A Primeira Vista [Revisado] 2x05

Um conto erótico de Igor Alcântara
Categoria: Homossexual
Contém 4467 palavras
Data: 08/01/2015 01:41:21

- Kaio, entra aqui. Vamos conversar.

- Mãe, o que tá havendo?

- Cala a boca Igor! Entra Kaio, agora!

- O que a senhora vai fazer com ele?

- Já mandei calar a boca!

Minha mãe agarrou o braço do Kaio com força e o puxou pra dentro do quarto dela. Ao chegar lá o jogou dentro do guarda roupas e trancou a porta à chave. Kaio era passivo a tudo calado. Ela fechou a porta do quarto na minha cara. Eu chorei desesperadamente no chão da sala em frente aquela porta. De repente tudo se acendeu. Eu acordei.

Mais que sonho estranho... Eu hein... Acordei com o barulho irritante do toque do meu celular. Não consegui ver direito a hora mas identifiquei o nome “Milena” chamando.

- Bom dia! – ela quase gritou do outro lado.

- Para de gritar! Bom dia... Que horas são?

- Mais de 10h. Levanta que a gente tem umas coisas pra fazer.

- O que por exemplo? – eu falei com esforço pra descolar meus lábios de tanto sono.

- Se arruma. Eu já tô saindo de casa.

- Me diz pra onde a gente vai pra eu saber o que vestir.

- Um jeans serve. Mas não vista um escuro, já estou usando um. Beijo.

Tomei um banho bem demorado e já escutei o celular chamar. Droga! Pelo visto ia sair sem tomar café. Atendi o celular ainda de toalha e pedi que esperasse. Me vesti rápido e desci o prédio com um óculos escuro enquanto o inchaço no rosto passava.

Milena dirigia o carro do Marcos e por um segundo eu até ri lembrando de quando saí com o Kaio pela primeira vez meses atrás. Nos cumprimentamos, nos abraçamos e quase não parávamos de falar até que por fim nos demos conta e Milena saiu com o carro. Era muita coisa pra conversar.

- Uma vadia... O Kaio não percebe!

- E nem vai perceber. Isso é de família. Já passei com algo parecido com o Marcos.

- O que você fez?

- Mijei nele e marquei território.

- Hãm?

Ela riu.

- Eu tive uma conversa com ele. Daquelas bem sérias. Foi o suficiente.

- Ela disse que tem namorado. Kaio acreditou. Daí abaixou a guarda.

- Tática mais antiga que minha vó descobrindo fogão à gás...

- Hum... Olha, eu não tomei café.

- Vamo comer algo então.

Paramos numa padaria e ela me esperou comer um lanche.

- Hoje a gente vai numa sex shop! – ela falava animada olhando pro horizonte.

- Eu nunca fui num lugar desses. – falei meio desconcertado.

- Relaxa... São bacanas. Eu frequento há um tempão. Eu e Marcos usamos o tempo todo.

- Sério??

- Não. Mentira. Mas uma amiga minha usa e me mostrou umas coisas malucas que ela comprou lá. Uma calcinha comestível, Igor! Sério! Agora eu quero experimentar também. Come logo, eu tô ansiosa!

Partimos pra essa tal sex shop.

O lugar era todo decorado em vermelho, preto e rosa. Era um escândalo. Manequins com roupas eróticas e fantasias como de empregada e policial.

- Bom dia! Posso ajudar. – uma vendedora logo se apresentou e ficou nos olhando.

Eu e Milena estávamos impressionados com o lugar. Eu tirei meus óculos e olhei pra Milena que já prendeu o riso.

- A gente vai só olhar umas coisas aqui... – Milena disse.

- Fiquem à vontade.

Começamos a passear pela loja que nem era assim tão grande. As prateleiras estava cheias de brinquedos, produtos, géis, sprays pra os mais diversos fins.

Até chegar nas prateleiras que ficam no fundo da loja era preciso primeiro passar pelos manequins.

- Já pensou um Kaio daqueles numa roupa de policial dessas? – Ela falava enquanto colocava o chapéu da fantasia em mim e brincava com as algemas.

- Já o Marcos deveria ficar doido te vendo de empregada! – eu tirei as algemas da mão dela e passei o espanador.

