Carona perigosa e excitante

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 14330 palavras
Data: 22/01/2015 15:24:26

Carona perigosa e excitante

Eu já estava ali havia horas. Chegara em plena hora do almoço, quando o movimento do restaurante anexo ao posto de combustíveis atingia seu maior pico. Implantado numa extensa área às margens da rodovia presidente Dutra em Guarulhos, era parada de caminhoneiros que seguiam em direção ao norte do país. O ir e vir dos atendentes circulando entre as mesas, o alvoroço de pratos e talheres tilintando, as conversas e risadas altas zuniam nos meus ouvidos, enquanto eu perambulava pelo amplo salão abordando os caminhoneiros que chegavam. A pergunta, depois de algumas dezenas de vezes, passou a conter o mesmo padrão de palavras, quase um refrão, solicitando uma carona até Fortaleza, ou pelo menos, até algum ponto donde fosse possível seguir viagem.

Já passava das dezoito e trinta, o salão recomeçava a encher aos poucos, agora para um número bem menor de caminhoneiros que faziam uma parada estratégica para o jantar. As possibilidades de obter uma resposta positiva, portanto, minguavam, e eu estava prestes a desistir quando abordei um sujeito sentado sozinho numa mesa próxima às janelas que davam para o pátio de estacionamento. Curiosamente eu não o havia notado entrando, embora tivesse me aboletado junto à catraca da entrada. Enquanto caminhava em sua direção notei algo diferente em sua postura. Por uns segundos cheguei a pensar que talvez não se tratasse de um caminhoneiro, mas a camisa apenas abotoada próximo à cintura e, que deixava exposta uma barriga enxuta e um peito peludo, um jeans surrado e as sandálias nos pés, logo afastaram essa ideia. Era jovem, talvez com pouco mais do que trinta anos, mas percebia-se que era um homem maduro ou, pelo menos, vivido. Ele vigiava atentamente o entra e sai de caminhões no pátio, mesmo assim acompanhava cada um dos meus passos seguindo em direção a sua mesa, mas fingiu não perceber minha aproximação. Era um sujeito grande, em toda acepção da palavra. As costas largas faziam o espaldar da cadeira parecer de brinquedo, os braços e o tronco eram imensamente grossos, e as coxas mal cabiam embaixo da mesa. Ele só me encarou quando o abordei, um pouco tímido.

- Olá! Posso perguntar para onde está indo? É que estou procurando uma carona. – disse, tentando ser o mais empático possível.

- Para onde quer ir? – perguntou, sem desfazer as feições sérias, até um pouco carrancudas, que a barba, há pelo menos três dias sem fazer, deixava ainda mais austeras.

- Fortaleza! – respondi de pronto. – Mas também serve algum lugar mais próximo do qual eu possa seguir viagem. – acrescentei, esboçando um sorriso acanhado.

- O que vai fazer lá? – inquiriu, apenas por perguntar. Seu olhar se deteve um pouco mais demoradamente sobre mim.

- Estou indo visitar um casal de amigos que se mudou há pouco para lá. – esclareci.

- Por que está pedindo carona, ao invés de fazer turismo pelos meios convencionais? – questionou, sem mudar seu jeito distante de me interrogar e, talvez, motivado pela camiseta polo com o crocodilo da Lacoste, os jeans Calvin Klein, além do Awenger Seawolf da Breitling no pulso da mão que se apoiava sobre a mesa.

- Achei que seria mais interessante fazer uma viagem na base da carona, especialmente na boleia de um caminhão. – respondi, aguardando apenas as palavras dele confirmarem o que seu semblante já assinalava.

- Desculpe, mas não posso te ajudar. – falou lacônico, voltando a observar o movimento lá fora através da janela.

Enquanto eu me afastava, tive a sensação de que ele me acompanhava com o olhar, um discreto meneio com a cabeça confirmou minhas suspeitas no exato momento em que ele disfarçava desviando o olhar para a porta de entrada. Definitivamente estava sem sorte. Passara o dia esperando uma resposta afirmativa, mas me deparei com a indiferença, o ceticismo e, quem sabe até, com o receio daqueles caminhoneiros abrutalhados pelo trabalho estafante, e arredios pela pouca socialização que as longas jornadas solitárias lhes impunham. Tirei o celular da mochila para pedir um taxi, pois havia decidido voltar para casa.

Fui me sentar num banco do lado de fora do restaurante, donde podia apreciar a diversidade de caminhões, suas origens e fiquei imaginando as prováveis cargas que transportavam. O taxi estava demorando a aparecer. O trânsito do final de tarde devia ser o responsável pela demora. O caminhoneiro saiu e ao passar por mim fez um gesto que interpretei como sendo um cumprimento, ao qual retribuí sem muito empenho, mas mesmo assim amistoso. Havia dezenas de caminhões parados no amplo estacionamento intercalado por canteiros cercados por uma topiaria baixa e, de onde floriam roseiras, lírios e alamandas. Ele caminhou até um Volvo FH de cabine estendida cinza metálico, sobre cujo para-brisas se lia, em letras garrafais, GLOBETROTTER; atrelada a uma carroceria fechada de alumínio, tipo baú, de três eixos, subiu os degraus que levavam até a cabine, entrou e colocou o longo conjunto em movimento. Consultei mais uma vez meu relógio e vi que já havia transcorrido mais de três quartos de hora desde que acionara o taxi. Sentia-me um pouco tenso, o que sempre fazia surgir meu tique nervoso, onde inconscientemente eu mordiscava meu lábio inferior. Talvez pela frustração de ter desperdiçado meu dia numa tentativa inglória. Uma garoa fina começou a açoitar os caminhões, acompanhada de um vento gelado, enquanto a luminosidade do dia ia diminuindo rapidamente como num típico dia de junho. Eu cogitava voltar para o interior do restaurante quando vi o sujeito voltando e caminhando na minha direção. Os passos decididos davam desenvoltura ao seu caminhar, e sua altura destacava o real tamanho daquele homem. Sentiu-se seduzido por aquele jovem elegante na maneira simples de se vestir, ousado, sedutor, cheio de entusiasmo, alegria e bondade. Ele havia se impressionado pela elegância das minhas maneiras e pelo meu aspecto físico, o que lhe inspirou a coragem para me oferecer a carona, por isso voltou.

- Ainda quer a carona? – perguntou, assim que se aproximou de mim.

- Sim! ... Mas você não disse que não seria possível? – retruquei, surpreso com sua proposta.

- Então vamos, já está anoitecendo e temos pouco tempo antes da próxima parada. – disse, ignorado minha indagação.

Meus passos mal acompanhavam os dele, embora eu também fosse alto e tivesse um par de pernas compridas e ágeis. Ele entrou na cabine e abriu a porta do passageiro, ao mesmo tempo em que dava a partida no motor. Assim que me acomodei no banco ele pegou o acesso à rodovia.

- Coloque o cinto e acomode sua mochila aí atrás. – ordenou sem olhar para mim, que já havia fixado o cinto de segurança.

- Obrigado pela carona! Eu já tinha desistido, passei quase o dia todo tentando e já me preparava para voltar para casa. – falei, em tom amigável. – Ah! Me chamo Paulo e você? – emendei, a título de apresentação. – Isso me lembra que preciso cancelar o taxi que acionei via celular. – acrescentei, enquanto acessava o aplicativo da empresa de taxis.

Eu entrei naquela espécie de euforia e agitação que precedem os preparativos e a própria viagem. Por conta dessa excitação minha loquacidade disparou, e na hora que se seguiu, eu falei muito mais do que ele, que apenas se limitou a respostas curtas ou monossilábicas, quando não apenas um aceno com a cabeça. Contei muito a meu respeito embora ele não tivesse me perguntado nada. Falei sobre o casal de amigos que estava indo visitar, e isso lhe foi tão indiferente quanto o fato de ele saber o meu signo zodiacal. Por fim, me dei conta de que só eu falava e, repentinamente, fiquei sem assunto. Um silêncio constrangedor começava a se instalar entre nós, até minhas palavras desaparecerem por completo.

- Vamos pernoitar naquele posto ali adiante! – disse, três horas depois da nossa partida, apontando para o alto de uma colina à nossa direita, para onde a carreta se arrastava morro acima na terceira faixa.

- Tudo bem, estou sob suas ordens! – exclamei, num sorriso tímido. – Afinal, eu ainda não sei seu nome. – emendei curioso.

- As instalações não são grande coisa, mas se você quiser tomar um banho eles dispõem de uns chuveiros satisfatórios. Só não há acomodações, teremos mesmo é que pernoitar na boleia, o que também é mais seguro. – esclareceu, num tom frio. – Mario, meu nome é Mario! – acrescentou, depois de uns minutos de silêncio.

Peguei meus apetrechos de banho na mochila, além de um moletom, cueca e camiseta, mais confortáveis para passar a noite. Ele trancou a cabine e entrou pelo acesso lateral que dava nos chuveiros, apenas com um sabonete e uma toalha nas mãos. Cerca de uma dúzia de chuveiros se enfileiravam ao longo de duas paredes, uma de frente para a outra. Um homem mulato estava debaixo de um dos chuveiros quando entramos. À visão escrachada do sujeito ensaboando um sacão enorme, peludo e da cor de chocolate, recuei constrangido e deixei que ele tomasse banho junto com o sujeito, voltando até a porta por onde entramos para admirar a escuridão lá fora. Quando os dois saíram, passando por mim, quase ao mesmo tempo, me despi e tomei a ducha mais rápida da minha vida, temendo que alguém entrasse e me flagrasse.

Quando voltei para o caminhão ele usava um short pouco ortodoxo, curto e exageradamente aberto nas pernas, e se acomodava na larga cama atrás dos assentos. Ao recolocar minhas coisas na mochila reparei que ela havia sido manipulada, pois eu deixara propositalmente o zíper que a selava no terceiro dente do travamento, e agora ele estava completamente fechado até o final. Numa inspeção rápida não dei por falta de nada, mas pressenti que não teria um sonho tranquilo.

- Banhinho demorado esse seu, hein? Achei que tivesse passado pelo ralo. – ironizou, com um riso debochado. No entanto, percebi que ele aspirou o frescor de bergamota do perfume da minha pele com grata satisfação.

- Ainda estou me adaptando a esses improvisos de vida de caminhoneiro. – disse, acanhado por ter que me deitar ao lado de um estranho quase nu com um corpão intimidador.

- Tem outro cobertor aí em cima. Acho que essa noite vai ser bastante fria. – falou, antes de virar o rosto para o lado e puxar o cobertor sobre os ombros.

- Ok, obrigado! – agradeci, me ajeitando do outro lado da cama. – Boa noite! – acrescentei, sem obter resposta.

Demorei a pegar no sono. O céu aberto, sem nuvens, fez o pouco de calor acumulado durante o dia se perder rapidamente. Ouvia-se o ronco dos caminhões que passavam na rodovia e, vez ou outra, o murmúrio de aceleradas e os guinchos dos freios das carretas que também estavam estacionando para o pernoite. A respiração profunda do Mario ao meu lado me desconcentrava, não chegava a ser um ronco, mas era nítida e ritmada, me advertindo da extrema proximidade em que nos encontrávamos. A última vez que comprimi o botão que iluminava o mostrador do relógio no meu pulso, os ponteiros marcavam três e um quarto da madrugada. Minhas pálpebras pesavam como chumbo e eu me perdi num sono agitado.

