Três Formas de Amar - 12

Um conto erótico de Peu_Lu
Categoria: Homossexual
Contém 2042 palavras
Data: 02/08/2014 10:52:04

Três Formas de Amar – Capítulo 12

- Paulinha, há quanto tempo!

- Meu querido, entre, por favor.

Nunca tinha ficado tão feliz ao reencontrar a minha psicóloga. Paula era uma conhecida da minha mãe, que não pensou duas vezes quando a escola a instruiu que buscasse ajuda para trabalhar a minha introspecção. E aquilo realmente foi decisivo para mim.

- Como vai a sua mãe? Se mudou mesmo né? Manda um beijo grande quando encontrá-la.

-Pois é, agora sou um jovem solitário, morando só.

Sorrimos juntos.

- Que solitário o que. Você me parece cada vez mais confiante. O que te traz aqui hoje?

Suspirei lentamente. Tinha que falar tudo, e confiava plenamente nela (e na consulta confidencial).

- Paula, há alguns dias aconteceram umas coisas diferentes na minha vida...

Tentava calcular como diria todos os fatos, mas prossegui firme:

- E nessa última semana, tudo o que não rolou a minha vida inteira, resolveu acontecer em cinco dias.

- Nossa, me parece bastante intenso – ela respondeu – continue, me conte.

Então falei tudo, com todos os detalhes. Como não olhava diretamente para ela, não me preocupava com as suas reações. Falei do sexo casual com Luiza, de quando o Rodrigo surgiu, do ménage, do que sentia, o que mexia comigo, nossas transas, o sentimento que estava rolando, a minha insegurança e como eu não estava conseguindo raciocinar sobre o assunto.

- Luciano, é natural que você não esteja conseguindo lidar com isso – disse me tranquilizando – Sabe... Eu o enxergo como um adolescente tardio. Você não conseguiu aproveitar essa fase por inúmeras razões, e ela está aflorando agora, apesar de você ter uma idade mais avançada. Se já seria difícil imaginar alguém mais maduro nesse tipo de situação, imagine uma pessoa de vinte e poucos anos.

Eu fiquei um pouco em silêncio.

- Todo ser humano passa por inúmeras descobertas e experiências ao longo da vida, não importa em que momento, e isso vai moldando a nossa essência. Não teria porque ser diferente com você. Vivencie cada sentimento seu, sem medo, e você passará a entender do que você gosta. Não se prenda a alguns conceitos arcaicos da sociedade... podemos gostar de meninos, meninas e até dos dois. Já conversei com gente apaixonado pelo irmão, familiares. O ser humano é assim.

- Eu achava que curtia meninas... – disse timidamente – Mas confesso que hoje eu não tenho mais o mesmo interesse de antes.

- Luciano, você me disse que não sabe como levar adiante o sentimento que acha que está tomando conta da sua mente. Se quer que eu te diga a resposta, tire o cavalinho da chuva. Não existe gabarito para isso. O que posso te adiantar, é que talvez você já saiba. Está na sua cara, mas você precisa trabalhar o que está te impedindo de enxergar: o seu medo.

Odiava quando ela vinha com esses devaneios. “Pensar sobre o meu “eu” é um saco!”.

- Repito: se permita, viva! Não há o que temer quando buscamos a nossa felicidade. Não se prenda a julgamentos e opiniões alheias. Eu posso te garantir que você vai se sentir uma outra pessoa.

“Droga, mais uma vez ela estava coberta de razão...”. Paula se levantou e me chamou para um abraço. Ela era quase uma segunda mãe para mim. O horário da consulta tinha terminado. Trocamos mais uma palavrinhas e prometi uma nova visita em breve.

- Coragem mocinho! – ela se despediu, em tom de sermão.

...

Sair daquela consulta era revigorante, depois do pesadelo que foi a minha noite anterior, quando voltei para casa ouvindo piadinhas do pessoal do vôlei sobre namoradas. Segui para o trabalho, disposto a trabalhar a minha confiança. Queria conversar com o Rodrigo. Pensava muito nele e precisava explicar o meu ponto de vista. Mas antes, tinha que colocar todos os pingos nos “i” com Luiza, depois daquela cena ridícula no jogo. “Ela não é sua namorada, e você não deve satisfação nenhuma para ela”, repetia na mente.

Ao chegar, comemoração. Pessoal aplaudindo a equipe de criação, chefes prometendo um champanhe para o fim do dia... enfim, só alegria. Durante a tarde, Bruno chamou o pessoal da concorrência na sala de reunião para explicar algumas coisas do processo de transição do novo cliente:

- Pessoal, é o seguinte. Fomos informados ontem que vencemos, extraoficialmente. Mas não podemos contar para ninguém ainda a identidade do cliente. Na segunda pela tarde, seremos apresentados à equipe deles, e só então eles irão emitir um comunicado para o mercado.

