Um Sopro de Primavera - Prólogo I

Um conto erótico de Luke
Categoria: Heterossexual
Contém 1927 palavras
Data: 22/08/2014 02:07:40
Última revisão: 22/08/2014 02:08:56

É, estamos tendo alguns problemas. Parece que o site tem um sistema que impede a republicação de textos, e eu não estava ciente disso. Verei como faço para resolver, mas tá meio difícil, já que estou mudando pouca coisa nos capítulos. Veremos. Abraços :)

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Prólogo I - A casa no canto esquerdo da terceira rua do bairro

Faculdade. Nos últimos dias, ou melhor, nos últimos anos, essa era a palavra que vinha à minha mente na hora de dormir e na hora de acordar. Um grande sonho a ser conquistado. E, agora que a primeira etapa fora cumprida, um grande medo a ser enfrentado.

Como para qualquer estudante de terceiro ano do ensino médio, o vestibular era, para mim, uma etapa de importância extrema para a minha vida. Meus pais me colocaram em um colégio pesado, sempre apostando no meu objetivo desde o início - Direito em uma universidade federal. Não posso dizer que sentia tanto medo do vestibular quanto a maioria dos meus colegas. Sempre fui bem rápido em assimilar conteúdos, o que me garantia notas altíssimas no meu colégio sem muito esforço. Uma das poucas coisas que me agradam em mim mesmo, já que esforçado nunca foi um dos meus adjetivos. Isso gerava uma torrente do que eu gosto de chamar de "The make-me-crazy hobby",ou seja, papai e mamãe falando ladainha no meu ouvido por horas a fio.

Meus pais sempre cobraram bastante de mim, e como eu sempre fiz tudo que os agradava... bem, basta dizer que eu daria tudo pra não ter correspondido às expectativas deles desde o início. Ter as notas mais altas, comportamento impecável e nem um toque de rebeldia eram coisas que eles tomavam como minha mais pura obrigação.Mas não preciso dizer que Ensino Médio é um período onde tudo isso é posto em xeque. Muito disso mudou, e sofri sim com essa passagem, até chegar a um ponto de aceitação e acordo, em que eles finalmente se deram conta de que não poderiam me controlar para sempre. Teriam que confiar em mim para fazer o que é certo.

Mas enfim, o fato é que se eu não estivesse estudando dia e noite desde o meu primeiro dia de primeiro ano, meus pais não estariam satisfeitos. Quando as minhas primeiras notas chegaram e eles perceberam que estudar só no dia antes das minhas provas já bastava para me garantir notas altas, eles mudaram de tática: "nota não significa nada, o que importa é seu resultado no vestibular, e desse jeito você não vai passar é nunca!". Ainda bem que, assim como eles já têm bastante experiência em encher o saco, eu já sou expert em ignorar tudo.

O que importa é que meu terceiro ano acabou e o resultado chegou. Não vou mentir, mesmo tendo bastante autoconfiança na minha capacidade de passar, estava bastante nervoso, com medo de ter estragado tudo, ter perdido tempo, e ter que enfrentar o tão temido cursinho. Mas não foi necessário. Consegui minha tão sonhada vaga para Direito em uma das mais renomadas instituições do país. Meus pais faltavam pulular de alegria e alívio, e eu estava mais satisfeito que nunca comigo mesmo.

Pois é, o problema é que eu não tinha pensado no depois. Vamos rever os fatos: faculdade (o que em si já é inovador o bastante pra me assustar - não, não gosto muito de coisas novas, prefiro me manter no já conhecido, muito obrigado) + pessoas novas (com alta propensão de serem estranhas E nocivas) + cidade nova (com considerável distância da família e dos amigos de longa data) + garoto completamente confuso com sua sexualidade. Ah, é lógico que o resultado vai ser ótimo. Só que não.

Falando no tal garoto confuso aí, deixe-me apresentá-lo para vocês. Meu nome é Lucas, e eu cheguei à conclusão, depois de 17 anos de vida, de que eu não gosto de me descrever. É constrangedor demais, e nem um pouco imparcial. Vou tentar me ater aos fatos. Minha altura é mediana, nunca fui o mais alto e nem o mais baixo, sempre numa posição média. Nunca estou no peso ideal, estou sempre um pouco acima ou um pouco abaixo, mas pelo menos assim eu consigo evitar aquela aparência raquítica. Até porque sempre pratiquei natação, que, por não ser um esporte que envolvesse trabalho de equipe, logo se tornou minha paixão, então sempre tive um corpo levemente desenvolvido, mas nada de músculos sexy e linhas de tonificação super aparentes. Quanto ao resto... bem, cabelos de um castanho escuro que eu nunca consegui colocar em ordem, olhos castanhos um pouco mais claros, e pele clara. Costumam achar que eu tenho 14 anos, o que eu acho especialmente irritante.

