Amor não é Matéria de Cursinho - Aula 7: Preparação

Um conto erótico de Kevin
Categoria: Homossexual
Contém 2575 palavras
Data: 13/12/2013 02:54:53

Olá, pessoal!

Depois de MUITO tempo, estou de volta. Nesse período, afogando-me em provas e estudos, quase não pensei na série, mas agora, com as férias, é hora de terminar o que foi começado.

Espero que os antigos leitores consigam ler a continuação. Tentarei fazer o melhor para tornar a história interessante. Quanto aos novos leitores, espero que gostem desse e dos capítulos anteriores.

Tentarei postar frequentemente, mas podem aparecer imprevistos, falta de inspiração e etc. Portanto, espero que sejam compreensíveis para caso algo do tipo ocorra.

Kevin está de volta aqui com suas aulas, e espero que elas agradem ou, quem sabe, acrescentem em algo na vida de vocês, leitores. Depois de todo esse discurso, só posso desejar:

Boa leitura! (e-mail: mackevincdc@hotmail.com)

***

PREPARAÇÃO

Em todas as áreas da ciência, é necessário haver comprovação de teorias. E que maneira melhor de fazê-lo do que por meio de experimentos? Na física, experimentação é imprescindível, e qualquer aluno de um curso superior de física já esteve em um laboratório, onde a “mágica” acontece.

É claro que nada é tão simples. Um experimento deve seguir padrões rígidos para ser aceito pela comunidade científica. Hipóteses, observações, dados e erros são recorrentes em qualquer tentativa de experimentação.

O mais importante, em minha opinião de físico, é a preparação da coisa. Separar o que vai ser usado, anotar os passos a serem seguidos e ver quais são os dados pré-disponíveis são medidas necessárias para que tudo continue nos eixos. Sem elas, o experimento dá errado e as consequências podem ser desde minimalistas até catastróficas.

Levo o mesmo princípio para a minha vida, em geral. Pragmático como sou (pelo menos na maioria dos casos), gosto de ter tudo no lugar certo antes de dar um passo à frente. Preparar as coisas impede que surpresas ocorram (as do pior tipo). Quando tudo sai como o esperado, a vida segue seu caminho, intacta.

Experimentos, porém, podem ser refeitos a qualquer momento. Tudo o que você precisa fazer é repor os equipamentos ou os suprimentos. Com a vida é diferente: nem sempre existe a chance de corrigir algo que deu errado por simples falta de preparação.

***

_Boas férias, turma! Juízo e, por favor, pelo menos tentem estudar! – eu disse após o sino tocar. Aquele foi o fim da última aula do semestre, e eu estava no 3º D.

_Ah, tá bom então, professor! – disse um aluno de forma sarcástica.

_Vou ficar só no tentar mesmo, prof. – disse Áurea, uma aluna.

Sorri para eles.

_Não reclamem quando eu chegar com tudo no próximo semestre. – lancei o desafio.

Saí da sala e tirei meu jaleco. O dia estava quente como nunca, e eu sempre odiei dias quentes. Coloquei-o sobre meu ombro e dirigi-me à sala dos professores. Lá, abri meu armário e peguei as chaves do carro.

Cheguei na entrada da escola a tempo de ver Aquiles e Apolo entrando na caminhonete. “Finalmente, um tempo longe dos dois” pensei. Não é que eu não gostasse de Apolo. Pelo contrário, achava ele muito interessante e, digamos, legal. O problema era que, cada vez que trocávamos olhares, eu sentia uma coisa se revirar dentro de mim. Tive que me distanciar de Apolo no momento em que comecei a gostar dele, e isso me atormentava. Por outro lado, eu nutria um ódio fervente pelo pai de Apolo, Aquiles. Ele foi o responsável por tudo, aquele semi-homofóbico cretino. Mandou eu me distanciar de seu filho por medo de eu ter influência na sexualidade do garoto. Não vou negar que senti um pouco de atração por Apolo, mas não ao ponto de tentar puxá-lo para meu lado do campo.

Antes de entrar, Apolo deu uma olhada para trás, diretamente para mim. Senti um pesar em sua feição. Nenhum de nós havia sido capaz de superar a tensão criada por Aquiles, e nossa relação passou a ser estritamente profissional: ele só falava comigo para tirar dúvidas durante a aula. Nem na sala dos professores ele vinha resolver algum exercício comigo, tendo preferência por outros professores de física. Eu não o culpava, e achava melhor assim. Seu pai ordenou que eu fosse frio com ele, então quanto mais distantes, melhor.