Por uma fresta entre as cortinas da cabine passava um facho nebuloso do alvorecer cinza e gelado. Faltavam cinco minutos para as seis da manhã. Eu sentia um calor aconchegante nas minhas costas enquanto recobrava modorrento, a percepção de onde estava. Meu corpo estava encaixado no do Mario, seu braço roçava o meu, e algo duro se comprimia contra minha bunda. Tentei me afastar dele, mas eu já estava com a cara praticamente colada na lateral da cabine, e não tinha para onde ir. Meu movimento o acordara. Ele tirou os braços debaixo do cobertor e se espreguiçou, antes de coçar os olhos para se acostumar à penumbra em que estávamos imersos. Consultou o relógio e atirou o cobertor de lado.

- Bom dia! – exclamei vexado, quando vi pelas aberturas do short, que o que estava comprimindo minha bunda era sua pica enrijecida.

- Conseguiu dormir? – perguntou, sem se importar com o estado impudico de seu membro, como se aquilo fizesse parte da rotina de seu despertar.

- Um pouco. Acho que o suficiente para encarar o dia. – respondi, desviando meu olhar daquele cacete que teimava exibir sua cabeça violácea e reluzente no meio daquelas coxas peludas.

- Vamos tomar um café e, sem demora, pegar a estrada. Temos muito chão pela frente. – disse, ao despir o short e começar a vestir uma bermuda e uma camiseta sobre a qual ajeitou uma jaqueta.

Eu me despi vagarosamente sob o olhar atento dele, na esperança de que ele deixasse a cabine para eu trocar de roupa, mas isso nem passou por sua mente. Por sorte eu já havia trocado a cueca depois do banho na noite anterior, no entanto, ele não perdeu nenhum detalhe daquela nudez alva que se movia desajeitadamente, ao colocar o jeans e a malha de mangas longas, que cobriram aquela pele ainda viçosamente perfumada. No banheiro do posto, passei uma água fria no rosto, enquanto ele mijava estrondosamente no vaso de um dos cubículos na parede oposta à bancada das pias.

Uma garçonete trouxe nossos pedidos e um bule de café fumegante que despejou em nossas xícaras. Eu a agradeci com um sorriso, e percebi que ela não estava acostumada a essa consideração, afastando-se com uma expressão de contentamento. O primeiro gole de café revigorou minhas sensações com seu aroma inconfundível, e eu o sorvi lenta e saborosamente. O Mario me olhava por cima da borda da sua xícara, e eu podia jurar que seus lábios tinham o contorno de um riso disfarçado. Eu tinha a sensação de que ele me analisava, estudava cada uma das minhas ações e, de alguma forma, aquilo parecia diverti-lo. Eu me propus a pagar a conta e ele não fez nenhuma objeção.

Retomamos a estrada. As paisagens iam se alterando entre uma sequência de cidades e algumas pequenas propriedades rurais, até Volta Redonda, onde predominavam as chaminés da Companhia Siderúrgica Nacional. Pouco depois de deixarmos a cidade para trás, paramos para o almoço. O restaurante de beira de estrada estava lotado apesar do horário tardio, visto a quantidade de automóveis e caminhões estacionados sob a sombra das árvores. Eu estava mijando num daqueles abomináveis mictórios coletivos de inox quando o Mario se postou bem ao meu lado e sacou aquela jeba imensa e aliviou sua bexiga num prolongado jato de urina amarelo espumante que era levado pela água que escorria na canaleta do mictório. Ele balançou a rola liberando os últimos respingos, numa atitude provocadora que até inibiu a saída da minha urina. Intimamente censurei-o pela atitude grosseira, o que lhe causou uma disfarçada satisfação. Esse cara está tirando uma com a minha cara, pensei, enquanto entrávamos no restaurante lotado. Imediatamente uma centena de rostos se virou em nossa direção, um misto de curiosidade e mordacidade podia ser visto em seus semblantes. Sem dúvida formávamos uma dupla sui generis. Era óbvio que eu não era seu ajudante, e isso aguçava os sentidos daquela gente na tentativa de captar a natureza da nossa parceria.

- Você é o alvo desses olhares inquisitórios. – disse, após empilhar o prato de comida no bufê, e se acomodar na mesa que um garoto solícito, com um avental engraçado com as cores do restaurante, nos apontou. – Esse seu jeito mauricinho não combina com a decoração! – acrescentou, com sarcasmo.

- Não sou mauricinho! – exclamei com enfado. Estava me cansando das atitudes dele, pois não via razão para ele ser tão desagradável.

- É o que é então? – retrucou, me encarando. – Você nunca viajou nessas condições, isto está claro. – emendou.

- Viajei sim! Fui de Paris ao sul da França com um amigo, só na base da carona. – despejei, me arrependendo do revide a cada palavra que pronunciava, pois estava antevendo a ironia de seu próximo comentário. Pois era evidente que uma viagem pela França estava longe de se comparar às precárias condições de uma viagem pelas estradas brasileiras. Mas era tarde demais para consertar a besteira que acabara de fazer.

Ele apenas riu e balançou a cabeça entre uma garfada e outra. Minha fome se desvaneceu após poucas deglutições, o apetite acabara junto com a feição de escárnio em sua cara. E lá estava eu mordendo meu lábio outra vez.

- Você é sempre tão crítico assim? – perguntei, num ato de rebeldia. – Ou está sendo assim apenas comigo? – emendei, encarando-o.

- Não sou crítico! Estou apenas tentando saber o que você pretende com uma viagem como esta? – respondeu, sem olhar para mim. – É no mínimo curioso. – concluiu.

- Pretendo chegar a Fortaleza de uma maneira diferente, só isso. Eu te disse isso lá em São Paulo. Não vejo o que tem demais nisso. – esclareci.

- Ok! Se você está falando! – falou, antes de esvaziar o copo de suco num gole só.

A partir daí segui mais calado. Tinha desistido de angariar a simpatia dele, se é que ele tinha alguma. Limitei-me a olhar a paisagem e a emitir respostas curtas às suas raras observações. No entanto, esses momentos de mais concentração me permitiram constatar que ele dirigia inquieto. Ao que parecia ele procurava por alguma coisa ao longo do trajeto. Seu olhar percorria tudo e todos a todo o instante, sem trégua. Quis perguntar se ele estava à procura de alguma referência do caminho, se talvez eu pudesse ajuda-lo, mas desisti. Seguramente um caminhoneiro sabia para onde deveria levar a carga que estava transportando. E eu não queria dar a ele mais munição para me criticar. Outra coisa que me chamou a atenção nesses momentos de maior introspecção, foi o fato de um Toyota Corolla, cinza escuro, aparecer repetidas vezes no espelho retrovisor do lado do motorista, que eu só conseguia ver quando deslocava meu corpo em direção ao centro da cabine ao esticar as pernas ou para encontrar uma posição mais cômoda. Parecia o mesmo em que três sujeitos, entre eles um mulato gordinho, que esbarrara acidentalmente comigo quando eu voltei ao banheiro do restaurante para escovar os dentes após o almoço, embarcaram e saíram do posto, pouco antes de retomarmos a estrada. E isso já estava para completar mais de duas horas.

- Afinal, o que você está transportando? E para onde está indo? – perguntei curioso, depois de um longo silêncio, no qual eu remoía minha contrariedade pelas atitudes do Mario.

- Para que você quer saber isso? – devolveu secamente.

- É só uma curiosidade. Eu já tinha te perguntado para onde estava indo, mas você ignorou minha pergunta. – falei tranquilamente. – Até porque, até o momento, eu não sei se você vai me deixar em Fortaleza ou num local do qual eu tenha que continuar sozinho. – justifiquei.

- Estou indo para Fortaleza. E a carga, bem, a carga é de medicamentos. – respondeu.

- Estranho você dizer que não podia me ajudar quando te pedi a carona, quando estava indo justamente para o mesmo lugar. Agora começo a entender suas atitudes, você não estava a fim de me dar carona. – observei consternado.

- Não é bem isso. – disse, procurando meu olhar.

- Era só ter dito que não queria, tudo bem. Mas você voltou e se propôs a me levar, por quê? – inquiri desolado.

- Foi o seu jeito! – respondeu, sem que eu compreendesse a resposta.

- Que jeito? O que tem o meu jeito? – questionei curioso.

- O jeito educado e tímido com que me abordou, e que estava abordando os outros caminhoneiros. Eu estava te observando há algum tempo antes de você me abordar. – disse, sem rodeios.

- Estou pedindo um favor, como queria que eu abordasse as pessoas? – perguntei, sem saber onde havia errado.

- Caminhoneiros não são os caras mais gentis e refinados que existem. Acho que foi por isso que você demorou tanto para conseguir uma carona. – respondeu.

- Estou percebendo isso agora. E o que me deu a carona o está fazendo a contragosto. – comentei.

- Não é nada disso. Eu até gosto da sua companhia. – zombou, dando um tapa na minha coxa.

- Puxa! Que consolo! – murmurei conformado.

Ele encerrou a jornada do dia após as vinte horas, num posto pouco mais de cem quilômetros depois de Teófilo Otoni. Duas grandes construções se destacavam dentro da área do posto, o restaurante e um edifício de dois andares sobre o qual se lia HOTEL. Jantei um peito de frango grelhado e uma salada sortida, enquanto o Mario se abasteceu por duas vezes no bufê, num apetite voraz. Ele tentava desfazer a imagem que eu construí dele a partir de suas atitudes, mantendo uma conversa agradável e, pela primeira vez, respondendo as minhas perguntas com frases mais consistentes do que os breves grunhidos com os quais vinha me respondendo. Passava das onze quando senti o sono se aproximando. Ele continuava acesso como se a jornada de catorze horas ao volante não o tivesse afetado.

- Está cansado? – perguntou, ao perceber que eu mal conseguia prestar atenção ao que ele dizia.

- Um pouco! – respondi. – Foi um dia puxado, não sei como você ainda está tão disposto. – respondi, num sorriso afável.

- Você vai ficar mais confortável se pedir um quarto aqui ao lado. Pelo menos vai tomar um banho sossegado, sem ninguém bisbilhotando sua nudez. – falou rindo.

- Por quê? Você não vai dormir no ‘hotel’ cinco estrelas cadentes? – inquiri pilhérico.

- Não! Vou dormir na boleia! – respondeu, divertindo-se com minha piada.

- Eu pago! É um presente por estar sendo gentil comigo. – ofereci. – Com certeza vai relaxar mais numa cama do que na boleia, onde mal cabe seu corpanzil. – emendei.

- Não, obrigado! Fico na boleia. A cama lá não é nada apertada, você mesmo viu. Coube o meu corpanzil, como você diz, e até o seu corpão, sem que tivéssemos que brigar. – revidou, esticando o olhar sobre mim.

- Então está bem, fico no quarto do estrelas cadentes e você na boleia. Eu bem sabia que minha companhia estava te cansando. – disse, fazendo um muxoxo.

- Errado de novo! Foi muito bom dormir encostadinho em você, sentindo seu perfume colorindo meus sonhos, pena que você tenha colocado aquele montão de roupas. – caçoou malicioso.

- Quer dizer que aquela encaixada não teve nada de casual? – questionei enrubesçendo.

- Inevitável! – balbuciou. – Mas se você se sentir muito só lá no quarto é só bater na porta da cabine e entrar debaixo do cobertor. Vou ficar esperando! – disse provocativo.

- Vou pensar no seu caso! – retruquei tímido.

