Conserto de Corações - Parte 01

Um conto erótico de Puzzle
Categoria: Homossexual
Contém 2895 palavras
Data: 09/09/2014 15:09:10
Última revisão: 10/09/2014 15:22:40

Aquele seria o meu primeiro dia de aula no ultimo ano do ensino médio e como já era de se esperar eu não estava nada ansioso. Despertei com o meu rádio relógio tocando em seu volume máximo e tomei meu café da manhã na mesa da cozinha, acompanhado da minha mãe e minha irmã mais velha, Pamela, que já acordou cheia de vontade de comer um mamão e tomar aquele famoso iogurte que regula o intestino. Depois de filosofar sobre o preço do pão, Dona Antônia foi ao quintal regar as plantas e bater um papo com elas. Eu vivia dizendo para ela perder essa mania, mas não adiantava de nada. Dei um beijo nela e na Pamela e fui para a escola acompanhado das minhas vizinhas e melhores amigas, Thais e Bianca. Nós não tínhamos o costume de irmos a escola juntos já que eu sempre acordava tarde, chegava em cima da hora e as duas odiavam chegar atrasadas, muito menos no primeiro dia de aula. Eu também não gostava muito. Toda vez que eu abria a porta, ficava todo mundo olhando para minha cara como se eu fosse uma celebridade. No caminho, as duas me questionavam sobre o que eu tinha feito de interessante durante as férias. Uma pergunta bem idiota aquela. Primeiro porque eu era vizinho delas, se eu tivesse feito algo fora do comum ou interessante elas seriam as primeiras pra quem eu contaria, e segundo porque a minha vida era tão parada quanto um saci de patinete. Entrava e saía ano, nada acontecia. Já no colégio, procuramos o nosso nome na lista de alunos que estava no mural e constatamos que ficaríamos os três na mesma sala. Isso não me surpreendeu já que nós renovamos a matrícula no mesmo dia e naquela escola era dessa maneira que eles organizavam as turmas.

Entramos na sala e ficamos falando de abobrinha até que em torno de vinte minutos depois a quenga mor apareceu. Aquele ser maléfico que atendia pelo nome de Leona era uma garota fútil, invejosa e mimada que eu odiava com todas as minhas forças e não só por ela sentir o mesmo por mim, mas porque ela não perdia a oportunidade de me hostilizar, de me expor ou fazer um comentário maldoso em relação e minha sexualidade na frente de todos. Eu ainda não tinha tirado toda a minha "purpurina do potinho" como dizem, as únicas que sabiam sobre mim eram a Bianca e a Thais e eu não pretendia contar isso para minha família nem tão cedo.

Minutos depois, entrou a professora Solange de matemática e mais alguns alunos que conversavam do lado de fora. Porém um deles me chamou atenção e não só pela seu charme e beleza encantadora. Nunca tinha visto ele naquela escola, então provavelmente deveria ser um aluno novo. Ele tinha o cabelo curto e preto da mesma cor que os olhos. Era alto e um tanto musculoso, ou como eu prefiro dizer, um soro fisiológico. Através da Bianca, vim a descobrir depois que o nome do tal soro fisiológico era Jordan. Um nome tão bonito quanto o seu dono.

Ela e Thais trocavam mensagens uma com a outra, deviam estar falando mal da vida alheia, passatempo preferido delas. Enquanto a mim, tentava prestar mais atenção na aula e menos no Jordan. Pois na terceira vez, o mesmo notou e eu fui obrigado a ter que desviar o olhar imediatamente.

A professora tentava explicar a matéria nova em meio ao falatório, até que perdeu a paciência, mandou todo mundo calar a boca e começou com o seu famoso discurso: "Se vocês querem ser alguém na vida, precisam aprender essa matéria e estudar como se suas vidas dependessem disso, porque do céu só cai raio, chuva e granizo em raras ocasiões."

Eu adorava ela, mas naquele dia ela estava muito mal-humorada. Porém a sua matéria não ia muito com a minha cara e eu também nunca fui o seu maior fã. Sempre detestei a matemática com todas as minhas forças, justamente por esse motivo era obrigatório estuda-la em dobro caso contrário minha mãe me arremessava sua sandália rasteirinha. Ela nunca teve o hábito de me bater porque para ela violência não educa em nada, mas quando estava com raiva me jogava qualquer coisa que ela estivesse calçando. E sempre acertava.

