Amarga Mentira

Um conto erótico de May Lee
Categoria: Homossexual
Contém 2431 palavras
Data: 13/09/2014 19:32:47

STEFAN

O grande dia havia chegado.

Estava em frente ao espelho tentando colocar a maldita gravata preta enquanto, mais uma vez, pensava nos motivos que me levaram a casar. E se tudo não pudesse ficar pior, estava me casando com uma mulher na qual não amava. Não que eu estivesse sendo obrigado a isso, claro, mas eu sabia que era o certo a se fazer. Se eu não poderia ficar com a pessoa que eu realmente amava, teria que começar a colocar o futuro em uma outra perspectiva. Casar com uma mulher e ter alguns filhos com ela me pareciam o certo. Tentei mais uma vez colocar a gravata, mas não estava funcionando. O nervosismo não ajudava nessas horas. E havia outra coisa que estava me preocupando desde ontem; o silêncio do meu melhor amigo. Joguei a porcaria da gravata em cima da cama e sentei em uma cadeira que ficava ao lado da janela do meu quarto. Peguei o celular do meu bolso e pressionei pela milionésima vez o número do Fernando. Nem criei expectativas. Mais uma vez desligado. Onde você está, Fernando? Eu já estava ficando preocupado. Fazia dois dias que o Fernando havia chegado no país para o meu casamente, mas era como se ele não estivesse aqui. A última vez que falei com ele foi quando estava pegando um táxi para ir à um hotel. E desde então a única coisa que obtive dele foi o silêncio. Eu nem ao menos o vi. Mas que porra que estava acontecendo? Escutei uma batida de leve na porta e em seguida ela foi aberta pelo meu irmão.

- Ei, você está bem? – perguntou entrando e se sentando na ponta da cama. Eu fiquei o olhando por alguns segundos e quis gritar não. Mas eu já estava na chuva mesmo. Tossi um pouco pra limpar a garganta não confiando muito no meu estado emocional.

- Acho que sim, Marc. Só um pouco nervoso. – disse me levantando e sentando ao seu lado na cama. Ele estava vestido igualmente a mim, só que o terno dele era um azul escuro enquanto meu era um preto básico. Passei os braços em volta dos seus ombros e o fiz olhar pra mim. – Você se lembra da época quando éramos crianças? - perguntei.

- Qual é, Stefan?! Vai ficar todo emocional agora? – perguntou com um sorriso zombador.

- Não, seu babaca! – disse rindo – O que estou querendo dizer é que sempre fomos nós contra o mundo. Depois que os nossos pais morreram, você é a única família que eu tenho. – tirei os meus braços dele e subi na cama me deitando. Ajeitei as almofadas batendo ao meu lado indicando que ele fizesse o mesmo. Marc tirou os sapatas e se jogou ao meu lado.

- Sim, sempre fomos. – disse aconchegando a cabeça no meu peito e passando o braço ao meu redor. – Você cuidou de mim como um filho, Stefan. Você foi o meu pai e mãe, e nada do que eu fizer vai ser o suficiente pra lhe agradecer. Foi você quem me abraçou nas noites depois dos pesadelos, foi você quem segurou a minha mão na terapia, foi você quem me amparou. – ele parou de repente e começou a soluçar.

Eu sentei rapidamente e o puxei em meus braços. Eu sou um idiota! Sabia que se começasse a falar sobre o passado com o meu irmão iríamos chegar a esse ponto. Eu o abracei o mais forte que eu podia. Fiquei sussurrando que tudo ia ficar bem, o deixando saber que eu nunca iria o abandonar. A morte dos meus pais foi algo muito doloroso pra nós, principalmente para o Marc. Ele só tinha 10 anos e ainda estava no acidente que os matou. O Marc sempre se sentiu culpado pela morte dos meus pais. Eu fiquei louco na época. Os meus pais morreram na hora e o Marc ficou um mês em coma. Foi o pior momento da minha vida. Eu só não enlouqueci totalmente, pois o Fernando sempre ficou do meu lado. Ele sempre me apoiou e nunca me deixou fraquejar. Fernando... O que está acontecendo com você, meu amigo?

- Acho melhor a gente se apressar. Caso contrário, será você a chegar atrasado. E são as noivas que chegam atrasadas, lembra? – disse se afastando dos meus braços, mas eu precisava deixar claro uma coisa. Segurei a sua cabeça com as minhas mãos e o fiz olhar em meus olhos.

- Marc, eu preciso que você saiba que nada e nem ninguém vai me separar de você. Ok? – disse olhando em seus olhos deixando o saber que estava falando a verdade.

