Me Chifre!

Um conto erótico de Fauno
Categoria: Sadomasoquismo
Contém 9985 palavras
Data: 23/11/2013 18:00:44
Última revisão: 01/02/2017 17:17:54

N. do A.: Por alguns problemas técnicos, escolhi publicar de uma vez os 3 capítulos desse conto. Sei que o tamanho desanima, mas o leitor pode pensar cada capítulo como publicado em separado. Espero que a profundidade psicológica que tentei dar à história faça valer a dedicação. Obrigado pela atenção e tenha uma boa leitura.

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I — SEMEADURA

Conheci Roberta, ou Beta, no sexto período de Comunicação Visual da federal, meses depois do fim de um namoro de um ano. É verdade que demorei um tanto a reparar naquela figura sorrateira que parecia se esgueirar para dentro e fora das aulas de Direito do Autor, cadeira sem pré-requisitos, comum a veteranos e calouros; só na terceira ou quarta semana foi que me chamou a atenção, justamente por esse jeito arredio. Minhas primeiras tentativas de aproximação só confirmaram minha previsão de que aquilo não seria nada fácil: ela desviava o olhar do meu, cortava minhas conversas com respostas monossilábicas, franzia a testa para meus elogios, sentava-se sempre a pelo menos duas fileiras de distância. De família interiorana e religiosa, fora criada na rédea curta para só fazer sexo em troca de um anel de noivado ou pelo menos uma promessa de namoro firme, como a maioria das garotas da sua cidade natal, casadas praticamente à força para não correrem o risco de 'se perder'. Pequena, sonhadora, recatada e sem vontade própria. Enviada para obedecer e satisfazer. Durante os três anos que passamos juntos, não havia o que não fizesse para me agradar, desesperando-se a tal ponto quando eu recusava algum cuidado que chegava a dar pena.

O primeiro ano de namoro foi quase sem sexo. Masturbação no máximo, oral nunca e penetração nem pensar. Eu estacionava o carro em algum lugar reservado e ela me punhetava até eu esporrar na sua mãozinha delicada. Às vezes tentava retribuir o favor com uma massagem suave no grelo, embora ela não demonstrasse se importar muito com isso. Seu prazer parecia se resumir ao meu gozo. Só no segundo ano, de casamento marcado, foi que trepamos pela primeira vez na casa dos meus pais, então vazia por ocasião de um feriado prolongado. Já na intimidade daquela fase de nos esfregarmos seminus na cama, amassei seus seios um contra o outro e juntei os bicos na boca. Ela pediu para arranhar com os dentes, o que sem querer fiz com pressão demais, provocando um ‘ai’. Me desculpei, mas ela pediu para fazer de novo e obedeci. Belisquei os biquinhos com as pontas das unhas, apertei, torci, puxei. Deitado meio de lado, mordisquei os peitinhos com força suficiente para deixar marcas leves enquanto ela gemia e tentava alcançar a cabeça do meu pau babado já saindo pelo elástico da cueca. Quando conseguiu, puxou para fora e apontou bem para o meio das coxas.

"Tem certeza?" perguntei por desencargo de consciência, intimamente torcendo para que não resolvesse desistir logo ali.

Ela sorriu e me puxou pelo pau até a cabeça roçar nos pentelhos melados. Meu tesão e ansiedade pela perda do cabaço eram tão grandes que acabei entrando de uma vez. Algo cedeu no caminho e ela se retesou com um grito alto que me fez recuar olhando meu caralho estourando de duro, lambuzado por uma mistura de sucos com traços de vermelho. "Quer que pare?"

"Não. Vem."

Empurrei só a cabeça e comecei a mexer devagar, vigiando seus olhos arregalados e estáticos de desconforto. O bom senso mandava parar de novo. "Está doendo."

"Um pouco... Mas eu gosto...” sussurrou sem me olhar. Um segundo depois, como se tomasse coragem, me encarou e disse um pouco mais alto: "Faz com força".

Confesso que ouvir aquilo me deu tesão. Se a ideia que ela tinha da nossa primeira vez era sexo bruto, eu não ia desperdiçar a oportunidade. Tirei tudo e meti de um golpe só, atento à força com que cerrou os olhos e os dentes. Quase chorou, mas fez o pedido que eu queria ouvir: 'Mais forte'. Segurei seus pulsos para cima e entrei com violência, ainda mais fundo, para rebentar de vez aquele cabaço. Um gemido abafado escapou da sua garganta e sua mão se soltou para me puxar pela cintura, ditando um vaivém tão rápido e intenso que tudo durou menos de cinco minutos. Quando acabou, meu pau pingava sangue.

