Chegamos ao shopping e fomos para a fila do cinema.
Bruno - Você sabe se tem algum filme bom em cartaz?
Eu - Jogos Vorazes: A Esperança.
Bruno - Eu já vi esse.
Eu - Sério? Que droga, eu tava querendo...
Bruno - Não. Mas não tem problema, eu vejo de novo.
Eu - Mas...
Bruno - Sério! Eu não ia conseguir prestar atenção no filme mesmo...
Ele diz bem baixinho, próximo ao meu ouvido.
Eu sorrio.
Se eu tinha alguma dúvida de que ele estava interessado em mim, agora não tenho mais.
Chegou nossa vez.
Bruno - Duas pro Jogos Vorazes.
— A próxima sessão começa as 20:30.
Bruno - Ok.
Vou tirando minha carteira do bolso.
Bruno - Eu pago.
Eu - Bruno...
Bruno - Sem discussão. Eu convidei, eu pago!
Ele tirou o dinheiro e deu a atendente.
Eu - Eu poderia ter pago o meu.
Bruno - Eu sei que poderia.
Eu - Ainda são 19:20. Falta mais de uma hora pra começar o filme.
Bruno - Pelo menos temos tempo pra conversar um pouco.
Fomos pra praça de alimentação.
Já na mesa, ele fica me encarando.
Eu - O que foi?
Bruno - Você tá muito bonito.
Ele aperta minha mão discretamente.
Eu - Valeu. Você também está.
Bruno - Valeu.
Eu - Então, fala um pouco de ti.
Bruno - Huum... O que quer saber?
Eu - Idade?
Bruno - 24.
Eu - Mora com quem?
Bruno - Sozinho.
Eu - Cadê seus pais?
Bruno - Moram no interior. Eu vim fazer faculdade aqui, por isso moro sozinho aqui.
Eu - Não tem parentes aqui?
Bruno - Tenho alguns tios e primos, mas não nos vemos muitos.
Eu - Você faz faculdade de que?
Bruno - Direito.
Eu - Hum... Um futuro advogado. Muito bacana.
Eu - Posso fazer uma pergunta um pouco mais pessoal?
Bruno - Se depois eu poder fazer uma também.
Eu - Combinado.
Bruno - Pergunte.
Eu - Qual a história daquela ex? Que você "gosta mas não da maneira que ela quer".
Bruno - Eu conheci ela na facul. Nós viramos amigos. Muito amigos mesmo, pelo menos da minha parte. Mas depois de um tempo, eu percebi que ela estava gostando de mim de outra forma. Um dia, numa festa, nós estávamos bebendo e acabamos ficando e daí foi rolando... Nos começamos a namorar, mas...
Eu - Você não gosta dela da mesma forma.
Bruno - Sim. Não era justo com ela, deixá-la presa num relacionamento que não teria um futuro.
Eu - Entendi... Mas por que você não... Sentia o mesmo que ela?
Bruno - Acho que você já sabe a resposta...
Eu sorrio.
Eu - Você é assumido?
Bruno - Não. Eu tenho medo da reação dos meus pais e amigos, sabe?
Eu só sorrio.
Bruno - Agora eu quero saber de você.
Eu - Pode perguntar.
Bruno - Quero saber o mesmo que me perguntou.
Eu - Ok. Bem, tenho 22 anos. Moro com minha mãe. Curso administração.
Bruno - Cadê seu pai?
Eu - Ele e minha mãe são divorciados. Ele mora com a nova esposa.
Bruno - E primos, tios, outros parentes?
Eu - Tenho vário, mas próximos a mim, pouquíssimos.
Bruno - Massa. E o que gosta de fazer nas horas vagas?
Eu - Praia, cinema, teatro, barzinhos com uma boa música ao vivo, ficar em casa vendo um bom filme, namorar, essas coisas sabe?
Bruno - Sei. E você, é assumido?
Eu - Mais ou menos... Tipo, minha mãe sabe, meu melhor amigo também. Só eles.
Bruno - Legal. Prefiro assim. Sair com caras discretos.
Eu - Uhum...
Bruno - Já vai começar o filme. Vamos?
Eu - Sim.
Ele pediu a conta e pagou novamente.
Eu - É chato esse negócio de você pagar tudo!
Ele ri.
Bruno - Você fica ainda mais bonito fazendo bico.
Eu sorrio.
Eu - Você disse que iria me fazer uma pergunta mais pessoal, mas não fez ainda.
Bruno - Mas eu ainda vou!
Eu - Pergunte!
Bruno - Agora não. Só no fim na noite.
Eu - Ok. Você quem sabe.
Fomos pra sala.
Caraca, que filme foda! Jeniffer Lawrence arrasa demais! Muito amor por essa mulher.
Em determinado momento do filme, ele segura minha mão e fica segurando-a até o filme acabar.
Estávamos andando já no estacionamento quando o celular do Bruno toca.
Bruno - Desculpe, tenho que atender essa.
Eu - Tudo bem.
Bruno - Opa...
-
Bruno - Não. Não estou em casa. Não vou poder. Cadê o Lipe? Deixa eu falar com ele.
-
Bruno - Oi príncipe. Hoje eu não vou poder, mas amanhã, eu dou uma passada ai. Tudo bem?
Bruno - Certo. Tchau.
Mas que porra foi essa? Ele tá saindo comigo e ao mesmo tempo marcando o próximo encontro. Com o tal de "príncipe"...
Entramos no carro dele e ele fica me encarando... E em seguida sorrir.
Bruno - O que foi?
Eu - Nada.
Bruno - Você ficou sério de repente.
Eu - Impressão sua.
Bruno - Tem certeza que não tem nada haver com a minha ligação. Com o "príncipe"?
Eu - Claro que não cara. Você pode sair com quem você quiser...
Ele solta uma gargalhada.
Bruno - Esse aqui é o príncipe.
Ele pega o celular e me mostra a foto de um garotinho que deveria ter uns três anos de idade.
Eu - De quem é esse bebê?
Bruno - É filho de um amigo. Mais cedo passei na casa dele e fiquei brincando com o Lipe. Mas você conhece crianças, você brinca com eles uns minutos e eles querem brincar o resto da vida toda...
Eu - Sei...
Digo envergonhado.
Bruno - Você fica ainda mais lindo com vergonha.
Fico sem saber o que falar.
Eu - Você ainda não me fez aquela pergunta...
Bruno - Eu sei. Estava guardando ela pra agora.
Eu - Então faça.
Bruno - O quero saber se... Eu posso fazer isso!
Ele me puxa pra um beijo.
Bruno - Posso continuar?
Eu - Deve!
Voltamos a nos beijar.
Bruno - Você quer ir pra minha casa?
Eu - Quero...
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