Ele tomou uma ducha no quarto que eu reservei antes de ir para o caminhão. Saiu com a toalha enrolada na cintura e os cabelos pingando, no exato momento em que eu já me vestia para dormir, embora só tivesse colocado a cueca e enfiado os braços na camiseta que queria vestir. Ele jogou a toalha sobre a cama e me fez contemplar seu caralhão indecentemente grosso. Eu não conseguia desviar o olhar daquele sexo poderoso, uma jeba abrutalhada e um sacão imenso ingurgitado de fertilidade. Ele se aproximou de mim e envolveu minha cintura. Ficamos a apenas centímetros um do outro, e eu podia sentir o calor que o corpo dele emanava. Ele tocou delicadamente meus lábios com os dele, e tentou me invadir. Meus lábios nunca haviam tocado os de outro homem e eu me retraí. Quando meus lábios voltaram a tocar levemente os seus, Mario segurou meus quadris com firmeza e forçou-me a abrir a boca com sua língua. Quando eu afastei a cabeça, ele pôs a mão atrás da minha cabeça e trouxe a boca, com ímpeto, para a dele. Desta vez, a minha língua não hesitou e avançou avidamente para encontrar a dele, enquanto ele passava as mãos nas minhas nádegas. Mario sentiu meus braços se cruzando atrás do seu pescoço enquanto eu o beijava com voracidade. Enrubescido e sem fôlego, eu levantei a bainha da camiseta acima dos peitinhos, para que ele pudesse ver a pele clarinha contrastando com os dois mamilos marrom-chocolate e os biquinhos hirtos e rosados. Seus olhos se arregalaram e ganharam um brilho ousado. Ele sorriu ante o recato com que eu levantara a camiseta.

- Perfeito! – disse. Prendendo minha mão onde estava e beijando um dos mamilos com todo cuidado. – Mas quem diria que um rapaz tão bonito como você teria peitinhos tão bem torneados e saborosos? – acrescentou. Voltando a tocar a pele ao redor dos mamilos com as pontas dos dedos, depois se inclinou e voltou a beijá-los.

Mario sentiu minhas mãos correrem por seu cabelo ainda úmido enquanto ele beijava meu ventre com apaixonada urgência. Suas mãos trabalhavam para deixar minhas nádegas expostas. Virou-me de lado e avançou sobre elas como se fosse um lobo predando sua presa. Meus glúteos polpudos, durinhos e castiços afastaram de sua mente qualquer resquício de racionalidade, e ele passou a consumi-los abocanhando-os avidamente. Sua barba me pinicava quando ele cravava os dentes em mim, formando manchas eritematosas que se destacavam na lividez da minha pele. Aquelas protuberâncias carnosas guardavam o que ele mais desejava, meu cuzinho. Olhando em sua direção eu vi como seus olhos se arregalarem quando ele apartou delicadamente as nádegas, e vislumbrou a fenda rosada piscando num invite libidinoso. Mas antes de se apossar dessa joia com minha irrestrita aquiescência ele sabia que era preciso me subjugar à sua vontade. Segundo a sua experiência nessa arte era preciso fazer meu tesão aflorar ao nível da devassidão, eliminando qualquer pudor que me fizesse resistir à sua investida. O segredo para isso pendia pesadamente entre suas pernas. Por isso ele aproximou seu cacete do meu rosto me fazendo inalar o denso e intenso cheiro de sua virilha. A glande balançava a centímetros dos meus lábios, e seu olhar mendicante me fez lambê-la num devaneio insano. Vívida e abrasadora, aquela jeba pulsava entre meus lábios sedentos, que lambiam e sugavam o pré-gozo minando em borbotões viscosos. A pica dele era suculenta e saborosa, meu tesão me impelia a devorá-la, quando me dei conta estava a engolir aquela tora sugando-a como se disso dependesse minha vida. Ele urrava com o prazer que aquilo lhe proporcionava, e prendeu minha cabeça para que eu não interrompesse aquela luxúria indulgente. A pica latejava na minha boca, e tendo superado todos os limites da decência, eu a quis acalentar dentro de mim, e desta vez a mendicância se instalou no meu olhar. Ele abriu um sorriso vitorioso e condescendente, antes de dedar meu cuzinho numa provocação derradeira. Eu gemia deleitado com a habilidade dele em manipular minhas preguinhas afoitas. Em pé ao lado do leito ele puxou minhas ancas contra sua virilha fazendo a pica resvalar no meu reguinho. Meus gemidos eram tímidos, mas suplicantes, quando ele começou a forçar meu anelzinho anal. Cada investida dele forçava mais os meus esfíncteres, e deixava meu corpo cada vez mais desejoso e abrasado. Quando o caralho penetrou meu cu eu gritei e, a despeito da dor, minhas carnes, num ato de depravação, agasalharam aquele cacete com todo seu furor, apertando-o firmemente nas minhas entranhas. Ele soltou um som rouco e gutural, agarrando minhas ancas com mais força, temendo que aquela sensação prazerosa lhe escapasse. Sem demora, continuou a enfiar seu membro tenazmente duro no âmago do meu ser. Eu apertava o travesseiro entre os dentes cerrados enquanto gemia desvairadamente, sentindo aquele homem imenso entrando e saindo de mim tresloucadamente. Ele me estocava tão fundo que parecia querer me invadir. Na sequência fugaz ele sacou a rola do meu cu, me posicionou de costas sobre a cama, abriu minhas pernas e voltou a meter em mim, de um só golpe. Agora estávamos cara a cara, cruzei meus braços em torno do seu pescoço e puxei-o sobre mim. Nossos olhares se fixaram mutuamente, e eu pude ver a transparência dos sentimentos dele refletidos na candura de seus olhos, e ele leu nos meus o avassalador sentimento que acabara de se instalar em mim. Subitamente ambos se sentiram tão ligados, numa conjunção carnal que transcendia aquele primeiro coito e se instalava em nossas almas. Nossas bocas se tocaram e, enquanto a língua dele me penetrava com todo seu sabor másculo, eu me entreguei todo a ele. Um frenesi percorreu minha coluna terminando num gozo lascivo, ao mesmo tempo em que ele dava as últimas estocadas que o fizeram explodir num gozo mitigante, despejando jatos de porra pegajosa no meu cu dilacerado. Ele quase cochilou sobre meu peito, aconchegado no meu abraço que envolvia seu tronco, e lhe acariciava a nuca num cafune relaxante. O pau dele ia amolecendo aos poucos, sem pressa, dentro de mim. Eu mantinha as pernas abertas flanqueando seus quadris, e torcia para que aquele momento se eternizasse.

Depois que ele saiu de mim eu senti como se estivesse oco, tamanho o vazio que permanecia nas minhas profundezas. Caminhei com dificuldade até o banheiro, onde limpei a porra que vazava do meu cuzinho. Quando voltei para o quatro ele não estava mais. Tive tanta vontade de dormir em seus braços que quase fui atrás dele, dormir no caminhão, mas achei que se ele realmente quisesse isso, teria ficado comigo. Caí num sono profundo e reparador, segundos depois de pousar a cabeça no travesseiro.

O início do inverno por essas bandas não parecia tão frio quanto em São Paulo. O dia amanhecera com uma neblina baixa, mas a luminosidade já permitia suspeitar que o sol estava logo acima dessa densa camada úmida que cobrira as carretas do pátio de estacionamento com uma película de orvalho. A temperatura agradável, prenunciando um dia quente, me inspirou a vestir uma bermuda e uma camiseta, justa o suficiente para se amoldar ao meu físico, e deixar o contorno dos meus peitinhos, levemente inchados pela impetuosidade com que foram mordidos na noite anterior, bem demarcados sob a malha macia da camiseta. Foi a primeira coisa sobre a qual o Mario fixou seu olhar quando fui encontra-lo, saindo do caminhão. Um sorriso amplo, que deixou à mostra seus dentes, acompanhou o mais eloquente bom dia que ele até então, havia me dirigido. Eu senti que ele se alegrou por me ver com menos roupas, pelo menos com roupas que deixassem meu corpo mais exposto, embora ele agora o conhecesse por completo. Entramos num canto do restaurante, que mais parecia uma lanchonete, onde meia dúzia de caminhoneiros já tomava seu café. Os olhares sonolentos e atávicos eram acompanhados por uma conversa a meio tom.

Depois de sermos servidos no balcão, e colocarmos nosso café sobre uma bandeja, o Mario apontou para uma mesa isolada da qual se via o Volvo bem à frente.

- Como foi sua noite? Dormiu bem? – perguntou, depois de tomar um gole da caneca da qual saiam os vapores do café quente, num riso malicioso.

- Solitária! Por que você me abandonou? – respondi, antes de dar uma mordida num pão torrado coberto de fatias de queijo.

- Eu quis que você tivesse uma noite tranquila. Senti você bastante extenuado depois da nossa brincadeirinha. – arrematou.

- Mas senti sua falta. Até pensei em dormir com você na boleia, mas achei que quisesse tirar uma folga da minha companhia, e resolvi não incomodá-lo. – esclareci.

- Você me incomodar? De onde tirou isso? – indignou-se – Gosto da sua companhia, e muito. Ponha isso na sua cabeça! Teria adorado passar a noite toda dentro de você! – acrescentou enfático.

- Meu corpo está todo marcado da sua tara! – exclamei baixinho. – E, de certa forma, você ainda continua dentro de mim, ou pelo menos, o que você colocou aqui dentro. – acrescentei, olhando para os lados para ver se ninguém me ouvia.

- E você tem a pachorra de me dizer isso assim, na lata? Já estou ficando de pau duro, só imaginando você todo molhadinho aí dentro. – disse num quase gemido, enquanto ajeitava a pica com uma das mãos debaixo da mesa.

- Sinto muito, mas não saberia me referir ao que aconteceu de outra maneira. É o preço que você tem que pagar pelo pioneirismo. – confessei sincero.

- O que você está me dizendo? Afinal, quantos anos você tem? – perguntou curioso.

- Vinte e cinco! Por que o espanto? – revidei

- E você está me dizendo que lindo e tesudo desse jeito, você nunca tinha..... Eu não acredito! Você foi tão desprendido e carinhoso, que eu achei que você já tivesse deixado muitos caras malucos. – exclamou com um ar de triunfo a lhe iluminar o rosto.

- Pois enganou-se! Depois não sou nenhum pervertido...que história é essa de muitos caras? – retruquei desgostoso.

- Eu não quis te ofender, desculpe! Mas você me dizer que sou o pioneiro, com essa naturalidade toda. Ufa ... Precisa ser de ferro! Primeiro me diz que minha porra continua aí dentro, depois que sou o primeiro a entrar nessa grutinha de perdição. – disse, mastigando as palavras como se isso o ajudasse a deglutir a realidade. – Meu cacete está do tamanho de um poste! – murmurou sorrindo.

Enquanto ele falava, por trás de seus ombros algo me chamou a atenção. Ou melhor, alguém fez meu olhar acompanhar seus movimentos. Tive a nítida sensação de ter reconhecido aquele sujeito mulato que estava ensaboando seu caralhão na primeira noite que paramos lá entre São Paulo e o Rio de Janeiro. Embora estivesse de costas para mim, em dado momento quando virou a cabeça, seu perfil me pareceu familiar. Ele estava acompanhado de outro cara. Um homem alto, meio forte, cabelo bem curto, que andava como se estivesse marchando. Estavam deixando o salão e se dirigiram até uma picape Ranger estacionada na lateral da construção.

- Você está me ouvindo? – perguntou o Mario, abanando a mão diante do meu rosto.

- Ah! Estou claro. – respondi, enquanto meu olhar perseguia a dupla.

- Está olhando para quem? – perguntou, virando-se na direção em que meu olhar se fixara.

