância considerável do Dani. Achei essa cena cômica.

-Oi, Daniel. Sou Fernando! É um prazer te conhecer. -sua voz estava polida, profissional.

O Dani olhou pro Fernando, depois olhou pra mim e então soltou uma risada.

-Você é o cara que iria me comer enquanto meu namorado assistia, não é? -pra qualquer um que ouvisse, haveria deboche na voz, irritação. Mas eu o conhecia, por isso gargalhei ao ouvir o tom bem humorado de diversão.

Já Fernando ficou de um vermelho tão intenso que achei que ele iria fugir correndo.

-Dani... Daniel, espero que você não tenha me entendido mal. Isso foi a muito tempo... sabe? Faz... eu nem sabia... -ele gaguejava.

Dani sorriu.

-Relaxa. Tô brincando. -riu, baixinho. -É um prazer te conhecer também.

Virou-se pra mim.

-Seus amigos são todos gostosos como você? -ele brincou.

Não consegui segurar outra risadinha.

Ele fez isso pra deixar Fernando mais à vontade e vi pela expressão brincalhona que se espalhou pelo rosto dele que o Dani foi bem sucedido.

-A grande maioria! Só ando com gente bonita! -eu tinha um sorriso tão grande na cara que era engraçado. O mesmo sorriso que estava estampado na cara de todos.

Ficamos conversando animadamente nós três até os médicos recomeçarem os exames. Fernando interagiu muito bem com o Dani e os dois se tornaram amigos em poucos minutos. Não houve nenhum desconforto de ninguém.

Não tocamos no assunto do tumor, apenas assuntos mais leves... como o sexo exibicionista que eu planejava que os dois fizessem.

Demos muitas risadas desse assunto e eu notava olhares muito sugestivos de Fernando na direção do Dani. Isso me deixou enciumado. Tratava de beijá-lo de vez em quando confirmando a ele meu território! Ele sorria constrangido e acentia, com um olhar culpado.

Fiquei completamente feliz de não ter rolado nada entre os dois. Talvez eu tivesse um ataque de ciúme... não seria nada bonito.

Fernando e eu não arredamos mais os pés daquele quarto. Os médicos fizeram todos os exames e diagnósticos conosco lá. Ajudei o Dani em tudo que ele quisesse. Fernando comprou doces e comemos escondidos. Mexemos na internet e demos boas risadas aquela tarde.

Mas...

Antes de anoitecer vimos um homem entrar pela porta do quarto com mais outros homens. Eram muitos. Consegui contar dez homens, com idades meio diferentes. Alguns mais jovens, alguns mais velhos. Havia poucas mulheres. Três ou quatro.

Mas eu tinha impressão que já os conhecia. Fiquei em sinal de alerta quando eles começaram a entrar no quarto e se aproximaram do Dani. Eu e Fernando nos colocamos entre o Dani e eles.

-Quem são vocês? -questionei, olhando a todos. -O que querem?

-Viemos ver meu sobrinho. -um homem com mais de quarenta anos respondeu objetivamente... o tio do Daniel!

Agora eu já sabia de onde os conhecia! Nunca os tinha visto! Mas conhecia alguns traços parecidos com o Dani.

Virei para encarar o Daniel na cama e ele se mostrava surpreso por aquela visita. Nada mais que isso.

-Meu filho... -ouvimos uma voz ecoar pelo quarto e um homem enfaixado entrar no quarto.

Minha pulsação acelerou e uma raiva adormecida subiu lentamente pela minha cabeça.

Aquele homem caminhava lentamente. O pai do Daniel estava destruído. Mais do que o habitual.

Olheiras horríveis cobriam a parte debaixo dos seus olhos, parecia mais velho com sua face vermelha. Ele estava de muletas e a perna engeçada.

Sorri diabolicamente ao lembrar que eu fiz isso a ele.

Quando ele me viu, sua expressão ganhou um "quê" a mais de medo. Isso só me fez querer mais bater nele.

-Será que não fui claro o bastante, seu monstro?! Você não deveria nem tentar se aproximar do Daniel! -eu já estava me avançando na direção dele, mas Fernando me parou.

-Você não pode me impedir de ver meu filho! -seu tom de voz era medo, mas muito mais tristeza. Isso me fez franzir o cenho.

-Ele está comigo agora! Você não irá machucá-lo de novo! -encarei os tios dele e alguns primos, pela pouca idade. -Nenhum de vocês vai!

Apontei o dedo para a porta.

-Vão embora!

Vi o Daniel se aproximar dos seus familiares a passos lentos. Ele vestia uma camiseta minha e uma cueca, apenas. Nem notei-o sair da cama. Toquei no seu braço e ele virou para me encarar.

-Está tudo bem. Eu resolvo isso.

Soltei seu braço e continuou caminhando firme. Fiquei perto caso ele precisasse.

