Um estranho 01

Um conto erótico de Igor Alcântara
Categoria: Homossexual
Contém 2021 palavras
Data: 06/08/2014 00:57:09

Eu sempre fui gay. Desde que me entendo por gente eu sempre fui gay. Bom, a memória mais remota sou eu apaixonado por um garoto mais velho ainda na terceira série. Então isso basicamente me faz entender que é desde sempre. Nunca tive crises existenciais e me odiei por ser gay. Muito pelo contrário, tudo sempre foi natural pra mim e isso me faz pensar se realmente nascemos gays.

Era janeiro e eu estava no meio do calendário acadêmico da UFPI. Após a greve de 2012 não tivemos mais férias normais e acabou que nossas aulas não se encerram e iniciam como as demais instituições. Eu curso Administração. Estava no bloco IV. Sempre quis cursar Administração, mas voltando: A UFPI tem turmas de Administração pela tarde e pela noite. Os alunos da tarde normalmente são mais novos e recém saídos do ensino médio. O pessoal da noite normalmente são pessoas mais velhas porque usam o dia para trabalhar.

Bem, a não ser o fato de todo mundo estar de férias e você pagando horas atrasadas de greve, meu dia era normal. Eu morava com minha tia desde que iniciei o curso em 2012. Ela era legal. Eu não mantinha muito contato com meus primos, só o necessário. Acordava e pegava o ônibus todas as manhãs pra UFPI. Estudava na biblioteca e almoçava no Restaurante Universitário. A tarde assistia minhas aulas e voltava a noite pra casa de carona com uma amiga.

Mesmo passando o dia na universidade eu tinha vida social. Por vida social eu digo sair pro shopping e ir ao cinema uma vez por semana assistir qualquer coisa com os amigos. Pra vocês, assim como todo mundo, não acharem que eu sou uma pessoa deprimida (o que eu não sou!), vou me apresentar pra perder um pouco esse clima de divã.

Meu nome é Lucas Melo. Tenho 20 anos, prestes a fazer 21. Sou moreno, 1,70m, magro, cabelo preto com topetinho. Não sou bom em descrições. Com o passar do conto vocês vão imaginando.

Como eu disse estávamos em janeiro e era mais um dia comum. Era por volta das 8h quando eu cheguei no campus. Enquanto as pessoas se dirigiam para as suas salas eu ia encontrar com uns amigos numa mesa do RU pra terminar os detalhes de um trabalho. Cheguei e cumprimentei todo mundo. Éramos sempre o mesmo grupo. Natanael (Natan), Ronald (que chamávamos de Rony, do Harry Potter por que ele é ruivo), Larissa, Júlia e eu.

Passamos a manhã toda naquele trabalho chato de contabilidade de custos. Uma merda total. Balanços e mais balanços patrimoniais de uma empresa com um monte de outras planilhas e não estávamos nem perto do fim. Minha cabeça já estava fritando com aquilo. Hoje é simples mas na época era muito difícil. Eu não acertava as fórmulas, não lembrava o que tinha que calcular. Sabe quando você lê, lê, lê e não entra nada na sua cabeça? Pois é. Contabilidade geral foi terrível, e contabilidade de custos estava me deixando quase que sem dormir. Se em um trabalho da faculdade em grupo eu estava daquele jeito, imagina numa prova sozinho!

Logo o cheiro do almoço distanciou todo mundo do trabalho. Eu não vi como chegamos ao meio dia tão rápido. Todos os meus amigos estavam entrando direto pro refeitório porque já tinham senhas compradas e quando procurei na minha mochila percebi que as minhas haviam acabado.

- Que merda! – eu falei baixinho fechando a mochila.

- O que foi menino? – Júlia perguntou também pegando a bolsa.

- Alguém tem senha sobrando aí? Eu pago depois. As minhas acabaram. – eu falei quase implorando. Comprar senhas é a pior parte de RU.

- Eu não tenho, amor... Hoje é minha última, vou comprar mais só amanhã. – Júlia se justificou.

- Ih cara... foi mal. Eu até tenho uma mas é pro jantar. – Natan.

- Nada! – Larissa também foi saindo de fininho.

Rony apenas fez uma cara de “sinto muito”. Suas sardas se irrugaram.

- Podem ir... eu chego mais tarde. – falei chateado indo em direção à fila que já crescia pra compra de senhas.

Eu poderia pedir pra alguém do início da fila comprar pra mim mas normalmente isso daria briga no fim da fila e eu também nem conhecia ninguém do início da fila. Era o pessoal dos outros cursos e eu não tenho intimidade com ninguém.

Fiquei na fila por um tempão com passinhos miúdos esperando chegar minha vez. O que custava a gente entrar, pagar e comer? Tínhamos mesmo que passar por esse martírio todo? Por isso haviam alunos que compravam senhas pra semana toda de uma só vez.