- Para ninguém, que ideia! – respondi desconfiado.

- Acho bom mesmo! Depois dessa revelação não vai ter para ninguém. Vou ser o pioneiro e o único! – exclamou zombando.

Havíamos cruzado a divisa entre os estados de Minas Gerais e Bahia, acabávamos de passar pela cidadezinha de Cândido Sales e cruzado a ponte sobre o rio Pardo quando após alguns quilômetros o Mario começara a dirigir de uma maneira diferente. Pouco antes eu lhe perguntei se estávamos fazendo a viagem sozinhos ou se alguém nos acompanhava, pois jurava ter visto o mesmo Corolla que avistei no dia anterior quando ele nos ultrapassou por três vezes.

Embora estivéssemos cruzando um trecho cheio de curvas na estrada por entre morros e abismos, ele aumentava a velocidade fazendo com que o baú se inclinasse perigosamente e, chegasse mesmo a derrapar em algumas curvas mais fechadas, levantando uma fumaça cinza impregnada do cheiro de borracha queimada. Ele mantinha a cabeça virada para a estrada a sua frente, mas os olhos se revezavam nervosos entre os dois retrovisores externos, e eu tive a certeza de que há muito ele não estava ouvindo uma única palavra do que eu dizia. As feições do seu rosto estavam contraídas quando eu me dei conta de que estava acontecendo alguma coisa. Subitamente ouvi um assobio acima da minha cabeça. Mario movia o volante de um lado para o outro em plena curva, e o caminhão começou a ziguezaguear. Depois escutei um assobio mais alto quase no mesmo instante em que o para-brisas se despedaçava num intrincado desenho repleto de rachaduras que partiam de um orifício pelo qual o ar frio que vinha de fora começou a entrar num silvo contínuo. Tiros começaram a vir da nossa esquerda, e eu me dei conta de que outro veículo estava emparelhado próximo à cabine. Os disparos de armas automáticas se intensificaram e atravessaram o frágil revestimento da porta do motorista, ricocheteando na estrutura de metal da coluna e do teto da cabine do meu lado. Parecia que a paisagem a nossa volta ganhava vida de forma insana, e eu soltei um grito desesperado antes do Mario liberar a trava do meu cinto de segurança e, com um empurrão violento me lançar ao chão para baixo do painel.

A carreta se desgovernou, após uns solavancos o baú bateu violentamente contra um paredão rochoso que margeava a estrada e o cavalo, sem controle, capotou e foi arrebentando a grade de proteção até parar entalada numa vala com as rodas voltadas para a estrada. Lembro-me de sentir o corpo pesado do Mario me esmagando contra a lateral da cabine. Sua cabeça pendia de forma estranha, e quando toquei em seu tronco, senti uma coisa pegajosa e úmida em minhas mãos. O sol que passava pela janela do lado do motorista ofuscou minha visão, e entre as pálpebras semicerradas eu podia ver uma nesga do céu azulado se desvanecendo lentamente.

Quando abri os olhos outra vez o sol havia desaparecido. Cheguei a identificar uma penumbra, o silêncio era total. Meu corpo já não estava confinado, mas deitado de costas sobre uma superfície fria, e o do Mario estava ao meu lado. Senti a respiração morrer em meus pulmões. Amava esse homem? Teria descoberto isso em tão poucos dias de convivência? Tudo não passaria de uma alucinação causada pelo terror que estávamos vivendo? Lágrimas doídas de frustração misturavam-se com o suor e o sangue em meu rosto. Enquanto gemia e lutava para respirar contra a neblina da inconsciência, a visão retornou um pouco mais clara e descobri que estava olhando para o corpo dele, bem ao lado, aparentemente sem vida. Minha garganta liberou um grito agudo e desesperado, antes de eu mergulhar novamente na escuridão.

Acordei com uma pressão sobre o tórax. O rosto ensanguentado do Mario me fitava com os olhos fundos dentro das órbitas. Ele me sacudia quase sem forças. Ao erguer o tronco num esforço dolorido, vi que não estávamos mais no caminhão. Percorri o ambiente e me pareceu que estávamos num casebre. Feixes de luz se infiltravam entre as tábuas do que eu supus serem janelas e uma porta. E eram. A respiração do Mario não passava de um chiado estridente e eu vi que ele segurava o ombro esquerdo com aflição. Eu conseguia me mover, com dificuldade, mas conseguia aos poucos ir sentindo cada parte do meu corpo. O mesmo não acontecia com ele. Ele se contorcia enquanto rolava no chão de cimento frio. Fui engatinhando até o que me pareceu ser a porta, mas antes de alcança-la, ela se abriu num golpe abrupto. Por uns instantes a luz que vinha de fora me cegou. Depois consegui distinguir a silhueta de um homem entrando na construção.

- Chega aqui, rápido! – gritou, fazendo minha cabeça reverberar. – Esse aqui já acordou, é melhor amarrá-lo! Depressa. – emendou, quando outro sujeito entrou no casebre.

- Socorro! Por favor nos ajude! Eu acho que ele está ferido, tivemos um acidente! – exclamei suplicante.

- Um belo acidente, digno de uma cena de filme! – revidou sarcástico o que entrara primeiro. – Isso vai dar mais credibilidade à coisa toda. – continuou.

- Avise a polícia! Ele vai precisar de uma ambulância! – continuei desesperado, enquanto minhas pernas começavam a ser atadas por uma larga fita adesiva prateada.

- A última coisa que queremos por aqui é a polícia! Vocês vão ficar quietinhos aqui até encaminharmos a carga. – sentenciou o sujeito, que agora sacava uma arma da cintura e a apontava na direção do Mario, que voltava a se agitar.

- Quem são vocês? O que estão fazendo? – indaguei, enquanto um pensamento lúgubre começava a me perturbar. – Ele precisa de ajuda médica, por favor! – supliquei, sentindo as lágrimas molhando meu rosto sujo de sangue.

- Cala a boca! Fique quietinho que nada vai acontecer a vocês. Não dificulte o serviço. – vociferou autoritário.

Depois de atar meus pulsos com a mesma fita, os sujeitos me encostaram a uma parede onde permaneci sentado vendo o que me amarrou fazendo o mesmo com o Mario. Só que ele não se movia e de quando em vez soltava um gemido rouco, que me deixou ainda mais aflito.

- Não o machuquem. – implorei entre soluços.

Pela porta aberta vi o baú atrelado a um Mercedes Benz alaranjado, já mais antigo, estacionado debaixo das copas de dois enormes jatobás. O pensamento que me afligia começou a se materializar quando fui me dando conta de que estávamos sendo vítimas de um roubo de carga. O acidente fora planejado, e na medida em que meus olhos foram se acostumando à pouca luz que iluminava o casebre, reconheci o mulato gordinho que seguia com os outros dois no Toyota Corolla. Era ele quem segurava a arma. Arrastaram o Mario até junto a mim. Ele estava inconsciente e caiu no meu colo assim que o encostaram à parede. Amparei sua cabeça e comecei a acaricia-lo, enquanto minhas lágrimas caiam sobre seu rosto inerte. Ergui meu olhar para as telhas vãs que cobriam o ambiente e supliquei para que nada de mal acontecesse com o Mario. Eu procurei em vão aqueles olhos desejosos que cintilavam de satisfação, enquanto eu sentia seu membro poderoso latejando nas minhas entranhas. Eles agora estavam opacos, não passavam de uma fissura estreita e quase sem vida.

Aos poucos a claridade foi diminuindo, e o pouco do céu, que eu conseguia enxergar daquela posição, ia se tornando cada vez mais negro. Não havia lua e nem estrelas, ou talvez estivessem por trás daquela manta acinzentada que prenunciava uma chuva iminente. O Mario gemia, ora mais intensa e repetidamente, ora tão fraco que se confundia com o vento que agitava as folhas nas copas dos jatobás. Eu deslizava minhas mãos atadas sobre o peito dele e sentia os batimentos constantes e potentes do seu coração, e isso me tranquilizava. Eu podia sentir o cheiro enjoativo da fumaça de cigarro que dançava em frente ao vão da porta. Provavelmente alguém nos vigiava em silêncio, entretido com aquelas baforadas.

- Por favor! O que vão fazer conosco? Ele precisa ser levado a um pronto-socorro. Não nos deixe aqui. – implorei em vão. Ninguém respondia, embora ouvisse minhas súplicas.

As horas foram passando até minha cabeça começar a pesar e eu me esforçava para não adormecer, temendo que minha ausência pudesse ser fatal para o Mario. Os primeiros pardais começavam a chilrear pelas redondezas quando a luz do alvorecer se levantava no horizonte. O Corolla parou dentro da minha linha de visão, trazendo atrás de si uma nuvem de poeira. Dois homens desceram e começaram a conversar com aquele que se mantivera calado do lado de fora do casebre, bem ao lado da porta.

- Está tudo arranjado! Já temos o destino da carga. É preciso sair logo, pois teremos que seguir por estradas secundárias. – disse o que dirigia o Corolla, enquanto o que ficara de vigia balbuciava algo ininteligível.

- E o entulho? O que vamos fazer com ele? – perguntou um deles.

- Eles viram nossa cara. Lembre-se do que falou o capitão. Em caso de dúvida, melhor despejar. – respondeu o que ficara na porta.

- Despeja na beira do riacho que passa atrás da casa. Mas vai ser preciso fazer um caixote. – disse o que tinha chegado.

- Vamos perder um tempão fazendo o caixote, e um não está em condições de ajudar, o outro quem sabe? – ouvi, sem distinguir de quem partiam as palavras.

Instantes depois dois sujeitos entraram no casebre. Eu continuava segurando e afagando a cabeça do Mario no meu colo. Um deles me puxou com violência e eu tive que esticar meus braços para não deixar que a cabeça do Mario batesse no chão. Em seguida soltaram a fita que me atava pernas e mãos, e me mandaram sair. Na luz do dia pude ver que estávamos numa espécie de sítio, além da pequena casa com paredes de adobe e um telhado rústico, havia outra construção, talvez um galpão de ferramentas ou um galinheiro desativado, com paredes de madeira, coberto com as mesmas telhas da casa. Uma área cercada com troncos amarrados com arame farpado e um extenso quintal que ia desde a frente da casa, onde estavam os jatobás, até a beira de um córrego de águas barrentas que corria nos fundos da casa. Era preciso descer um barranco até chegar na água, e foi nessa terra mais úmida que o outro sujeito estava cavando um buraco com a ajuda de uma pá. Um dos que me acompanhava jogou outra pá na minha direção e me mandou ajudar a cavar o buraco, que devia ter uns dois metros por dois metros e já estava com pelo menos sessenta centímetros de profundidade. Foi então que a conversa deles começou a fazer sentido. O tal ‘caixote’ era o buraco que estavam cavando para desovar nossos corpos. Entrei em pânico quando as ideias se aclararam na minha mente, e de joelhos comecei a implorar para não fazerem nada conosco. Jurei não contar nada a polícia, supliquei pela vida do Mario, mas quando o sujeito que me pareceu ser o mais frio e cruel dos três, tirou a pistola automática da cintura e, bateu com a ponta do cano na minha nuca, eu percebi que estava pedindo o impossível, que a decisão dele já havia sido tomada.

