A Cigarra e a Formiga - 11 (Penúltimo Capítulo)

Um conto erótico de Kahzim (Ian)
Categoria: Homossexual
Contém 1214 palavras
Data: 30/04/2014 21:41:03
Assuntos: Gay, Homossexual, Romance

10 anos. O que significam 10 anos para o universo? Menos do que uma piscada de olho para um de nós. 10 anos, ou uma década, é o tempo que leva para uma criança humana entender mais ou menos o mundo que a rodeia. 10 anos e um cachorro já um ancião. Uma mosca? Coitada, em 10 anos haverão passado dezenas e dezenas de gerações de moscas. 10 anos se passaram e eu tinha 25. O que mudou?

Bem, me mudei para Brasília e me tornei um garoto extremamente introspectivo. Mais ainda do que era no Ceará. Canalizei toda a minha atenção para os estudos, de modo que saísse das minha mente as lembranças de um certo garoto moreno que me tomara em seus braços e me fizera seu. Irremediavelmente seu.

Minha dedicação aos estudos deixavam minha mãe muito feliz, pude me tornar bom o suficiente para seguir a carreira dela. Entrei na faculdade de medicina com 17 anos, fui considerado um verdadeiro menino prodígio. Mas no fundo sabia: a dor de um amor tomado me assalto, canalizada para os estudos, me tornaria apto a qualquer coisa.

10 anos depois, eu tinha 25 e era um médico formado, havia acabado minha residência em cirurgia geral há poucos meses e estava começando a ganhar dinheiro de verdade com a profissão. Eu gostava de ser médico, nunca valorizei as profissões do meu pai e da minha mãe mas ser médico exigia muita atenção, muito cuidado, dedicação total e era tudo que eu precisava para esquecer de outras coisas. Com 19 apenas, na faculdade, fiquei novamente com um cara, um lance rápido e que não repeti novamente, apesar da insistência dele.

Fiquei com vários caras, quando a vontade não me permitia mais segurar, procurava sexo casual ou até garoto de programa, mas não conseguia novamente me apaixonar e me apegar da forma como ocorreu com o Alisson.

Minha residência médica foi em Curitiba, me apaixonei pela cidade e passei a exercer lá a profissão. Uma das vantagens de ser médico é que falta médico em todo lugar, então podemos escolher com uma certa liberdade onde trabalhar. Aquilo era ótimo para alguém que fugia do próprio passado desde que era adolescente.

Como tinha uma vida social praticamente inexistente eu era o rei dos plantões. Sempre que algum outro médico não podia fazer seu plantão porque tinha aniversário do filho, a mulher ficou doente, o cachorro estava com saudade de cócegas na barriga, corria para mim e eu pegava todos. Isso engordava muito o meu orçamento, mas também me fazia ter uma rotina de verdadeiro zumbi.

Aquele dia foi bem típico, havia tirado um plantão na noite anterior, fui para casa dormir e acordo as 14h com uma médica implorando para eu tirar seu plantão para ela comemorar o aniversário de casamento. Eles tinham que anotar as desculpas para não repetir, era a segunda vez que ela fazia aniversário de casamento no mesmo ano. Ou seja, ou ela era adepta da bigamia ou uma tremenda mentirosa. Apostei na segunda opção sem medo de errar, mas aceitei na hora, mais um plantão para se juntar aos outros.

Cheguei ao hospital bem relaxado, após tirar mais algumas horas de sono e fui direto para a minha sala. Era um consultório amplo próximo ao local do atendimento. Anexo ao consultório havia um pequeno quarto com cama, TV, internet e frigobar para passar o tempo.

Era um plantão em hospital particular, ou seja, os clientes habituais eram pessoas de classe média e classe média alta que sentiam as mais diversas dores na madrugada, que as pessoas mais simples resolveriam com um chá ou alguma forma de auto medicação. Dificilmente aparecia alguém com alguma coisa grave. Na verdade, a única vez que peguei algo realmente grave foi um garoto que chegou com crise de apendicite e tive que fazer a operação imediatamente.