Era justo, afinal sequer sabíamos qual era a agência que iria ficar no prejuízo com a saída desse cliente. Antes de sair da sala, Bruno completou:

- Ah, Luiza! Parabéns pela apresentação. Os diretores decidiram que você será o atendimento dessa conta.

Aplaudimos, merecidamente, e prosseguimos com o trabalho. Na metade final da tarde, comecei a tentar esboçar uma ideia meio mirabolante para ter a atenção do Rodrigo e conseguir conversar com ele. “Isso tem que funcionar”. Ajustava algumas coisas e pensava em como fazê-lo aceitar a história. O dia estava terminando e o clima na agência era dos melhores. Voltar para a minha sala parecia mais reconfortante. Não queria demorar muito, mas tinha que participar da comemoração, afinal, eu também fazia parte daquilo. Logo depois, o pessoal começou a aparecer com taça na mão, chamando a gente para o terraço. Quando alguém queria resenhar, ou fumar, ou tentar espairecer em busca de uma ideia melhor, subia para o terraço, que ficava poucos andares acima da agência, e tinha uma vista plena para aquela selva de prédios, escritórios e trânsito caótico, no meio de Salvador.

Todo mundo brindava, sorria e se abraçava, bebendo sem parar. Pouco tempo depois, percebi que Luiza estava meio isolada em uma das sacadas, observando a vista. Me aproximei, e fiquei ao seu lado em silêncio, com uma taça na mão. Respirei profundamente e disse o que estava preso na mente:

- Luiza... não sei o que você está pensando, ou querendo, ou pretendendo. Apenas me escute um instante, não precisa me dizer nada.

Ela seguia olhando a vista.

- Não existem culpados. Rodrigo é um colega do vôlei. Somos amigos. Eu não sabia que ele te conhecia, e ele também não sabia, até aquela noite. Ficamos assustados com essa revelação. Não pretendia deixar rolar até perceber que você voltou da cozinha disposta a tudo. E continuamos em respeito a você. Sim, deveria ter conversado com você depois, mas não senti abertura para isso. Você me conhece, passamos por muita coisa juntos.

Luiza permanecia imóvel.

- Aconteceu. E hoje, sinceramente, eu prefiro esquecer tudo isso. Não temos nenhuma obrigação um com o outro. Não foi nada planejado, ninguém estava querendo sacanear você, apenas seguimos as suas regras. Saiba que te admiro muito, você é super profissional, mas te peço que não misture as coisas. E acho que você está entendendo bem o que quero dizer com isso. Espero um dia poder continuar com a nossa amizade.

Passei a mão no seu ombro, esperando alguma recepção. Ela tomou um gole de champanhe e decidiu não responder nada. Saí dali para me juntar aos outros, tinha feito a minha parte, apesar do ressentimento com algumas atitudes dela nos últimos dias. “Etapa um vencida, Paulinha!”, pensei.

...

A resenha continuou na comemoração do pessoal, mas eu queria mesmo era celebrar outra coisa. Não demorou e me despedi de todos, alegando cansaço. Busquei alguma indicação de um restaurante legal em um aplicativo e me dirigi a ele, pedindo um prato bacana. Solicitei para viagem, e ainda perguntei na cara de pau ao garçom como ele achava que eu deveria apresentar o prato quando levasse à mesa, porque queria impressionar alguém. Confesso, eu não sei cozinhar. Mas não queria deixar de ter uma noite especial por causa desse mero detalhe. Em casa, deixei tudo preparadinho, e coloquei umas velas na mesa. “Putz, vela, que coisa brega”, pensei. Mas resolvi seguir meu coração.

Já estava tudo ajeitado, quando resolvi dar prosseguimento ao plano:

- “Rodrigo, tá por aí? Pode falar?” – perguntei.

Demorou alguns minutos, e comecei a imaginar que ele poderia estar pensando se deveria continuar o papo por mensagem ou não.

- “Oi, diga”.

“Yes! Vamos lá...”, prossegui digitando:

- “Cara, desculpa te incomodar uma hora dessas, mas eu preciso de uma ajuda, e não tenho a quem recorrer...”.

- “Tranquilo, o que houve?”.

- “Escorreguei no banheiro e acho que fraturei o tornozelo. Você pode me dar uma força aqui e me levar num hospital? Tentei ligar pro Beto ou Luís e ninguém atende. Você está mais perto de mim”.

- “Putz, que merda! Tô indo praí”.

Eu não gostava de brincar com coisas de saúde, mas não enxerguei outra maneira de fazê-lo entrar no embalo. “Ponto pra mim!”. Tomei um banho rápido e me arrumei, esperando ele chegar. Não demorou muito, e o interfone tocou. Estava na horaOi entra – convidei.

- Cadê, o que houve cara? – ele estava ofegante, e eu me senti péssimo por aquilo.

