A pausa para o primeiro almoço só foi tirada por volta das 13:30 h.
_ Você aceitaria almoçar comigo, Beto? Perguntou Gilberto assim que terminou de verificar as cores do novo catalogo que estava em fase de produção.
_ Sim, com certeza. Foi tudo o que conseguiu responder, devido a surpresa do convite.
Os dois saíram da empresa localizada na Avenida Dom Luis, próximo à Praça Portugal. O restaurante escolhido foi o sal e brasa, uma vez que Gilberto já era cliente assíduo e por terem uma comida excelente. Assim que terminaram de se acomodar e fazer o pedido, Gilberto perguntou à queima roupa:
_ Por que você não denunciou o agressor? E olhou com olhos penetrantes para o agora funcionário Beto.
_ Acho que não valeria a pena tanto incomodo.
_ Poxa Beto, são muito visíveis as marcas que ficaram. Desculpa falar assim com você, mas... Me diz a verdade, isso foi realmente um assalto?
Beto instintivamente baixou a cabeça, retirou o óculos escuros e olhou para o patrão antes de responder.
_ Não, não foi um assalto. Foi a pessoa que pensei amar.
_ Sinto muito. Desculpa, acho que deveríamos mudar de assunto, afinal de contas eu não tenho nenhum direito quanto mais intimidade para entrar assim na sua vida. Mais uma vez desculpa.
_ Sem problema. Acho bom falar. Quer dizer, eu tenho um grande amigo, ele inclusive foi quem atendeu a ligação no dia em que você ligou pra mim. Só que ele não tem como ver a coisa como um todo ou mesmo separar as coisas. Nossa amizade não deixa que isso aconteça, ele sempre será por mim.
_ Nesse caso, eu agiria como seu amigo. Cara, você foi a vítima e a menos que uma decisão seja tomada, poderá voltar a ser. Essa pessoa com certeza é um companheiro, certo?
_ Sim, que na verdade, já é um ex-companheiro.
Finalmente o pedido chegou e os dois interromperam a conversa enquanto não ficaram a sós novamente. O próprio Gilberto Veiga, serviu o jovem Beto e depois que se serviu, retomou a conversa enquanto almoçavam.
_ Você ainda sente algo por esse cara? Assim que Gilberto fez a pergunta, Beto notou ou pensou notar um certo medo em seu olhar acompanhado de uma certa apreensão por conta da resposta.
_ Não, se você estiver falando de amor. Acho que nunca senti. Hoje eu percebo que as coisas foram acontecendo e como eu sempre fui muito só, não me importava com esse tipo de coisa.
_ Por que você continuou então com esse relacionamento?
_ Nem mesmo eu sei. Talvez o medo de nunca conhecer o verdadeiro amor, ou o medo maior de ficar sozinho.
_ Você sabe que seus argumentos estão todos errados, certo? Não estou aqui para lhe dizer o que fazer, acho que você mesmo é quem deve fazer uma análise de tudo o que você passou ou passa pra poder chegar a uma conclusão e só depois traçar metas que te façam perder esse medo e quem sabe lá na frente se deixar amar verdadeiramente por alguém.
_ E quando se sabe que encontrou o amor? Você já encontrou?
_ Quase sempre. Existem vários. Existe sempre. As vezes esta na nossa frente e nos deixamos passar. Posso te pediu uma coisa?
_ Claro. E sua beleza ofuscou um pouco o olhar do outro.
_ Toma cuidado. Acho que você já suportou o máximo que podia. Nunca mais deixa esse cara fazer isso com você. Não sei nem quem é tal pessoa, mas já sinto uma raiva desse cara que você nem faz ideia. Sua mão meio que timidamente pousou em cima da mão de Beto que estremeceu com o toque. Se precisar, me chama, combinado?
_ Não importa a hora?
_ Hora, lugar, dia, momento, seja lá o que for...
O almoço terminou com um Beto muito mais aliviado e contente por descobrir em Gilberto não só um bom patrão, um verdadeiro novo amigo. Seu coração também sentia paz ao lado desse cara que com certeza era uma ótima pessoa.
Voltaram para a empresa uma hora e vinte minutos depois que haviam saído. Sabrina estava na sala de reuniões com um importante cliente que havia vindo a agência para a aprovação final da campanha que ela havia finalizado pela manhã com a ajuda de Beto e mais 5 colaboradores que faziam parte de sua equipe.
Gilberto teria mais uma sessão de fotos com 6 modelos masculinos para o catalogo de um grande magazine de roupas, sapatos e acessórios e Beto ficou a seu lado durante todo o tempo em que durou a sessão de fotos. As fotos de estúdio eram a especialidade de Beto, que cuidou pessoalmente da iluminação, sendo bastante elogiado por Gilberto.
_ Cansado? Perguntou Gilberto enquanto os dois guardavam os equipamentos usados durante o desenrolar do trabalho.
_ Você acredita se eu disser que não?
_ Eu acredito em tudo aquilo que me dizem, então... E sorriu com os olhos fixos no do garoto que sorria de volta.
Saíram por volta das 18:00 h.
_ Tem certeza que não vai querer um carona?