Nos casamos numa cerimônia modesta e fomos morar num apartamento próprio, presente dos meus avós. Eu tinha sete períodos incompletos na federal e um estágio com boas chances de efetivação; não demoraria muito a ganhar o suficiente para andarmos pelas nossas próprias pernas se Beta ajudasse cozinhando para fora. Nossa vida sexual seguia quase dentro da normalidade, com exceção das brincadeiras ocasionais de arranhar, prender e provocar dor. Às vezes ela atiçava nós dois reclamando com jeitinho magoado assim que eu começava a meter: 'Ai, amor, está doendo. Ai, ai, está doendo'. Eu disse a mim mesmo que aquilo apimentava a relação e que eu não era nenhum desgraçado que se divertia com o sofrimento alheio; só entrava no jogo, sempre respeitando seus limites, que até então tinham variado dentro do razoável. Nós saberíamos se passássemos da conta.

Uma noite, logo depois do jantar, encontrei-a sentada na beira da cama, mãos plantadas no colchão, olhar baixo.

"Tudo bem?" perguntei da porta.

"Eu não devia ter comido sobremesa. Estou me sentindo tão culpada."

"Por causa de um bombom?"

Ela se limitou a baixar a cabeça em silêncio, como se aquilo fosse algum tipo de crime inconfessável. Me sentei do seu lado, abracei-a e por alguns minutos fiquei fazendo carinho nos seus cabelos. O perfume floral e o calor do seu corpo não demoraram a me deixar de pau duro e ansioso para descer pela sua nuca, ombros e costas. Enfiei os dedos na calcinha e já dedilhava o rego quando ela guiou minha mão para a buceta. Meti o médio até o nó e mexi lá dentro com vigor. Ela disse: “Me machuca”.

"Como?"

"Não sei."

Enfiei dois dedos o mais fundo possível. Ela gemeu, escancarou as pernas e empurrou a buceta contra minha mão. Tirei os dois e voltei com três, quatro, tentando alargar a brecha entre os tecidos que tanto aumentavam a sensação de proibido quanto atrapalhavam meus movimentos quase a ponto de me desanimar no melhor da brincadeira. Tive que pedir para tirar. Acesso liberado, voltei a empurrar os quatro com mais e mais pressão, até meu punho por pouco não atravessar a fenda. A força era tamanha que chegava a empurrar seu corpo para a cabeceira, sempre provocando um gemidinho delicioso, meio grito, meio soluço. Mesmo quando seu rosto se contorcia por um segundo numa careta de dor, ela continuava tão acesa quanto eu, que também já me via achando um tesão meio maluco naquela ideia de fazer um fisting pela primeira vez. Com quatro dedos socados até a base e o polegar espremido no meio, não faltava muito. Se os nós passassem, o resto seria fácil, ainda mais excitada como ela estava, colo, pescoço e rosto vermelhíssimos, jugular pulsando rápido. Aquilo era loucura.

Colocando toda a força, senti-a ceder mais uns dois milímetros, quase o suficiente para fazer passar o punho. Com isso, deu um gemido dolorido, extasiado, extenuado da excitação prolongada. Gozou com um espasmo de corpo inteiro que a deixou com a respiração pesada por quase um minuto, mas depois se aprumou e me estendeu os pulsos.

"Me amarra na cabeceira", falou alucinada, como se por efeito de uma droga. Não protestei. Abri o armário, puxei uma gravata e fiz o que ela mandava. Quando já estava amarrada e nua da cintura para baixo, parei para olhar suas pernas pequenas, alvas, sem pêlos, sem defeitos, sem cheiro. Pareciam de plástico. Ela disse: "Bate".

"Onde?"

Eu não sabia, nem ela. Na dúvida, levantei sua blusa e dei alguns tapas nos seus peitinhos até deixá-los cor-de-rosa. Aquilo fez seu rosto corar, me dando a ideia de estapeá-lo também. Tudo de leve, claro.

"Mais forte."

"Olha, Beta..."

"Pega um cinto e bate com ele nas minhas coxas. Como se fosse um chicote."

O tom era decidido e de novo fiz o que ela falava. Essas foram nossas preliminares. Depois da surra de cinto, coloquei-a de quatro e meti como um demônio até gozar, cair de lado e apagar.

Quando abri os olhos de manhã, ela estava na mesma posição de depois do jantar, sentada na beira da cama, mãos plantadas no colchão, olhar baixo. Os roxos nas suas pernas atestavam o óbvio: ela não era de plástico, era de carne e osso como eu, e agora fitava aquelas marcas com olhos marejados. Confusa. Perdida. Cheia de remorso. Lá vamos nós de novo.