Finalmente bateu o sinal do intervalo e as pessoas correram igual uns animais em direção a lanchonete. Esse era um dos motivos de que eu raramente comprava alguma coisa para comer na escola. Eu odiava ter que esperar e a fila estava sempre cheia quando eu chegava. Mas como eu estava com muita fome e qualquer coisa era melhor do que aquele bolo nocivo preparado pela minha mãe, decidi comprar assim mesmo. A fila estava imensa do jeito que eu imaginava e depois de quase vinte minutos em pé, eu e a Thais compramos nosso lanche e sentamos em uma mesa no refeitório bem afastada da mesa dos "populares".

Até hoje eu me lembro como se fosse ontem o dia em que as conheci no jardim de infância, desde aquele dia não nos desgrudamos mais. As duas tinham a mesma idade que eu, 17 anos. Bianca era linda, morena, tinha um corpo bonito, fazia sucesso com os garotos, mas não era piranha como a Leona. Ela se preocupava muito com a sua reputação, e em comer pouco para não engordar por que fazia curso de modelo. E a Thais era meio gótica, magra e tinha o cabelo preto com mechas verdes e quando ela não usava algo que não fosse preto, eram roupas de cores escuras.

Bianca não ficou sentada conosco, estava ocupada demais migrando de mesa em mesa para conversar com todos os colegas dela, que eram muitos. Ela sempre foi muito popular, mas não era aquela garota popular nariz em pé, falava com todo mundo, com os nerds, com os excluídos, com os atletas (principalmente com os atletas), com as putas de torcida, digo, as lideres de torcida (Nada contra líderes de torcida mas as daquela escola eram putas mesmo). Só não falava com a Leona e o seu grupo de patricinhas. Na verdade ela as odiava tanto quanto eu. Essa era uma das poucas coisas que tínhamos em comum.

– Você não vai comer nada não? – Perguntei a Bianca assim que ela voltou para a nossa mesa.

– Estou de dieta, esqueceu?

– Da última vez que você disse isso desmaiou no meio do corredor – Falou a Thais – Dieta e ficar passando fome são duas coisas bem diferentes.

– A gente já conversou sobre isso. Você precisa se alimentar direito – Alertei.

– Mas eu como, coisas saudáveis. Só não sinto fome de manhã, oras.

– E nos outros horários? Você só come salada e peito de frango? – Questionei.

– Óbvio. Se eu quiser ser modelo, eu tenho que emagrecer.

– Mas é você que quer ser modelo ou a sua mãe que quer que você seja? – Thais indagou. E ela não obteve uma resposta. Quando estávamos quase saindo do refeitório, passamos pela mesa da Leona que colocou o pé na minha frente com o objetivo de me fazer cair, e conseguiu. Com exceção da Bianca e a Thais, quase todos ali deram uma pequena gargalhada.

– Falando em viado, olha só quem apareceu – Ela caçoou enquanto eu me levantava.

– Desculpa, você tá falando comigo? – Me aproximei da sua mesa.

– Não, imagina. Eu tô falando com aquela mosca ali.

– Aposto que ela deve ser do tamanho do seu QI, isso se o dela não for mais alto.

– Quem é que precisa de QI quando se tem beleza?

– O quê você chama de beleza, eu chamo de maquiagem.

– Que nada, a maquiagem só serve pra me deixar mais linda do que eu já sou.

– É uma pena que ela só te deixa bonita por fora, o estado é crítico por dentro.

– Pelo menos não sou eu que estou encalhada e virgem.

– Pelo menos não sou eu que ando mais rodado que catraca de ônibus e já passei na mão de todos os garotos dessa escola como umas e outras que a gente vê por aí...

– E isso lá é algo ruim?

– Pra uma pessoa que não se dá o respeito, não.

– Mas fala aí, como é que foram as suas férias? Devem ter sido eletrizantes!

– Boas, melhores que as anteriores. Só não foram mais emocionantes que a suruba que você deve fazer todo final de semana com caras que você nem se lembra do nome direito, né mocinha?

– O quê eu faço ou deixo de fazer entre quatro paredes não lhe diz respeito!

– Amém, porque esse é um espetáculo que eu não faço a mínima questão de assistir – Finalizei dando as costas para ela e indo embora dali junto com as garotas.

– Vincent, não acredito que você disse aquilo pra Leona – Comentou a Bianca já no corredor.

– Agora já falei, e também não foi nada menos que a verdade.

– Só toma cuidado com a sua língua tá? Ela já te custou muitas humilhações no ano passado.