- Dr. Matheus, está precisando de alguma coisa? – Arlete, a técnica de enfermagem responsável pela equipe do plantão me indaga abrindo a porta.

- Não, Arlete. Obrigado. Como está a fila? – Indaguei sorrindo.

- Como sempre. Virando o quarteirão. – Falou ela e saiu rindo.

Costumávamos fazer brincadeiras sobre os plantões pela pouca quantidade de pacientes que apareciam.

Sentei na cadeira e liguei o computador, ia dar uma zapeada na internet enquanto não aparecia nada. Talvez tirasse um cochilo, de fosse possível. Mas os pacientes, apesar de escassos no plantão, tinham a mania de aparecer em intervalos regulares de modo que se você resolvesse tirar um cochilo, não tardaria meia hora e algum aparecia. Estava pensando nisso quando a Arlete vem e pergunta se posso atender alguém que acabou de chegar. Poxa, tinha começado cedo, 40 minutos de plantão e já tinha paciente.

- Pode mandar entrar, Arlete. – Comandei.

Logo entra uma senhora idosa reclamando de uma súbita dor lombar. Pode ser apenas invenção de uma velha hipocondríaca, mas não podemos analisar apenas com uma conversa rápida. Mandei ela fazer um raio X de urgência para verificar o estado dos ossos na região, caso não fosse nada, a mandaria para casa com uma injeção cavalar de relaxante muscular e ela se sentiria novinha em folha.

Atendi ainda um adolescente acompanhado da mãe que estava sem voz. Inflamação na garganta simples. E um senhor de idade que queria uma receita de omeprazol e gostava de ir a noite nos plantões porque sabia que era mais fácil ser atendido. Verifiquei a receita antiga do médico dele e a renovei sem problemas. Ele queria a receita para pegar o remédio gratuitamente nos postos de saúde.

Estava pensando em como eu preferiria pagar logo o remédio na farmácia que ter que ir no médico a noite e ainda de dia pegar fila no posto de saúde quando a Arlete abre a porta com uma cara assustada.

- Dr. Matheus, uma emergência. De verdade.

O tom de voz dela denotava tal urgência que me levantei imediatamente e caminhei até a porta.

- O que foi Arlete? Fala.

- Tem um homem baleado ai fora. Deixo entrar.

- Claro que deixa, não podemos negar socorro. Mas temos que comunicar à polícia.

- Ele disse que é policial.

- Mais um motivo para deixar entrar. Já pensou a manchete nos jornais amanhã? Policial morre na porta do hospital por omissão de socorro. Leva ele pra sala de cirurgia imediatamente, que já estou indo pra lá.

Corri para a sala de cirurgia, até mesmo porque não perguntei em que estado estava o paciente. Podia ser um tiro de raspão como podia ser um tiro no abdome. Cheguei na sala de cirurgia e já estava toda iluminada. Coloquei máscara e roupas para agir imediatamente. Estava colocando as luvas quando entraram com a maca e um jovem rapaz em cima berrando de dor. Ainda bem que está consciente, pensei, bem melhor avaliar um paciente que está consciente.

- Soro, imediatamente. Lavem o ferimento. Preciso de visão total. Onde foi o tiro da bala? – Pergunto sem olhar ainda pro paciente, pois haviam colocado ele de costas para o local onde eu estava.

- Na coxa, Dr. –Falou uma das assistentes.

- Muito bem. – Confirmei indo para a frente do paciente. – Como você está se sentindo? – Indaguei encarando-o e cruzando seu olhar com o meu. No mesmo momento o instrumento que segurava nas mãos caiu.

O Paciente era o Alisson...

P.S: Daqui a pouco o último capítulo.

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Comentários

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Que saudade que eu tava de você... Ainda bem que voltou, espero poder ler mais e mais histórias suas, são fantásticas. SEMPRE 10

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NOSSA QUEM DIRIA QUE O ALLISON SE TORNARIA POLICIAL.

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Demorou mas veio com o gás total... Rsrsrs

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