Grande e pequeno

Um conto erótico de APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Categoria: Heterossexual
Contém 1454 palavras
Data: 21/03/2015 13:26:33
Última revisão: 02/02/2016 21:11:34
Assuntos: Heterossexual

Grande e pequeno

Texto de: Aparecido Raimundo de Souza

Especial para a "Casa dos Contos".

O HOMEM DO pinto grande e o homem do pinto pequeno se encontram casualmente num banheiro de rodoviária. Ambos começam a tirar a água do joelho, separados apenas pela parede de mármore que intermedia um mictório do outro.

De repente, o homem do pinto grande espicaçado pela curiosidade, dá a mais sutil das olhadelas, com o canto dos olhos, para o homem do pinto pequeno. Topa com um sujeito metido num terno marrom bem cortado. O rosto, gentil e atraente, não é particularmente memorável, apesar do bigode fino e bem aparado. Barbeado, nariz reto e olhos castanhos. Puxa conversa. Diz: “Tudo bem?” O homem do pinto pequeno responde meio ressabiado, a voz breve, nervosa.

Homem do pinto pequeno

– Vou levando... E o amigo?

Homem do pinto grande

– Empurrado pra barriga como diz a galera. A gente, nesta vida, faz o que pode. Você é daqui?

Homem do pinto pequeno

- Do Rio de Janeiro. Estou a trabalho. E você?

Homem do pinto grande

– De Belo Horizonte. Vim em visita a um tio acamado. Desculpe a indiscrição. Sem querer não pude deixar de reparar em seu... Em seu pinto. Elas não reclamam?

Homem do pinto pequeno

– Elas quem e do quê?!

Homem do pinto grande

– Do tamanho do seu pa... Digo da sua pica? É meio fora de esquadro... As mulheres não fazem chacota, não buzinam na sua cabeça?

O homem do pinto pequeno olha para seu interlocutor. Um cidadão relativamente alto, magro, cabelos loiros, rosto formidável, com traços bem definidos, olhos intrigantes que parecem feitos para prender a atenção de quem os ouse mirar por muito tempo. Veste uma camisa de gola polo, branca, uma jeans novinha em folha, e um tênis de marca.

– Engraçado! – Observa o homem do pinto pequeno. – Acredita que acabei de ter a mesma ideia? – Diria, sem medo de errar, que a sua pergunta me deu (fazendo uma comparação boba) a motosserra para derrubar a árvore.

Homem do pinto grande

- Não entendi a colocação.

Homem do pinto pequeno.

- Eu explico: o companheiro acaba de tirar as palavras da minha boca. Estava igualmente de olho no seu intrigante pinguelo. Ia perguntar a mesma coisa. Que coincidência. Como foi sua a iniciativa, me proponho a matar à sua curiosidade, desde que depois, faça o mesmo por mim. Vamos lá: as mulheres com quem mantenho relações costumam dizer que o rapazinho aqui dá para fazer cosquinha. E quanto ao seu?

Homem do pinto grande

– Este aqui vai fundo. - Às vezes chega a machucar...

Homem do pinto pequeno

– E aí?

Homem do pinto grande

– Nessas horas, vejo diante de mim duas alternativas. Ou paro no meio do caminho, quando elas começam a sangrar, ou sigo em frente, apesar dos protestos. Geralmente brocho, pois o clima esfria. É fogo. O seu, pelo jeito, deve dar conta do recado, sem incomodar...?!

Homem do pinto pequeno

– Algumas argumentam que deveria ser maior, mais encorpado, mais hostil no ataque sabe como? Pra ir mais fundo, na hora de bombar. A maioria, porém, se contenta deixando claro que não é bem o que se esperava, mas remedia. Eu acredito. Depois, meu prezado, partindo do princípio que tamanho nunca foi nem é documento...

Homem do pinto grande

–... Se pudesse aumentar você o faria?

Homem do pinto pequeno

– Acho que não. Está bom assim. Tenho me saído maravilhosamente. Mas e o amigo, se tivesse como diminuir, cortaria um pedaço fora?

Homem do pinto grande

– Jamais. Tá louco? Pirou? Gosto dele como é. Mesmo quando as vagabundas choram na rampa alegando estar esfacelando tudo internamente.

Homem do pinto pequeno

– O formato faz você se sentir mais homem? Digo mais macho, ou menos capaz?

Homem do pinto grande

– De forma alguma. Me vejo normal, quero dizer, me sinto como um sujeito elegantemente bem dotado. E quanto a você. Nunca lhe compararam a um japonês?

Homem do pinto pequeno

– Tenho cara?

Homem do pinto grande

– Não é isso. Faço referência, evidentemente ao tamanho... Ao comprimento...

Homem do pinto pequeno

– Que eu lembre...

Homem do pinto grande

– Desculpe. O distinto me trouxe à recordação aqueles antigos santos de igreja.

Homem do pinto pequeno

– Agora fui eu quem não entendeu a piada... Sua colocação ficou meio fora de esquadro.

Homem do pinto grande

– Por favor, entenda. Não faço insinuação a nenhuma piada. O que sinalizo, é que antigamente, nas igrejas católicas, não sei se o colega está lembrado, existia uma porção de santos dispostos em altares. Uma renca: São José, São Jorge, São Camilo, São Pedro, São Sebastião, Santo Onofre, São Benedito, São Judas Tadeu, Santo Antonio...

Homem do pinto pequeno.

–... Aonde quer chegar exatamente?

Homem do pinto grande

– Estou tão somente me aventurando a ilustrar o que direi a seguir. De certa feita, ao entrar numa sacristia, topei com um deles sem a vestimenta. Acho que era São Cipriano, São Bento, ou São Tomás de Aquino. Não importa a divindade. O importante aqui é o milagre. Resumindo: o bilau da santidade beirava assim ao físico do seu. Talvez por me parecer um pouco estiolado...

