Dilemas da Vida 2

Um conto erótico de Samuca Oliveira
Categoria: Homossexual
Contém 5146 palavras
Data: 14/02/2014 12:19:31
Última revisão: 18/02/2014 01:24:07

Estava ansioso e apreensivo. Não sabia se as consequências do que faria seriam boas. Tive vontade de conversar com ela novamente, mas já havia me dado permissão e, vi em seus olhos o quanto foi difícil para ela tal ato. Fitei o CD em minhas mãos por um tempo até sair de meu transe com o barulho oriundo das pessoas que se encontravam em minha casa. O mais engraçado foi o fato de esquecer a minha “formidável” apresentação em meio ao nervosismo em que me encontrava. Era agora ou nunca! Respirei fundo... E me encaminhei ao palco improvisado. Encarei aquelas pessoas, meus cúmplices; sorri como se buscasse pelo consentimento de todos. Rostos conhecidos e amigos me encaravam com as mais diversas feições. Fiz sinal pra banda e a música cessou. Sentei-me no banco no meio do palco e me apossei do microfone. Olhei e toquei no violão ao lado. Chamei a atenção de todos e fui ovacionado. Sorri agora por me sentir mais jovem e vivo! Quem diria que depois de anos eu voltaria a ter um microfone em minhas mãos. Fiquei bobo! Baixei a cabeça por poucos segundos e tomei coragem; pedi que o chamassem...

Os segundos seguintes pareceram horas. Foi quando o vi. Ele caminhou absorto e confuso com uma bandeja nas mãos. Por último, detectei, em seu rosto, incredulidade por me ver naquela posição e um sorriso zombeteiro em seus lábios surgiu. Sorri nervoso de volta. Encaminharam-no até o seu assento reservado por mim, no meio de todos e próximo dela. Agora percebi um pingo de nervosismo nele. Olhava de um lado ao outro. Sua face me encarava em busca de respostas, “tremi na base”, tomei fôlego e...

18 de fevereiro de 2012 (sábado). Acordei cedo como de costume. Estava muito feliz e disposto; liguei o som e pus meu vício: forró das antigas e bem romântico. Cheguei à cozinha com uma fome de dias. Abordei a geladeira e preparei o café da “família real” (rs). Fiz de tudo um pouco; estava disposto como nunca, afinal hoje era um dia especial. Deixei-me levar pela melodia de “Anjo Querubim” (Limão com mel) e levei um susto quando ele adentrou a cozinha e com a ponta do dedo “cutucou” minhas costas. Tive vontade de mandar uma porra, mas me contentei em beijá-lo. Seu rosto estava inchado ainda, devido ao sono, mas seus lábios se encontravam extremamente convidativos. É incrível como até coisas pequenas e comuns são tão mais deslumbrantes e impactantes na pessoa que se ama e deseja.

- Êita que hoje o “cabra” está disposto! (Sempre sarcástico, se não fosse assim, não seria ele).

- Bom dia, amor! Olha, vou sair logo, pois quero comprar carne fresca ainda!

- Meu Deus, Samuel! A geladeira está lotada de carne. Tu ainda vais comprar mais? Não vejo necessidade disto.

- Oras, vem uma galerinha ai! E tu sabes que o povo não dispensa um churrasco. Não quero ninguém reclamando que saiu daqui mal comido! (Trocadilho infame!)

Ele desandou a sorri.

- Além do mais, quero comprar aquele peixinho pra assar na brasa pro meu dengo!

- Eu não gosto muito de peixe e tu sabes disso.

- E quem disse que tu és meu dengo???

- Ah! Não sou não é?

- Sinto muito em lhe dizer, mas não. Você não é.

Sorri ao ver seus olhos se semicerrarem e sua boca torcer em desagrado. É fácil e satisfatório irritá-lo. Que bela manhã! (rs). Antes que ele começasse a falar...

- Meu dengo é único e verdadeiramente minha querida sogrinha, que ama um bom peixe e virá trazendo uma boa parte da comida.

- Ah! Agora entendi o porquê de tanto amor. Coitada de mamãe! Disse pra ela não fazer nada. Nem precisa. É só encher o rabo desse povo de cerveja e carne que já está de bom tamanho.