Gradualmente, quase sem percebermos, as brincadeiras deixaram os limites do básico e da cama. Experimentávamos acessórios, fantasiávamos por telefone durante meu expediente, masturbávamos um ao outro em lugares públicos só para chegar em casa doidos para meter. Cheguei a ponto de em plena tarde de sábado tirar sua calcinha na escada do prédio e esfregar a glande no grelo até ela implorar por pica. Um escândalo em potencial, ainda mais porque os vizinhos ali não dispensavam uma fofoca, mas meu tesão maior era o risco. Para completar a putaria, prensei-a contra a parede e comecei a falar no ouvidinho: “Vou te comer aqui mesmo, sua putinha. Vou te comer até você gritar pra parar”.

Ela gemia e se esfregava de volta, tentando engolir meu pau com a buceta. "Então me come. Come essa puta. Sou toda sua, pra você fazer o que quiser comigo."

"É? Olha que eu faço. Vou tirar sua roupa toda, te comer de quatro e encher sua cara de porra. Se alguém aparecer, eu vou sair daqui como um garanhão e você como uma piranha."

A última frase fez sua expressão mudar de tesão para uma mistura de choque e aversão. Se aprumou com ar ofendido e senti que eu atravessara um limite invisível, uma linha tênue que talvez só existisse na cabeça dela. E a trepada acabou antes mesmo de começar.

“Vamos pra casa.” Puxou sua calcinha do meu bolso.

“Que foi? Falei alguma coisa errada?”

“Nada não. Nada não. Deixa pra lá.” Vestiu a calcinha e saiu na frente sem me olhar.

Por falta de diálogo, o assunto ficou pendente até o próximo sábado, quando anunciei que faríamos um almoço para dois amigos meus que ela não conhecia, Hugo e Gustavo. E, por 'faríamos', obviamente quis dizer que ela faria. Beta passou a manhã de domingo no supermercado e na cozinha, desdobrando-se em duas para que tudo estivesse perfeito à uma em ponto. Os dois só foram aparecer por volta de uma e meia, Hugo com uma das suas namoradinhas e Gustavo, que teria passado o fim de semana na cama da amante se a esposa não tivesse desistido de viajar para a casa dos pais, visivelmente contrariado em ir com a patroa ao programa de domingo. Beta, pernas cruzadas e mãos fechadas no colo, como se para não ocupar espaço demais, apenas sorria das histórias engraçadas e comentários espirituosos, sem ousar dar uma opinião não solicitada. Previu tantos erros que não deixou espaço para um acerto.

"Beta é calada, né?" Gustavo provocou numa das pausas da conversa.

"Mas simpática", a esposa dele consertou, elogio retribuído com outro sorriso.

"É. O sorriso dela é assim, fácil." Dei um sorriso de canto e o de Beta se apagou. Constrangida, a esposa de Gustavo tratou de mudar de assunto, mas a expressão de Beta continuava grave. Quando Hugo foi ao banheiro, censurei-a na presença dos outros três: "Por que tão séria? Está estragando o almoço". Com a bronca, ela pareceu se esforçar por recobrar a simpatia inicial, embora o sorriso já não saísse tão brilhante quanto antes. "Olha aí aquele sorriso de novo." Me virei para eles, voltando a falar dela como se não estivesse lá. "Combina com o decote..."

A reação das mulheres foi um olhar horrorizado e a de Gustavo uma risadinha sarcástica. Sem dizer nada, Beta se levantou e deixou a sala.

"Ela gosta", afirmei para o nada, levando à boca o copo de cerveja.

Não demorou muito e Beta voltou com as travessas, agora num vestido branco de velha carola, tapada até o pescoço sob o cruel calor de fevereiro. Vestida para mendigar o respeito dos adúlteros e promíscuos. Pouco falou ou sorriu durante o resto do almoço, apenas agradecendo pelos elogios à comida, sempre sentada com as mãos no colo e os cotovelos bem longe da mesa. Foi com evidente alívio que acompanhou os convidados até a saída e se despediu de cada um.

"Gostou dos meus amigos?" debochei assim que fechou a porta.

Ela se virou rispidamente para o corredor, prestes a se afastar sem resposta, como de costume, mas depois girou nos calcanhares e apontou o dedo no meu nariz, para minha surpresa e decepção. Eu sempre achara algo reconfortante naquela sua passividade e agora ela tirava isso de mim me enfrentando do alto dos seus 1,61m.

"Nunca mais faz aquilo!" quase gritou. Desde quando elevava a voz daquele jeito?

"Aquilo?" me fiz de desentendido.

"Ah, então você não sabe?"

"Não. O quê? Aquilo que você sempre me pede pra fazer na cama?"

"Você sabe muito bem que não é pra me tratar assim fora da cama, muito menos na frente dos outros! Ou vai dizer que não entende a diferença entre fantasia e realidade? Nem você é tão burro assim!" Deu meia volta e saiu para o corredor.

"Olha, você me respeite", retruquei, mas ela já estava quase no meio da sala. “Não terminei de falar! Volta aqui, vadia!"