Eu não sei se era minha falta de paciência mas o tempo naquele dia não estava normal. Eu já estava há quase meia hora na fila! Eu já olhava o relógio, girava nos calcanhares, respirava fundo, mudava a mochila de braço e a fila caminhava lenta. Olhei pelo ombro do menino a minha frente e vi que quem vendia as senhas naquele dia era o seu João. Nada contra ele, mas ele atende muito devagar. Conta cada centavo duas vezes, confere cada senha duas vezes. Eu não sei porque ele usa óculos se ele olha pro dinheiro por baixo deles, eu realmente não entendo. Isso em um caixa que trabalha com um almoço que custa R$0,80 é um pesadelo. Vocês tem noção da demora? Ele deve ser daqueles funcionários super antigos que não tem onde ficar e nem podem se aposentar daí o colocam pra esse tipo de tarefa.

Minha vez chegou.

- Cinco refeições, por favor. – disse empurrando o dinheiro pra ele. Seu João pegou as duas notas de dois reais e começou a contar como se fosse um masso de grana. - São quatro reais seu João! – eu falei tentando parecer paciente.

- Claro. – ele parou de contar e me olhou estranho. - Aqui está. – me entregou os papéis pequenininhos e emplastificados que pelo visto haviam acabado de ser confeccionados.

Finalmente! Lavei as mãos e entrei no refeitório. O percurso era composto pelo lugar de pegar as bandejas com talheres, seguido pelas estufas e então as mesas. Procurei pelos meninos e quando os avistei segui em direção à mesa deles. Já estavam quase acabando de comer.

- Pensei que tinha desistido. – perguntou Rony terminando o suco.

- Ainda cogitei viu.

- Tão bonitinho emburrado! – Júlia sorria.

Almoçamos e ficamos falando besteira até eu terminar. Os meninos me faziam rir. Estar com eles era bom, me fazia esquecer a mesmice que minha vida era. Todos sabiam da minha condição sexual e levavam bem apesar de serem todos héteros. Rony até tinha namorada, uma menininha da enfermagem.

Ao terminarmos nos dirigimos pro lugar onde se entregam as bandejas. A porta de saída fica próxima. Eu ia pegando no trinco quando alguém entrou por essa porta. Sim, alguém entrou pela porta que era destinada à saída.

Um cara da minha altura, branco como porcelana, olhos claros e bem grandes em um rosto quadrado com um queixo e cantos do maxilar muito bem marcados. Era forte. Usava boné com jeans e uma camiseta preta escrita “Red Hot Chili Pepers”. Ele entrou meio desnorteado. Ficou parado em frente nós cinco. Todos calados. Escutei um “Putz...” vindo do alguém atrás de mim. Eu tentei ir pra direito e dar passagem pra ele mas ele também foi. Não ia cometer o mesmo erro, então só acenei com a cabeça e quando ele foi passando por mim a porta se abriu de novo. Era o segurança dessa vez.

- Dando uma de esperto é? Pra fora já! Aqui é a porta de saída. – falou o segurança baixinho com a voz fanhosa apontando pro cara brancão.

- Oi? – ele disse. A voz era aveludada. Levemente rouca.

- Tá querendo entrar sem pagar é? Pra fora rapaz! – ele pegou no ombro do cara e o encaminhou pra fora do restaurante.

Nós cinco ainda estávamos parados tentando entender tudo. O cara ia entrar sem pagar! Saímos rindo. Cada um que aparece...

A porta de saída dá em outro local do RU, porém perto das mesas que estávamos fazendo o trabalho. Escutamos uma discursão vindo da sala da supervisora do restaurante. Estavam alterados porque qualquer um que passasse por perto conseguia escutar.

- Eu não ia entrar sem pagar caralho! – alguém tentava explicar.

- Que língua é essa? Isso é uma instituição de ensino rapaz, tenha respeito! – a supervisora advertiu.

- Eu nunca comi aqui. Não ia entrar sem pagar. Estudo aqui há dois anos e precisei justamente vir comer hoje às pressas. Nunca entrei nesse restaurante então não sabia por qual das portas entrar!

- Ah não me diga!

- Ah pois lhe digo! – ele falou com tom de deboche. Eu gostei daquilo. – A porta de saída é quase do lado da de entrada, qualquer um pode se confundir. Vocês deveriam especificar com placas. Eu nunca comi aqui, me confundi!

- É verdade mesmo. – Natan falou. Não era só eu que estava ligado na discursão.

- Então já sabe por qual porta entrar. Que isso não se repita... – ela deu uma pausaBernardo. Pegue sua carteirinha.