Além disso, o sentimento que eu supostamente (porque não sabia se eu havia realmente me apaixonado ou não por Apolo) tinha foi soterrado pela minha relação com Thiago, o quase formado médico que fazia residência no mesmo hospital em que meu pai atuava como cirurgião cardiologista. No começo, eu não sabia o que realmente pensar de Thiago. Porém, o médico loiro e lindo me conquistou no primeiro encontro. Depois disso, passamos a nos ver até chegarmos no auge.

***

-Flashback-

Um dos momentos mais bonitos da minha vida foi o pedido de namoro de Thiago. Ele havia me levado para seu condomínio fechado e afastado. Sua família devia ter muito dinheiro para poder morar ali. Não havia muros, quase tudo que era necessário para viver podia ser encontrado lá dentro, o lugar era verdejante, com a grama parecendo um tapete macio que ondulava ao vento. Era quase utópico.

Ele decidiu fazer um piquenique no parque onde os moradores costumavam fazer caminhadas, próximo a um lago artificial, em uma área arborizada. Thiago estendeu um pano xadrez branco e vermelho na grama e colocou a cesta cheia de comida sobre ele. Eu, particularmente, sentia-me em um filme americano, mas Thiago estava sempre agindo naturalmente, lançando sorrisinhos tortos para mim e dando um selinho de vez em quando. Seus pais sabiam sobre sua sexualidade e não tinham muitos problemas com isso. Digo “não muitos” porque é bem raro você encontrar pais que aceitam abertamente a homossexualidade de um filho. Devo dizer que Thiago foi bem sortudo e conseguiu mais do que muita gente consegue. Além disso, ele já era quase autossuficiente com seu salário da residência e logo seria totalmente independente.

Comemos sanduíches, doces e tomamos suco. Tudo havia sido preparado por Thiago, o que era surpreendente, já que estava tudo muito bom. Terminado o lanche, ele afastou as coisas e veio para junto de mim. Deitamos sobre o pano e ele passou seu braço por baixo da minha nuca, usando a mão para acariciar minha cabeça. A outra mão ele pousou sobre a barriga definida coberta pela camiseta azul de algodão. Fitamos o céu por uns instantes, conversando sobre o que quer que viesse à cabeça. Houve um silêncio deslocado que ele preferiu manter. Quando a coisa se tornou meio desconfortável após uns dois minutos, pensei em quebrar o silêncio, mas Thiago foi mais rápido.

_Kev... – esse era o jeito que ele gostava de me chamar – Eu gosto muito de você.

Ele ainda olhava para cima enquanto passava os dedos levemente pelos meus cabelos pretos e lisos. Repentinamente, ele tirou seu braço de debaixo da minha nuca e utilizou-o para apoiar sua cabeça, com o cotovelo no chão. Ele passava o dedo polegar da outra mão em minha bochecha enquanto falava:

_Na verdade, eu te amo.

Uma coisa quente passou por todo meu corpo. Algo bom, reconfortante. Eu ia dizer alguma coisa, mas ele me interrompeu:

_Nessa vida de ser gay e tal, dá a impressão de ser impossível estruturar uma relação com alguém. Parece tudo tão superficial, enjoativo... promíscuo. Mas com você é diferente. Finalmente eu tenho a esperança de poder formar algo com alguém. Algo forte. Você é inteligente, engraçado, parece sempre alegre, sincero, mas não exageradamente. – ele tirou uns fios de cabelo que caíam sobre meu rosto – É delicado... dá vontade de te proteger.

Sorri resignado com esse último “elogio”. Parecia a descrição de uma garota. Eu não gostava muito daquilo, poderia até ser baixo e ter um rosto afilado, mas meu corpo esguio era levemente e cuidadosamente definido. Não era um garoto que parecia uma garota, como em animes orientais que mostram garotinhos frágeis. Outra coisa: eu sabia lutar karate e jiu-jitsu, não precisava de proteção.

_São coisas que eu raramente acharia em outra pessoa. Por isso, Kev, não quero... não posso te perder. Quero você sempre perto de mim. Quero você como meu namorado.

“Uau”, pensei naquela hora. Eu poderia vomitar muitos arco-íris naquele momento, ou correr pelo campo, rolar na grama e nadar nu pela lagoa de tanta felicidade. Ao invés disso, encarei ele boquiaberto.

