A República — Capítulo 4

Um conto erótico de Miguelito
Categoria: Homossexual
Contém 1458 palavras
Data: 03/09/2014 17:39:02
Última revisão: 03/09/2014 21:42:21

O que se seguiu foi um grito, entretanto não fora de terror, e sim de raiva. Passos pesados, ainda úmidos, passaram pela casa, fazendo um barulho desagradável. Mesmo do meu quarto eu os escutava.

Nessa gritou um "O que foi?", enquanto Fernando falava as piores baixarias possíveis. Eu obviamente sabia do que se tratava, mas fiquei na minha, calado. Até que ele veio até mim.

Escancarou a porta com força. Ainda de toalha, o garoto tinha uma carranca no lugar da expressão serena de sempre. Seu rosto estava vermelho, mas ele não parecia exalar ódio, embora ele nunca houvesse ficado daquele modo em nossas brigas.

— Ei, ei, ei, que invasão é essa? — disse, calmo.

— Invasão? — bradou. — Invasão é o que você fez no meu quarto. Eu colocar seu celular para alarmar é cabível, mas daí você molhar todas as minhas roupas? Sacanagem isso!

— Não faço a menor ideia do que está falando. — respondi, tão sonso quanto ele fora. — Nunca te ensinaram a usar roupas enquanto fala com alguém?

O garoto retesou seu maxilar, e segurou em sua toalha.

— Eu estaria usando caso você não tivesse molhado todas elas, seu idiota! — Falou Fernando, aproximando-se três passos. Nesse exato momento, Nessa aparece na porta, com cara de braba.

— Ei, mas o que é isso? — gritou. — Será que vocês nunca vão se entender?! Que merda, cara, nem assistir mais eu posso!

Edu e Manu também apareceram, ambos com cara de sono.

— O que diabos está acontecendo aqui? Outra briga? — perguntou Manu. — Pelo amor de Deus, vocês não haviam se entendido?

— Eu não posso nem mais dormir nessa casa? Tenham dó! — Ralhou Edu, puxando Manu para si.

— Agora me expliquem o que aconteceu — disse Nessa, baixo e pausadamente.

Fernando ia tomar a dianteira, mas eu me adiantei, e antes que ele pudesse reverter a situação a seu favor, contei a minha versão:

— Hoje pela manhã, bem cedo, esse babaca botou meu celular para despertar, me fazendo acordar às seis da manhã. E sabem como odeio acordar cedo. — falei. — E então eu apenas retribuí o gesto.

— E com "retribuí" ele quis dizer que pegou todas as minhas roupas, sem exceção, e molhou na banheira do banheiro social. Eu estou sem nenhuma peça limpa para vestir depois dessa.

Vanessa respirou fundo, olhando para nós dois. Parecia no seu limite de paciência.

— Edu, empresta algumas roupas suas para o Nando, e dá um daqueles pacotes de cuecas novas para ele, assim nenhum dos dois vai ter que usar peças íntimas usadas por outros homens. Manu e Miguel, venham comigo até o banheiro. Ah, Edu, leva o Nando para lá depois, ok?

O irmão dela balançou positivamente a cabeça, então retirou-se com Nando seguindo-o. Após ser enquadrado por Vanessa, senti vergonha, e a segui sem protestar.

Em instantes tiramos todas as roupas do banheiro social, colocando-as num cesto e levando para a área de serviço. Ali, Nessa pegou dois rodos e alguns panos de chão, levando para o banheiro. Quando chegamos lá, Edu e Nando já nos esperavam, estando este último com uma camisa preta, de mangas, e uma bermuda jeans similar à que Edu vestia.

— Muito bem. Como sabem, aqui dividimos tarefas, e temos a política do "quem suja, limpa". Por isso — Nessa entregou um rodo para mim e para Fernando, e distribuiu panos de chão a nós dois —, limpem.

Olhamos para o banheiro, processando a informação. Eu e Fernando teríamos que limpar toda aquela água? Era aquilo mesmo?

— Andem logo, o que estão esperando? — bradou Vanessa. Carrancudos, entramos no banheiro, e começamos a empurrar a água para o ralo. Nessa ainda estava na entrada, olhando-nos. — Eu vou dar a última chance de vocês se darem bem. É meu últimato. Quero ver esse banheiro limpo como estava.

Com isso, Vanessa pegou a chave a qual estava do lado de dentro da porta e encaixou na parte de fora. Antes que pudéssemos reagir, Nessa fechou a porta, trancando-a por fora.

— Acho bom se acertarem, ou farei pior que isso. Amanhã veremos se o banheiro está limpo, e enquanto isso fiquem aí dentro pensando no que fizeram um ao outro. E, por favor, tentem não se matar — falou Vanessa, sua voz abafada do outro lado da porta.

A maldita havia nos trancado ali, e passaríamos a noite juntos, trancados, naquele cubículo metodicamente organizado.

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— Isso é tudo culpa sua! — Gritou Fernando. — Se não tivesse molhado minhas roupas, não estaríamos aqui.

— Ah, minha?! Se VO-CÊ não tivesse colocado meu celular para alarmar não teria acontecido isso.

— Puta que pariu, só porque acordou cedo? Você é infantil, Miguel! — disse Fernando.

— Ouço gritos? — falou, do outro lado da porta, uma voz feminina que distingui ser de Vanessa. Instantaneamente nos calamos.