Com os pés atolados na lama do barranco eu cavava enquanto o suor e os soluços banhavam meu rosto. A carreta começou a ser manobrada. O motor do Mercedes Benz soltou uns pipocos acompanhados por uma fumaça escura que saia do escapamento. O motorista acelerava, o que fazia aumentar o barulho do velho motor, e acionava os freios, o que provocava uns chiados prolongados enquanto executava a manobra, abafando um outro som que só se tornou mais claro quando as pás do rotor de um helicóptero levantaram uma nuvem de poeira ao passar num rasante sobre a copa das árvores. Ao mesmo tempo a picape e mais duas viaturas da polícia federal entravam a toda velocidade na propriedade. O que estava cavando o buraco comigo saiu correndo pela margem do córrego tentando se embrenhar numa capoeira alta. O que havia me apontado a pistola começou a atirar na direção das viaturas, no que foi seguido pelo motorista do caminhão que, abrigado na cabine, disparava com um fuzil automático rajadas que estilhaçaram os vidros de uma das viaturas e abriu uma série de furos na porta da picape. Os policiais se atiraram para fora dos veículos e revidavam disparando com armamento pesado. Depois que alguns projéteis passaram zunindo por mim, me atirei no buraco e comecei a gritar pedindo socorro. Um tiro disparado pelos policiais atingiu o tanque do caminhão e uma explosão ensurdecedora sacudiu o chão até onde eu me encontrava. Uma bola de fogo subiu aos céus, envolta por uma fumaça preta. Dois policiais apareceram correndo da mesma direção em que o sujeito que cavava o buraco comigo havia ido se abrigar. Eles o traziam com as mãos algemadas nas costas. O clique de uma arma sendo engatilhada soou rente à minha cabeça, e eu coloquei as mãos na nuca implorando para que não atirassem. Quem apontava a arma para mim era o mulato do caralhão debaixo do chuveiro.

- Levante-se com cuidado e venha comigo. – disse, me agarrando pelo braço e me arrastando para a proteção atrás do casebre.

- Por favor, ajudem o Mario. Ele está ferido e inconsciente dentro da casa. Eu preciso ir lá ver como ele está. – implorei tentando me desvencilhar de sua mão forte.

- Calma! Você não sai daqui. Fique com ele Pedro, não deixe que faça nenhuma besteira. – falou, incumbindo o outro policial de me segurar como ele vinha fazendo.

O tiroteio pesado havia cessado. Um silêncio tenebroso e angustiante se instalara. Tentando observar o terreiro por cima do ombro do policial que me detinha eu pude ver o corpo do mulato gordinho estendido sem vida próximo ao pneu do Mercedes Benz praticamente destruído pela explosão. Os outros policias se movimentavam cautelosamente procurando se aproximar da casa. Quando um deles correu para se abrigar atrás do tronco de um dos jatobás um disparo, saído de dentro da casa arrancou uma lasca de madeira de voou no ar.

- Ele está lá dentro com o Mario. Precisamos tirá-lo de lá! – berrei desesperado. Obrigando o policial que me segurava a me apertar contra a parede da casa com tanta força que esfolou minhas costas.

- Quieto! Eu não vou mais repetir! – ameaçou carrancudo.

Começou uma negociação entre os policiais e o marginal que ainda mantinha o Mario sob sua ameaça. Ele começou a fazer exigências descabidas, ameaçava por fim a vida depois de executar o Mario. Eu me desesperava cada vez mais e não contive mais o choro que me comprimia o peito. Soluçava como uma criança abandonada, o que fez o policial que estava comigo se arrepender da rudeza com que me tratou. Por mais de uma hora, que me pareceu não terminar nunca, a negociação continuou, sem um acordo.

- Vamos te dar um tempo para pensar! Depois voltamos a discutir a questão. Reflita sobre a bobagem que você está fazendo e se entregue. Garanto que é o melhor para você! – proclamou a voz que até então comandava as negociações e, pelo visto todo o esquema. Ela partia de um homem corpulento, alto e, inesperadamente conhecido meu. Digo conhecido do ponto de vista de já ter cruzado com ele. Era o que deixava a lanchonete com o mulato naquela manhã do acidente, quando o Mario e eu conversávamos sobre a minha virgindade tardia.

Enquanto tudo parecia se resumir a espera da reflexão do bandido, os policias continuavam a se movimentar. Estavam já bem próximos da casa e, quem estivesse lá dentro, não conseguia acompanhar todas essas movimentações. Subitamente ouvi um estouro, uma nuvem de fumaça branca começou a sair pela porta do casebre, meus olhos começaram a lagrimejar, agora não pelo choro, mas por um cheiro que penetrava meu nariz e me fazia sentir falta de ar. Mesmo assim, consegui distinguir um vulto tentando deixar a casa e disparando a esmo enquanto corria até o Corolla. Antes que ele alcançasse a maçaneta da porta com o braço esticado, seu corpo contorceu-se espasmodicamente num rodopio estranho, antes de cair na terra empoeirada.

Me desvencilhei do policial que se distraíra, momentaneamente, com o desfecho da operação, e corri para dentro do casebre enfumaçado. O Mario continuava deitado inconsciente junto à parede, a camisa empapada de sangue coagulado, o rosto lívido, mas seu coração pulsava debaixo daqueles pelos que forravam seu peito largo. Voltei a sustentar sua cabeça, enquanto dos meus olhos pingavam lágrimas sobre seu rosto inexpressivo. Logo eu estava cercado de pernas dos policiais que me ajudaram a leva-lo para o ar fresco. O helicóptero pousou na clareira levantando uma poeira arenosa, e eles o embarcaram na cabine diminuta. Quando o som da aeronave desapareceu, um nó fechou minha garganta, e eu me senti mais só do que nunca.

- Você vai precisar nos acompanhar. Quero ouvir seu depoimento. – disse o encarregado da operação.

- Ahã! – balbuciei, não tendo ouvido suas palavras, apenas respondendo mecanicamente ao que julguei ser algo que eu devesse dar uma resposta.

No banco traseiro de uma das viaturas da polícia federal rumei em silêncio até a superintendência regional de Vitória da Conquista. Eu estava atordoado com os últimos acontecimentos, e me perguntava como tudo aquilo podia acontecer. Quando cheguei ao prédio da policia federal eu estava imundo, suado, coberto de lama, e com o espírito em frangalhos.

- Venha comigo, você vai poder tomar um banho e colocar roupas limpas, antes de falar com o delegado. – disse o mulato do caralhão, me indicando o caminho até um banheiro coletivo que ficava no primeiro andar do edifício.

Eu estava tão arrasado que não me importei com os olhares dos policias que também estiveram envolvidos no nosso resgate, nus debaixo dos chuveiros, a acompanharem eu me despindo como que por inércia. Eles pararam de conversar quando eu entrei cabisbaixo debaixo de um dos chuveiros. A água descia pelo meu corpo repleto de marcas. Estavam lá os arroxeados das mordidas que o Mario dera nos meus peitinhos, o esfolado nas costas do policial que me esmagara contra a parede do casebre, bem como os resultantes do acidente, quando meu corpo rolou dentro da cabine do Volvo. Os pontos sangrentos no rosto, resultado do para-brisas estilhaçado pelos tiros, as mordiscadas que o Mario deu nas minhas nádegas branquinhas, e os hematomas que se distribuíam por diversas partes e contrastavam com a alvura imaculada da minha pele.

- Vocês devem ter enfrentado um verdadeiro perengue? – disse o que estava mais próximo de mim, sob um olhar consternado que se repetia nas feições dos outros que também aguardavam pela minha resposta.

- Ahã! – murmurei, me sentindo coagido por aquelas picas despudoradas. – Alguém sabe me dizer como está o Mario, o motorista da carreta? – inquiri, enquanto deslizava suavemente o sabonete sobre o meu corpo, sob o olhar aguçado daqueles policiais.

- Mario? ... Ah! O agente Marcelo! ... Ele foi levado para Salvador e, pelo que soubemos, assim que estiver estabilizado vai ser transportado para São Paulo, parece que ele teve um traumatismo craniano, além do tiro que alvejou seu ombro. – respondeu o policial.

- Que Marcelo? Traumatismo craniano! – exclamei, ao mesmo tempo em que sentia as lágrimas aflorando e turvando minha visão. E, enquanto me perguntava quem era Marcelo.

O mulato do caralhão, que havia saído logo depois de me encaminhar ao banheiro, voltara trazendo a minha mochila. Colocar os olhos nela foi uma espécie de alívio, um elo com a minha vida normal, que insuflou um pouco de ânimo do meu espírito derrotado. Tirei a toalha de banho, um perfume que aspirei ligeiramente pelo corpo, antes de vestir a cueca que cobriu novamente aquelas nádegas carnudas, cuja contemplação empírica já estava a atiçar algumas rolas mais voluntariosas.

- Quem diria que a salvação de vocês estava toda nessa mochila? – falou o mulato.

- Como assim? O que tem a minha mochila? – perguntei, readquirindo o controle sobre mim mesmo.

- Foi nela que o Marcelo camuflou o sinalizador. – sentenciou

- Não estou entendo. – observei confuso

- O delegado vai conversar com você. Ele te explica tudo. – esclareceu. – Aliás, ele só está esperando você terminar o banho para ter essa conversa. Você está bem? – emendou, me mostrando o caminho que devíamos seguir.

- Estou, acho que estou! – disse, tentando saber o que significavam todas as suas frases.

O depoimento com o delegado, um escrivão e mais dois outros homens que eu estava vendo pela primeira vez, foi realmente mais uma conversa do que um depoimento formal. Parecia que eles estavam sabendo muito mais do que eu. E sabiam. O motorista que me dera carona era um agente da policia federal disfarçado. A operação fora deflagrada para capturar uma quadrilha que vinha aterrorizando os motoristas que seguiam rumo ao nordeste carregados de cargas valiosas como as de medicamentos, eletrônicos e eletrodomésticos. Outros dois agentes seguiam a carreta à distância, para informar a central de operações tudo o que estava acontecendo. Estes dois policiais perceberam que os bandidos no Corolla começaram a desconfiar que estavam sendo monitorados, por isso precisaram sair de cena, sob o risco de colocar tudo a perder. O agente Marcelo informou que sem a presença dos policiais, os marginais deram prosseguimento ao plano e provocaram o acidente que nos vitimou. A única maneira de saber onde estávamos, foi seguir os sinais de um rastreador que o agente Marcelo havia colocado na minha mochila. E, o conteúdo dela, roupas de grife, perfume, tênis e sapatos importados fizeram com que os bandidos a levassem consigo, facilitando a localização de onde estávamos sendo mantidos reféns, até a carga ser encaminhada ao receptador, que também foi localizado e já estava preso. O acidente vitimando o agente não estava previsto e foi o que mais os deixou apreensivos. Houve um momento em que temeram não nos encontrar mais vivos. E o desfecho da operação foi aquilo que eu presenciei tão de perto.

Eu ouvia o delegado me contando os detalhes, ao mesmo tempo em que minha memória ia repetindo as imagens de tudo o que eu vivenciara naqueles últimos dias, desde que entrei naquele posto para pedir uma carona. Enquanto ele desenrolava a trama que haviam armado para prender a quadrilha, eu me sentia como um peão perdido no tabuleiro de xadrez, entre figuras muito mais importantes e decisivas do que eu, um mero joguete, usado para dar credibilidade e realismo a todo o esquema. Fui me encolhendo na poltrona que ficava diante da mesa do delegado, imaginando até que minúcias eles estavam sabendo da minha participação nesse enredo todo, e senti vergonha da minha ingenuidade.