- Nada disso! Vamos comemorar com estilo e não pedi nada, ela que se ofereceu.

- Lógico! Tu achas que ela viria de mãos vazias? Nunca! Só espero que ela traga aquele estrogonofe! (Hipócrita!).

Ouvimos passos arrastados e vimos surgir do corredor um homenzarrão de cara amassada, coçando a cabeça e bocejando. Não acreditei. Pedro acordado em pleno sábado às 6:30 da matina?! Era brincadeira. Não resisti:

- Bom dia, flor do dia! Dormiste bem?

- Muito engraçado, pai! Tô morto de sono ainda.

Ele olhou em volta da cozinha como se precisasse focar um ponto pra acomodar melhor sua visão. Encarou o Hugo e finalmente disse: - Bom dia, gente!

Hugo: - Volta pra cama! Tá dormindo em cima da mesa aí!

Pedro sorrindo, esfregando as mãos uma na outra e me olhando com cumplicidade:

- Não, minha fome é maior! E quero ajudar com os preparativos pra hoje também.

Hugo: - Ótimo! Vamos ao café então, porque as madames não acordam agora!

O que falo agora vocês já devem estar cansados de saber, mas me atrevo a comentar: momentos em família são mais que especiais, são essenciais ao homem. Precisamos disso. Conversar sobre os mais diversos assuntos com meu marido e meu filho, sorrir com eles, testar a paciência do Pedro em relação ao seu namorico é sem igual. Resumindo o café não poderia ter sido melhor.

Antes de sair de casa, pude ainda ver minha baixinha (Mari) de pé. Beijei-a e fui de encontro à rua. Peguei certa velocidade, pois ainda teria que atravessar a ponte pra pegar minha sogra e comprar a carne junto com ela, pois a mesma fazia a maior questão. Ela insiste em dizer que eu e o Hugo não sabemos escolher. Coisas de sogra e quem sou eu pra discordar. Ri ao imaginá-la toda atrapalhada quando eu chegasse. Prometeu-me um banquete pra aquele dia. Queria saber aonde isso iria dar.

Cheguei à sua casa às 8:00 hs em ponto. Mas que porra! (pensei) Atrasei-me. Só espero achar algo que preste ainda. Bati no portão (minha sogra mora na periferia da cidade e nunca quis mudar, mas explico isso mais pra frente) e a chamei. Ela saiu como uma típica mãe: enxugando as mãos em um pano de pratos.

- Entra!

- Bom dia, sogrinha!

- Bom dia! Samuel, meu filho! Já ia ligar pra vocês! Já fiz quase tudo aqui. Desse jeito não encontraremos carne boa ainda.

- Geo, meu amor! Perdoe-me! Mas já fizeste tudo? Como assim?

- Oras, menino! Acordei às 4:00 hs e os cremes fiz ontem mesmo de noite! Esse churrasco não começa às 11:00 hs? Então, meu filho, o povo não espera não; temos que ser rápidos (Como eu admiro essa mulher!).

Da cozinha saiu a tia do Hugo, Silmara, que me cumprimentou e pareceu estar bem animada pra festa.

Silmara: - E Huguinho tá ansioso?

Eu: - Que nada! Naquele humor de sempre! Nem desconfia...

Sorrimos todos, pois o humor do meu marido, ou melhor, seu mau humor é figura carimbada em nossas vidas.

Geovana (minha sogra): - Samuel, vamos logo! Aqui só falta a farofa, o estrogonofe e o arroz. Ah! Fiz tua torta de camarão seco. Ta assando já. Silmara vai preparando o estrogonofe do meu filho que, quando eu voltar, faço o resto.

Uma pequena observação aqui: Cara, não existe sogra melhor! Ela se lembrou da minha torta!!! Ah! Essa é a mulher!

Dei um abraço bem apertado nela e brinquei com seus cabelos, levando um “esporro” depois! (rs).