- Meu Deus... Olha isso! – o espanador na verdade virava um chicote.

Chegamos nas prateleira e começamos a ver os produtos. A vendedora que nos atendia era bem simpática e falava de cada produto.

- Então, tipo, eu coloco isso na língua e... – falava Milena deixando a se entender o oral.

- É isso mesmo. Na língua ou nos lábios. Ou mesmo no pênis. Você escolhe. – a vendedora.

Milena me olhou arregalando os olhos.

- Vamo levar! – Milena falava animada. Eu estava completamente desconcertado no meio daquilo.

- No seu caso é pra um rapaz ou uma moça? – ela perguntou pra mim.

- Pra um rapaz. – eu falei e ela não esboçou nenhuma surpresa. Porque todas as pessoas não podiam ser assim?

- Então esse é perfeito pro oral. Mas tem outros aqui... Casais gays gostam muito dos géis de massagem. Não faz muito sucesso entre os héteros porque não são todas as mulheres que gostam de massagear o parceiro. Isso rola mais entre os gays, pra relaxar o parceiro com uma massagem completa. Tem uns comestíveis.

- Legal. Eu quero ver... – eu falei tímido e Milena não parava de rir.

A vendedora não parava de mostrar produtos novos. Por fim, Milena levou quase a loja toda mais a tal fantasia de empregada. Eu também levei umas coisinhas. Sério, não partam para uma sex shop sem muita grana. É tudo muito caro!

Fomos almoçar e nos despedimos porque ela ainda iria viajar. Ela me deixou em casa e naquela tarde eu não fiz mais nada a não ser limpar meu apartamento. Por volta das 17h o Kaio foi no meu apartamento esperar eu me arrumar pra sairmos pra faculdade.

Eu fui tomar banho enquanto ele ficou na minha cama mexendo em algo no meu notebook. Percebi que enquanto tomava banho ele conversava muito pouco. Quando voltei pro quarto ele continuava mexendo no computador.

- Que bicho mordeu a língua da pessoa mais tagarela que conheço enquanto banho?

- Olha isso. São as fotos. – ele disse. Eu sentei do lado dele ainda de toalha.

O fotógrafo havia enviado pra ele as fotos do ensaio. Todas editadas com o photoshop. Na pasta que ele baixou do email haviam mais de 40 fotos. Algumas delas ele estava com a Jéssica. Selecionou as que ele estava com ela e as apagou.

Fomos pra faculdade com o Kaio reclamando o fato do carro novo dele ser menor que o do Marcos como se isso fosse uma calamidade mundial. Inveja por ter visto a Milena mais cedo com o carro antigo. Eu ia concordando com tudo apesar de não entender o que era aqueles termos técnicos que ele falava ao volante na tentativa de justificar pra ele mesmo que o que ele tinha não era inveja.

Chegamos na faculdade e seguimos pra nossas salas. Nesse dia a aula dele acabou mais cedo. Na hora do intervalo ele estava liberado. Eu saí da sala e encontrei com ele na lanchonete. Ele disse que já ia embora e voltava as 22h pra me pegar.

As 22h ele voltou. Saímos e ele tomou outro rumo. Ficamos passeando por aí até que damos de cara com um outdoor com a propaganda do bloco de carnaval recém colado naquela tarde. Era o Kaio e a Jéssica na foto. Estavam magníficos... Que ciúmes, cara...

- As fotos ficaram bonitas... – eu falei fingindo interesse.

- Eu não imaginava que fosse ficar assim. Tão grande e tão chamativo.

Paramos na mesma lojinha do posto de gasolina que falei no conto passado. Fomos para as mesas e escolhemos uma. Kaio tirou a carteira do bolso e me deu enquanto se sentava. Eu entrei na loja e peguei duas garrafinhas de Ice já que não estávamos com fome. Enquanto passava no caixa eu vi pelo vidro que o Kaio falava ao telefone um pouco longe da mesa. Paguei e saí pra mesa.

- Eu te ligo depois. Eu vou ver como faço pra estar lá, tá? – assim que me viu ele desligou rápido.