Homem do pinto pequeno.

– Alto lá. Um pouco o quê?!

Homem do pinto grande

– Estiolado. A mesma coisa que debilitado, enfraquecido, mirrado...

Homem do pinto pequeno

– Você é muito engraçadinho...

Homem do pinto grande

–... As moças com as quais me deito vivem dizendo isso.

Homem do pinto pequeno

– E como elas se referem a você em face de ser descomunal?

Homem do pinto grande

– Geralmente me chamam de bombeiro.

Homem do pinto pequeno

– Você trabalha na brilhante guarnição dos nossos soldados do fogo?

Homem do pinto grande

– Não, meu amigo. As beldades fazem menção ao feitio da mangueira.

Homem do pinto pequeno

– Feitio? Como assim? Estou boiando...

Homem do pinto grande

– Dimensão, formato, grandeza, largueza, ostentação.

Homem do pinto pequeno.

– Ah!... Agora entendi.

Homem do pinto grande

– Tenho uma jovem, a Trícia, que sai comigo, de vez em quando. A safadinha me apelidou de “pé de mesa”. Não libera o caneco alegando que se eu enfiasse em seu rabo, estouraria as pregas. Diferente da Paulinha que levei ontem para o motel. Dá tudo, faz tudo, libera geral. O tempo todo da foda se queda balbuciando em meus ouvidos: “gatinho troncudo, gatinho troncudo”.

Nessa altura da conversa o homem do pinto pequeno olha para os lados e indaga com a voz embargada, como se o que fosse dizer colocasse seu pescoço à forca:

Homem do pinto pequeno

– Sem levar para o lado feio, ou obsceno. E sem você me interpretar mal. Eu poderia... Apalpar... Pegar... Digo... Segurar um pouquinho?!

Antes de responder, o homem do pinto grande demoradamente pastoreia para todas as direções. Ninguém por perto. Parecem longe de bisbilhoteiros e indiscretos. Aquiesce:

Homem do pinto grande

– Claro, meu amigo. Fique à vontade. Depois, se não for incômodo, se não for pedir demais, eu posso fazer... Eu posso fazer o mesmo com o seu?! Sabe o que é? Na verdade, queria sentir a diferença do tamanho. A espessura... A textura, o peso, se é quentinho... Não pense besteira, nem faça juízo errôneo, por favor. Pelo amor de Deus, não sou gay. Longe disso!

Ambos se abrem num sorriso inocente:

Homem do pinto pequeno

– Eu também gostaria de sentir o seu só um bocadinho. Apertar. Posso? Estou deveras curioso para ver se do jeito que ele está agora, totalmente flácido, se cabe na palma da minha mão.

O homem do pinto pequeno, sem mais melindres (depois de tornar a perscrutar de canto a canto, para ver se não estava sendo observado por algum abelhudo de plantão), se agacha e começa a acariciar o membro do homem do pinto grande. Carinhosamente apalpa daqui, aperta dali, alisa acolá, chacoalha, cheira... Por fim, enfia na boca e dá uma rápida chupada.

Em seguida é a vez do homem do pinto grande. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, fica de joelhos e agarra o pênis do homem do pinto pequeno delicadamente entre os dedos. Apalpa daqui, aperta dali, alisa acolá, chacoalha, cheira... E termina, igualmente, engolindo tudo numa rápida mamada. Ritual terminado, cada um guarda o seu “pendurado”. Com um discreto aceno de cabeça, se despedem.

Homem do pinto pequeno

– Meu nome é Saulo. Prazer...

Homem do pinto grande

– O meu, Jessé. O Prazer foi todo meu.

Saem, um atrás do outro. Fora, em meio ao público, a multidão os absorve. O homem do pinto pequeno segue a cabeça erguida, caminhar ligeiro para a direita e o homem do pinto grande, cabisbaixo, pensativo, ruma para a banda esquerda e some com seu porte elegante. Sequer se voltam para averiguar se um vigia os passos do outro, pelas costas. Nunca mais se encontram.

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 62 anos, é jornalista.

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Comentários

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Acompanho, desde muito, os artigos do escritor Aparecido Raimundo de Souza, na revista "Textos Inteligentes". Nesse periódico, o cidadão trata de assuntos sérios, assuntos do momento, em sua coluna "Linhas Malditas". Sinceramente, não sabia desse lado pornográfico, pelo menos até agora. Ao procurar um artigo seu, no Google, me deparei com um link para a Casa dos Contos. Como sou curiosa, me inscrevi e, aqui estou, a ler o seu mais recente, "Destoados", publicado ainda a pouco. Evidentemente o Aparecido, neste trabalho, não se aprofunda muito no erotismo em sua melhor forma de expressão. Todavia, outros textos inseridos, neste site, marcam com bastante profundidade seu lado pornô. Claro que o escritor não fala do cotidiano da sacanagem como outros textos que li de outros autores. Ele é mais cauteloso, mais recatado. Conduz o chulo de uma maneira que não fere os olhos, não estraga a leitura, ao contrário, faz com que o leitor queira logo chegar ao final para, em seguida, passar a historia seguinte. "Destoados" está, pois, destoado do óbvio, do maçante, do tedioso, do cansativo. Aparecido não é, em resumo, prolixo, ao contrario, criativo, irreverente, não é prófugo, ao contrario, profundo, colossal, descomedido, cheio de picardia e uma boa dose de espiritualidade, o que o torna, magistral e único. (Carina Bratt jornalista Rio de Janeiro RJ).

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Hmmm... esse papo eu ja presenciei in loco... e, é assim msm! Hahaha

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