Bom, fomos à feira, pois carne fresca é na feira! Ela escolheu tudo, sempre pedindo minha opinião e nem demoramos muito. Deixei-a em casa e retornei à minha humilde residência. Coloquei a carne no freezer. Fui ao quintal dá uma olhada na situação da nossa churrasqueira. Notei o mesmo imundo. Só podia ser brincadeira isso. Gritei: - PEDRO, EU NÃO MANDEI TU LIMPAR A PORRA DESSE QUINTAL?! Cuida vem logo!

Pedro: - Tô indo! Caramba, só vive reclamando! Olha não dá pra eu limpar isso sozinho não! Chama as meninas também! Vanessa tá dormindo até agora.

Eu: - Deixa de moleza, menino! Cara desse tamanho! Reclamando por varrer o quintal. Olha varre bem direitinho perto do palco, viu?! E toma cuidado que quem montou isso ai foi o André; tudo é dele. Não me quebra nada, por tudo que é mais sagrado.

Pedro: - O senhor não vai chamar a Vanessa não? Esse quintal é muito grande, pai!

Eu: - Mas tu és molenga mesmo! Acorda Vanessa e manda ela e Mariana virem aqui. Tenho serviço pra elas. (Pedi que as chamasse porque sabia que se o Pedro mandasse alguma delas fazer algo era briga na certa).

Dei uma geral na churrasqueira e esperei “os donos da casa” voltarem. Se eles pensam que me enrolam, “ah! cumpade!”, coloco todos caminhando na linha férrea do trem num piscar de olhos. Enquanto eu matutava, uma criaturinha veio correndo lá de dentro toda animada! Sorri, minha princesinha tinha acordado. Agarrei-a num pulo e a enchi de beijos.

Eu: - Bom dia, amor! Tá cheirosa! Me dá esse cheiro! Me dá! Me dá! (Pai é bicho besta!).

Sara: Não. Quer roubar meu cheiro é? Não te dou! (Toda faceira!).

Peguei-a de novo e fiz cócegas na sua barriga. A nega ria que só faltava chorar. Por fim, soltei-a e perguntei se ela já havia comido alguma coisa. Quem tem criança em casa sabe que elas passam por diversas fases e minha filha tava e ainda tá naquela de só comer besteira e enrolar nas refeições principais, ou seja, estava e está dando um trabalho danado pra se alimentar.

Sara: - Tomei meu café todinho! Papai me obrigou; não me deixou sair da mesa sem comer tudo! (Fez bico!).

Sorri imaginando essa cena. Não me surpreendeu em nada isso. Hugo é capaz de mais. Aquilo é terrível! Como falei no relato anterior: aqui em casa é regime militar!

Eu: - Cadê suas irmãs?

Sara: - Estão no quarto delas, oras!

Foi questão de segundos pra eles aparecerem, mas Vanessa como sempre é singular: a cara fechada; parecia um bicho. Encarei-a de volta, pois se tivesse medo de cara feia, não me olharia no espelho nunca e deleguei a tarefa: pus todos pra varrer o quintal. Pronto todo mundo já tinha o que fazer. Os meninos varriam, enquanto Sara os perturbava. Voltei pra cozinha e meu dengo estava temperando as carnes.

Hugo: - Ainda acho isso um absurdo! Muita comida pra poucas pessoas!

Eu: - Tempera só essas peças! Se não for o suficiente, eu tempero depois.

Hugo: - Não acredito que tu me convenceste a isto! Samuel, sinceramente estamos gastando por nada.

Eu: - Como por nada??? Estamos comemorando o seu aniversário! Data mais que especial pra todos que te amam. – Falei isso e o agarrei pela cintura lhe dando um beijo no pescoço. Ele se arrepiou e me repeliu! Sorri e voltei a agarrá-lo. Ele reclama, mas gosta. Isso é um belo de um safado. Fiquei de dengo e depois procurei por um lanche. A fome já gritava de novo. Comi uma maçã e limpei o banheiro com a ajuda mais que especial da Sara. Ela não pára um segundo. Antes que o Hugo gritasse com ela, requisitei sua ajuda no banheiro. Não queria choro naquele dia.

Huguinho deu uma geral no resto da casa, nada muito elaborado, só varreu e pôs tudo no seu devido lugar. Certo, em relação à casa estava tudo pronto. Quintal em ordem também, incluindo o palco. Era hora de nos aprontarmos, afinal minha sogra do coração traria o mais importante: a comida.