Fui liberado no final daquela tarde. O delegado tomou as minhas mãos entre as suas num aperto caloroso, e elogiou a minha valentia e desprendimento. Algo no olhar dele dizia mais do que as palavras que estava empregando, e me fez suspeitar que me ocultava outros detalhes sobre a minha participação naquilo tudo. Não consegui encará-lo. O sol já havia se posto e o céu tinha uns tons avermelhados entre nuvens pesadas de chuva. O mulato do caralhão me deixou num hotel da cidade, com a recomendação explícita de que eu os procurasse se precisasse de qualquer coisa.

- Posso saber do Mario, quer dizer, do agente que me deu carona? – perguntei acanhado.

- A última informação que temos é que o Marcelo foi levado de avião para São Paulo. Você se afeiçoou a ele, não foi? – respondeu.

Quase não dormi aquela noite. Fiquei escutando a chuva que açoitava as vidraças, sentado na cama, e sendo iluminado pelos clarões dos raios que enchiam o quarto de uma luz prateada e fugaz. Quando um tamborilar monótono deu lugar à tempestade, fui afundando lentamente nos travesseiros, e por algumas horas todos os acontecimentos dos últimos dias se desvaneceu da minha mente.

Já passava do meio-dia quando acordei com o corpo todo dolorido. O quarto estava sendo banhado pelo sol que se infiltrava através de uma fresta do cortinado grosso, fazia calor. Imediatamente meu pensamento voltou a se concentrar no Mario, digo Marcelo, estava difícil assimilar um novo nome àquele homem que não abandonava minha mente. Era como se ele houvesse se impregnado em mim, e eu não pudesse mais prescindir dele, como não o faria com uma parte do meu corpo. Embora ele fosse um estranho que depois do acontecido, se tornara ainda mais desconhecido para mim. Mas uma coisa não mudara, a minha necessidade de ter notícias dele, e isso me angustiava.

Depois do almoço, que engoli sem muito apetite, voltei à superintendência da polícia federal para conseguir o telefone, um endereço ou qualquer coisa que me pusesse em contato com o Marcelo. O máximo que consegui foi o telefone da superintendência em São Paulo, onde ele estava lotado. A alegação do delegado foi a de que ele não conhecia os agentes que vieram de São Paulo, que o contato se deu por conta da operação conjunta. Ela não me convenceu, mas foi tudo o que obtive sob uma gentileza protocolar.

Depois de algumas tentativas consegui que um agente atendesse ao telefone que me deram. Ele nada sabia a respeito do agente Marcelo, me encheu de perguntas, as quais respondi acrescentando os fatos dos episódios que vivenciamos, e não respondeu nada. Disse desconhecer qualquer outro telefone de contato, e só se comoveu um pouco com meu desespero do outro lado da linha, quando minha voz começou a soar embargada e lagrimosa pedindo para saber se o estado de saúde dele era bom, e se já havia deixado o hospital. A voz que me atendia ficou mais gentil e sugeriu que eu fosse até a superintendência para tentar obter algo mais concreto sem, no entanto, se comprometer com isso.

Passei o restante da tarde me questionando se deveria voltar para São Paulo e me dedicar a uma procura que talvez fosse dificultada por seus próprios colegas, na tentativa de manter sigilo sobre sua pessoa, ou seguir viagem conforme havia me proposto. Optei pela segunda proposição, e no inicio da manhã seguinte embarcava num voo com escalas e fastiosos períodos de espera em aeroportos nordestinos antes da chegada a Fortaleza.

Minha amiga e o marido me aguardavam no saguão do aeroporto em Fortaleza. Ver seus rostos sorridentes e receptivos foi um sentimento marcante. Nunca havia precisado tanto de um semblante conhecido e que me remetesse a momentos felizes da vida, como naquele instante. No trajeto até a casa deles fui contando a minha história, a perplexidade e a curiosidade se misturavam em suas expressões.

- Você é muito doido. Pegar carona com caminhoneiros no Brasil tem tudo para ser a maior furada. Você correu um risco enorme se aventurando com um maluco que se passava por caminhoneiro enquanto tentava capturar uma quadrilha de ladrões de carga. – disse Jorge, enquanto assimilava os fatos.

- Eu nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer comigo. Quis apenas ver como é a vida numa boleia. – argumentei, sem me esquecer dos momentos prazerosos que passei com o Marcelo.

Meus amigos tinham inaugurado um restaurante há poucos meses, e eu havia me proposto a ajuda-los nesse início sempre tumultuado de um negócio. E foi o que fiz durante o mês que se seguiu. Em nenhum instante eu me esquecia do Marcelo e, especialmente à noite, quando colocava a cabeça no travesseiro, um sentimento dolorido perpassava meu coração. Um misto de saudade e preocupação que só desaparecia quando o sono me vencia. Liguei mais algumas vezes para a superintendência da polícia federal em São Paulo, mas não consegui obter nenhuma notícia dele, e a melancolia me acompanhava por algum tempo depois dessas ligações. Depois de oito semanas dando uma força no restaurante, que embalava uma clientela crescente e contínua, voltei para casa.

- Faz umas duas ou três semanas que um tal de Marcelo ligou te procurando. – disse minha mãe, um dia após a minha chegada.

- Ele deixou um telefone ou endereço? – perguntei ávido e desesperado.

- Não. Disse que ligaria novamente. – acrescentou minha mãe. – É esse sujeito que se passou por caminhoneiro, e na verdade era policial? – perguntou curiosa, enquanto jantávamos, e a minha aventura ainda alvoroçava as conversas na casa.

- É ele mesmo. – respondi. – Ele disse se está bem, ou o que aconteceu depois de nos separarmos? – indaguei.

- Não. Apenas perguntou por você, e quando dissemos que você estava viajando, ele não insistiu. – disse minha mãe. – Também não quisemos dar mais detalhes, pois não sabíamos de quem se tratava, ele só se identificou como um conhecido seu. – acrescentou.

A primavera estava no auge. Por toda a cidade as árvores ao longo das grandes artérias viárias exibiam seu colorido mais esplendido. Pequenos oásis estritamente residenciais entre os bairros, como aquele em que eu morava, tinham as calçadas floridas, como se a natureza quisesse dar suas pinceladas de cor às nuances cinzas da metrópole. Era minha estação preferida, tanto pelo reboliço que começava a agitar as pessoas preparando-as para o verão, como pelo céu que voltava a adquirir um azul mais luminoso, depois que a camada de poluição, que se concentrava durante o inverno, se dissipava, tornando o ar mais respirável. Uma chuva torrencial caíra durante a tarde, amenizando o calor precoce para aquela época do ano. Isso tornara a noite daquele sábado mais agradável, e eu me preparava para encontrar uns amigos num barzinho recém-inaugurado, e que estava dando o que falar. Passava um pouco das nove horas quando o interfone tocou me tirando debaixo do chuveiro às pressas, pois estava sozinho em casa depois que meus pais foram passar o final de semana na praia, e meu irmão se aventurava com uns amigos pelas corredeiras da cidade de Brotas. Não estava esperando ninguém, e a insistência dos toques fez com que eu mal me enxugasse e vestisse uma bermuda e camiseta em tempo recorde, nem me preocupando em colocar uma cueca. Desci as escadas tão rápido que quase perdi o equilíbrio no patamar que dividia os dois lances da escada.

- Quem é? – perguntei esbaforido quando tirei no fone da parede na copa.

- Paulo! É você? – disse a voz grave, que mesmo distorcida pelo interfone, reconheci de imediato. Meu coração disparou.

- Mario? Isto é, Marcelo? – retruquei, antes de dar tempo para ele responder, colocando o fone na parede e correndo em direção à porta da frente.

Assim que abri o portão, a figura dele se materializou diante dos meus olhos, estranhamente quase úmidos. Ele usava um jeans escuro, e eu não pude deixar de notar o jeito que aquelas calças caem nos seus quadris e moldam a enorme protuberância entre as suas pernas, e uma camisa branca com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos, desabotoada no colarinho, permitindo ver alguns pelos densos e negros saindo pela abertura. Fico com a boca seca só de olhá-lo, ele é absurdamente gostoso. Está mais magro, mas ainda assim é um colosso moldado de músculos potentes. Um sorriso franco, e um tanto apreensivo, delineia seus lábios, eu quase senti o gosto viril deles na minha boca. Me lancei contra ele num abraço apertado e saudoso, que ele começou a retribuir imediatamente, me trazendo para junto dele num impulso enérgico e carinhoso. Quando sinto o cheiro dele, tomo consciência daquela corrente deliciosa que percorre meu corpo, arrebatando-me. Sinto-me corar com os pensamentos que afloram à minha mente, e estou certo de que minha respiração irregular deve estar audível. Ele me aperta com mais força, como se apoderando de meu corpo fresco, exalando uma mistura de aromas cítricos e marinhos, que ele aspira junto ao meu cangote.

- Entre! – consigo balbuciar em meio à agitação que se formou dentro de mim.

Ele me acompanha sem soltar a minha mão, que ele segura entre a sua com firmeza. Nos acomodamos num sofá que fica junto a uma das paredes de um dos três ambientes que compõem a sala. É um canto mais intimista, e meu favorito, por permitir uma visão parcial dos jardins que circundam minha casa. Os olhos dele não se desviam de mim, fico um pouco encabulado com esse olhar avassalador, e o tique nervoso que me acompanha desde a adolescência, volta a se manifestar. O costume de morder meu lábio inferior.

- Pare de morder o lábio! Isso me distrai muito, para não dizer o que essa sua mania faz com ele. – diz, com sua voz pausada e grave, desviando o olhar para baixo entre suas pernas.

Não consigo deixar de dar uma risadinha maliciosa. Ele também não me esqueceu, e volto a imaginar que talvez ele sinta algo por mim. Mas imediatamente me lembro das mentiras que ele inventou e como me fez de bobo durante o tempo em que me deu carona.

- Fico feliz de vê-lo bem outra vez. Eu fiquei muito aflito e desesperado quando sofremos o acidente e depois quando ficamos reféns daqueles bandidos. – comecei a dizer com tranquilidade. – Por outro lado, não consigo entender por que você me fez de idiota, me usou e me envolveu numa situação sinistra e perigosa. – continuei, um pouco exasperado.

- Eu procurei por você assim que tive alta do hospital, mas seus pais me disseram que você continuava fora e não me deram meios de encontra-lo. Até seu endereço eu precisei conseguir com a ajuda do departamento. – declarou, sem se importar com minha acusação. – Senti sua falta! – acrescentou, com aquele sorriso econômico, que o deixava sério e sexy ao mesmo tempo.

- Eu fiquei feito um pateta no meio daquela situação toda. Até seu nome foi uma farsa. Percebi que tudo foi uma enorme mentira. Você tem ideia do papel ridículo que eu fiz na superintendência, quando ao invés de dar um depoimento eu na verdade é que fui surpreendido com a realidade dos fatos? Tudo contado por um estranho. – disse, sentindo uma revolta se formando em meu peito, agora que o tinha diante de mim, são e salvo, e capaz de receber a minha raiva.

- Eu precisava preservar a operação e a sua integridade. – respondeu calmamente.

- Minha integridade? Você quase nos matou! – explodi

- Sei que coloquei você em risco, e queria que me desculpasse por isso. – falou, sua voz tinha algo de súplica.

- Por que me deu a carona então, sabendo que ia me enganar o tempo todo? – inquiri desacorçoado.

- Eu precisava te conhecer melhor! – exclamou de pronto.

- Como assim? Não entendi! – perguntei atônito.

- Fiquei curioso quando te vi naquele salão do restaurante abordando os caminhoneiros com seu jeito educado. Havia algo de gracioso naquilo e eu fiquei muito interessado. Precisava descobrir como você era. – revelou sereno.