- Quem era? – passei a carteira pra ele. Eu não sou intrometido assim, mas eu notei ele nervoso pra desligar quando me viu.

- Nada... Coisa da faculdade. Um trabalho.

A semana foi se passando, as fotos do Kaio e da Jéssica se espalharam pela cidade em forma de outdoors e em alguns locais cartazes. Toda a cidade ia pra aquele bloco? Era o que parecia... Enfim... Como o Marcos disse semana que vem era carnaval, logo isso passa. Era nisso que eu me apegava.

Março começou e aquele carnaval pra mim era o pior de todos. Claro, diferente dos demais carnavais, nesse meu namorado era um garoto propaganda de um bloco! Haviam carros de som espalhados para todos os lados bradando sons que ninguém em sã consciência ficaria perto por muito tempo, a não ser que quisesse ficar surdo.

No fim de semana o Kaio estava aqui em casa tentando me convencer a vestir a camiseta do abadá e ir pra concentração do bloco com ele. Eu não queria. Achei uma péssima ideia. Mas deixei de viajar pra casa dos meus pais pra passar o carnaval com ele aqui por conta do abadá que ele havia me dado.

- Poxa Igor eu te dei o abadá cara!

- Tá! Eu vou! Tudo bem... Só não espere que eu demore nessa muvuca tempo demais. Aliás você também não gosta disso, porque você quer tanto ir?

- Pra gente curtir junto, ora...

Eu nunca tinha ido à blocos de carnaval e já não me parecia o tipo de festa que iria gosta. O que que o Kaio queria fazer num meio daqueles?

À noite, o bloco começou a descer minha avenida. Era um mar de gente. Não tem como eu dizer uma quantidade aproximada mas era muita gente mesmo. Um “tapete de cabeças” visto de cima do meu prédio.

- Tá vendo? Nem precisamos descer... Podemos ver tudo daqui de cima. Vamo comprar algo pra beber e ficar aqui.

- Não Igor! A gente vai e pronto! Veste a camisa do bloco e desce. Eu tô esperando lá embaixo... – ele disse e saiu.

Isso não ia dar certo... O trio elétrico do bloco apareceu e veio descendo bem devagar junto a multidão. Eu desci as escadas e já na porta do prédio eu dei de cara com um monte de gente. Não conseguia quase nem sair do prédio. Me espremi no meio daquele povo pra procurar o Kaio porque não havia mais a minha calçada, só um monte de gente. Eu não sabia mais o que era calçada e o que era rua. Até que senti uma mão agarrar a lateral da minha camisa e me puxar.

- Você ia pra onde? – Kaio perguntou me soltando.

- Te procurar.

- Não vai pro meio do povo assim senão te carregam. Você não vai conseguir caminhar sozinho no sentido contrário. Fica junto de mim.

- O QUE?

- FICA JUNTO DE MIM SENÃO AS PESSOAS TE EMPURRAM E TE CARREGAM!

- NÃO TÔ ESCUTANDO NADA!

E não dava de escutar mesmo. Kaio revirou os olhos e me puxou pela camisa. Fomos acompanhando o trio e encontrando com conhecidos. Era impossível conversar por conta do som, mas acredito que ninguém estava alí pra conversar. A rua não cabia mais tanta gente e olhando pra trás nós já deveríamos estar há uns 300 metros do meu prédio. Aquele arrastão ia parar aonde?

Menina desconhecidas começaram a querer tirar foto e sempre davam um beijo no Kaio seguido de palavras como “Você é lindo!”, “Perfeito”, e até as mais ousadas “Gostoso!”. Aquilo já estava um pesadelo e com mais essa eu definitivamente já poderia ir embora.

Encontramos com o fotógrafo do bloco, o mesmo que tirou as fotos para a divulgação. Ele estava com uma lata de cerveja na mão e quando nos viu veio cumprimentar. Digo, cumprimentar o Kaio.

- Fala Kaio! – O cumprimentando – Jéssica já tá lá!

Eu não entendi. Lá encima aonde? E porque o Kaio tinha que saber onde a Jéssica estava? Kaio sorriu sem graça e deu um tapinha no ombro dele.

- O que ele disse?

Kaio respirou fundo.