Houve como sempre briga pelo banheiro. Vanessa e Pedro discutindo quem merecia entrar primeiro. Mas a discussão foi finda quando Hugo, sem paciência, mandou Mariana banhar primeiro e deixou os dois enfezados.

Tomei um banho rápido, pus uma camiseta branca e uma bermuda creme, coloquei um pouco de perfume, afinal eu que ficaria na churrasqueira mesmo, então perfume não se fazia necessário. Esperei um pouco pra dá uns amassos no meu moreno quando ele saísse do banho. Quando o vi com o corpo molhado e de tolha branca, quase não resisti. Mas como diz o ditado: apressado come cru, resolvi vê-lo se enxugar e deixar à mostra aquela bunda linda e arrebitada. Nesse momento, não resisti mais, avancei nele e apertei com força as suas nádegas. Ele riu e mordeu os lábios me provocando. Ataquei sua boca e senti seu gosto doce e exótico. Mordeu meu lábio inferior e chupou minha língua. Com ele nada é brando ou calmo. Hugo sempre foi um furacão; sempre viveu no extremo. Era tudo ou nada. Seu beijo, por vezes, era sereno e carinhoso, mas porque sempre havia, de algum modo, uma surpresa: uma mordida, um chupão, um toque leve e firme em meu pau ou um cheiro em meu pescoço. Tudo com o único intuito de me enlouquecer para que ele fugisse de meus braços e me fizesse implorar por seu corpo. Meu marido é mestre na área da sedução. E o que mais o excita é se sentir desejado. Ele clama pelo fogo em meus olhos quando o vejo. E, como um tolo, sempre caio em sua teia e me torno sua marionete na brincadeira de amar.

Deixei-o se arrumar, pois sabia que demoraria. Há anos sofro com isso: sua demora em vestir umas poucas peças de roupa. Ele é do tipo de pessoa que espalhas diversas combinações na cama e experimenta todas para ver qual lhe cabe melhor! Resumindo: muita “viadagem” pra mim! (Ele que nunca leia isso!). A única coisa que não reclamo é dos seus cremes, pois usufruo bem deles em seu corpo; é cada um mais cheiroso que o outro.

Obs: Esqueci-me de falar a profissão do meu marido. Ele é farmacêutico/bioquímico, doutor na área de parasitologia e tem especialização em cosmetologia, ou seja, de cremes ele entende bem; ele é “foda” nisso. Dá aulas na federal e presta serviços para uma das melhores farmácias de manipulação daqui.

Bom, fui ao quintal preparar a churrasqueira, pois já passava das 11:00 hs. Pus as primeiras peças de carne. A campainha tocou. Os primeiros a chegarem foram uma amiga do Hugo, Valéria, e o marido Dino com o filho deles, o pequeno Nicholas. Recepcionei todos e fomos ao quintal. Perguntei se tomavam uma gelada e fui certeiro. Sendo sincero, só meu marido não bebe, pois até minha sogra arrisca uma gelada vez ou outra. Designei minha princesinha pra entreter o filho deles e assim a festa começava.

Minha sogra chegou depois com tudo, menos o arroz que fez questão de cozinhar aqui em casa, alegando que “arroz bom é aquele feito na hora”. A tia do Hugo também veio, mas sem o marido que nunca se deu bem com o Hugo por ele ser gay, mas trouxe a filha, que também se chama Vanessa. Só aqui entre nós: um baita mulherão essa Vanessa!(Não é porque não curto que não posso elogiar uma bela mulher).

Uma hora depois, todos já haviam chegado, só faltava a amiga de infância do meu amor, a louca da Dadá. Se vocês conhecessem a peça! A mulher é doida da cachola, divertida, bebe todas, “trilouca”, na verdade. Tem quarenta anos e tá super inteira ainda. Ela veio logo me abraçando e procurando por ele na casa toda. É daquele tipo de pessoa que invade mesmo, mas é gente fina demais; gosto muito, principalmente porque nesse dia ela me trouxe um creme de manga dos deuses. Sou louco por manga, minha fruta predileta.

