Abrigo 4

Um conto erótico de Christian
Categoria: Homossexual
Contém 2212 palavras
Data: 27/11/2013 22:38:40

Capitulo 4

Acordei ao som do despertador do meu celular, com um sorriso no rosto. Quase automaticamente levei a minha mão até o local onde os lábios de Li fizeram contato com a minha pele, quase podia sentir novamente a textura macia e a calidez daqueles lábios. Sentei na cama e me espreguicei, minha noite de sono foi ótima, nenhum musculo estava gritando em protesto, o melhor sonífero para mim: Li. Hoje era sábado, me lembrei assim que olhei para o relógio, meu sorriso cresceu ainda mais. Eu estava de folga do primeiro e do segundo trabalho. Um milagre ou apenas uma coincidência bem sortuda. Relaxei ainda mais na cama e quase instantaneamente cai no sono. Acordei novamente ao som de panela batendo na mesa, apenas abri os olhos e virei a cabeça na direção da cozinha. E lá estavam os meus três irmãos, Pedro, Caio e Larissa. Os garotos apenas de cueca e a garota de calcinha e sutiã. Larissa veio saltitando para a minha cama assim que ela soube que eu estava acordado, abri um sorriso assim que ela se sentou perto de mim.

- Chris, eu estou com fome - Ela recostou sua cabeça na minha barriga e seus longos cabelos loiros formaram um halo em torno dela. Caio e Pedro vieram e se sentaram na minha cama também, a pobre coitada gemeu em protesto - Esses dois palermas não sabem fazer nada.

- Você que é a garota - Caio falou, ele e Pedro eram idênticos, mas eu sabia diferenciar um do outro. Pedro tem o cabelo loiro com mechas champanhe e as mechas de Caio eram mais douradas. As pessoas acham que nós pintamos os nossos cabelos, mas não, as minhas mechas naturais são quase grisalhas e a de Larissa eram mechas de coloração entre amarelo e o castanho. Resumindo: Nossos cabelos são naturais - Você deveria saber cozinhar.

- Vai a merda, Caio - Larissa falou, depois olhou para mim com os olhos brilhando - Chris, Chris, Chris - Cantarolou - Quem era aquele cara que estava aqui ontem?

- Um amigo meu.

- Amigo? - Pedro levantou uma sobrancelha, eu contei para eles que era gay quando ele fizeram quinze anos e eu dezenove. Eles apenas escutaram estupefatos e depois não falaram mais nada - Ele é bonito, Chris.

- Mas, é meu amigo - Respondi, agora Caio e Pedro estava deitados na cama também, as pessoas poderiam chamar meus irmãos de aproveitadores, mas eu sabia que não era verdade. Eles eram apenas como todos adolescentes normais. Tinham vergonha dos pais. Eles se levantaram e eu fui logo atrás deles, me certificando que o calção estivesse cobrindo a minha tatuagem. Primeiro fui para o banheiro e escovei meus dentes, lavei meu rosto e voltei para a cozinha. Preparei café, pedi para Caio comprar pão e frutas, ele foi, mas foi resmungando. Quando ele voltou apenas colocou tudo sobre a mesa e começamos a comer. Eu lavei a louça e eles foram para a sala assistir Tv. Depois de tudo estar arrumado eu também fui para sala, peguei minhas apostilas e cadernos do curso de direito e me sentei no chão, espalhei tudo por ali mesmo e começei a estudar. Só levantei a cabeça novamente quando Larissa chamou meu nome e disse que meu celular estava tocando. Me levantei e escutei minhas articulações estralarem.

Li. Ele estava me ligando, atendi num átimo e coloquei o telefone no ouvido. Me joguei na cama com um sorriso abobalhado no rosto e começei a falar.

- Oi.

- Oi? - Perguntou - Eu lingando para saber se você ainda estava vivo e você me responde com um oi?

- E qual é do "saber se eu estava vivo"? - Perguntei, tentando segurar o riso, mas falhando miseravelmente.

- É assim que você me trata? - Ele falou indignado, mas dava para senti o alivio na voz dele - Eu morrendo de preocupação e você rir na minha cara?

- Para de drama, Li - Falei ainda rindo, Li conseguia me fazer rir como ninguém. Apesar de eu achar minha risada super grosseira e deslocada, mas ele conseguia. Sempre - Você vai me dizer o por que desse seu quase ataque cardíaco.

- Você não tem coração, Chris - Respondeu, ouvi ele fungar do outro lado da linha e rir ainda mais, segundos depois ele me acompanhou, parei a minha e escutei a dele, baixa e grave, mas não grave igual a minha, um timbre grave que ecoava do fundo da garganta. Lindo - Seu coração deve ser de pedra, não! Espera! Seus irmãos são os únicos que podem ocupar esse órgão vital.

- Li fala o que você quer - Minha crise de risos já tinha acabado e falei no meu tom de voz normal: baixo e rouco, mas dessa vez Li gemeu do outro lado da linha. O que? Arregalei os olhos quando meu cérebro colocou uma ideia totalmente maluca em ação: Ele estava com alguém? - Li, você esta bem?