_Aceita? – ele perguntou sorrindo.

Saí de meu transe e beijei-o. Eu raramente investia, mas eu tinha que fazer aquilo naquele momento. Foi um beijo quente e mais demorado. Ele segurou minha cintura e puxou-me para cima de si, meus joelhos ao lado de seu abdômen. Separei nossos lábios.

_Acho que o que estamos fazendo é atentado ao pudor... – eu disse enquanto sorria maliciosamente e olhava ao redor.

Thiago virou a cabeça para um lado e para o outro.

_Não vejo nenhuma criancinha ou velhinho. – ele disse com um sorriso zombeteiro.

Eu ri e saí de cima dele. Sentamo-nos e ele disse:

_Você ainda não me deu a resposta.

Olhei para ele com um olhar desafiador.

_Acho que já dei a resposta.

Thiago chegou mais perto até que pude sentir seu hálito com cheiro de suco de uva integral que tínhamos tomado.

_Mas eu realmente preciso de uma resposta que saia daqui, em palavras. – ele tocou minha boca com o indicador – Você sabe... só para garantir.

_Então sim. É claro que eu aceito você, Thiago, como meu namorado.

Ele sorriu satisfeito e beijou-me novamente.

***

Dei a partida no carro após sair das minhas divagações. Apolo e Aquiles já haviam partido. Comecei a escolher mentalmente meu local de almoço, mas Thiago me poupou da tarefa ao ligar-me:

_E aí, gatinho? Vamos almoçar onde hoje? – ele disse quando atendi.

_Já disse para você decidir. Sempre. – eu enfatizei.

_Essa indiferença a tudo vai fazer você se dar mal um dia, Kev. Mas vamos lá no Paulinho.

_Ok! – o restaurante do Paulinho, um amigo da família de Thiago, se tornou um dos meus favoritos.

Ao chegar lá, entrei no estacionamento do próprio estabelecimento e estacionei. Adentrei o restaurante e logo avistei Thiago acenando para mim. Sentei-me na mesa, de frente para meu namorado. Ele estava com uma camisa social listrada azul e branca, com calças jeans azul claras e sapa tênis. Impecável, como sempre. Enquanto isso, eu tinha sobre o corpo uma camiseta com estampa de Doctor Who, calça bege e All Star marrom.

_Demorei? – perguntei.

_Eu esperaria você para sempre. – ele respondeu.

Sorri e balancei minha cabeça, mostrando que aquela frase havia sido desnecessária.

_Posso te dar um beijinho aqui? – ele perguntou.

_Ahn... acho que melhor não, Thiago.

Ele suspirou, como sempre fazia quando eu suprimia nossa relação em locais públicos. Em nosso primeiro encontro, quando estávamos na sorveteria, eu o havia mantido bem próximo, deixando bem claro que estávamos ali como algo mais que amigos. Mas isso foi no passado, em um momento de confusão mental e ansiedade. Agora, não existia ninguém mais cauteloso que eu.

_Eu compenso você depois. – eu disse ao ver uma leve indignação em seu rosto.

Thiago abriu um sorriso malicioso e se inclinou para frente na mesa, aproximando seu rosto do meu.

_Ah, é? Que tipo de compensação seria essa?

Apesar da provocação, eu e Thiago não havíamos chegado ao nível mais quente até aquele momento. Por mais que estivéssemos namorando havia meses, eu não conseguia me imaginar na cama com alguém. Havia medo de errar, de não gostar, de quebrar minha cara. Thiago já tentara investir, mas eu sempre colocava barreiras que, aparentemente, eram intransponíveis, pois ele desistia ao primeiro sinal de resistência.

Inclinei-me para frente, imitando-o e aproximando ainda mais nossos rostos. Falei baixinho:

_Uma balinha de uva, talvez.

Nós rimos. O local servia “a la carte”, e pedimos o prato que mais gostávamos ali: filé ao molho madeira. Comemos e começamos a conversar sobre o dia de trabalho de cada um. Parecia um dia normal, até Thiago chegar ao assunto que o levara até ali.

_Tenho uma surpresa para você, Kev. Um... presente. Na verdade, é para nós dois.