No final do intervalo, começou a aula de biologia, matéria essa que eu adorava. Não pude deixar de notar que a Leona e o tal do Jordan não paravam de trocar cartinhas. Como ela ficava com todos os rapazes que entravam e que saiam daquela escola mesmo, não me importei muito com isso. Ao término das aulas, estou saindo da escola quando alguém chama por mim:

– Vincent! – Era o Jordan. O quê será que ele queria comigo?!

– Oi, e como você sabe o meu nome?

– Perguntei para as suas amigas. Tudo bem?

– Tudo ótimo – Respondi um pouco sem jeito.

– Prazer, me chamo Jordan – Ele disse sorrindo e apertando a minha mão.

– Então, o quê você quer falar comigo? – Perguntei curioso e ansioso ao mesmo tempo.

– Bom, eu queria te convidar pra festa que eu vou dar essa semana.

– Eu não sei se vou estar disponível – Blefei descaradamente. Eu estava sempre disponível.

– A Bianca disse que você estaria.

– Ah! Então tudo bem, eu vou na sua festa.

– Será na sexta feira ás 19h. Elas sabem onde fica a minha casa – Informou.

– Obrigado pelo convite – Agradeci.

– Não tem de quê – Ele falou sorrindo para mim. Estranho.

Fui até as garotas que estavam do outro lado da rua olhando tudo e disse:

– Bianca, porquê você falou que eu vou estar disponível?

– Porquê é verdade – Respondeu – Você fica sempre trancado dentro de casa.

– E também porquê a gente notou que você está afim dele – Thais acrescentou.

– Eu? Nada a ver, só achei ele bonito. Nada demais.

– Tanto que ficou mais de meia hora olhando para ele – Falou a Bianca.

– Vamos mudar de assunto, por favor? – Pedi enquanto seguíamos de volta pra rua onde morávamos. Chegando lá, me despedi delas e fui pra minha casa.

Certamente minha mãe devia estar fazendo algo que não gostava muito de fazer: cozinhar. E só fazia mesmo porque se ela não cozinhasse, ninguém faria isso.

– Genitora! Cheguei – Ela não estava me ouvindo por causa do som alto vindo do aparelho de som na sala que rodava um CD de MPB nas alturas.

– Não, ainda não contei para eles sobre a gente. Qualquer dia eu conto.

– Sobre a gente? Com quem você tá falando? - Perguntei assustando ela.

– Rodrigo, eu vou ter que desligar. Entrou um furacão aqui em casa.

– Mãe, quem é Rodrigo?

Ela me disse que ele era um professor de Engenharia que trabalhava na mesma faculdade em que ela retornaria a dar aulas de Recursos Humanos na semana seguinte. Também me disse que o conheceu já fazia seis meses, ele era divorciado e tinha um filho da mesma idade que eu, só não sabia o nome dele e nem onde estudava.

Quando se trata da minha mãe, aquilo era bem normal. Outra vez, ela começou a sair com um cara e não sabia qual era sua profissão, não sabia nada sobre a sua família e nem se ele tinha família. Será que nunca passou na sua cabeça que o homem podia ser um serial killer ou um traficante de drogas? Por essas e outras que eu sempre desconfiava dos seus namorados. Nunca gostei de nenhum deles, só engolia. Após o almoço, subi as escadas bufando de ciúmes. Eu não conseguia entender. Por que ela queria mais alguém na vida dela se já tinha a mim?

Tomei banho, escovei meus dentes e até pegar no sono fiquei o restante da tarde e noite lendo o livro "Quem é você, Alasca?" que a Pamela tinha me dado de presente de natal.

* * *

Quando estou entrando no portão da escola, ouço o barulho de uma moto se aproximando de onde eu estava. Era o Jordan que estava chegando nela. Ele desceu e veio em minha direção sorrindo. Por algum motivo, fiquei esperançoso achando que ele tinha vindo falar comigo, mas não. Ele foi falar com a Leona que estava bem atrás de mim. Porém eles não estavam só conversando, e sim se beijando. Mas quem eu queria enganar? Porquê um cara daqueles se interessaria por mim? Ele era areia demais pro meu caminhão, e isso não era uma opinião, mas sim um fato incontestável. Não que eu seja uma pessoa insegura, longe disso. Toda vez que eu olho para o meu reflexo no espelho, vejo um garoto levemente bonito, esbelto, de estatura média e olhos castanhos grandes como os de uma coruja. Sim, eu me acho bonito. E não é porque a minha mãe vivia afirmando isso, mas porque eu já recebi alguns elogios modestos de amigos, e inimigos ocultos também.