Daniel parou perto dos seus familiares e apontou para o corredor.

-Fora. -sua voz estava neutra e seu olhar também. -Quero vocês fora daqui.

Um protesto baixo começou, mas todos pararam para ouvir o que o pai do Daniel disse.

-Somos sua família!

-Eu não tenho família.

-Ora essa, Daniel!

-Eu quero vocês fora.

-Viemos todos pra te ver! Estávamos preocupados!

-Preocupados? Vá embora.

-Daniel, eu...

-Você nem humano é. Você é um monstro.

Recebi uma choque quando ouvi um soluço sair daquele homem. E outro soluço veio, acompanhado de um choro convulsivo. Ninguém ousou respirar.

Ele se ajoelhou aos pés do Dani e abraços suas pernas. Seu corpo tremia e ele chegava se engasgar com os próprios soluços.

-Me perdoe. Me perdoe, por favor. -ele ficou repetindo essas palavras por incontáveis minutos. Ninguém fez absolutamente nada.

O Daniel nem se mexeu. Encarava a face do seu pai como se fosse uma realidade muito distante da sua.

A cena seria cômica se não fosse tão trágica.

De repente o pai do Daniel ergueu-se, escalando-se nele, e o abraçou, afundando sua face no pescoço dele. Nesse momento uma raiva e um ciúme se apoderou de mim. Quem ele pensava que era pra abraçar o Daniel!? Eu iria matá-lo!

Fernando deveria ter notado minhas intenções, pois me puxou com força para longe deles. Me remexi, tentando chegar até o velho! Iria esganá-lo!

-Por favor, meu filho. Por favor. -o homem soluçou. -Eu amo tanto você! Só não... só não... me perdoe!

O Daniel o afastou delicadamente e mais ouvi do que realmente vi o tapa certeiro e forte que atengiu a face do seu pai. O som do chicote foi ouvido e ele perdeu o equilibriu caindo espatifado no chão.

Ninguém se mexeu.

-Fique longe de mim, Pedro. -ele falava diretamente com seu pai. -Se me tocar novamente, em qualquer hipótese, eu mesmo mato você.

E se virou, voltando para cama.

...

Depois dos familiares do Dani terem arrastado Pedro pra fora do quarto, ele continuou agindo normalmente como se nada tivesse acontecido. E assim agimos todos. Ninguém tocou no assunto, tão pouco ficou um clima desconfortável.

Os dias no hospital passaram rápido.

O Dani se mostrava cada vez mais disposto e mais forte... isso me deixava esperançoso. Mas o tumor em seu cérebro não diminuia. A tendência era sempre aumentar.

Fernando ia, pela manhã, trabalhar e voltava, ao final da tarde, para fazer companhia a nós dois. Eu, como era o chefe, tinha certas regalias. Podia ficar vinte e quatro horas com o Dani, sem deixá-lo sozinho. Não deixei aquele quarto por mais de cinco minutos. Eu estava sempre por perto.

Tomava banho ali, dormia na mesma cama que ele e passávamos o tempo conversando e nos amando. Claro, não fizemos sexo porque eu nos parei milhões de vezes durante os beijos mais quentes.

O Dani era um tarado. Ficava apalpando meu pau duro por baixo do cobertor. Eu tinha que me controlar pra não fodê-lo ali mesmo, com o perigo de seremos pegos pelo médico. Não seria muito agradável.

O tempo que passamos sozinhos eram os melhores momentos. Ficávamos olhando um para o outro, às vezes, sem dizer nada por vários minutos. Por nossos olhares eu sabia que demontrávamos nosso amor.

Um amor que talvez excedesse nossas vidas mortais. Pensar nisso me enchia de tristeza e esperança ao mesmo tempo. Se eu não pudesse tê-lo comigo fisicamente, que fosse em outra vida, então.

No quarto dia, deitados na cama, fiquei ali grudado ao Dani enquato a enfermeira fazia o exames e nos passava o resultado. Sinais bons, sem diminuição do tumor... isso não abalava o Dani. Ele sorria e agradecia a enfermeira. Os funcionários o amavam!

-Sabe do que eu estou com saudade? -ele questionou a mim, depois que estávamos sozinhos.

-Do quê? De sexo?

Ele riu.

-Também. Mas estou com saudade de desenhar. Pintar.

Franzi a testa enquanto me aconchegava mais perto dele. Já era uma e meia da tarde, passada.

-Vou na nossa casa buscar as coisas.

-Sua casa!

-Nossa casa!

Ele sorriu.

-Eu amo você.

-Eu amo você!

Depois de muita relutância em deixá-lo sozinho, fui até a nossa casa buscar os materiais. Eu me penitenciei por não ter buscado as coisas antes. Não podia pedir pro Fernando buscar porque ele estava no trabalho.

Peguei um táxi e quando cheguei pedi pra ele esperar.