- Mas do que bem - Ele respondeu, tentei apurar ainda mais minha audição para poder ouvir algo do outro lado da linha, mas não escutei nada, a não ser que estática conte - Mas o que eu queria te perguntar mesmo era se você quer sair comigo?

- Claro - Dessa vez não houve hesitação no meu tom de voz, foi clara e forte, mesmo o meu tom de voz ser rouco.

- Eu estarei ai em uma hora - E desligou.

Tirei o celular do ouvido, dei um suspiro e deixei a minha cabeça ir em encontro ao travesseiro. Olhei para a tela do meu celular e vi o ícone de mensagem piscando. Toquei e abriu na pasta de mensagem não lidas. Cinco mensagem e todas elas de uma pessoa, Li tinha me mandado varias e em horários diferentes. A primeira foi 30 minutos depois de ele ter saído daqui de casa.

"JÁ DORMIU, SE SIM: ESQUEÇA ESSA MENSAGEM. SE NÃO: POR FAVOR, ME RESPONDA"

A outra era um pouco mais tarde, três e meia da manha para ser mais exato.

" ESPERO QUE VOCE ESTEJA DORMINDO BEM. POR QUE EU SÓ ESTOU OLHANDO PARA O TETO COM OS OLHOS VIDRADOS"

Tinha mais uma, essa era de seis e quarenta e cinco da manhã de hoje.

" EU ACHO QUE PERDI MEUS OLHOS, NÃO CONSIGO ACHA-LOS. MEUS OLHOS SUMIRAM. ME AJUDA"

E mais uma, essa era de sete e treze.

" EU ESTOU ME SEGURANDO PARA NÃO IR NA SUA CASA, VOCE NÃO ME REPONDEU NA MENSAGEM ANTERIOR. CHRIS?"

E a ultima, essa foi segundos antes de ele me ligar.

" ESSA É A MINHA ULTIMA TENTATIVA, SE PREPARE PARA ME VER APENAS DE CUECA, POR QUE É DESSE JEITO QUE EU VOU SAIR DE CASA. ME RESPONDE CHRIS."

Sorri lendo as mensagens, Li fez uma tempestade num copo d'agua. Me levantei da cama e voltei para o meu local de estudo, quando passei meus irmãos fixaram os olhos em mim e depois olharam novamente para a Tv. Juntei tudo do chão e levei até a minha cama, jogando tudo ali em cima. Mais tarde eu arrumo. Peguei uma calça que não estava tão surrada e uma camisa branca que era pregada na cintura, fazendo-a ficar acentuada. Uma cueca e fui para o banheiro. Acho que tomei o banho mais demorado da minha vida. Quando eu sai já estava arrumado, fiquei temeroso a respeito da minha calça, ele estava um pouquinho apertada e a camisa marcava demais a minha cintura. Eu estava cheio de curva e isso era estranho para mim, faz bastante tempo que eu não me sentia desse jeito. Meus cabelos não tinham como ser penteados, apenas joguei eles para trás, sabendo que eles retornariam para tapar os meus olhos daqui a pouco. Me sentei no sofá e esperei.

Esperei, esperei e esperei. O filme que meus irmãos estavam assistindo já tinha terminado e já estavam na metade do segundo. Estava preocupado, já fazia 45 minutos desde que Li tinha me ligado, será que ele morava tão longe? Tentei me lembrar onde ele morava, Li tinha me contado uma vez, mas suspirei derrotado quando não consegui lembrar nada. Meu celular tocou e era ele. Atendi no segundo toque.

- Vem aqui fora - Me assustei com o tom de voz de Li, estava totalmente morto, desprovido de qualquer alegria. Era a mesma voz com que eu falei dias depois da morte dos meus pais. Dor, a mais pura dor, sem diluição de nada. Me levantei num pulo e corri para a saída, - Tem comida na geladeira - gritei por cima do ombro para os meus irmãos, abri a porta e vi o carro dele parado ali na frente. Desliguei o celular e corri até lá. Dei a volta e entrei e me sentei no banco do carona, ele deu a partida assim que eu fechei a porta. Olhar para o seu rosto era pior do que ouvi a sua voz. Ali a dor estava concentrada - Li? O que houve?

Mas ele não me respondeu, apenas continuou dirigindo. Minha garganta estava inchada e dolorida, mas não era doença física e sim doença emocional. Meu coração batia mais rápido, mais furiosamente do que assas de um beija-flor. Os nós dos seus dedos estavam brancos, vi seu maxilar travado, tremendo de tensão e aquilo estava me matando. Mas mesmo assim não perguntei nada e ele ficou calado. Seguimos todo o caminho naquele horrível silencio inquietante. O que foi que aconteceu com Li? Cadê o meu sorriso preferido? Nem notei quando o carro ficou parado por uns segundos depois entrou em uma garagem, também não notei quando ele saiu do carro e nem quando eu sai. Estava me sentindo mal por não saber o que Li tinha. Ele pegou na minha mão e eu senti a sua palma gelada e escorregadia e isso foi motivo para o meu medo atingiu o ápice. Nem reparei direito na casa, apenas detalhes mínimos, moveis de aparências cara e luxuosas, peças de aço inox e vidro e muito cristal.