- Você queria tirar uma com a minha cara, isso sim. E, ainda por cima, conseguiu me levar para a cama! – exclamei irritado.

- Foi o que de melhor aconteceu. E eu não me arrependo disso. – sentenciou, voltando a esboçar um sorriso econômico. – Você é muito gostoso, senhor Paulo! – emendou, lançando um olhar predador sobre mim.

Eu não conseguia ficar zangado com ele. Percebi isso lá no cativeiro, e naquele momento atribuí isso ao fato dele estar ferido e vulnerável, precisando de mim. Mas agora esse sentimento não podia ser justificado pelo estado dele, afinal ele estava esbanjando saúde e vitalidade. Aquela vitalidade que chamou minha atenção assim que coloquei os olhos nele pela primeira vez. Encaro-o nos olhos sempre atentos e um tanto misteriosos. Seus lábios carnudos e esculturais estão ligeiramente entreabertos, e seu cabelo limpo e brilhoso está sedutoramente bagunçado. Deveria ser proibido por lei alguém ser tão bonito assim. Ele olha para mim, divertido e perplexo. Fico sem ação, enrubesço e sinto como se meu corpo se transformasse num monte de gelatina.

- Sei que esse seu lábio é delicioso, eu já o provei, mas poderia parar de mordê-lo? – ele diz com os dentes cerrados. Quando você morde, me dá um puta tesão e vontade de foder! – acrescenta, com uma naturalidade desconcertante.

Automaticamente arquejo, soltando o lábio, chocado com a objetividade de sua revelação.

- Ah, senhor Paulo, o que devo fazer com você? – pergunta, deslizando no sofá na minha direção, e segurando meu queixo com uma de suas mãos.

Seus olhos invadem os meus com tanta intensidade que perco o fôlego. Esse é um homem a quem não se nega nada, um homem que eu jamais queria contrariar.

- Vou beijar você todinho! – diz baixinho, apertando mais meu queixo e forçando-o para cima. O que lhe dá acesso à minha boca muda e sedenta. Seus lábios tocam os meus com suavidade, depois deslizam pelo meu pescoço, beijando, chupando e me mordendo com voracidade.

Meu sangue excitado se concentra no meu cuzinho que se contorce esperançoso. Gemo.

- Você tem uma vaga ideia do que pretendo fazer com você? Ou do quanto te desejo? – murmura, agarrando meus cabelos da região da nuca e puxando-os com força.

Ele se inclina sobre mim e começa a me beijar. Seus lábios são exigentes, firmes e lentos ao se comprimirem contra os meus. Sinto as mãos dele entrando pela minha cintura debaixo da camiseta, tirando-a pela cabeça, enquanto vai me dando beijinhos levíssimos pela mandíbula, pelo queixo e descendo pelo pescoço até chegar ao peito. Ele recua e me olha. Me sinto uma presa prestes a ser devorado, e não tenho o mínimo desejo de evitar isso.

- Ah tesão! Você tem uma pele lindíssima, alva e impecável. Foi a lembrança dela que me fez suportar os ferimentos do tiro e o trauma no crânio, e amenizou a longa recuperação. A esperança de senti-la novamente é que me deu ânimo. – balbuciou alucinado.

Ele me envolve em seus braços e arrasta para junto de si, mantendo uma das mãos no meu cabelo enquanto a outra desce pela minha coluna, afundando no cós da bermuda até a bunda, onde aperta minha nádega, mantendo-me colado a ele. Sinto a ereção dele pressionando-me languidamente numa das coxas. Uma descarga de hormônios é liberada em meu corpo. Enrijeço e suspiro em sua boca que não se desgruda da minha. Meus mamilos se intumescem e os biquinhos se projetam duros e sensíveis. Ele desliza os dedos sobre um deles e depois o aperta até eu gemer. Sua boca gulosa o abocanha e ele me morde, cravando os dentes no mamilo e chupando-o com força. Uma sensação doce percorre minhas entranhas. Seguro seus bíceps musculosos e aterradoramente fortes. Timidamente, levo as mãos ao seu rosto e afago seu cabelo.

- Caralho, como você é gostoso! Mal posso esperar para estrar dentro de você. – geme com avidez, fechando os olhos com uma expressão de puro prazer.

Sua voz é macia, provocante, uma ameaça sensual estonteante. Minha respiração acelera e meu corpo se contorce a revelia da minha vontade. Meus mamilos doem por conta do tratamento nada delicado dele. Ele desafivela o cinto, desabotoa e abre o zíper da sua calça. A benga enorme fica cerceada pela cueca. Num gesto de ousadia eu a libero daquele confinamento. Sinto-a molhada, um cheiro másculo atinge minhas narinas, inclino-me em sua direção e envolvo-a com os lábios, passando a língua sobre o orifício donde brota aquele sumo fascinante. Primeiro ele arregala os olhos, depois os fecha soltando um gemido. O cacete duro e macio ao mesmo tempo, como aço revestido de veludo, pulsa na minha boca, e começo a sentir um gosto salgado e suave. Enfio mais um pouco do caralho na boca, ele agarra minha cabeça, chupo com mais força, passando a língua na cabeçorra. Dou uma mordiscada delicada, ele sibila ao respirar com os dentes cerrados, e geme. Ele força minha cabeça e ergue os quadris, fazendo o cacete atingir minha garganta. Aquela carne quente e indomada não para de crescer na minha boca, estou quase me sufocando, ele impede que eu tire a boca de seu mastro. Minha língua contorna seu falo em movimentos sôfregos. Ele libera um urro e fica imóvel, sinto a porra morna e salgada descendo pela minha garganta em jatos que engulo depressa para conseguir respirar. Meu olhar se desvia para seu rosto. Há um sorriso triunfante de satisfação estampado nele. A felicidade é feita de momentos, e este sem duvida, foi mais um dos meus. Sentir a satisfação dele me encheu de entusiasmo.

Eu não senti o tempo passar. Subitamente me lembrei do meu encontro, e que meus amigos deviam estar a minha espera, estranhando minha demora. Embora minha vontade de sair tivesse desaparecido por completo. Eu só queria ficar ali, sentindo o corpo quente do Marcelo abraçando o meu.

Disse que precisava dar ao menos um telefonema avisando que não iria. Isso ao menos evitaria que alguém viesse me procurar. Ele me acompanhou com o olhar especulativo enquanto eu enviava um SMS para um dos colegas. Sorrio e, conscientemente, mordo o lábio. Ele balança a cabeça, se levanta do sofá e caminha em minha direção. Sem se importar por eu estar ocupado, ele enfia a mão na minha bunda e a aperta sem escrúpulos.

- Você é meu! – sussurra. – Só meu. Não se esqueça disso. – sua voz é embriagadora, autoritária e excitante.

Ele me abraça por trás, aspira meu pescoço e comprime a pica, que volta a manifestar uma ereção, na minha bunda. Gosto da respiração dele roçando minha nuca e, inconscientemente, num reflexo, meus quadris começam a se mexer, imitando o movimento rebolado dele. Ele agarra minha bermuda e a faz descer, deixando minha bunda exposta. A jeba se insinua em meu reguinho, e uma onda lancinante de prazer corre no meu sangue como adrenalina.

Terminado o envio da mensagem, pergunto se ele está com fome, se quer comer ou beber alguma coisa. Ele arma um sorriso perverso e me encara.

- Vou te comer. Vou foder esse seu cuzinho apertado até você suplicar para eu parar. – sentenciou dominador.

Suas palavras são minha perdição. De repente acho a sala grande demais, devassada demais e o pego pela mão conduzindo-o escadas acima até meu quarto. Meu corpo está tenso e minhas entranhas começam a estremecer.

Ao entrar no meu quarto me sinto um pouco mais confiante. Afinal aquele é meu território e ele me dá uma sensação de segurança. Os olhos dele percorrem todo o ambiente, curiosos e atentos.

- Então é este o reino do principezinho? – exclama de forma interrogativa. – Estava curioso para saber como era e que segredos guardava a alcova que te abrigava. – completou.

- Sua imaginação é mais fértil do que a realidade, pode ter certeza disso. Não tenho segredos a esconder, ao contrário de você. – retruquei, um pouco chateado com sua insinuação.

- Tem a sua cara. Simples e sofisticado, arrumadinho e ao mesmo tempo com aquele ar despretensioso. Ah! E tem um cheiro delicioso! Enfim, é do jeitinho que eu imaginava. – disse, passando a mão na poltrona que estava ao lado da janela que dava para uma sacada, e analisando os quadros abstratos e coloridos que pendiam sobre a cabeceira da cama de casal. – Só não entendi o porquê dessa cama. – emendou, voltando a me encarar como num desafio.

- Gosto de me esparramar sobre ela. Além disso, preciso de espaço para acomodar toda essa altura. – brinquei. Ele ficou sério.

- Sabe, quando eu o vi no meio daqueles caminhoneiros pedindo carona, você dizia ‘por favor, senhor’, ‘sim, senhor’ e ‘não, senhor’, no mesmo instante eu soube que você sabia obedecer, que era um submisso nato. E isso, aliado a esse corpinho delicioso e essa bunda esculpida com esses glúteos capazes de fazer a gente parar de raciocinar, me deixaram maluco. Desde então eu não penso noutra coisa que não seja ser o seu dono, para te ensinar como eu gosto que você me sirva esse cuzinho apertado. – disse com uma calma calculada.

Nossa, ele estava me cantando. Para quem me tratou com uma indiferença no início, ele estava se revelando um galanteador. Algo dentro de mim dava pulos de alegria. Eu sabia como aquele homem era capaz de conseguir o que queria. E ele me queria, não havia dúvidas.

- Então foi por isso que resolveu me dar a carona, para que eu te servisse? – indaguei.

- Também! – respondeu secamente. – Mas por que você se interessou por mim logo de cara! – exclamou seguro.

- Eu? Quem te disse isso? – perguntei, surpreso por ele ter adivinhado meus pensamentos.

- Você mesmo. – respondeu

- Como assim? – ele devia estar me testando.

- Você ficou todo agitado quando voltei para te oferecer carona. Entrou em desespero quando fui baleado. Se preocupou comigo e com a minha vida enquanto estávamos no cativeiro. E também depois disso, quando fomos resgatados e você encheu os policias de perguntas a meu respeito. – declarou, ciente de tudo que aconteceu enquanto ele estava inconsciente entre a vida e a morte. – Sei que você andou me procurando, que ligou diversas vezes para a superintendência atrás de notícias minhas. – emendou, dirigindo um sorriso cativante em minha direção.

- Eu estava preocupado com sua vida, é claro! Não sou uma pessoa insensível. – retruquei, tentando não me expor mais que o necessário, e municia-lo com a certeza do meu interesse por ele.

- Tudo o que você não é, é ser insensível. Eu sei disso. Senti isso quando entrei em você pela primeira vez, e desde então procuro por seu carinho. – disse, se aproximando de mim e me beijando com ardor.

Eu tentava encontrar uma explicação lógica para justificar os meus sentimentos em relação a ele. Como eu podia estar tão envolvido com um homem que conhecia tão pouco? Não havia lógica naquilo, e sua língua entrando na minha boca desvanecia qualquer resquício de racionalidade que ainda pudesse me orientar. Eu estava apaixonado. Pela primeira vez. E por um homem. E estava louco para me entregar a ele. Onde havia lógica nisso?