Ele ficou olhando pra mim por alguns segundos antes de assentir com a cabeça. Marc baixou o olhar para suas mãos e suspirou. Eu sabia que quando ele fazia isso é porque algo ainda o estava incomodando.

- Ei, irmãozinho, você pode me falar qualquer coisa. – passei a mão pelos seus cabelos e assenti o encorajando.

- Você promete que nunca vai me abandonar, Stefan? Promete que nunca me deixará sozinho? – perguntou com lágrimas em seus olhos novamente. Continuou olhando pra baixo sem encarar o meu olhar. Eu suspirei.

- Olha pra mim, Marc. – disse levantando o seu queixo e fazendo-o encontrar o meu olhar. – Nunca, mas nunca irei lhe deixar sozinho. Você é meu irmãozinho e sempre estarei aqui pra ti. – disse beijando a sua testa e o abraçando. – Certo, agora que estamos entendidos, me ajuda a colocar essa gravata. Pra quê inventaram essa coisa? – perguntei pegando a gravata e olhando pra ela. – Sério, eu odeio gravatas!

- Você sempre odiou qualquer coisa que lhe fizesse se sentir preso. Na verdade, eu nem sei por que você está se casando. – disse rindo. Eu saí da cama e fiquei olhando pro meu reflexo no espelho mais uma vez. Apesar de ter 28 anos, eu me sentia mais velho que isso. O meu externo mostrava um homem cuidado, com o corpo definido de 1,80m. Mas o meu interno estava uma bagunça. Olhando para o meu reflexo, era como ver o meu pai quando ele tinha minha idade. Todos diziam que eu lembrava muito ele. Os meus olhos eram castanho claro, diferente do meu que tinha os olhos verdes. Passei a mão pelos meus cabelos contendo os cachos. Eu sempre mantive meus cabelos curto, mas por algum motivo estava mantendo eles compridos.

- Então, você vai ficar aí deitado ou vai me ajudar com essa gravata? – perguntei jogando uma almoça nele.

Ele riu e saiu da cama. Era bom ouvi-lo rindo, não fazia com frequência. O Marc se posicionou atrás de mim e passou a graveta pelo colarinho da camisa. Em segundos ele fez um belo laço na gravata. Peguei o meu paletó e o vesti. Mais uma vez e olhei no espelho e dei adeus a minha velha vida. Deixei ir qualquer dúvida que eu tinha. Era preciso fazer isso. Eu tinha que formar uma família novamente. Eu prometi isso.

- Eu vou te esperar lá em baixo, garanhão. – desse o meu irmão soltando um beijo pra mim pelo reflexo do espelho. Eu sorri e pensei que tudo o que eu estava fazendo valia a pena. O Marc amava a Violeta.

Fui até a minha cômoda para pegar a caixinha com os anéis e quando eu abri dei de cara com uma fotografia que sempre me fazia querer jogar tudo para o alto e só gritar a verdade. Mas eu nunca disse a verdade. Segurei a fotografia e me permiti mais um momento com o velho eu. Era uma foto minha e do Fernando na praia. Estávamos de ferias e resolvemos ir para o Caribe. Nós trajávamos somente a sunga. Fernando estava segurando uma bebida enquanto olhava pra mim rindo. Eu estava olhando diretamente pra câmera fazendo uma careta. A gente estava um pouco vermelho por ficarmos muito expostos ao sol. Mas isso não tirou a beleza dele. Era o cenário perfeito com a pessoa perfeita, mas, infelizmente, essa pessoa não poderia ser minha. Eu só queria ter coragem o suficiente... Levei a foto aos lábios e beijei sobre a imagem do Fernando. Eu deixei o meu quarto com um único pensamento.

Adeus velho eu.

E mais uma vez desligado. Eu já estava entrando em pânico. O meu irmão estava dirigindo para a igreja na qual iria me casar. Cada vez que avançávamos pelas estradas o meu coração acelerava. Comecei a roer as unhas.

- Calma, Stefan. Vai ficar tudo bem. – desse colocando sua mão na minha perna.

Eu olhei para o meu irmão querendo acreditar em suas palavras. Só que tinha algo dentro de me gritando que não ia ficar nada bem. Não sabia explicar, mas eu estava começando a acreditar nessa voz.

- Você não conseguiu falar com o Fernando? – perguntou tirando a mão da minha perna e voltando a olhar pra estrada.