Meia hora depois, a festa estava à tona e muito divertida, repleta de amigos muito queridos tanto meus quanto dele. Dei um tempo na cerveja e no controle da carne e fui ao quarto. Bateu aquele nervosismo. A hora era essa. Todos haviam comido de tudo um pouco, não tinha mais a necessidade de espera. Chamei minha sogra, comuniquei-a que estava pronto e lhe pedi que levasse a cadeira dele ao centro do quintal, no meio de todos. Queria toda a atenção voltada nele. Ele merecia. Quando ela saiu, respirei criando coragem e peguei o arquivo. Passei por ele na cozinha e o beijei rapidamente...

[...]

Minutos depois, eu me encontrava ali. Em meio a toda aquela gente me encarando em expectativa, mas eu só conseguia enxergá-lo. Estava lindo numa combinação ousada, mas perfeita nele: camiseta vinho e bermuda com estampa camuflada (estilo militar) e muito charmoso com aquela barba por fazer. Seus olhos me encaravam esperando respostas, mas eu mal conseguia me mexer. Estava travado. Fechei meus olhos e, em segundos, deixei que o filme da nossa história passasse pela minha cabeça, os melhores e piores momentos... Por último, lembrei-me do esforço que foram as noites que passei ensaiando e reaprendendo a tocar e cantar. Há anos não fazia isso. Meus amigos foram fundamentais nisso, principalmente meu sócio, o Márcio, que tinha uma bandinha de fundo de quintal comigo na época, nada sério, coisa de jovem mesmo. Não poderia “amarelar”, todos esperavam por mim... Meus filhos estavam ansiosos, até a Sara se aquietou no colo da avó. Com o coração a mil por segundo, comecei:

- Boa tarde, queridos amigos e familiares!(Sorri!).

- Agradeço de coração a presença de todos por virem prestigiar o nosso Hugo. (Em momento algum o encarei, sabia que ele faria uma cara horrível; ele odeia chamar atenção).

- E... Agora gostaria de homenagear a pessoa que torna os meus dias mais felizes, incríveis e especiais! A pessoa mais marrenta que eu conheci na vida e mais sensível. Amor, seu coração é lindo! (Segurei a emoção pra não chorar, não poderia estragar nada agora).

Houveram palmas (amigo é foda né?!). E finalmente busquei por seu rosto. Ele me encarava com os olhos semicerrados e balançava a cabeça de um lado para o outro, em total desaprovação, mas naquele momento eu não podia mais parar. Peguei o violão e disse:

- Sabe, passei horas, no mês passado, pensado em como fazer você se sentir especial hoje. A resposta veio implícita em você. A sua sensibilidade me mostrou o caminho. Queria uma música que descrevesse você, mas cheguei à conclusão que a canção correta seria aquela que te explicasse como eu sou por sua causa! Alguma canção que mostrasse como sou dependente de ti. Eu te amo, Hugo, e só isso me basta pra viver. Eu espero que você que possa sentir isso agora...

Houveram mais palmas e eu enxuguei as lágrimas teimosas que ousaram escorrer dos meus olhos. Dei uma puxada profunda na garganta e dedilhei as cordas do violão. Fiz o meu melhor e cantei “Caminhos de sol”, música brilhantemente interpretada por Zizi Possi, da qual meu Hugo é fã.

Abaixo coloco a letra da canção pra que vocês possam relembrar ou conhecer e o link de um vídeo dessa cantora espetacular a interpretando.

“Caminhos de Sol”

Sem você a vida pode parecer

Um porto além de mim

Coração sangrando

Caminhos de sol no fim

Nada resta mas o fruto que se tem

É o bastante pra querer

Um minuto além

Do que eu possa andar com você

Te amo e o tempo não varreu isso de mim

Por isso estou partido

E tão forte assim

O amor fez parte

De tudo que nos guiou

Na inocência cega

No risco das palavras e até no risco da palavra Amor

Link: http://www.youtube.com/watch?v=eH6mTOm2Pac

A cada palavra cantada, eu buscava por seus olhos e, pouco a pouco, os vi transbordarem. Houve primeiro a negação com eles severos e irredutíveis, mas segundo a segundo, sua barreira aparentemente impenetrável de um homem frio e calculista foi infiltrada pela emoção do momento, pelas palavras de amor que eu lhe dedicava. Não pôde resistir. Ele se emocionou por inteiro, tanto quanto eu estava. Ali, pra mim, só existíamos nós dois. Esqueci-me de todos, até dos nossos filhos. Apenas mergulhei no mar negro de seus olhos e me permiti amá-lo através da canção.