A mão que estava espalmada sobre o meu rim e me apertava contra o corpo dele, deslizou para dentro da bermuda. Minhas nádegas estavam sendo bolinadas outra vez. Ele procurou meu cuzinho pregueado e enfiou um dedo nele. A musculatura do meu baixo ventre se contraiu e toda energia do meu ser estava concentrada lá embaixo, naquele orifício apertado. Minha respiração arquejante denunciava meu desejo. Seus lábios moldaram um sorriso de satisfação. Ele termina de arriar a minha bermuda fazendo-a cair aos meus pés. Suas duas mãos se apoiam nas minhas nádegas e ele me suspende no ar. Envolvo meus braços ao redor de seu pescoço e permito que ele me leve até a cama, onde ele me debruça e gira minhas pernas até que a bunda fique a sua mercê. Ele se ajoelha ao lado da cama e começa a morder meus glúteos. O sangue ferve nas minhas veias e eu gemo baixinho. Ele abre as minhas nádegas até visualizar meu cuzinho rosado se contraindo involuntariamente no fundo do meu rego liso. Ele sente o cacete dele latejando e uma pressão dolorida ingurgitando seu sacão. Solto um gritinho contido quando a língua úmida dele desliza sobre as minhas preguinhas. Eu quase imploro para que ele entre em mim. Ele sabe que estou prestes a gozar e me enfia um dedo no cu. Depois outro, e começa a fazer movimentos circulares lá dentro enquanto meus esfíncteres se fecham ao redor de seus dedos hábeis. Lágrimas afloram nos meus olhos e turvam também a minha visão, que juntamente com meu raciocínio são incapazes de se desvencilhar desse devaneio delicioso.

- Goza para mim tesãozinho! Deixa teu macho ver como você sabe gozar para ele. – murmura ao se inclinar sobre minhas costas.

Sem tocar no meu pau eu sinto que ele está todo melado, que eu gozei obedecendo a sua vontade. Ele tira as calças e a camisa e me puxa pela cintura até a beira cama. Abre minhas pernas e com uma mão guia seu caralho de encontro ao meu cuzinho. A pica desliza dentro do meu rego enquanto meu corpo enrijecido se contorce em súplica.

- Fique quieto! Não mexa essa bunda ou vou precisar te ensinar como é que você deve se entregar para mim. – diz autoritário.

Eu me comporto. Tento ficar o mais imóvel possível, embora meu corpo esteja implorando para que ele me penetre. Ele começa a forçar a pica contra meu cuzinho. Uma contração involuntária e espasmódica o contrai violentamente, repuxando toda musculatura do meu baixo ventre. Ele força novamente, e entra em mim. Eu grito quando os esfíncteres se fecham abruptamente ao redor daquela jeba calibrosa, e uma dor aguda se espalha entre as minhas coxas. Eu sabia que com ele dor e prazer caminhavam juntos. Eram sensações indissociáveis. Não com aquele membro descomunal que ele sabia manipular com desenvoltura para obter o máximo de prazer. E isso também envolvia o fato dele me machucar. Para seu jeito de macho mandão isso apenas corroborava sua dominância. De uma forma estranha eu confiava nele, e não temia seus arroubos, por vezes brutos, sabendo que ele não me machucaria mais do que eu seria capaz de suportar. E essa subserviência velada o enchia de tesão, e o fazia me desejar com toda sua voracidade.

Eu gemia, arfava e emitia gritos surdos que assomavam minha garganta enquanto ele continuava a me penetrar. A rola se afundava no meu cuzinho em estocadas contínuas, fazendo a minha mucosa anal se alargar para acomodar toda aquela virilidade. A pica pulsava no ritmo acelerado do sangue que percorria suas veias. Quando o sacão começou a bater no meu reguinho, o ar parecia que não conseguia encher meus pulmões. Aquele macho enorme estava todo em mim. Era minha vez de mostrar a ele o quanto eu o desejava ali dentro. Eu contraí meus músculos anais e apertei sua jeba com firmeza, gemi vencido pelas minhas últimas forças. Ele arfava na minha nuca, e o ar morno da sua respiração alterada e excitada me deu a certeza de estar lhe dando o que ele queria. Prazer sem restrições. Empinei a bundinha e ele começou um vaivém cadenciado, lento e profundo, que atingia minha próstata e me fazia ganir feito uma cadela sendo arrombada. Os pelos do peito dele roçavam a pele lisinha das minhas costas, enquanto ele deixava o peso do corpo dele cair por inteiro sobre mim, prensando-me contra o colchão e me imobilizando.

- É assim que eu gosto, você todinho meu. – balbuciou gemendo.

- Eu te quero mais do que tudo nessa vida. – sussurrei, com a mão espalmada e os dedos cravados agarrando a colcha.

Ele não tinha pressa. Prolongava aquela sensação inebriante com maestria. Controlava seus instintos para só liberá-los quando estivesse quase esgotado. Com isso minha mucosa ardia, como se estivesse sendo marcada a ferro em brasa. Ele virou meu rosto e começou a me beijar, enfiando sua língua sedenta na minha boca. Quando eu comecei a chupá-la, o corpo dele se enrijeceu, o caralho ficou ainda mais grosso e ele despejou a porra que lhe ingurgitava o sacão no meu cuzinho. Os jatos viscosos me inundavam num escorrer quente e abundante. Meus olhos úmidos atestavam minha felicidade. Meu macho estava satisfeito, e se largara sobre mim. Ele queria ficar ali, sentindo seu caralho amolecer devagarinho, acalentado pela suavidade morna e úmida do meu cuzinho. Uma expressão altiva e triunfante moldava aquele rosto másculo com a barba por fazer, e o suor a lhe escorrer pelas têmporas. Deste dia em diante eu soube que este seria meu objetivo de vida. Amar e satisfazer plenamente aquele homem.

Nossos encontros se tornaram frequentes depois daquela noite. Estávamos namorando. Nos descobríamos a cada afago, a cada beijo apaixonado, a cada coito demorado que nos tornava, mesmo que por algum tempo, um único ser. Nosso cotidiano ia se fundindo num compartilhamento minucioso e constante, sem que nos déssemos conta disso. Eu aprendi a contornar seu jeitão autoritário com uma submissão cativante, que começava por aquela mania de morder o lábio inferior, desarmando-o por completo, e continuava por ceder a seus desejos simultaneamente à realização das minhas vontades. Não havia confronto, e quando ele percebia a sutileza dos meus ardis, estava tão apaixonado que só queria foder meu cuzinho, e deixar nele a sua marca de dono daquele território.

Esta semana ele me levou até um condomínio nos arredores da cidade. Estacionou o carro diante de uma casa toda branca, com janelões que se abrem para o extenso gramado em aclive que dá acesso à entrada principal. Me encarou com um sorriso faceiro antes de me mandar descer.

- Quero saber se você aprova. Se se acha capaz de dar a isso aqui a cara de um lar, e se aceita que eu entre aqui. – disse, colocando a mão sobre meu peito na altura do coração, que batia acelerado.

- Você já ocupa todo o espaço que tem aqui dentro! – exclamei, sentindo as lágrimas rolarem pelo rosto.

- Então quero que você fique com isso. – disse, tirando do bolso uma caixinha revestida de veludo preto, onde uma aliança de ouro branco que exibia um filete de ouro amarelo incrustado no centro e, em cuja parte interna estava gravado Paulo e Marcelo.

Pulei em seu pescoço e enleei meus braços nele. Um beijo cúmplice de todo o furor de sentimentos que se encontrava em nossos corpos manteve nossos lábios atados por um longo tempo. Quando dei por mim, estava nu debaixo dele, com a pica sendo estocada no meu cuzinho, enquanto o eco dos meus gemidos se espalhava pela sala vazia onde a última claridade do dia penetrava de maneira suave e cheia de nuances douradas.

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Comentários

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Já faz algum tempo que li esse conto e gostei muito da construção, da base da história. Os acontecimentos bem narrados como se fossem reais. Acho incrível quando o autor, mesmo num conto erótico de capítulo único se preocupe com isso. Também me incomoda esse personagem sem p@#, mas é o seu personagem, ele está convincente. Parabéns

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Lendo essa história pela 124324 vez. Uma das melhores que já li! Ainda tenho esperanças que haja uma continuação.

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Penso um pouco como o Louisfelip. De qualquer forma, teus contos são excelentes. Eu os leio e releio sempre. Em tempo: não existe lagrimoso, lagrimosa e sim lacrimoso, lacrimosa.

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A cada conto seu fico mais encantado. Parabéns!

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Oi louisfelip! Você tem certa razão ao dizer que meus personagens se assemelham em sua caracterização. Eles tem muito de mim o do meu parceiro, e de nossa história comum. Eu sei que nem todo passivo é 'delicado' e 'submisso', e que nem todo ativo é 'dominador' e 'musculoso'. E essa imagem também não corresponde bem ao meu modo de ser e ao do meu parceiro. No entanto, esta imagem potencializa a maneira como somos, e pelo que conheço, a de muitos outros casais. Ao descrever um personagem essa caracterização precisa ser potencializada para que o leitor tenha a exata impressão de como o personagem se comporta. Na minha opinião é nisso que reside boa parte erotismo que esse tipo de conto requer. Eu te agradeço por ter se dado ao trabalho de me enviar sua opinião, e fico feliz por ter lido meu conto. O próximo, que já está no 'forno' talvez o decepcione mais uma vez, pois nele essa relação de dominador e submisso chega a envolver até um leve sadismo. Apesar de eu não me identificar muito bem com essa prática. Abço!

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Seria interessante se nos próximos você desconstruísse essa ideia, que muitos gays possuem, de que o papel do passivo é ser submisso, eliminando até mesmo seu próprio sexo, suas vontades, estigmatizando seu corpo só para o deleite do ativo. Passivos também querem e desejam ser tocados, não só no ânus e seus mamilos. Passivos também querem que o ativo se preocupe em trazer prazer para ele. E algo mais importante: nem todo passivo é delicado, de traços finos e femininos.

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Nos contos, notei até mesmo que você elimina a genitália do passivo, construindo uma ideia de o "macho" e "fêmea", reduzindo o passivo a um ânus, mamilos rosados e corpo liso, uma visão um tanto machista.

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Os principais são sempre constituídos por dois perfis: Um macho-dominador-pauzudo, com traços "viris" e "másculos" e outro passivo-submisso com traços delicados e "femininos". De todos os contos que li, só lembro de ter lido uma vez, uma ÚNICA vez, em que o passivo gozava, nos outros que li era a mesma construção: de macho dominador a passivo submisso que só encontra prazer em satisfazer o seu "macho".

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Oi, Kher! Faz um tempo que li seus contos, e com sinceridade fiquei impressionado com os primeiros, porém, eu vi algo bem fatídico no decorrer dos outros: a forma que você constrói os personagens. Não me leve a mal, mas não consegui enxergar diferença nos personagens a cada estória. Vejo que traçou um perfil exato dos principais, só mudando algumas características de acordo com o enredo

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Puxa vida! Não sei que palavras utilizar para apreciar este conto! Já li todos os steus contos,mas este, é DIVINO! Um abraço carinhoso,

Plutão.

P.S.: Não me lembro se já comentei algum outro conto teu, mas apreciei todos.

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Todos os seus contos são sempre incríveis, esse foge a regra, vai além beira a perfeição do gênero.

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Mais um conto espetacular, ja estava com saudades!! Espero que o proximo venha logo!

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Cara excelente seu conto. E o que me surpreendeu foi o final. Vc fechou ele bem legal o q é difícil acontecer por aqui

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