- Não. Desde que chegou aqui eu não o vi e não falei mais com ele. – disse com um suspiro. – Eu não sei, Marc, mas sinto que alguma... – parei de falar quando uma mensagem chegou no meu celular. Endireitei-me no banco e logo abri a mensagem. Era do Fernando. O meu coração deu um salto. Eu não sei se eu ficava feliz ou com raiva. A mensagem dizia apenas “Estou chegando”. Limpo e seco. Sem um “Estou bem” ou “Desculpe por não ter dado notícias”. Não, claro que não. Era o imbecil do Fernando. Eu dei um morro no painel do carro fazendo o Marc saltar.

- O que foi isso, Stefan? – perguntou assustado.

- Acebei de receber uma mensagem do Fernando dizendo que estava chegando. Só isso. Nada de explicações pelo o seu silêncio. Apenas “Estou chegando”.- respirei profundamente para controlar a minha raiva.

- Pelo menos ele deu notícias. Eu já estava ficando preocupado também. Afinal, por que ele não quis ficar na nossa casa? – perguntou o meu irmão quando estávamos chegando perto da igreja. De longe já podíamos ver uma quantidade de pessoas. Nenhum amigo meu, tudo da noiva.

- Eu não sei. Eu disse pra ele ir pra nossa casa, mas o idiota não quis. Algo sobre não perturbar a paz dos pombinhos. – disse com um sorriso zombador. – Mas enfim, o importante é que ele vem. – eu realmente queria acreditar nisso. Eu não sei o que estava acontecendo com o Fernando, mas jurei pra mim e pra Deus que depois do casamente, se caso ele não aparecesse, eu iria atrás dele. Nem que eu tivesse que busca-lo no inferno.

- Chegamos! – meu irmão cantou a palavra quando estacionou em frente a igreja. Ok, hora de pirar e sair correndo. – Stefan, ainda dá tempo desistir. – disse olhando pra mim enquanto segurava a minha mão.

- O quê? Você tá louco? É claro que irei me casar hoje. Desistir... – bufei da palavra e sai do carro. Fui me encaminhando para a igreja e procurava ao mesmo tempo pelo Fernando.

- Acho que ele ainda não chegou, Stefan. – disse o meu irmão colocando sua mão em meu ombro.

- Marc, faz um favor pra mim. Fica aqui fora recepcionando o pessoal enquanto eu entro. Quero falar com o padre antes do sim. Tudo bem? – perguntei nervoso.

- Claro, Stefan. – meu irmão me abraçou e me empurrou pra dentro da igreja. Antes de entrar, dei meia volta e fui falar com o Marc novamente.

- Será que você pode ficar com o meu celular? Eu não quero nada me atrapalhando a partir de agora. – perguntei tirando o celular do meu bolso e o entregando.

- Certo, irmão. Pode deixar. Agora entra nessa igreja antes que eu bata nesse seu traseiro lindo. – disse rindo enquanto girava pra falar com os convidados que estava em frente a igreja.

Fui andando pelo corredor da igreja e eu sentia que estava atravessando a morte. Depois que eu dissesse sim, um pedaço meu iria morrer. Eu não sei se eu estava fazendo a coisa certa. Só queria um sinal pra dizer se estava no caminho certo. Cheguei até ao altar e cumprimentei os familiares da Violeta. Encontrar a Violeta na minha vida foi como uma luz no final do túnel. Ela me entendia e me apoiava muito. Estávamos no mesmo barco. Então o casamento era só uma solução que achamos para nossas vidas fodidas. O padre chegou e veio falar comigo. Passou uns dez minutos em um monólogo de como manter um casamento saudável e blá, blá, blá. Eu já estava ficando mais nervoso ainda e queria gritar pra ele calar a boca. Marta, irmã da Violeta, que é um anjo, viu o meu desespero e veio me socorrer. Puxou o padre para o outro canto me deixando sozinho. Ela olhou pra mim e piscou. A olhei de volta e sorri em agradecimento. Voltei a minha atenção para as pessoas que estavam chegando. Umas me dirigiam sorrisos e outras vinham até a mim para abraçar. Eu estava conversando com um primo da Violeta quando o meu irmão entra na igreja correndo. Logo me desculpei com o primo da Violeta e fui apressadamente ao encontro do meu irmão.

- Você está bem? – perguntei segurando em seu braço. Ele estava pálido e parecia que ia desmaiar. – Marc, fala comigo. – o balancei pra chamar a sua atenção. Ele fez o sinal universal pedindo um minuto e colocou as mãos no joelho.

- O Fernando... – disse começando a transbordar lágrimas de seus olhos. – Stefan, eu preciso que você seja forte...