- Rodrigo, desculpa, eu tô bem.

- Como assim, em qual tornozelo foi? Como foi isso – ele ainda era um poço de preocupação.

- Eu não escorreguei no banheiro...

- Que brincadeira de mau gosto é essa Luciano?

- Eu queria muito conversar com você, e não vi alternativa para te convencer – admiti.

Rodrigo ficou meio puto:

- Qual o seu problema? Deixa de ser idiota cara...

Ele já se dirigia indignado para a porta, mas eu segurei o seu braço:

- Por favor... Fica, só um instante. Escuta o que eu tenho pra falar e depois se quiser você pode ir embora. Prometo.

Rodrigo parou, viu de relance a mesa arrumada, e me olhou surpreso. Meu coração estava acelerado, pedindo por aquela chance e batalhando para eu vencer aquele obstáculo, e falar o que eu queria. Ele concordou, sem dizer nada. Sentou à mesa, enquanto pegava o jantar na cozinha. Era o tempo que eu tinha para organizar os pensamentos na mente. “Vai dar certo, vai dar certo...”. Voltei com um filé à parmegiana caprichado, que encheu os olhos dele. Claramente queria perguntar se fui eu que fiz, mas se conteve. Acendi as velas, e sentei.

- Luciano, o que é tudo isso?

- Te chamei aqui porque venho pensando muito no que você me disse na quadra de vôlei e em tudo que vivemos, apesar do espaço de tempo muito curto.

Ele estava surpreendido com toda aquela situação criada.

- Eu entendo que você quer viver algo sério, e que talvez eu não esteja correspondendo da forma que você espera. Peço desculpa por isso. Mas também te peço um pouco de paciência comigo. Isso é novo para mim, e eu estou gostando muito, só preciso aprender a lidar. Há quinze dias, jamais imaginaria que estaria apaixonado por alguém...

- Apaixonado? – ele me interrompeu.

“Não vou ficar vermelho, não vou ficar vermelho...”:

- Sim... Você mexe comigo, e talvez eu não estivesse entendendo o que era essa sensação. Mas hoje eu concluí isso.

- Como você chegou a essa conclusão?

- Não se explicar, eu sinto sua falta, sinto necessidade de falar com você o tempo todo, acho que me sinto bem quando eu estou com você...

Ele não escondia mais o sorriso no rosto, enquanto eu prosseguia:

- Eu quero continuar fortalecendo esse nosso momento se você permitir, e peço desculpa se em algum momento não deixei transparecer isso. Por isso te chamei pra jantar comigo.

Rodrigo abaixou a taça de água que estava bebendo e se levantou em minha direção. Ele tinha pressa. Me puxou para um beijo intenso e demorado, e ali nos reencontramos de novo. Sua língua, a barba roçando novamente o meu rosto, seu abraço apertado. Como era bom sentir aquilo de novo, e parecia uma eternidade os dois dias que ficamos sem contato físico. Ele se afastou, lentamente, mas ainda mordendo meus lábios, e fiquei admirando aquele rosto com algumas sardas discretas.

- Luciano... Quer namorar comigo? – ele me fitava sério.

...

Oi pessoal! Não consegui postar ontem, por isso pretendo colocar dois capítulos hoje. Peço desculpas, mas acabou ficando corrido demais. Drica Telles, pois é, essa timidez é um grande problema para grandes decisões. Irish e Kadu Nascimento, uma parte de mim acha que Rodrigo estava em busca de um compromisso mesmo, a outra parte acredita que ele falou aquilo para me dar um empurrão sobre o que eu estava sentindo. Stylo, Luiza é realmente um caso a se analisar (rs). Obrigado pelos votos e comentário pessoal! Daqui a pouco tem mais. Abração

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Comentários

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Lindos! Muito fofo. Espero que dê super certo o namoro, até hoje. Luiza já era! Que vá ciscar em outra freguesia!

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Estou gostando muito da forma que a Historia esta indo so um ponto que espero que não aconteça, que a luzia desapareça da vida deles.. queria que no final os 3 se dessem bem.. mais vamos ver com o decorrer do tempo.. aguardando a próxima postagem.. <3

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Realmente a paixão de vcs foi muito rápida, como vc mesmo disse, foram apenas 2 dias e 2 transas (não acredito em paixão platônica assim não), mas por vc o conhecer antes, do volêi, pode ser uma possivel explicação de o sentimento ter aflorado tão rápido. Esperando a continuação, e como irão se comportar perante aos outros.

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Os pensamentos deles não estam totalmente firmados com isso, mais nada melhor que o tempo pra fazer isso. Amando seu conto. Abraço!!!

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Aeeeeee...Uhuuuu, Finalmente!!! Os pensamentos deles nao estao totalmente firmados com isso, mais nada melhor que o tempo pra fazer isso.

Amando seu conto. Abraço!!!

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