Quando terminei, ele chorava copiosamente e mexia insistentemente no cabelo (mania que tem quando fica nervoso), por diversas vezes, abaixou a cabeça com vergonha por ter chorado, mas sem necessidade alguma. Todos estavam ali somente por ele. Sorri satisfeito com tudo. Tudo ocorreu como eu esperava, mas agora vinha a parte mais difícil. Pensei até em eliminar essa parte da homenagem, mas me levou tempo e dedicação e não era justo fazê-lo.

Nossos amigos começaram a gritar: Discurso! Discurso! Discurso!

E ele ficou perdido. Mas contornei a situação:

- Ainda não acabou, pessoal! Temos ainda a homenagem da família toda!

Agora ele me olhou atônito, com os olhos cheios de lágrimas, a coisa mais linda!

Hugo: - Não acredito! Ainda tem mais?! Tu queres me matar, Samuel?

Falei sorrindo: - Claro que não, amor! Quero apenas que se sinta amado.

Fui até o aparelho de DVD posto no fundo do quintal e protegido do sol pelo pequeno terraço da casa dos fundos e coloquei o vídeo que tinha passado a semana inteira produzindo. O vídeo é composto por fotos da família inteira que passavam ao som de “Haja o que houver”, canção extremamente linda que foi interpretada por Zizi Possi e a filha recentemente, mas existe a versão original do grupo Madredeus; e foi justamente esta que utilizei no meu vídeo. Disponibilizo, porém, para vocês a versão da Zizi, que é encantadora também. Link: http://www.youtube.com/watch?v=kaCgl64TUjk#t=189

Não é querendo me gabar, mas o vídeo ficou muito bom! Fora que essa música fala por si só.

Peguei o controle e fui de encontro a ele. Cheguei bem perto, sorri e recebi um balançar negativo de cabeça, fiquei mais animado ainda. Sentei do seu lado esquerdo e segurei sua mão. Olhei minha sogra, que ainda enxugava as lágrimas, e recebi o sinal verde pra começar. Apertei o botão do controle:

“Haja o que houver”

Haja o que houver

Eu estou aqui

Haja o que houver

Espero por ti

Volta no vento oh meu amor

Volta depressa por favor

Há quanto tempo

Já esqueci

Porque fiquei longe de ti

Cada momento é pior

Volta no vento

Por favor

Eu sei

Quem és pra mim

Haja o que houver

Espero por ti

Há quanto tempo

Já esqueci

Porque fiquei longe de ti

Cada momento é pior

Volta no vento

Por favor

Eu sei

Quem és

Pra mim

Haja o que houver

Espero por ti

A sessão começara com uma foto nossa: estávamos em um bar à beira-mar e repentinamente o abracei e tirei a foto, a definição para ela era, no mínimo, hilária. Saímos tortos e ele com muita graça e simpatia apertava minha barriguinha de shopp (sim, eu tenho barriga de shopp, não sou nenhum modelo). Os risos foram uníssonos e sonoros. Ele sorriu de forma encantadora; apertei firme sua mão. A segunda foto eu havia tirado aqui em casa após um almoço em família. Nela, ele se encontrava rodeado pelos meninos e pela mãe. A imagem seguinte trazia a Sara nos primeiros dias conosco. Ele a carregava no colo, todo bobo. A situação mudou de figura novamente: não aguentou e as lágrimas brotaram em seus olhos. Encaramo-nos por segundos e pus naquele olhar uma única mensagem: eu te amo! A melodia da canção tornava tudo mais melancólico, mas não foi por acaso; aquela letra trazia uma mensagem pra ele que seria entendia a partir da quarta imagem. Ele precisava daquilo, e eu faria de tudo para que fosse feliz por completo.