- É que semana passada ele me avisou que era bom se eu subisse num momento no trio e ficasse do lado da Jéssica por um tempo. Somos os garotos propaganda do bloco esse ano e seria bom se as pessoas nos vissem juntos animando a galera lá de cima.

- Então era por isso que você queria tanto me arrastar pra esse lugar?

- Igor vai ser super rápido. Eu subo, falo com ela, aceno pra pessoas e pronto.

- Você tá muito estrela pro meu gosto, isso sim! – alguém passou do meu lado e bateu com força no meu ombro. Kaio me puxou pra perto dele. Que ódio daquele lugar!

- Cuidado! Mas não vai ser agora... Vem. – passou o braço no ombro e continuamos andando.

Aquilo não podia ser sério. Ele ia subir num trio e “acenar para as pessoas”? Aquilo acabou com meu humor. Nossos amigos passavam e nos cumprimentavam enquanto eu tentava forçar um sorriso. Vi Fernanda e Gustavo, namorado dela, de longe. Estavam brigados há algum tempo mas pelo visto haviam se resolvido.

As horas foram se passando e logo já era mais de meia noite. Numa tentativa triste de me bajular Kaio sempre saia e voltava cinco minutos depois com uma lata de coca-cola. O fotógrafo novamente nos encontrou em meio à concentração.

- Kaio, bora ver meu velho! – batendo palmas. Olhou pra mim com uma cara de impaciente, ele com certeza notou que eu era que impedia o Kaio de subir no trio.

- Eu não demoro. – ele disse se afastando.

Eu subi numa calçada emburrado e cruzei os braços. Que papel de otário eu tava fazendo... Kaio subiu no trio e logo estava lá encima do lado da Jéssica. Ele esteve o percurso todo lá encima. Quando o Kaio chegou do lado dela ela o abraçou feliz e dando pulinhos. Ela dançava sensual sempre sorrindo. Kaio se mexia de um lado pra outro sem jeito. Já disse, ele não dança.

Kaio me olhava de cima do trio sabendo que eu estava prestes a explodir de ódio.

Na calçada onde eu estava havia um senhor com uma banquinha de refrigerantes e eu fui comprar mais uma lata de coca. Ia terminar aquele carnaval com diabetes de tanta coca-cola.

- O senhor tem Coca-Cola aí?

- Espere um pouco que é gente demais pra eu atender, sim?

- Traga uma lata, por favor.

Quando o Kaio descesse desse trio nós iríamos embora e eu nunca mais ia pronunciar a palavra carnaval na minha vida. O senhor do carrinho de refris não me dava atenção e eu predi a paciência em esperar. Olhei pro trio e tentei fazer a pior cara de impaciência que eu poderia inventar pra ver se o Kaio descia daquilo.

Quando me virei e olhei pro trio foi bem em tempo de ver o Kaio sendo puxado pela Jéssica. E que puxão! Ele virou o rosto e recebeu um beijo enorme dela. Ela o beijou e tudo ficou em câmera lenta pra mim.

Cara, lembrar disso hoje ainda dói. Foi como se naquele momento algo atravessasse minha barriga saindo nas costas. O som alto me tirava ainda mais a paciência e meus olhos marejaram de imediato. Aquele choro de criança, que vem e você não controla. Ou você deixa o choro sair ou você explode tentando reter aquilo. Os olhos marejados dificultavam pra ver algo à minha frente mas eu ia pra casa não importa o quão longe fosse.

- Olha o seu refrigerante! – O senhor do carrinho gritou. Deus sabe o que faz... Se eu tivesse com uma lata de refrigerante cheia na mão há 1 minuto atrás muito provavelmente eu atiraria certeiramente na cabeça do Kaio. Pra derrubar ele lá de cima numa queda que o deixaria em coma por uns 3 dias. Tempo suficiente pra eu furtar o carro dele e atropelar a Jéssica acidentalmente umas cinquenta vezes em cada um desses três dias.

A quem eu estava enganando? Eu era o otário da história. Kaio abaixou a guarda, deu espaço e deu no que deu. Se eu fosse desses namorados malucos de ciúmes e o proibisse de algo isso não teria acontecido. Será que ser controlador e autoritário com o parceiro, resolvia de fato? Porque eu pensava que isso fosse gerar problema por isso decidir confiar no Kaio e não agir dessa forma. Era muita coisa pra pensar e esbarrei com a Fernanda e Gustavo no meio da rua.

