A Casa do Sol Nascente - 02

Um conto erótico de O Corvo
Categoria: Homossexual
Contém 1530 palavras
Data: 24/12/2013 19:02:51
Última revisão: 26/06/2014 19:08:07
Assuntos: Drogas, Gay, Homossexual

A Casa do Sol Nascente – 02

- O que fizeram com você? – uma mão tocou gentilmente seu ombro.

Nico se soltou do balcão e abraçou o outro rapaz, derramando o resto de sua alma quebrada.

Rafael apenas retribuiu o abraço se sentindo totalmente impotente. Tinha assistido a metamorfose de Nico desde quando ele chegou na Casa.

Se lembrava vagamente do dia em que foi junto com sua mãe Nazaré em São Paulo no Brasil, não se recordava muito dos detalhes – afinal era uma criança também – mas o que não duvidava era que se simpatizava com o outro menino desde que passou pela porta da humilde casa e o viu no canto, com o olhar baixo e assustado.

Nico havia mudado muito durante os anos, deixou de ser um menino franzino e adquiriu corpo de homem. A única coisa que sempre manteve desde a infância foram seus longos cabelos cacheados, caracóis negros como o breu contrastando com sua pele branca aveludada.

Não houve palavras, apenas o grito do silêncio. Rafael quebrou o abraço e apoiou o corpo de Nico em seus ombros o levando até seu quarto.

O caminhar trôpego e encurvado dele fazia Rafael sentir mais aperto no coração, definitivamente se importava. A amizade, a cumplicidade e o afeto entre os dois era invisível como o ar, mas palpável como uma rocha concreta.

Ao abrir a porta do seu quarto – que ficava no andar superior – com os pés, Rafael o deitou em sua cama, sem pressa. Fechou a porta do quarto e se deitou ao seu lado.

- Está tudo bem agora, meu anjo. Durma em paz que eu não vou deixar ninguém te machucar. Em breve nós vamos embora daqui. – e então depositou um beijo quente e fraterno em sua bochecha fazendo Nico se perder em seus sonhos.

Nova Orleans – 17 de Dezembro de 1994

A Casa sempre abria as portas e mostrava sua verdadeira face de bordel aos fins de semana. Nudez, sexo sem proteção, bebida, música alta e drogas eram apenas um aperitivo do que podia se encontrar ali.

- Nico, tem H aí? – perguntou George, outro prostituto da Casa, diferentemente de Nico, ele entrou na vida porque quis e precisava sustentar seu vício.

- Hum? - não havia escutado. Estava agachado repondo as bebidas já que estava trabalhando de barman esse dia.

- H, brother. Heroína. Tem aí ou não meu? – Sua pupila estava dilatada e suas mãos tremendo. O suor frio escorria junto com sua impaciência.

- Você sabe que não uso essas coisas – sabia em seu âmago que se usasse perderia o resto de humanidade que lhe restava. Sabia que não precisava de mais uma merda para estragar sua vida – ou o que sobrou dela.

Um “mané” saiu da boca de George antes dele sair dali. Precisava urgentemente satisfazer sua necessidade. Havia mais de 20h que não usava nada. Sua abstinência berrava por mais. E faria qualquer coisa para solucionar isso.

- Tá afim de uma chupetinha, gostoso? – passava a mão pelo tórax de um cliente, que por sua vez afastou as mãos nervosas do viciado, fez cara de nojo e saiu dali.

- Broxa – disse enquanto fitava sua próxima vítima.

O “alvo” era um careca mexicano, com tatuagens pelos braços e mãos. Sua regata branca mostrava o corpo malhado e cicatrizado pelos anos na prisão federal.

O careca acena com a cabeça para o banheiro da Casa. George o segue de maneira animada, finalmente teria seu momento de felicidade, mesmo que o preço disso fosse sexo.

George abriu a porta de uma cabine e o mexicano já estava com as calças pelo joelho e a cueca pela metade da coxa. Masturbava seu pênis com veias salientes de maneira provocativa e lenta.

- Chupa. – foi ouvido do homem. George se ajoelhou ali mesmo, sem se importar com o chão sujo de urina e pegadas. Colocou a boca no órgão engolindo de vez, afinal queria terminar isso logo. A iluminação era escassa, as poucas luzes que tinha estavam piscando. Mal contato. A Casa era velha, o que ajudava. A boca de George já babava pelos cantos de tanta saliva que ele estava produzindo. O boquete estava realmente molhado e macio. Portas rangiam, gemidos eram ouvidos. Não é novidade para ninguém que os banheiros são ótimos lugares para uma foda rápida e sem compromisso. Entravam e saiam pessoas que não estavam nem aí para a higiene e nem preocupados em pegarem doenças. Só queriam gozar e voltar para a vida patética de sempre. Eles buscavam a felicidade mesmo que ela fosse paga e momentânea.

As estocadas violentas do mexicano na garganta de George estava fazendo ele ter pequenas ânsias de vômito. Ele nem se importava, o único prazer que ele sentia era de saber que em breve seria só ele e uma seringa de heroína.