Fizemos o serviço inteiro sem diálogo algum. Usamos os rodos para empurrar a água para o ralo, e limpamos resto d'água com os panos de chão. Ainda coloquei um perfumador no local, pegando de um pequeno armário debaixo da pia.

Pareciam ser cerca de oito horas. O meu celular havia ficado no quarto, e creio que o de Fernando também, ou ele estaria mexendo. O silêncio ali era constrangedor; eu estava sentado sobre o vaso sanitário, ele na banheira recém-enxuta. Nem sequer nos olhávamos, apenas esperávamos o tempo passar.

Fernando parecia ter encontrado um pequeno acessório para bater na borda da banheira, e o som daquilo rimbombando no silêncio me incomodava. Devo ter feito alguma careta, porque Fernando parou de bater na borda da banheira e me olhou.

— Incomodo? — indagou, parecendo preocupado em parar com aquilo. Um sinal de rendição?

— Ahn... Eu tenho agonia a esse barulho no silêncio, apenas. — Falei, mirando em seguida em suas íris castanhas que já me enquadravam.

— Tudo bem, eu paro. — Falou, guardando o treco. — Eu também não suporto alguns sons, me dão agonia ao extremo. Estourar plástico bolha? Deus que me livre.

Sorri com aquele comentário, e pela primeira vez percebi um sinal de que poderíamos nos darmos bem. Afinal, nesse meio tempo era a primeira vez que eu ria com algo que ele dizia. Sem comentar que ele ainda puxava assunto, como se realmente quisesse conversar.

— Eu não tenho exatamente agonia. Só não gosto, seja o som que for. — Comentei.

— Entendo. — disse ele. Então alguns segundos se passaram, e ele comentou outro assunto: — Muito louca a forma como nos conhecemos, não? Um esbarrão, uma briga, uma república...

— E mais brigas. — Intervim. Ambos rimos. — Nunca fui muito de brigar, mas tem alguns idiotas que enchem o saco, meu Deus.

Eu não olhava-o, pois parecia repentinamente interessado no ralo do banheiro; quando tornei a olhar para ele, porém, eu já estava sendo olhado. Desde o nosso primeiro contato admirei aqueles olhos, ou ao menos fiquei intrigado. Eram penetrantes, ainda que com um tom mais escuro. E só então percebi o que havia dito.

— Não que você seja idiota, é claro. — Apressei-me em consertar. — Eu quis dizer que há algumas pessoas que conseguem me tirar a paciência.

Fernando riu com a minha preocupação de redimir-me daquele insulto, e ajeitou-se na banheira.

— Acontece, sei como é — disse ele. Nesse momento o assunto morreu, e levou alguns segundos para que ele inventasse algo novo: — Sua namorada deve ser muito da paciente, ou vocês vivem brigando.

Dei um sorriso e abaixei a cabeça, tornando a olhá-lo. Namorada? Puft.

— Eu não tenho... namorada — falei, seguro. — E se eu fosse me envolver com alguém, teria que ser realmente paciente, ou brigaria com ele todos os dias.

— "Ele"? — Indagou Fernando, aparentemente interessado.

Travei. Não espalho para todo o mundo a minha opção sexual, ainda que não tenha dúvidas dela. Da república, apenas Manu sabia que eu era gay. E agora Fernando, devido o meu vacilo.

— Ah... Sim, "ele". Eu sou gay — soltei, temeroso pela reação de Nando.

O jovem apenas riu, passando a mão pelos cabelos. O que foi aquilo em seu rosto? Satisfação?

— Vamos começar de novo? — Sugeriu ele, levantando-se e saindo da banheira. — Meu nome é Ramon Fernando Dias, mas sou mais conhecido como Nando, tenho dezessete anos, sou natural de Touros, amo suco de caju e sou péssimo com matemática. — Estendeu a sua mão para mim, a qual eu apertei em seguida.

— Sou Miguel Antunes Braga Neto, tenho dezesseto anos, sou natural de Natal, curso Letras pela UFRN, amo ler e odeio matemática.

Enfim, tudo havia recomeçado. Mas a noite, porém, estava apenas no começo. Ainda teríamos muito o que conversar.

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Entregue. Esse capítulo foi onde eles "acertam-se", e espero que tenha sido coerente. Não serei apressado, ainda que já no capítulo 4 eles se acertaram, acontecerão mais... surpresas. De novo, um obrigadão aos meus mais novos fiéis leitores, espero que não desistam da minha série. u.u <3 Outra coisa, o tamanho dos capítulos está muito pequeno? Comentem e votem. Até a próxima. o/

Bjs, Miguel. :3

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Comentários

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Awn, obrigado. Não sabem o quanto é gratificante ler comentários como os de vocês. <3

Ru/Ruanito, snoob, geomateus, Neguinha_evangélica*, cês são fods. sz

Rafael, massa é você por ler minha série! Ty. <3

Eitaaa Lipe, de Natal. <3

KaduNascimento e Beyhive, caras. <3

A todos, obrigado por lerem, de verdade. Amo vcs. :3

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Muito legal, mais acho que vc poderia aumentar mais um pouquinho.

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Cara , amoo sua série ... mt boa mesmo .Sim vc poderia aumentar um pouquinho o tamanho dos capítulos .Estou aguardando o prox. :)

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Adorei esse conto. Aguardando ansiosamente pela continuação.

Abração!!! Whats::: (85)8929-1690

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Eitaa sou de natal tbm beiji pros nordestinos <3, e amando seu conto <3

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