Grata pelas notas e comentários de todos. Voltando ao conto...
Quinze anos haviam se passado.
Andrei, Leon, Rafa, Rick e Johnny recebiam a visita de algumas fãs no camarim. Distribuíram autógrafos, beijinhos, e depois que as garotas se foram e os demais companheiros de banda foram cheirar algumas carreiras de pó no banheiro, Andrei jogou-se no sofá pesadamente.
- Porra, cara, estou morto! - disse a Leon. - Não vejo a hora da gente tirar umas férias, viu?
Leon acendeu um baseado, enquanto observava os braços fortes e cobertos de tatuagens do amigo. Tornara-se um maconheiro inveterado. Haviam conseguido realizar seu desejo de adolescência, decolaram na carreira artística. Já haviam gravado cinco álbuns e tinham uma extensa agenda de shows em todo o Brasil. Mais adiante, tencionavam lançar-se em carreira internacional.
Leon estava agora com 29 anos, e há muito deixara de ser o garoto babaca. Tornara-se um homem alto e esguio, moreno, de amor meio sério, que tinha uma tatuagem no pescoço e se vestia quase sempre de preto. Aliás, todos os cinco se vestiam de maneira parecida, tinham muitas tatuagens e usavam um boné ou gorro na cabeça. Uma coisa, porém, era a mesma de quinze anos antes... eram os olhos negros de Leon, macios e um pouco tristes, quando contemplavam seu amigo de infância, agora companheiro de banda e parceiro.
Leon engatara um relacionamento e tinha uma filha de 6 anos, mas no momento estava solteiro. Andrei era casado havia 8 anos e tinha dois filhos, um de 5 e outro de 3 anos. Ao melhorar de vida, ambos haviam comprado casas e ajudado os pais. Sempre na estrada, tinham pouco contato com suas famílias. Durante as turnês pegavam muita mulher, às vezes faziam uma festinha a três... os sentimentos de Leon eram confusos nesses momentos. Havia alguma coisa que ele fazia questão de não encarar.
Andrei pegou uma garrafa de vodka, bebeu um gole e de repente disse para Leon:
- Cara, a gente é irmão... e se a gente fizesse um pacto de sangue? Porra, como é que eu não pensei nisso antes?
Leon franziu a testa.
- Pacto de sangue? Que porra é essa, cara?
Andrei sentou-se e começou a explicar.
- Tipo assim, a gente faz um corte no dedo de cada um e mistura seu sangue com o meu. Daí a gente fica ligado pra sempre, e quando um de nós morrer, o outro morre também! e aí, topa?
Leon começou a rir.
- Cara, que viagem... é como se a gente se casasse, é isso?
Andrei fez que sim, virando para trás o boné e bebendo bebendo mais vodka.
- Mais ou menos, cara... mas eu não vou trepar com você, viu?
Os dois riram muito. Leon começou a achar aquilo divertido. Ele sempre gostava das coisas que Andrei inventava.
- Ok, topo... vamos fazer esse tal pacto de sangue!
Andrei tirou do bolso da bermuda jeans seu canivete de estimação. Desde garoto ele não se separava desse canivete, era seu amuleto de sorte. Leon observava o que ele fazia. Andrei forçou a lâmina afiada contra seu dedo polegar, e logo brotou um filete de sangue.
- Dá a mão, - disse ao amigo. Leon estendeu a mão com certa relutância. Odiava sangue. Andrei pressionou a lâmina contra o dedo do amigo até o sangue surgir. Então pressionaram os dois ferimentos um contra o outro, misturando o sangue de ambos.
- Pronto! - disse Andrei. - Agora a gente está junto e misturado pra sempre!
Leon ria muito.
- já acabou nosso casamento? Então vamos nessa, ou a gente vai perder o avião, cara! Chama aqueles maluco ali no banheiro...
Dali seguiram para o aeroporto, pois tinham um show numa cidade próxima. Se o pacto feito no camarim teve alguma influência sobre o que aconteceria depois, somente as forças ocultas podem dizer. Mas o fato é que foi naquela noite, sentado na poltrona aso lado de Andrei que dormia, enquanto o avião seguia sua rota acima das nuvens, foi que o véu caiu e Leon compreendeu finalmente o que sentia por seu amigo. Era amor, amor sem limites... uma paixão avassaladora... e isso fazia dele, senão gay, ao menos bissexual...
Leon respirou fundo, tentando acalmar as batidas frenéticas do coração. Sim, ele amava Andrei desde menino... estremecia quando encostava sua mão na dele, gostava de seu cheiro de macho suado, misturado ao perfume de sabonete... queria sentir sua barba sempre por fazer roçando em seu pescoço, queria se perder naquela boca num beijo sem fim... como seria beijar alguém do mesmo sexo? Eram essas coisas que Leon, muito perturbado e comovido, pensava, enquanto Andrei continuava a dormir profundamente. Ainda que o outro nunca se soubesse, era um alívio assumir para si mesmo aquela paixão...
O tempo continuou a passar, a carreira da banda ia bem. Shows, aparições na TV, escolha de músicas para o próximo álbum... após a descoberta daquela noite, Leon decidiu ocultar para sempre no coração o que sentia por Andrei. Jamais o amigo poderia saber daquilo, jamais... certamente seria o fim da amizade de ambos... e isso seria mais que Leon poderia suportar.
Decidiu ser para sempre o melhor amigo de Andrei, seu parceiro e companheiro de banda, já que era a única forma que poderia tê-lo. Seria suficiente estar junto de Andrei, ouvindo o som de sua voz, sua risada, sentindo seu cheiro, desfrutando de sua presença... contudo, Leon às vezes sonhava em ter mais, muito mais...
Problemas também existiam. Os dois às vezes brigavam , mas logo faziam as pazes. Não conseguiam ficar muito tempo longe um do outro. Leon não engatava nenhum relacionamento duradouro com uma mulher, só ficava, e Andrei estava cada vez mais dependente de cocaína. Leon temia que aquilo pudesse arruinar a carreira delas em um dado momento. foi então que...
Estavam de férias após uma série de shows, quando certa noite, já depois das onze horas, o celular de Leon vibrou. Ele reconheceu o número de Andrei. O amigo lhe disse que estava em seu apartamento secreto e lhe pedia que fosse até lá, pois precisava muito conversar com alguém...
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