- Fala logo, Marc! Você está me assustando. - gritei com ele já pressentindo o pior.

- Stefan, acabaram de ligar no seu celular. Era do hospital. Eles me informaram que ele sofreu um acidente e a sua situação é grave. O seu número estava na discagem pra emergências e eles... – a partir daí não prestei mais atenção no que o meu irmão estava falando. Só conseguia pensar que o Fernando estava morrendo e eu não poderia fazer nada.

Eu não questionei quando a escuridão bateu sobre mim e tudo que me sustentava caiu.

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Oi, pessoas! Tudo bom? Então, faz muito tempo que sou leitora da casa e sempre me emocionei com alguns contos daqui. Mas até então, nunca me atrevi a escrever. Só que de um tempo pra cá, eu resolvi me testar e ver o que saia. Claro, não sou nada em comparação aos excelentes escritores daqui. A cdc é composta por contos maravilhosos e minha estória não é nada em frente à esses mestres. Enfim, esse é meu primeiro conto e estou feliz por está escrevendo. É uma coisa nova e que eu venho pensando já algum tempo. E agradeço também o incentivo e apoio dos meus amigos. Sem eles não teria tal coragem de postar aqui. Então, desde já agradeço quem ler e quem embarcar comigo nas minhas loucuras. Beijos no coração!

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Comentários

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Olá minha querida... Soube hj pela querida Rose Vital que a senhorita estava com uma trama sensacional em andamento... Aviso que já Adorei esse primeiro cap. e que vc agora esta encrencada porque sempre irei querer ler suas tramas... Tô cativado. Beijo no coraçao...Nando MOta.

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May Lee,menina do ceu,acredita que eu não sabia que você tbm escrevia?Me sinto um tolo,varios ja leram sua historia menos eu,me avisa-se mulher kkk.Esta otimo o conto,só estou chateado comigo msm por não ter descoberto o conto antes.Em relaçao ao meu conto te contarei pelo whats segredos do enredo rsrs.

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Parabéns, mocinha! A história, os personagens, a escrita, tudo leva a crer que os leitores serão cativados! Conheci seu conto hoje e já vou correndo para os próximos capítulos!Bisous!

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Muito boa a forma como vc escreve. Fiquei ansioso r com a dor do Stefan gente ;x. Animado pra saber o q aconteceu pra culminar nesse casamento .

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Muito legal o começo. VC escreve muito beeem ;), to ansioso pelo o que levou a esses fatos ;)

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Como assim? Pq vc não me disse q tava escrevendo? Fiquei sabendo pq a Irish me contou, se tivesse me falado ja tinha lido antes ow!!!

Mas assim, to gostando muito da historia e vc escreve muito bem e to muito curioso p continuar... então vamos a 2ª parte :p

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Estou simplesmente fascinado com esse conto. Você conseguiu abordar um assunto que é muito comum na vida dos homossexuais: ser feliz sem se importar com os outros ou se importar com os outros e, sendo assim, ter uma vida que não que se quer e, por causa disso, se tornar uma pessoa infeliz e amarga.

Estou impressionado com o tema que você está abordando nesse conto e, claro, muito ansioso para saber o que acontecerá nos próximos capítulos. Você acaba de ganhar um leitor para esse seu fantástico conto. Parabéns!

Abraços.

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May Lee,bem vinda, adorei este início e estou ansiosa por saber qual a atitude que o Stefan irá tomar, se casar pelos motivos errados ou criar coragem e correr atrás da sua verdadeira felicidade e confessar para o Fernando que o ama. Marc nessa hora será o porto seguro para o seu irmão mais velho e que Fernando se recupere, pois seu silêncio e a secura da mensagem, sugere que o mesmo tb sente algo por Stefan. Parabéns, vc arrumou uma fã. Bjs carinhosos.Rose Vital

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May Lee, vc escreve perfeitamente bem!

Bom, primeiramente adorei o capítulo, fortes emoções, cena de desespero esse final ai, fiquei meio tenso!

Gostei bastante da temática desse conto e os acontecimentos nele contido.

Adorei a relação do Stefan com o Marc, eles são tão lindos, sei que são irmãos, mais parecem um casal.

O que Stefan, fará agora, estou muito ancioso, quero muito saber!

E o coitado do Fernando o que foi que aconteceu, estou muito apreensivo com a notícia, e agora... ?

E o casamento ... ?

Adorei esse conto já vou acompanhar.

#Partiu2capítulo

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Mas para um começo esta muito bom, continua que tu vai arrasar.

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