Quando a canção chegou na seguinte parte: “[...] Há quanto tempo/Já esqueci/Porque fiquei longe de ti/Cada momento é pior/Volta no vento/Por favor [...]”, a quarta foto apareceu e eu vi o meu marido desabar, tão frágil e desolado, quanto eu o via e ouvia às madrugadas chorar, sozinho. Ele precisava saber que eu estava ali por ele; todos, na verdade. Ele nunca esteve só, apesar de se sentir assim. Foi difícil, pra mim, vê-lo naquele estado, meu nervosismo foi ao máximo. Sua mão apertava a minha com força e toda a dor acumulada saía em lágrimas sofridas e desesperadas. Ele abaixou a cabeça e o choro se intensificou. Senti-me culpado! Abracei-o muito forte e pedi desculpas desesperado, mas ele só chorava. Quase me arrependo do que fiz, mas o resultado hoje me mostra que foi o certo a se fazer.

Nossos amigos começaram a se aproximar preocupados. Minha sogra, coitada, estava muito abalada também. Pensei: estraguei uma festa que tinha tudo pra ser perfeita. Envolto no abraço que lhe dei, só ouvi quando Dada disse: - Tire-o daqui! E foi o que fiz; praticamente arrastei o Hugo pro nosso quarto. Coloquei-o na cama e tranquei a porta, mal terminei a ação, nossos filhos começaram a bater.

Pedro: - Pai abre! O que aconteceu? Abre, por favor!

Vanessa: - O que você fez, hein???

Eu: - Agora não! Voltem pra lá... Explico tudo depois.

As batidas cessaram. Olhei-o. Não parecia meu marido. Estava tão frágil. Hugo sempre foi delicado sim, mas frágil nunca! Ele era forte... Uma fortaleza de arrogância e prepotência. Naquele momento minha culpa só aumentava. Fui até a cama e me ajoelhei na sua frente, envolvi-o novamente em meus braços e pedi perdão, mas permiti que ele chorasse tudo que precisava. Quando ele parou, encarei-o e disse: - Perdoa-me, amor. Não pensei que fosses ficar desse jeito. Fiz pelo seu bem. Juro! – Agora eu chorava de culpa. Mas ele não me respondeu...

Vocês devem estar confusos. Eu explico. A quarta foto trazia a imagem de um jovem magricela com uma bebezinha de apenas três meses de idade no colo. Aquela criança foi a primeira Sara da vida do Hugo, sua irmã. Ela nasceu quando Hugo tinha 16 anos e, sendo mais velho e os dois filhos de mãe solteira, os cuidados da irmã ficaram por conta dele. Minha sogra sempre me falou que ele era um ótimo irmão, sempre se dedicando ao máximo a ela. Mas a vida nos prega peças, pois três anos após aquela foto, eles perderam a Sara. A canção foi escolhida a dedo por mim, pois fala justamente de perdas. O objetivo nunca foi machucar o coração do meu marido, mas permitir que sentisse seu luto e se libertasse da culpa que carregava pela morte dela. Sara morreu de pneumonia e, quando Hugo soube da sua morte, não se permitiu sequer chorar, ou sentir o luto. Ficou completamente inerte. Vivi anos, vendo-o chorar, à noite, escondido por sua perda, pois é orgulhoso demais. Sempre quis que ele olhasse pras fotos dela e visse o quanto ela foi importante pra ele; o quanto foi bom tê-la como irmã; lembrasse dos momentos felizes, guardasse-os na memória e criasse forças pra seguir em frente. Por isso tomei a iniciativa do vídeo com o consentimento da mãe dele. Confesso que foi arriscado, mas... Deu tudo certo no final.

Eu: - Perdoa-me? Hein?

O choro se intensificou e o abraço ficou mais apertado; senti seu coração acelerado, suas mãos, quando afrouxaram em minhas costas, estavam trêmulas. Ele sussurrou: - Não tive coragem de me despedir; sinto sua falta todos os dias. A lembrança do seu sorriso e abraço me dilacera... Não aguento mais...