Mas quanto à parte da sexualidade confusa, bem, isso envolveu diversas coisas. Aos 12 anos, quando aquele turbilhão de hormônios fazem você olhar pra tudo com desejo, comecei a perceber que eu não olhava só para as garotas. Depois, começaram a surgir aqueles carinhas em quem eu batia o olho e falava, "quero ser amigo desse aí". Claro, até aí eu via tudo isso apenas como um alvo para se ter amizade, ou pelo menos era isso que eu falava para mim mesmo. E apesar de, com 16 anos, já começar a me envolver com algumas garotas, continuava olhando para os garotos. Nessa altura eu já sabia que não era só uma questão de amizade, mas eu tentava me convencer de que sentir desejo por um cara não é tão grave assim, e que gostar mesmo de alguém só aconteceria com uma garota.

Dá pra deduzir que eu tive muita dificuldade para aceitar minha bissexualidade. Em minha defesa, grande parte disso é culpa de influência familiar. Minha família é evangélica, meus avós católicos tradicionais, então não preciso nem comentar que palavras como "gay" ou "bi" nunca foram bem aceitas. Cresci ouvindo esse discurso religioso preconceituoso, e isso me fez bastante mal. Eu me culpava por ser diferente, por ser um pecado, imaginando a vergonha e a revolta que meus pais sentiriam se descobrissem. Após ter contato com pessoas de cabeça aberta, comecei a ter uma posição diferente quanto a esse assunto, e passei a aceitar os fatos, inclusive o de que não há nada de errado comigo, não importa o que qualquer um que se diga mensageiro de Deus venha me dizer. Mas ainda havia um longo caminho pela frente até eu poder dizer estar satisfeito com quem eu sou.

O que importa é que eu teria que lidar com essa situação... em três dias. Estava ainda na minha cidade natal, aproveitando os dias restantes antes do início do período letivo. Meus pais já haviam alugado um apartamento pequeno próximo à universidade, e já estava decidido que eu moraria sozinho. Não que minha mãe tenha gostado, aliás ela tentou de tudo pra evitar isso. De acordo com ela, eu sou muito novo e irresponsável para morar sozinho. Por isso, eles decidiram que me visitariam em pelo menos um final de semana por mês, embora minha mãe tenha deixado claro sua intenção de aumentar esse número de visitas. Nem me atrevo a reclamar, ter um apartamento só pra mim já é um milagre. E apesar da chatice esporádica, meus pais iriam fazer falta sim. Um pouco...

Estava no meu quarto, terminando de arrumar as coisas que iria levar comigo, quando meu irmão mais novo entrou já gritando, como de costume.

- Não acredito que você vai levar o Xbox! Não é justo!

- Defina justo - disse sem olhar pra ele. - Eu comprei, logo meu Xbox.

- Mas o que eu vou fazer agora o dia inteiro?

- Larga de drama, Pedro, meu pai já disse que vai comprar outro. Mas você bem que podia começar a largar de ser tão viciado.

- Duas semanas! - Ele saiu do quarto e ouvi ele gritando das escadas. - Duas semanas até ele ir comprar outro! Se eu morrer até lá é culpa sua!

É, meu irmão, 10 anos de idade e pirralhice pra dar e vender. Ele estava me bajulando desde a notícia da mudança pra eu deixar o Xbox, mas isso estava fora de questão. Sempre fui fascinado por jogos, e dei bastante duro pra comprar, não iria deixar pra trás por nada. Além dele, estava levando meus livros e meus filmes, o que estava mais pra uma biblioteca e uma locadora. Estórias me fascinam, seja em livros ou filmes, e minha coleção era imensa. Meu tesouro particular.

Saí do quarto e fui para a sala, onde meus pais já estavam me esperando. Minha mãe, Carla, tem 38 anos e sempre foi mais liberal comigo, tendo um interesse infinito em tudo que eu fazia a ponto de ser constrangedor, mas que acabou produzindo uma certa confiança entre nós. Meu pai, Diogo, tem 47 anos, e sempre teve a família como prioridade em tudo, mas, apesar disso, sempre foi muito severo, o que gerou um certo distanciamento, tanto entre nós quanto entre ele e meu irmão. Não ao ponto de gerar dúvidas a respeito da relação de pai e filho, mas na amizade que devia existir também. Essa não existia. Não me sentia confortável para tratar de assuntos particulares com meu pai. Na verdade, nem com minha mãe (especialmente um deles), mas com ela tudo era mais leve. Apesar de todos os defeitos, minha família sempre formou um ambiente agradável para mim, e mesmo não podendo ser totalmente sincero ali dentro, me sentia confortável com aquilo.

