Segunda-feira de manhã cedo foi uma correria naquele quarto. Acordamos extremamente atrasadas porque a anta da Amanda simplesmente desligou o alarme quando ele tocou pela terceira vez. Corremos as duas para debaixo do chuveiro, ela ainda tentou me bolinar, mas o máximo que conseguiu foi um beijo rápido. Nos arrumamos em cerca de 20 minutos, o que deixou ela com um mau humor absurdo levando em conta que Amanda é toda fresca e gasta ao menos 30 minutos só com a maquiagem, mas estávamos atrasadas e eu não deixei ela passar mais do que um gloss, nem meu achocolatado eu tomei. Sua cara de enterro durante todo o caminho era a melhor, até hoje me lembro e dou rizada disso. Como se não fosse o bastante, pegamos um engarrafamento desgraçado e levamos mais de uma hora para chegar na escola. Assim que passamos pelo portão, o pátio estava um deserto já que os alunos que não se atrasaram estavam em suas salas. Estávamos caminhando em direção a nossa sala, a aula seria de Lúcifer e muito provavelmente ela não me deixaria entrar, se deixasse, com certeza não seria antes de infernizar um pouco minha vida, era seu hobby preferido. Quando chegamos ao nosso andar escuto passos correndo apressados em nossa direção e quando me viro dou de cara com Fabiana, uma aluna do terceiro ano que veio falar comigo.
- Hey, Manu ta te procurando. (Fabiana)
- Manu me procurando? Pra que? (Eu)
- Eu não sei, ela me perguntou se eu tinha te visto, disse que precisava falar contigo e pediu pra eu te avisar. (Fabiana)
- Porque ela não me ligou então? E porque ela mandou justamente você me dar o recado? (Eu)
- Olha aqui garota, eu não sei ok? Estou fazendo um favor pra ela. Ela está nos fundos da quadra organizando uns materiais para o treino de mais tarde. (Fabiana)
- Eita lele, educação mandou lembranças heim? (Eu)
- Porque eu seria educada com uma pessoa que não me suporta? (Fabiana)
- E porque será que não te suporto? Enfim, já estou indo. Amanda, te encontro depois tá? (Eu)
- Ta bom, se cuida. (Amanda)
Sai em direção a quadra, o que será que Manu queria comigo aquela hora da manhã? Porque ela não me ligou? O que seria de tão importante assim que não poderia ser dito no treino daquela segunda? E porque ela mandou justamente aquela garota para dar o recado quando ela sabia que eu não ia com a cara dela? Alguma coisa estava estranha, mas não pensei muito naquilo, apenas fui ao seu encontro. Ao chegar nos fundos da quadra me deparei com quatro meninas mal encaradas que nunca tinha visto na vida, diga-se de passagem. O que elas estavam fazendo ali?
- Oi, vocês viram a Manu por aqui? Me disseram que ela estava me procurando.
- VAI, VAI...
De repente uma das quatro meninas, a que estava mais próxima me dá um mata leão {nota: é um golpe de estrangulamento usado nas artes marciais japonesas, realizada pelas costas do oponente}. Enquanto eu tentava a todo custo sair daquela posição extremamente incomoda, uma segunda garota socou bem na boca do meu estomago fazendo com que eu perdesse todas as minhas forças e o ar faltasse. Enquanto as duas meninas me baixavam a porrada, as outras duas apenas vigiavam para que não fossem surpreendidas por alguém. Foi quando perceberam que minha crise de asma tinha atacado devido a um dos muitos murros que levei na barriga. Uma delas correu até minha mochila para pegar minha bombinha, enfiando em minha boca logo em seguida apertando três vezes. Enfim minha respiração voltou ao normal, mas todo o meu corpo doía, parecia mais que eu tinha levado uma surra. Quer dizer, eu levei uma surra né? dãã.
- Porque vocês estão fazendo isso comigo? Quem são vocês? (Eu) - "falei choramigando, quase sem ar"
- Quem nós somos não interessa, já fizemos o que tínhamos que fazer. Cade o seu celular? (Garota) - "falou a garota que parecia ser a líder da gang"
- Além de me espancarem vão me roubar agora também? (Eu)
- Não sua idiota, vamos ligar pra alguém vim te encontrar aqui. Quem nos mandou aqui pouco se importa com você, nós também não nos importamos, mas não vamos te largar assim aqui, não somos tão ruins como parece. (Garota)
Pegaram meu celular no bolso da minha calça e enviaram um sms justamente pra quem? Acertou quem pensou em Fernanda. Descobri isso assim que ela chegou poucos minutos depois. Com uma agenda repleta de números elas tinham que avisar justamente Fernanda? Será que poderia ficar pior? Sim, poderia. Com todo cuidado do mundo Fernanda me ajudou a levantar do chão, pegou um dos meus braços e jogou por cima dos seus ombros e foi praticamente me arrastando até a enfermaria. Porque poderia ficar pior? Porque isso aconteceu faltando poucos minutos para tocar o sinal do intervalo. Teríamos que passar pelo pátio para chegarmos a enfermaria que ficava do outro lado da escola. Assim que saímos da quadra o pátio lotou de gente curiosa que não tinha o que fazer e só estavam atrapalhando nossa passagem, logo senti meu outro braço ser jogado por cima de novos ombros, quando olhei pro lado e vi que era Amanda surgiu um certo alivio em mim, eu sabia que se dependesse dela eu nunca estaria sozinha.
- O que você fez com ela sua rapariga? (Amanda)
- Eu não fiz nada, a encontrei assim. (Fernanda)
- Que coincidência, logo você encontra-la assim, não? (Amanda)
- Alguém mandou um sms do celular dela para meu celular avisando que ela estava machucada nos fundos da quadra. Eu estava assistindo aula, sai correndo, nem pedi autorização para sair da sala. Quando a encontrei ela realmente estava lá toda machucada, então decidi leva-la a enfermaria, foi quando você apareceu. (Fernanda)
- Ta, vamos mais rápido então. (Amanda)
Chegamos a enfermaria e dona Marta (enfermeira) logo tratou de me examinar enquanto perguntava o que tinha acontecido, então Fernanda repetiu tudo que ela tinha dito para Amanda, mas não soube explicar como aquilo tinha acontecido, foi quando Amanda se pronunciou.
- Eu acho que sei quem pode ter feito isso com a Dani. (Amanda)
- Quem? (Marta e Fernanda)
- Eu acho que pode ter sido o Pedro. (Amanda)
- Isso é uma acusação séria Amanda, você tem como provar? (Marta)
- Na verdade não, mas tem uns dias que eles dois discutiram feio e acabaram saindo no tapa e o maior prejudicado foi o Pedro, então, daquele dia em diante ele meio que vem ameaçando a Dani, dizendo que não ia deixar barato. (Amanda)
- Alguém pode confirmar essa história? (Marta)
- Sim, a Fernanda pode não é mesmo? (Amanda)
- Nunca achei que ele realmente faria uma coisa dessas. (Fernanda)
- Chamem a Magali (diretora) agora mesmo. (Marta)
- Dona Marta? (Amanda)
- Sim, Amanda? (Marta)
- Tem uma outra pessoa que acho que pode esclarecer algumas coisas. (Amanda)
- Quem? (Marta)
- A Fabiana, aquela aluna do terceiro ano que mata e morre pelo Pedro. Quando estávamos entrando na sala de aula ela correu até nós dizendo que Manu estava procurando ela para falar algo sobre os treinos de hoje a tarde.