Não respondi, pois ele desabou em choro novamente e eu não sabia o que fazer. Apenas o abracei novamente. Minutos depois, ele se desvencilhou de mim e disse: - O vídeo é lindo. Quero vê-lo todo e prometo não desaguar mais (tentou sorrir). Estou melhor, acredite!

Fiz o que meu coração mandou: beijei-o de forma terna e calma, transmitindo todo meu amor. Acariciei seu rosto e enxuguei suas lágrimas...

Eu: - Tens certeza? Posso pedir pra que vão embora. Eles irão entender. É melhor que fique aqui. Volto logo!

Hugo: - Não! São meus convidados. Vou continuar a recepcioná-los. Já basta o papelão de agora a pouco. Diga a todos que estou me recompondo e já voltarei. Sirva mais comida. Quero todos como antes: falando besteira e me idolatrando!

Eu: - Amor, tens certeza mesmo?

Hugo: - Samuel, por favor?! Vais fazer o que te pedi ou não?

Dei um sorriso amarelo pra ele, pois sabia que aquilo era só encenação, por dentro, ele estava devastado, destruído. Saí do quarto e, em frente à porta, encontrava-se uma fila indiana: nossos filhos, minha sogra, a tia dele e Dada. Ele gritou: - NÃO QUERO NINGUÉM AQUI!!! Mas o Pedro é teimoso. Foi só o instante de eu sair da frente da porta, pra ele empurrar os outros e entrar com tudo. E ainda a trancou. O que aconteceu naquele quarto eu nunca soube ao certo, pois virou uma espécie de segredo entre pai e filho. Mas fez bem ao Hugo, pois quando voltou ao quintal estava bem melhor e mandou a banda colocar um forró bem animado. Não tirei os olhos dele o resto da festa, sempre a postos, caso ele desabasse de novo. Dada o alugou por um bom tempo e os amigos do trabalho também. E, felizmente, ele permaneceu firme como uma rocha...

Naquela noite, dormimos de conchinha e ele não reclamou, mas se aninhou melhor em meus braços. Acariciei seus cabelos até que dormisse. Por fim, beijei seu pescoço e pedi aos céus que o dia seguinte fosse melhor!

Caros leitores, resolvi escrever este relato, devido à data do aniversário do Hugo. Ele nasceu em 15 de fevereiro, mas ano passado comemoramos no dia 18, pois foi a data melhor para todos, visto que caiu em um sábado. Dessa vez, não me desculpo por não haver sexo, pois já expliquei como seriam minhas postagens no relato anterior e também sou movido a emoções. Esse mês me trouxe recordações valiosas dessa festa e então resolvi compartilhá-la com vocês. Espero que vocês possam gostar e sentir ao menos um pouco da emoção que senti e sinto ao lembrar esse dia.

Pode surgir um estranhamento pelo modo como trato minha sogra. Não sou mal educado. Ela que prefere que eu a chame assim: pelo nome ou apelido. Coisas de mulher. Não quer se sentir velha. Aliás, ela é muito nova. Só tem 57 anos. Teve Hugo muito cedo. E, por tudo que passou na vida, é uma mulher digna do título de guerreira.

Finalizando o relato, quero informá-los que, em relação à morte da irmã, meu amor já a encara com mais naturalidade. De forma lenta e progressiva, ele já conseguiu ver suas fotos e até colocou uma na nossa sala de estar. Fico feliz pela sua superação. E, como na canção, haja o que houver, eu estarei aqui POR ELE! Sou um bobo apaixonado mesmo e não nego. Um dos impulsos que move minha vida é o seu sorriso. E, por esse simples gesto, sou capaz de muita coisa. Amar não é somente desejo ou paixão; é bem-querer, é ser feliz quando o outro está feliz. O amor é calmo como o início de uma manhã. Resume-se em um abraço, um beijo ou uma troca de olhares. E, com essa afirmativa, englobo todas as formas de amor e finalizo, por hoje, meu relato.

Agradeço pelas leituras novamente e também pelos comentários no relato anterior. Espero que gostem desse capítulo do livro de minha vida. Tentei ser o mais detalhista possível, relatando tudo que me lembrei desse dia, ao menos o mais importante. Peço que perdoem os erros ortográficos. Boa noite a todos!

Samuel Oliveira

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