- IGOR, EU JÁ IA TE PROCURAR. O QUE FOI AQUILO??? – Ela gritava cada palavra.

- Eu preciso ir pra casa. – eu tentei prender o choro por conta do namorado dela.

- Eu vou com você.

- Não precisa.

- Eu vou sim. Eu já tava indo embora mesmo. – ela piscou pro namorado e ele entendeu. Eles se despediram e fomos pra minha casa. Caminhar no sentido contrário à multidão dava muito trabalho, eu não conseguia mover os braços e fora o fato de eu estar desabando em choro. Até que enfim eu vi o prédio. A calçada estava com menos pessoas já que o trio já ia bem mais a frente.

Eu entrei em casa e joguei na sala a camisa do bloco.

- Igor, como que tu deixa o Kaio ir tirar foto com aquela perua?

- Eu lá mando nele? Somos namorados, não sou dono dele. Além do mais ele começou com isso de fotos e agora de ir pra cima de trio.

- Ei... Mas ele não a beijou porque quis. Ela é que é oferecida.

- Kaio sempre soube que ela era assim e nunca fez nada. Ele soube por alto que ela tem namorado e logo se desarmou pra ela. Aquele idiota! Eu vou matar o Kaio! Vou quebrar a cara dele!

- Pois ele é muito ingênuo! E olha que nem parece... Vocês vão conversar quando?

- Não sei. – entrei no banheiro batendo a porta e fui banhar.

Chorei feio um desgraçado lá enquanto a Fernanda fazia sabe-se lá o que no meu quarto. Quando saí, o interfone tocou.

- É ele. – eu imaginei.

Ela foi na varanda e voltou correndo.

- Igor é ele! E agora? Ele deve tá vendo a luz do apartamento acesa. Vamo apagar! – ela já disse indo direto no interruptor e deixando a gente no completo escuro. A Fernanda ainda me mata com essa inteligência dela...

- Não... Acende essa luz! Vai lá embaixo e manda ele embora.

- Eu? Certeza?

- Depois eu falo com ele.

- Eu já vou então. – Me deu um abraço. – Se cuida. Vai dar tudo certo. Me liga pra qualquer coisa e não deixa isso te abalar demais não que semana que vem tem prova. – Eu só acenei com a cabeça. Ela desceu.

Assim que escutei a porta fechar chorei ainda mais sozinho no quarto.

________________

- Ficou maluca garota? O que foi isso?

- Isso foi eu beijando você, seu gostoso!

Me virei rápido pra procurar pelo Igor e... Ele não estava no lugar que eu o vi pela última vez! Mais que droga! Eu tava muito ferrado. Corri e me debrucei na grade do outro lado do trio e não o encontrei. Nem ia encontrar. Era muita gente. Eu levei as mãos à cabeça. O Igor devia ter ido pra casa.

Pulei de todo jeito de cima daquele trio e saí no meio das pessoas tentando ver algum sinal do Igor. Só que todo mundo parecia o Igor, porque todo mundo vestia a mesma camiseta. Rumei pra casa dele contra multidão e vez ou outro eu encontrava um conhecido que dizia não ter o visto. Apressei o passo respirando apressado. Estava me controlando pra não chorar. Calma... Ele sabe que não foi minha culpa. Mas ele devia estar muito puto comigo! Foi minha culpa!

A casa do Igor nunca ficou tão longe pra mim. Quanto mais eu caminhava mais longe eu percebia que do prédio eu estava. Parecia que eu nunca ia chegar. Ao chegar lá eu ainda respirei cansado com as mãos nos joelhos até de fato apertar o interfone. Apertei uma, duas, três vezes e nada. Tive uma leve impressão de alguém me olhar rapidamente de cima. Eu olhei mas não vi ninguém.

Um tempo depois eu escutei alguém descendo a escada do prédio.

- Graças a Deus... – eu disse aliviado me recompondo e já pensando nas desculpas. Só que quem saiu do prédio foi a Fernanda. O que ela tá fazendo alí? Ela saiu e já tratou de fechar a porta.