Ele tinha um sorriso cheio de expectativa e alegria ao dizer aquilo. Fiquei receoso do que viria em seguida. Thiago tirou um envelope do bolso e o colocou sobre a mesa. Peguei-o e abri o lacre. Dentro, havia uma passagem para Salvador.

_Hum... Salvador? – perguntei ainda em dúvida.

_Sim, mas de lá vamos para a Costa do Sauípe. Dez dias no Premium, só eu e você.

Eu parecia ter levado um soco no estômago. Thiago provavelmente havia comprado um pacote inteiro, incluindo viagem, estadia e tudo o mais. A coisa toda devia ter sido bem cara. Fiquei sem palavras.

_Thiago... eu... nossa! Nem sei o que dizer.

_Só precisa dizer que vai comigo. Só lembrando que já está tudo pago.

_Claro que vou! – na verdade, eu teria problemas para inventar uma história para meus pais - Não é disso que estou falando... é o preço...

_Nem vem, Kev! Isso é para nós, não para mim ou para você, mas para nós. Não vamos pensar nisso, só no quão divertido vai ser, só nos dois lá, na praia, no nosso quarto...

Encarei-o em silêncio por um instante. Realmente, seria chato ficar falando sobre dinheiro naquele momento. Por isso, abri um sorriso.

_Sim, vai ser muito divertido. E claro que vou com você. Obrigado, Thiago.

O rosto de meu namorado se mostrou mais aliviado ao ouvir aquelas palavras. Estiquei-me sobre a mesa, ele se aproximou pensando que eu diria algo, mas eu o beijei. Foi um curto intervalo de tempo, mas foi um beijo terno. Ao separar nossos lábios e voltarmos à nossa postura, ele estava com uma expressão surpresa.

_Hum... uau. – ele disse sorrindo.

_Mas vou pagar minha parte da viagem.

Eu disse aquilo ainda com um sorriso tranquilo, mostrando que não estava aberto a discussões. Por um momento, Thiago ficou confuso, e depois preparou-se para argumentar, mas eu peguei o envelope que ele havia me dado com a passagem e deixei o dinheiro para pagar a conta do restaurante sobre a mesa. Levantei-me rapidamente e dei as costas para Thiago. Ouvi seu chamado, mas ignorei-o com o mesmo leve sorriso decidido.

***

A semana seguinte teve como base a preparação para a viagem. Tive que inventar uma história para meus pais: um amigo queria que eu viajasse com ele e sua família para um resort na Bahia. Retirei do banco o dinheiro necessário para pagar meu pacote de viagem. Thiago já o havia pagado, então tive que insistir muito para que ele aceitasse meu dinheiro. Por fim, após uma chantagenzinha básica, meu namorado rico e teimoso aceitou minha quantia. Caso contrário, eu não iria viajar. Cruel, talvez, mas necessário. Eu tinha que mostrar que, naquela relação, deveria existir equidade entre as partes.

Comprei um novo calção de banho, protetor solar, algumas roupas novas. As malas estavam prontas três dias antes da viagem. Um pouco exagerado talvez, mas, como eu disse, o melhor é ter tudo antecipado. Cancelei minha presença em alguns compromissos já marcados em certos dias das férias. Eu não iria trocar férias com meu namorado por algumas festas e reuniões.

Tudo parecia bastante planejado. Nada poderia dar errado. Seriam dez dias maravilhosos com um cara super gato num resort litorâneo de alta classe.

O problema é que existem casualidades, e estas são vilãs da ciência. Coisas não esperadas, que se manifestam aleatoriamente. Pequenos tumores no corpo aparentemente impecável de um experimento. Porém, até mesmo pequenos tumores podem se tornar grandes problemas.

E o que é que poderia dar errado naquela viagem? Qualquer erro seria mera coincidência.

A maldita coincidência...

-Continua-

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Comentários

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Fantástico, tomara que nada dê errado ao casal, espero também que o Aquiles crie vergonha na cara e procure outra coisa pra fazer do que ficar te atormentando, e se acerte com o Apollo.

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Espero que a coincidência seja encontrar com o Apolo, este sim saberá lidar com suas resistências. Torço por ele eternamente.

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ahhh que bom que voltou, amo teu conto, teu jeito de narrar é unico, parabéns :3 continua logo! u.u

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Pasmem, você voltou! Estava com saudades dessa história e realmente espero que o Apolo esteja na Bahia também, haha. Nota dez para você! Abraço.

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Cara que bom que voltasse. O conto continua perfeito.

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