O mexicano tirou o pau da boca de George e gozou no chão. Fechou o zíper e o botão da calça e já ia saindo.

- Ei! Você não pode me dar um pacotinho de H não?

- Não te prometi nada, moleque. – O homem sequer olhava em seus olhos.

- Ah, vai. Por favor. Como um pagamento. – O tremor aumentava, o desespero de viciado o estava dominando.

- Te dou só se você beber a minha porra aí no chão.

Ele olhou para o sêmen flutuando sobre a poça de mijo de sei lá quantos caras que tinham usado aquela cabine. A vontade de se drogar era tanta que não pensou nem duas vezes, tornou-se a ajoelhar e sugou o sêmen contido naquele chão com boa parte de urina, apesar de engasgar conseguiu beber todo o leite.

O mexicano via aquilo e ria descaradamente. Com seu pé empurrou o drogado que bateu de costas na parede e caiu sentado.

- Esses viciadinhos. Fazem qualquer merda por droga.

George não se moveu, continuou parado ali, abraçando as pernas, tremendo e olhando para o nada. O outro continuou a ri e pegou um papelote com um pó do bolço e jogou no chão, saindo. Imediatamente, e com muito desespero, George pegou o pacotinho entre a urina. Pôs a mão no seu bolso e tirou um garrote, uma colher. Pôs a mão no outro bolso e dele tirou um isqueiro e uma seringa usada. Derreteu o pó e colocou o líquido na seringa. Amarrou o garrote no braço apertando bem forte, dando vários tapas para as veias salientarem. Quando viu que estava bom, aplicou a seringa com seu líquido. Estava tão feliz que nem se incomodou de tirar a agulha da veia. Seu braço havia muitos furos. Tantos que parte do seu braço estava necrosado. É claro que ele não deixava ninguém ver, mas o mau cheiro sempre levantou suspeitas. Para Nazaré enquanto ele lucrava dinheiro para ela, pouco se importava se iria morrer ou não. George encostou sua cabeça e abriu um leve sorriso. Finalmente a sensação de bem estar dominou seu corpo.

Nico estava secando o último copo quando viu as portas da Casa se fecharem.

- Dia puxado hoje. – Falou Rafael.

- Nem me fale. – Nico deu um sorriso.

- Vem cá.

Ele colocou o copo na bancada quando foi puxado pelo braço, de forma carinhosa e escondida. Rafael não queria que ninguém atrapalhasse agora. A madrugada lá fora estava linda, e foi para lá que Rafael o levou.

Os dois encararam o cosmo e admiraram sua beleza. O silêncio se fixou por alguns minutos.

- O que você está pensando? – Perguntou Nico.

Rafael pareceu tomar fôlego, como se juntasse as palavras.

- Eu sinto ciúmes de você. – Ele disse com a voz baixa e rouca.

Nico se surpreendeu com a confissão, mas no fundo sabia exatamente o que ele estava sentindo. Afinal, ele também sentia.

- Como? – Ele precisava ter certeza de que era o que estava pensando.

- Desde quando éramos crianças, eu olho para você de maneira diferente e eu não suporto que outra pessoa que não seja eu lhe toque. Eu já falei inúmeras vezes com minha mãe para tirar você dos encontros. Eu pedi tanto para ela te dar qualquer outra função, mas ela...

Nico interrompeu Rafael lhe dando um beijo. O beijo começou voraz, com vontade, fome e sede como o beijo de dois dominadores. A vontade quebrava todos os pensamentos inoportunos e faziam os dois se sentirem vivos. Pela primeira vez em muito tempo, Nico e Rafael tinham uma razão para viver e alguém para cuidar. Eles sabiam que a partir de hoje os dois não eram mais só amigos, o que os faziam realmente felizes.

O desespero do beijo foi se acalmando, deixou de ser algo sufocador para ser algo terno e romântico. Um queria gravar o sabor do outro sem pressa e aproveitar o restante da noite, mesmo que aquele felizes para sempre durasse pouco tempo.

O beijo foi quebrado quando um grito medonho esguichou pelas paredes da Casa fazendo o novo casal correr para ver o que era. O grito continuava mais forte. Nico sabia que algo sombrio tinha acontecido e confirmou seu pressentimento quando entrou no banheiro e viu Nazaré e alguns funcionários parados em frente a uma cabine.

Nico viu George sentado lá dentro, no chão sujo com uma seringa enfincada no braço, com a boca semiaberta e o olhar vazio.

Nico ficou petrificado quando percebeu que George estava morto.

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Comentários

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Uau, excelente história e a escrita está impecável, sem contar que os detalhes são tão ricos e bem colocados que consegui imaginar a cena sem problemas. Tens um novo leitor =)

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O conto tá perfeito, sombrio e mexe com nosso coração

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Sombrio, mas muito bom. Nico e Rafael são fofos.

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Amor vc veio com forca total em? Parabens o conto esta otimo e eu realmente gamei no Nico e no Rafael... Bjs meu amor feliz natal e um ano novo cheio de paz e felicidade pra vc.TE AMOOO MEU FILHOTEEEE!!!!!

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Tragico...espantado...esperando pelo proximo...bjs

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