- NÃÃÃO!! – eu gritei. Agora só alguém de lá de dentro pra abrir de novo... – Eu preciso ver o Igor.

- Ele não quer te ver. Ele precisa de um tempo.

- Tempo? Tempo pra quê? A gente não vai terminar! Eu preciso falar com ele, sai da minha frente!

- Não, seu idiota. Você estragou tudo...

- Você viu?

- Quem não viu? Você beija uma garota encima de um trio e espera que alguém não tenha visto? – ela empurrou meu peito com força.

Falar assim me fez ver as coisas ainda mais duras. Porra, o Igor devia tá muito triste. Ele me avisou tanto...

- Olha, vai pra casa... Amanhã você passa aqui e tenta falar com ele. Sério, ele tá de cabeça quente.

- Mas eu só quero explicar o que aconteceu. Não foi minha culpa! Sai da frente! IGOR! IGOR SAI AQUI FORA AGORA! ABRE ESSA PORTA!

- Cala a boca! Para de escândalo! Paciência tem limite. Não enche a dele, por favor. Vai embora! – ela disse e já foi saindo.

Eu chamei mais algumas vezes controlando o choro.

- IGOR! POR FAVOR... ABRE A PORTA. – Quando apertei o interfone não o escutei chamar. Ele deveria tê-lo tirado da tomada. Chamei, chamei e nada.

Eu fui pra casa chorando. Todo mundo olhou pra mim. Há meia hora atrás tudo estava bem, como tudo mudou assim? Eram mais de 2h da manhã e meus pais dormiam. Subi pro meu quarto e pensei em ligar pro Marcos mas era tão tarde e eu só sabia chorar... Sentei na cama e tirei o tênis, meus pés me matavam. Chorei mais e mais sem coragem alguma pra ir tomar banho. Mas com muito esforço fui. A noite se passou arrastada e depois de uma infinidade finalmente eram 8h da manhã.

Liguei incansavelmente pro Igor mas ele não atendia. Eu sabia da raiva que ele tinha de ser acordado àquela hora, mas eu precisava falar com ele. Mandei mensagens e nada.

No fim da manhã do domingo Igor finalmente me respondeu.

“Não venha me ver. Depois lhe procuro.”

Eu quis chorar ainda mais. À noite eu tentei ligar mais uma vez e ele não atendeu. Não dormi direito e na segunda mais uma vez eu tentei. Recebi a mesma mensagem como resposta. Nem pra faculdade ele foi. Depois da aula eu passei no prédio dele e não notei luzes acessas. Apertei o interfone mas continuava desligado. Na terça eu não o procurei durante o dia crente de que ele não faltaria mais um dia de aula. Só que ele também não apareceu na faculdade.

Aquilo estava acabando comigo. Acabando! Eu queria vê-lo pra me explicar, pedir desculpas, prometer nunca mais deixar de ouvi-lo mas cadê ele? Enquanto isso o pessoal do bloco não parava de me ligar. Eu recusava todas as ligações. Inferno que minha vida havia se tornado.

Ele não atendia minhas ligações. Quando respondia era sempre com a cópia daquela mensagem horrível e fria que ele me mandou no início. Que vazio que eu sentia sem o Igor no meu dia a dia. Meus pais perguntavam muito por ele e eu não sabia o que dizer. Ligava constantemente pro Marcos, mas ele trabalhava não podia dar expediente de terapeuta pra mim na hora que eu bem entendesse. Eu não estudava para as provas que estavam logo aí, tudo estava desabando!

Quarta pela manhã ele me mandou uma mensagem pedindo que fosse na casa dele. Eu desci quase que correndo e a porta do prédio já estava até aberta. Coisa fora de costume, e até contra as regras do prédio. Só aquilo me deixou com medo, era sinal que ele não queria descer. No corredor de portas a porta do apartamento dele também estava aberta, a TV estava ligada.

- Igor? – eu entrei na sala.