Durante a aula de química, notei um garoto novo na turma. Ele estava sentado no outro canto da sala, bem distante de todos do mesmo jeito que eu no meu primeiro dia de aula naquele colégio. Ele tinha o cabelo loiro escuro, usava óculos de grau e era bem branco. Não chegava a ser albino mas estava longe de ser moreno e a quilômetros de distância de ser feio. Queria estar mais próximo dele para poder avaliar melhor o material. Mas tudo bem, fica pra próxima. Durante o o recreio, ele ficou sozinho na sala desenhando enquanto eu fui para o pátio com a Bianca que já tinha conversado com o garoto antes da preleção. Ela disse que se ele se chamava Charlie e não era de falar muito.

Thais foi comprar seu lanche na cantina e voltou com dois hambúrgueres e um cara gótico acompanhando ela. Isaac usava sombra nos olhos, esmalte preto nas unhas, a única peça de roupa branca no seu corpo era a camisa do uniforme e tinha o cabelo parecido com o Edward Cullen da Saga Crepúsculo. Resumindo, era o sonho de consumo dela. As duas criaturas sombrias ficaram um bom tempo conversando sobre assuntos místicos, filmes de terror, sangue e muito heavy metal. Na verdade, eles só ficaram falando de música mesmo, só que para mim deste modo fica bem mais interessante. Voltando para a sala, vi que Charlie continuava sozinho desenhando personagens de Mangá. Sei disso porque não conseguindo conter a curiosidade, eu fingi que ia jogar um papel no lixo para me abeirar da sua carteira e ver o que ele estava fazendo.

* * *

Genitora me contou que já tinha falado para a Pamela sobre o seu namorado e me informou de última hora que naquela noite ela daria um jantar para conhecermos o tal Rodrigo e o seu filho. Ajudei ela a dar uma faxina geral na casa e no final da tarde, estava tudo um brinco de brilhantes, sem mencionar que ela já tinha até terminado de fazer o jantar totalmente sozinha. Rosbife com Batatinhas Confit para o prato principal e Baba Ao Rum para a sobremesa.

Mamãe não perdia a oportunidade de causar boa impressão nas pessoas, se ela adorava causar boa impressão em quem odiava, ainda mais em quem ela gostava. E quando eu pensava que o jantar não podia ficar ainda mais pomposo, ela me inventa de colocar flores em volta da casa, velas perfumadas em locais estratégicos e ainda deixou tocando música Lounge na rádio da TV a cabo. Esse indivíduo tem que ser um pedaço de mau caminho mesmo, pensei e fui tomar um banho e na hora de me arrumar, escolhi uma calça escura cor de vinho, um All Star preto tradicional e uma camisa branca com a bandeira da Inglaterra estampada. Em torno de dez minutos depois, a campainha tocou e a minha irmã foi atender. Naquele minuto, Dona Antônia saiu do seu quarto com um vestido de seda florido e um colar de ouro com diamantes. Na verdade era só uma imitação barata que ela tinha comprado numa loja de semi joias, mas na frente das amigas jurava ser verdadeira até a morte e aí de quem desconfiasse.

Volto para a sala e constato que o Rodrigo era mesmo aquilo tudo que a minha mãe dizia ser. Cumprimentei ele e pedi que ficasse a vontade. Imaginei que se o pai era bonito daquele jeito o filho devia ser tanto quanto ou mais. Pamela entrou com ele no aposento e novamente, minha intuição estava certa. Porém tinha um detalhe ainda mais inusitado, eu já o conhecia. Aquele garoto que usava uma calça preta, um sapatênis bege e uma camisa azul clara com a frase "Some Things Don't Change" escrita em letras brancas era o mesmo de óculos que eu tanto observava durante a aula, e que ficou sozinho no intervalo desenhando.

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Comentários

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Gostei mtooo!! Vc escrever mto bem, e posta logo to ansiosa pela continuação. Meu lindo bjs♥

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Esse convite pra festa,tá na cara que é armação,pela resposta que ele deu pra leona achei que ele não engolisse desaforo ....

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Eu gostei bastante do seu conto. Talvez ele seja um dos milhões de clichês que eu já li... mas, sei lá. Ele tem algo único e que eu realmente gostei. Continue logo, por favor.

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