Olhava-me no espelho, uma imagem tão conhecida. Corpo alto e magro, pele branca quase translúcida, cabelos castanho-escuros caindo em ondas sobre meus seios proporcionais, olhar expressivo e mel, lábios rosados.
Estava pronta para viagem. Viagem essa que vem sendo planejada à três anos e que agora, em plenos 17 anos e no ultimo colegial, realizaria. Eu junto com minha turma de sala e a turma do terceiro de outra escola viajaremos nas férias do meio do ano passar quase quatro semanas no resort.
Saio de frente do espelho e desço as escadas com minha bagagem. Encontro meu pai e minha mãe tomando café. Sento-me com eles, os apressando para não perder a hora. Tomo um leite observando meu pai quase dormindo na mesa e minha mãe atenta ás notícias em seu celular. Assim que acabo corro para escovar os dentes mas antes dou uma batidinhas nos ombros de meu pai "Acorda dorminhoco, vamos nos atrasar".
Volto a descer as escadas e caminho até la fora, encontro meu pai colocando minha bagagem no porta-malas e minha mãe já dentro do carro. Tranco a porta de casa e num pulo entro no banco traseiro.
Em instantes já estamos na rua a caminho da escola. Minha mãe vira-se levemente para trás, olhando em minha direção.
- Senta direito Mariana - meu pai adverte minha mãe.
Ela então pisca para mim e sorri, ignorando Flavio. Sorrio amplamente.
- Sei que não é nenhuma criança. - começa a falar para mim - Sei também que está se tornando uma mulher de visão, responsável e que sabe o que quer. Por isso mesmo que sei que, se fizer algo errado, vai ter sido por escolha própria e nao por influência dos outros. Eu confio totalmente em você filha e nao quero ser decepcionada. - nessa hora abaixa as sobrancelhas numa tentativa frustrada de parecer brava - Nao vou te dar um sermão de como deve agir pois lhe eduquei todos esses anos para que você soubesse se portar. Entao só vou pedir para tomar cuidado, se divertir e paquerar muuuito!
Rimos uma para outra e solto meu cinto para lhe dar um beijo na bochecha.
Logo chegamos a escola onde dois ônibus (uma para cada escola) estão recebendo alunos em seu interior. Ainda é madrugada e os primeiros raios de sol timidamente vão surgindo.
Vou na frente e deixo a bagagem para meu pai. Em meio a multidão de conhecidos e desconhecidos encontro, já esperando, minhas amigas Amanda e Victoria. São primas e vivem uma grudada na outra.
- Já achamos que ia chegar atrasada! - exclama eufórica Amanda.
- Desde quando eu me atraso? - pergunto com falsa indignação.
- Desde quando você NÃO se atrasa Marcela? - pergunta Victoria com ironia.
Minha resposta é interrompida com as professoras responsáveis, uma de cada escola, chamando nossa atenção e nos orientando para a entrada do ônibus. Devemos deixar nossas malas perto da lateral do ônibus, despedir dos pais e entrarmos em ordem alfabética.
- Nos encontramos já - digo as meninas.
Vou até meu pais. Abraço minha mãe forte que me sussurra "se divirta, pegue muitos gatinhos". Dou risada e a aperto mais. Vou ate meu pai que beija minha testa me abraça sussurrando "qualquer coisa só me ligar que eu corro te buscar. Se divirta, pegue muitas gatinhas". Dou mais risada ainda e me afasto com um "amo vocês!".
Entro no ônibus e sento logo na frente, onde o balançar é menor, longe de todos. Tomo remédio para nao passar mal e enquanto pego no sono sinto o avançar do ônibus na via. Imagino o que me esperará nos próximos dias e, em meio a ansiedade, durmo.