Ele estava na cozinha, de pijama, com uma cara de tristeza. Eu segurei o choro. Eu me sentia tão mal de tê-lo feito passar por tudo aquilo. Fomos pra sala e sentamos um de frente ao outro. Comecei a pedir desculpas por tudo. Ele só escutava. Eu tentava não parecer que estava desabando, acho que estava me saindo bem. Prometi que jamais falaria com Jéssica de novo, que o ouviria quando ele alertasse sobre alguém. Não que isso resolvesse algo, ainda mais à essa altura.

- Eu queria tanto bater na tua cara que nem nas novelas... Pensei que fosse ter coragem hoje. – ele disse. Eu sorri mas ele continuou sério.

Depois de uma longa conversa eu e o Igor finalmente nos acertamos. Ou pelo menos eu achava que estávamos acertados apesar dele continuar meio calado e triste. Eu decidi passar a noite na casa dele e ele não protesto mesmo sendo quarta-feira. Normalmente ele só me deixa dormir lá aos sábados.

À noite eu lembro bem de ver o Igor renomear uma pasta no computador de "A primeira vista”.

Nessa noite não fizemos nada a não ser dormir abraçados. E alí eu pude ver a falta que ele provavelmente me faria se decidisse terminar comigo. Pra mim tudo aquilo foi um tsunami! Eu o apertei contra mim. Adormecemos assim. Mas eu podia sentir que ainda havia algo errado alí...

___________________________________________________

Oi oi gente! Tô passando rapidinho pra postar hoje porque depois de mais de 15 dias longe do meu namorado a gente não se desgruda desde que voltei. Daí meu tempo pra outra atividades que não sejam matar a saudade dele está bem regrado.

i!want!you!P@#&%!!!: Muito obrigado. O mesmo à você. Sexo com alguém assim é outra coisa, só sabe quem passa.

Lipe_araujo: Pela primeira vez eu quis ir pro Rock in Rio. Só por conta dela.

Docinho_: O contato a gente mantém por email. Infelizmente não podemos adicionar ninguém no Facebook não.

oPAKO: Aff... Não fala em Karma, pelamor! kkkk Só pode.

LUCKASs: É... É bem complicado. Mas a gente já lida bem melhor com isso hoje. Não tem mais problemas não.

ale machado: Muito complicado como eu disse. Acho que quem convivi com a gente diariamente já assimilou que somos um casal. Nunca precisamos "nos assumir" e deixar claro isso. A situação complica mais ainda pelo local em que vivemos. Aqui ainda há muito preconceito. Triste, mas é verdade.

Takahashi: Está enorme se é que é possível ficar mais. Bernardo passeia com ele aqui perto de casa e vem até aqui com ele. É lindo. Só que ele é muito pesado e forte, só quem aguenta brincar com ele é o Bernardo que já tá acostumado. As vezes a gente vai pro clube e enquanto eu jogo vôlei com o Bernardo, o Kaio sai pra andar no clube com ele e volta todo estrupiado. O cachorro falta pouco rancar o braço da gente na coleira.

kelly24, Ru/Ruanito, Drica (Drikita), Geomateus, ale.blm, Alê8: Muito obrigado pelos comentários.

Sigam-me os bons. Até amanhã.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 6 estrelas.
Incentive Igor Alcântara a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil de Jota_

Que capítulo intenso! Igor, você escreve bem demais. Tô tão envolvido na história que me vejo no lugar de todos os personagens hahah

0 0
Foto de perfil genérica

Amei. Que triste isso mas o beijo não foi culpa dele. Indo pro próximo. :)

0 0
Foto de perfil genérica

Kkkkkk , agora sim eu entendi , a parada do carnaval, puxa foi pedra ein.!!!

Mas e ai seu passivo , VC deixou ele quanto tempo na bronha como castigo kkkkk?

0 0
Foto de perfil genérica

Nossa igor já passei por algo parecido, e foi dificil. Vc perde o chão. Já estava sentindo falta dos contos. Um abraço aos dois.

0 0
Foto de perfil genérica

Essa Jessica sempre dando problemas, que garota mais insuportavel, juro igor se eu fosse você teria subido no trio e jogado ela no chão, hahaha nossa como eu sou mal.

0 0
Foto de perfil genérica

Não comentei mais, mas tenho lido todos os capítulos. Incrível, como sempre!

0 0