A porta foi aberta com tanta força que nós cinco nos sobressaltamos. O cara, agora Bernardo, saiu com tanta raiva que quase quebra a porta. O rosto dele estava vermelho sangue! Ele bufava de ódio, sério, eu escutei. Ele saiu e deu de cara com nós cinco de novo. Eu pensei que ele fosse esbravejar algo e acabei dando um passo pra trás e esbarrando no Natan. Minha boca se abriu levemente como se eu fosse dizer algo mas não saiu nada. Ele nos olhou com aquele olhar de ódio, ajeitou a mochila e saiu disparado pro estacionamento.

- Eu heim... – Júlia falou da mesa.

- Quem é esse cara? Estuda aqui há dois anos? – Rony perguntou.

- Bonito assim? Medicina no mínimo. – Larissa se adiantou em dizer.

- Bora cuidar minha gente? - Júlia chamou a atenção de todo mundo pro trabalho.

- Eu vou só escovar os dentes... – saí pro banheiro.

Que porra de homem lindo era aquele? Dois anos aqui e nunca o vi? Ok, agora eu definitivamente quero saber quem ele é.

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Fala galera da Casa dos Contos! Tudo bem com vocês? Cara, que saudade do meu painel de contos. É o seguinte, voltei a escrever. A história é parte real (personagens e enredo principal) e parte fictícia (porque não foi vivenciada por mim e é baseada no relato de um amigo). Esse amigo é o Lucas que acabou se tornando meu amigo nos últimos meses e dividiu comigo toda a história que vocês vão acompanhar nos próximos capítulos. Como eu também acompanhei de perto tudo o que aconteceu com ele e ainda acontece eu posso acrescentar detalhes e tudo mais.

Esse conto só iria ao ar no sábado, mas eu não me aguentei de ansiedade e revelei logo. Vocês sabem que meus capítulos são muito maiores que esse, só que essa vai ser uma introdução pra eu checar a reação dos leitores e o acolhimento da história. O próximo capítulo só vai ao ar no sábado, porque vou viajar amanhã só volto sábado então nada de escrever antes de sábado a noite.

Aos que queriam uma continuação da minha história com o Kaio, bom nada demais aconteceu e estamos vivendo normalmente sem nada mirabolante pra narrar. O pessoal que ainda manda email e mantém contato sabe bem disso. Mas vamos deixar de falar de mim e do Kaio e voltar ao assunto principal : o conto novo.

Lucas nos últimos tempos tem se tornado quase um mascote meu e do Kaio porque ele é estagiário na empresa do seu Antônio (pai do Kaio) também, desde junho. Foi lá que nos conhecemos e ele é uma graça de pessoa. O adotamos, praticamente. Aos poucos ele foi falando sobre tudo e com muita luta eu o conveci de que eu poderia transformar tudo em um conto. A ideia inicial seria ele postar mas ele é super tímido pra essas coisas então não rolou. Acho que vocês vão gostar. Acompanhem! Kaio e eu mandamos abraços a todos.

Pra quem não sabe quem sou eu nem quem é o Kaio, leia meu outro conta "A primeira vista". Até sábado pessoal. É bom estar de volta.

kazevedocdc@gmail.com

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Comentários

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Resolvi fazer como o amigo Roberto Marins e ler seus outros contos, li esse primeiro capítulo e adorei! Que bom que você voltou a escrever e que eu conheci seu perfil hehe

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Parabens amigo

como sempre nota 10

seus contos sao demais msm

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Pelo o que parece esse conto vai ser bom! enfim não li, seu outro conto ainda vou fazer isso agora espero gostar. não vou desejar felicidades e vc e kaio pq não conheço a historia ainda. obs brinks.

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Gostei do conto *_*,eu tbm posso ser uma mascote de vcs 2??? dexa pf rs,bom ainda bem q a vida de vcs continua a mesma... manda um bjão pro kaio:) um bjão para vc tbm amore ;3 e q venha coisas boas na sua vida q qm sabe c possa escrever né.... só n gostei pq pensei q era continuação sabe mas ta boa a historia e bj na bunda gato!!

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Gostei do começo. E vou ler as outras assim que puder.

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Gostei do conto *_*,eu tbm posso ser uma mascote de vcs 2??? dexa pf rs,bom ainda bem q a vida de vcs continua a mesma... manda um bjão pro kaio:) um bjão para vc tbm amore ;3 e q venha coisas boas na sua vida q qm sabe c possa escrever né.... só n gostei pq pensei q era continuação sabe mas ta boa a historia e bj na bunda gato!!

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so saber se consequi entrar na minha acc n sei como ver rs

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Bom, eu não li nada seu antes não... Caí aqui por acaso. Mas gostei muito do que li agora. Parabéns!

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Se você gostou por estar de volta, imagina nós que lemos a história sua e do Kaio. Não me canso do seu estilo de escrita e claro que acompanharei esse, assim como acompanhei o outro. Bjs pra vc e pro Kaio e esperarei ansioso por sáb

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