A casa estava do mesmo jeito que deixamos. Claro, a empregada havia limpado, mas continuava da mesma maneira.

Reuni tudo que precisava, inclusive alguns doces, em tempo recorde.

A volta pro hospital fiquei pensando... o Dani apresentava sinais vitais todos bons, mas seu tumor não diminuia. Ele não queria fazer nenhum tratamento. Queria deixar a situação ficar mais complicada, porque de acordo com ele "Mexer em um animal quieto deixa ele com raiva. Vamos esperar o animal ficar raivoso, para mexer com ele!" Eu não podia contrariá-lo. Talvez ele tivesse razão.

Quando retirei as coisas do carro e passei pela porta do hospital, uma ânsia de vômito subiu pela minha garganta. O estremecimento passou pela minha coluna vertebral. Um claro sinal que alguma coisa havia dado errado com o Dani.

Corri para o quarto do Dani e ao chegar lá encontrei a cama vazia. A ânsia de vômito se intensificou. Meu coração acelerou. Aonde estava o Daniel?

Olhei no banheiro e nada.

-Daniel?! -gritei, no meio do corredor. -DANIEL?!

Um médico surgiu do nada, com uma pranchata. Ele parecia assustado e pesaroso. Quis vomitar mais do que nunca.

-Senhor Lopes, o senhor Souza teve outro surto. Um pior. Entrou em coma profundo em função do câncer. Tivemos que providenciar uma cirurgia de emergência.

Antes que eu pudesse reagir de qualquer forma meu celular tocou, recebendo uma mensagem programada para aquele exato minuto. Uma mensagem do Daniel. Do celular dele!

O que estava acontecendo? O que estava acontecendo?!

Não consegui chorar pela notícia do médico... estava mortificado. Petrificado. Abri a mensagem com as mãos tremendo e li, já com lágrimas no olhar:

"Olá, senhor Lopes.

Bem... que momento difícil pra se mandar essa mensagem. Eu senti que algo ruim aconteceria, então me precavi.

Vou morrer hoje. Eu sei disso e o senhor também sabe. Essa coisa no meu cérebro me incomoda. É um saco! Quero me livrar disso.

Quero que esteja ciente de que eu te amo... que eu amo tudo que o senhor é. Eu me arrependo de não ter te amado mais, dito que te amo mais, feito mais. Porque agora já não posso fazer mais nada.

Esteja ciente de que eu não vou retornar. Que eu vou partir e vou partir com pesar... mas quero que você siga em frente. Lamente minha morte, mas siga em frente. Ame novamente, arrisque novamente. Nem pense em parar de transar ou não namorar de novo! Vou estar de olho em você, lá do céu!

Seja como for... o melhor caminho é à frente.

Obrigado por me mostrar que existe amor no mundo. Obrigado por me amar tanto.

Do seu eterno anjo... Daniel.

PS: Suas batatas fritas são as melhores do mundo."

Já não conseguia respirar.

Era um pesadelo.

Abri a boca pra gritar o nome dele, mas não consegui.

Caí no chão daquele corredor e ali mesmo vomitei.

Realmente, assim acaba tudo. Daniel seria tirado de mim! Era o fim pra ele... era o fim pra mim.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive GladiadorDan00 a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Não quero que o Dani morra , por favor, deixe ele em coma por um período depois da cirurgia, e depois desperta ele, para que possa viver tudo o que ainda não viveu, ele merece demaisssssss ser feliz com o Homero, deixe os dois juntos 🙏!!!! 💓😭😭

0 0
Foto de perfil genérica

Caralhoooooooooou. Nao mata o dani porfa. Sei la faz um molagre nele!!!

0 0
Foto de perfil genérica

Não, por favor, não mata o Danii!!To super triste aqui :(o Danii fez bem,nem o pai dele nem a familia dele merecem perdam!

0 0
Foto de perfil genérica

Estou destruído!, deslacerado!...ô vida difícil.

0 0
Foto de perfil genérica

Não faça isso, eu acredito que ele vive!

0 0
Foto de perfil genérica

Que triste estou com a partida do Daniel, eu sei q aqui td e ficcional mas não consigo evitar minha emoção e tristeza, qnndo vc culpa a Deus me fez eu lembrar tanto de eu implorando, suplicando a Deus uma prova q ele existia devolvendo meu irmão a vida... mas ele não trouxe e eu o culpava hj entendo q estava nos planos de Deus a passagem do meu irmão, e q ele esta em um plano melhor q o nosso e que td tem um motivo... e que devemos aproveitar cada minuto como se fosse o ultimo e agradecer todos os dias pela graça da vida. Obrigada por nos presenter com essa grande obra e nos transmitir tanta emoção querido autor. Um beijinho no seu coração!

0 0
Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

: (, se precisam fazer uma cirurgia ainda há esperança, não mata o Dani não. 10 : (

0 0