_ Não mesmo. Caso eu aceite, vou acabar me acostumando e isso não esta certo, pelo menos na minha visão. Obrigado mesmo Gilberto.
_ Nesse caso, boa noite e até amanhã.
_ Boa noite e a gente se vê. Tchau.
O ônibus finalmente passou na parada em que ele estava quase em frente da agência e a viagem até sua casa durou exatamente uma hora e meia. O trânsito não andava de jeito nenhum.
Num determinado momento da viagem, o sargento Evandro subiu todo fardado, com a farda cinza, boné, arma na cintura e ficou próximo a porta de saída. O coração de Beto acelerou com tal visão, não por emoção, mas por medo de ser visto. A viagem seguiu e em dado momento ele percebeu que o seu ex-companheiro falava com um cara moreno quase da mesma altura que o sargento, as vezes riam de alguma coisa e voltavam a falar muito próximos. Assim que o ônibus dobrou na rua Pedro I e parou na Praça do BNB, os dois desceram e devido o engarrafamento o ônibus andou apenas um pouco ficando atravessado na rua Floriano Peixoto. Quando Beto voltou a ter contato visual com a dupla, a mesma entrou no motel Charme. O coração de Beto voltou a acelerar ao ponto dele pensar que ia morrer.
" Nunca sentiu nada por mim. Nunca me deu valor"... Pensou Beto, que só depois de muito tempo conseguiu normalizar as batidas do seu coração que estava mais uma vez vazio.
Finalmente chegou em casa e já foi direto beber água. Entrou no quarto, se despiu, pegou uma toalha limpa e foi tomar um bom banho. Já vestido com uma bermuda largada e velha, preparou um molho pra macarrão que era sua especialidade, fez suco de polpa de cajá pois adorava esse suco, terminou de fazer seu jantar e foi com prato, talher e copo direto pro quarto. O JN já estava iniciando e ele sentou na cama para saborear sua comida e ver o que tinha acontecido no Brasil e no Mundo.
Depois que lavou a louça do jantar, pegou o notebook e foi verificar alguns e-mails que haviam chegado. Um em particular chamou sua atenção...Eis a mensagem:
" Lindão, tô morrendo de saudade. Preciso de você pra poder acalmar meu coração e minhas vontades. Você talvez nem acredite mas estou me guardando pra você. Não vejo a hora de te possuir do jeito que nós gostamos. Penso em você 24 horas do dia. Sei que prometi não te procurar durante uma semana, mas quase que quebrei essa promessa hoje. Se quiser me ligar, fica a vontade. Minha vida ta uma rotina só - casa/trabalho, trabalho/casa - Te amo meu Lindão gostoso e tesudo".
_ Filho da puta mentiroso. Acho que o melhor a fazer é aceitar o convite da D. Regina e afundar no trabalho. Amanhã mesmo já estou de mudança.
Antes de ser finalmente vencido pelo sono, pensou na conversa que tivera com Gilberto durante o almoço e a imagem do patrão sorrindo em sua direção não saía de sua cabeça. Dormiu.
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Geo Mateus, meu querido amigo, sem palavras pra te falar a satisfação de estar conseguindo te prender nesse conto. Se você for de Fortaleza, bem que a gente poderia marcar uma praia... Abraço cara.
Riquinho eu é que estou muito contente por estar te proporcionando e aos demais uma boa leitura. Obrigado pelas palavras. Só posso querer caprichar mais ainda. Valeu cara. Uma pena os contos do Guilherme Bastos terem sumido, você com certeza seria mais um na grande multidão de leitores que ELE tinha. Sabe, apesar de morar em Fortaleza nunca tive o prazer de conhecê-lo. Ele com certeza era muito reservado, ele mesmo chegou a dizer isso certa vez. Só posso te dizer que admirava demais esse cara. Ele era de uma humildade, uma ternura, passava tanta coisa boa...É difícil seguir sabendo que ele se foi. Desculpa, acho que fiquei meio emocionado. Abração amigo.
Rose Vital, mãezona tudo bem? Se eu por algum acaso precisar de um colo vou atrás do seu...ok? Obrigado pelo comentário e analise do episódio de ontem. E mais obrigado ainda pelas palavras de força e ditas de forma tão carinhosa. Um beijo bem grande nessa bochecha. Quanto ao malbec, é um dos preferidos...rsrsrsrsrsrsrs acertou em cheio, uso quando vou trabalhar. Sou professor de matemática e as alunas adoram. Fica com Deus mama. Beijo.
Esperança, obrigado por seguir em frente em minha companhia também. Você é como um talismã. Beijo minha querida amiga.
DHCS, Uma grande satisfação me acometeu ao ler teu comentário. Fica tranquilo que postarei todos os dias até o final. Desculpa se as vezes eu tento fazer como o Guilherme fazia, é que tento muito fazer igual, não sinto vergonha disso não, sabe por que? é mais uma maneira de não deixar ele ir embora... Um grande abraço meu amigo. E com certeza, amanhã tem mais.
Obrigado a todos que estiverem lendo. Amanhã mais um episódio. Abração a todos vocês.