- Terminou de arrumar suas coisas? - Meu pai perguntou, com os olhos grudados na TV.

- Quase tudo, deixei algumas coisas pra quando eu voltar da casa do Henrique.

- Devia ficar em casa e aproveitar seus últimos dias com a família - minha mãe disse, fazendo drama.

- Maaae, já conversamos sobre isso, não sei quando vou poder ver meus amigos de novo, quero aproveitar agora.

Nós já tínhamos conversado sobre isso de manhã, e minha mãe achava que porque eu ficaria longe por um bom tempo eu tinha que passar cada segundo restante preso naquela casa, o que eu não chamaria de outro nome senão tortura.

Saí da sala e fui me sentar numa cadeira no quintal, à beira da piscina. Não demorou muito e Pan apareceu, roçando o focinho na minha mão. Eu tenho um labrador de 3 anos e meio de idade chamado Pantalaimon, sob influência de certo livro bem conhecido. Achei adequado, já que ele era meu companheiro de toda hora. Quando ele era novinho e ainda pequeno, eu costumava carregá-lo para todo lado, até mesmo nas viagens. Separar-nos era uma dor quase física. Agora ele já era bem grande, podia me derrubar com facilidade, e tínhamos a mesma amizade de sempre, com a diferença de que eu não conseguia mais carregá-lo por aí. Coleiras são bem úteis para evitar esse tipo de situação.

Depois de um tempo ali, refletindo, subi e tomei um banho demorado. Para mim, esse momento é mais que um simples banho, mas uma reflexão. A água quente me ajuda a pensar, e a me acalmar. Terminado, coloquei algum jeans aleatório, uma camiseta preta e um tênis. Tentei ajeitar meu cabelo (sem sucesso nenhum, ele teimava em continuar caindo, bagunçado, sobre a minha testa), passei um perfume e desci.

- Já estou pronto, vai me levar? - Falei com a voz mais pedinte que conheço, misturando com uma cara de "você não consegue me dizer não", até que ela revirou os olhos e foi andando para a garagem.

Segui-a até o carro e martelava na minha cabeça o fato de que esta seria a última vez que sairia com meus amigos por um longo tempo. Ignorei esse pensamento. Estava decidido a aproveitar cada minuto.

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Comentários

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Muito bom o seu conto.

Eu estou bastante impressionado com a qualidade da sua escrita.

Aproveitando, quero pedir que você de uma olhadinha no meu conto.

"Tomás e Leonardo"

Eu vou gostar muito de ler sua opinião. Obrigado e Bjs!

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Bela narrativa, confesso que senti falta e esperei o término desta história. Tenho receio de reedições, mesmo com diferenciais e detalhes inéditos. Receio não, preguiça para ser certo (meu grande mal rs) Porém estou relendo, por acompanhar e relembrar. Neste capítulo, por coincidência, encontro-me nessa fase delicada. Aguardo por uma vaga em uma Federal nesse ano que vem. Nervos à flor da pele, à beira de um colapso, medo de mudanças (Também odeio coisas novas, demoro a me acostumar. Um conservador, eu? Rs). Você, Luke, um filho exemplar e confuso - só me identifico com o confuso - mas no fundo, um aborrecente rebelde pulsante que não veio à tona ainda rsrs. Percebe-se quando fica irritadiço quando seus pais lhe enchem o saco, o modo que os descreveu, contudo, ainda bom filho. E pais são pais, esse é o trabalho deles. Com você, pareceu que botavam muita pressão. Eu mesmo sou umaborrecente com meus progenitores, e como ignoro... Pantalaimon, um digimon! Rsrs... Piadas à parte, eu adoro A Bússola de Ouro, tanto a trilogia, quanto o único filme, penaa continuação do filme não ter vingado.

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Cara, estou muito emocionado pela sua volta! VOCÊ VOLTOOOU!!!! Se você soubesse o quanto eu me lamentei por não ver o DESFECHO desta belíssima história, mas posso ser sincero? Não gostei de você ter recomeçado a história, até por que estou super ansioso para o desenrolar de você com o Brandon depois da revelação, agora vou ficar mais ansioso ainda, espero que você não suma de novo! Abraços! Nota 100

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Cara, eu já falei que estou super radiante por você ter voltado? Cara, é muito bom ver novamente esta escrita, e agora já estou ansioso pra ver você sambando na cara de Brandon na Faculdade, onde foi o capítulo que você parou! Por favor, não some mais e não demore a postar, não se esqueça que você tem fãs e o povo te ama.

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Que ótimo. Como sempre, um conto muitíssimo bem escrito.. 10

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Que feliz que você voltou cara kkk sempre acompanhei seu conto mas nunca cheguei a comentar, bem vindo de volta ! (;

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