Ele ainda estava segurando a minha mão. Subimos uma escada em espiral que tinha degraus de mármore e corrimão de aço. Passamos por um corredor de piso escuro e parede em tons um poucos mais claras do que o chão. Passamos por três portas, eu contei, e entramos na quarta. Era o quarto dele, em tons de cinza e branco. Sua cama era enorme, cinco camas minha amaradas juntas, as cobertas cinzas e as folhas dos travesseiros brancas. Ele me puxou até nós dois estarmos sentados na cama, senti a textura macia das cobertas, mas não liguei estava preocupado com Li. Ele me olhava, desolado, ainda segurando minha mão, não falei nada, não queria pressionar ele a nada.

- Minha irmã teve uma recaída - No começo não entendi, mas em um estalo de memoria me lembrei de uma conversa que nós tivemos em um trabalho do meu curso de direito logo nos primeiros meses. Reconhecer uma pessoa apenas com poucas informações. "Qual é o seu maior medo?" perguntei e ele respondeu com uma única palavra " Câncer". Não sei como foi que eu cheguei a essa conclusão, mas chequei. A irmão teve câncer, curou e agora voltou novamente - Nós pensávamos que ela estava bem, ontem levamos ela para a pizzaria e ela não demonstrou nada. Mas hoje ela estava horrível, ainda consigo escuta os gritos dela.

- Li, sinto muito - E eu sentia mesmo, afinal, eu sabia como era sentir essa dor e tinha três irmãos com quem me preocupar. Nem vi a garota direito na pizzaria, apenas os olhos - Ela teve câncer de que?

- Fígado - Respondeu e me surpreendendo ele arfou, um som pesado e quebradiço. Vi o seu auto controle ruir, ele estava preste a cair no choro. Não sei no que foi que eu pensei quando rastejei e me sentei no seu colo, quase instantaneamente e me abraçou, afundou seu rosto no meu ombro e chorou. Fiquei massageando sua costa, traçando círculos naquela área. Ele arquejava, suspirava, gemia e soluçava com a mais pura dor e medo. Principalmente o segundo, em meio a soluços ele conseguiu falar - Não quero dormir sozinho.

- E não vai - Levantei a sua cabeça do meu ombro e encarei seu rosto inchado e marcado de lagrimas, apoiei minha testa na dele e senti a ponta do meu nariz tocar a ponta do dele. Levei minhas mãos até o seu rosto e começei a limpa-las.

- Meus pais não vem dormir aqui hoje - Falou - Vão ficar no hospital. Não quero dormir sozinho.

- Não vai, não vai - Repeti - Eu vou dormir com você.

Ele me apertou mais e chorei vendo ele chorar.

********

Sentia o peito dele subir e descer constantemente, no ritmo de uma pessoa adormecida. Vi os últimos raios do sol sumir do horizonte e segundos depois o quarto ficar na completo escuro. Passamos a dia inteiro no quarto, me levantei apenas para pegar comida e aproveitei para ir ao banheiro. Agora ele estava dormindo, cansado demais emocionalmente. Ele estava com os braços ao redor da minha cintura e suas pernas estavam entrelaçadas. Ele não me soltou um segundo sequer depois que dormiu. Olhei para o rosto dele, que mesmo na escuridão conseguia ver, e passei meus dedos levemente pela a sua face inchada. Nossa amizade cresceu e expandiu, como um elástico, criando um novo sentindo da palavra amizade. Ele me deixou o ver em um momento de fraqueza e eu abri meu coração para ele.

Meus irmãos podiam reinar sobre esse órgão, mas Li estava ganhando espaço.

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Comentários

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Tudo comecei a ler agora e ja estou amando

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Narrativa boa, mas muito dramática e sem erotismo, que é algo obrigatório para um site de contos eróticos

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Seu conto é nada mais nada menos do que sensacional!

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Senti como se estivesse lá vendo tudo acontecer! A riqueza de detalhes que você escreve é impecável. Conto triste e romântico na medida certa!

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Toh amando seu conto:-*:-*:-*

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Toh amando seu conto:-*:-*:-*

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Que bom que você esta se dando uma chance, torço pra seres feliz.

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Nossa Santo Li pra fazer ele ver q os ingratos não são tudo! Coitada da irmã dele.

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Chris meu querido, vc está de parabéns, pela história de vida, pela responsabilidade com a qual vc vem cuidando dos teus irmãos embora não tenham reconhecido isso ainda, pelos contos que estão simplesmente perfeitos, cada um mais sensacional e emocionante que o outro. E principalmente pela única, sincera e verdadeira amizade que é a do Li, que mais do que um amigo pode-se arriscar dizer que foi um anjo que veio para de alguma forma mudar a sua vida. Espero sinceramente que tudo dê certo para todos vocês, um forte e carinhoso abraço! ^^

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Cara apaixonado pelo seu conto historia incrível adorando continue

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Concordo com o amigo Thiago Silva ... Cada capítulo fica mais perfeito !! Cara não tenho palavras pra te dizer o quanto teu conto é bom ou melhor (ótimo) . Parabéns ^^

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