Cravei-lhe os dedos na carne macia dos braços, puxei-a de volta e dei um tapa em cada face. Dessa vez não foi de brincadeira e muito menos excitante. Fomos dormir sem nos falar. A manhã seguinte não foi diferente: enquanto ela se arrumava para ir à lavanderia de calças e blusa de mangas compridas num calor de quase quarenta graus, eu me barbeava como se nada tivesse acontecido. No fim do dia, a ficha caiu e fui me retratar: "Desculpa, amor. Não sei o que eu estava pensando".

Ela só ouvia, sem me responder ou erguer os olhos das suas receitas, mas dois dias depois me desculpou.

Com mais algumas semanas, aquilo ficou para trás e voltamos a fantasiar, aos poucos incorporando novas técnicas e brinquedos. Para não termos que nos preocupar com os barulhos, gemidos e palavrões, deixávamos essas putarias para o sítio dos pais dela, administrado por nós e aonde eles só iam três ou quatro vezes por ano, se muito. E para tornar a brincadeira mais realista, concordamos em usar acessórios de verdade. Eu queria sentir a entrega, queria uma prova de que ela confiava em mim. Não falou que era toda minha? Então. As algemas, a mordaça, o chicote, era tudo real. Mas o que aconteceu depois eu juro que não foi premeditado. Minha intenção era que aquilo não passasse de um jogo.

Ela estava na beira de uma poltrona de couro marrom, nua e arreganhada, e eu ajoelhado entre suas coxas, abrindo a buceta com uma mão enluvada para observar bem de perto, muito sério e compenetrado no meu papel ginecologista-safado-se-aproveita-de-paciente-ingênua. Inventei que precisava raspar uma amostra da mucosa interna e que fazia parte do procedimento imobilizar os braços da paciente para impedi-la de instintivamente interferir naquele processo tão doloroso e invasivo. Para efeito de fantasia, o pretexto serviu: ela ficou tão excitada que o mel escorria para o cu. Depois de algemar seus pulsos, apontei para a buceta o instrumento de coleta improvisado, mas a visão do buraquinho lubrificado logo abaixo mudou meu destino no último segundo. Largando o objeto de lado com um sorriso diabólico, alisei a portinha com o indicador da mão sem luva, o que a fez se esquivar com previsível surpresa. Não ia adiantar nada. Quando a vi ali, à minha mercê, foi como se estivesse possesso.

"Calma, está tudo bem", menti. "O toque retal é um dos principais exames de rotina. Só vou introduzir um dedo pra sentir as paredes internas. Não vai demorar nada. Tenta relaxar, OK?"

De volta ao meu semblante profissional, estiquei as pregas com o polegar e o indicador esquerdos, enfiei devagar metade do médio direito, toquei aqui e ali e comecei a lacear o anel em círculos, enquanto ela vigiava meus gestos com ar levemente desconfiado, como se ainda não acreditasse ou não quisesse acreditar que eu pudesse mesmo forçá-la. Usou de sutileza para tentar mudar o rumo do jogo, confessando ao doutorzinho safado querer sentir o pinto dele na buceta. Prontamente tirei a roupa, me encaixei onde ela pedia e dei leves estocadas que pareceram tranquilizá-la um pouco. A vítima nem imaginava que eu só queria molhar mais para entrar onde não devia. Sem avisar, posicionei a cabeça do pau como se para espiar pela entrada proibida, rodei tudo por ali e forcei passagem até ela começar a se abrir. Seu rosto agora era uma careta de dor e isso me dava ainda mais vontade de meter até o talo.

"Para, amor", usou nosso apelido carinhoso em tom grave, sinal de haver saído do papel, mas na minha cabeça tudo que eu podia ouvir era aquela manha para lá de dengosa que, confesso, me dava um prazer doentio: 'Ai, amor, está doendo. Ai, ai, está doendo'. Pois agora ia doer de verdade. Soquei tudo de um lance só, até o fundo, e comecei a foder sem a menor cerimônia, como se fosse uma buceta.

"Ai! Não! Assim dói! Tira!" ela gritou, se retraindo toda e começando a se debater.

O equilíbrio frágil entre dor e prazer virara uma dor pura e excruciante. Sua confusão mental diante do meu descontrole foi tão grande que ela se esqueceu da senha, mas quem precisa de palavras quando a expressão no rosto da outra pessoa é a própria tradução do desespero?

"NÃO! Eu disse pra parar! Para, está doendo demais!"

Dessa vez não parei. Havia lágrimas nos seus olhos, mas não parei. Talvez tivéssemos atiçado meu lado sádico, o lado cruel e egoísta, o lado que estava cagando para as regras. Diabo, eu também tinha meus demônios para exorcizar. Queria a dor, queria os gritos, queria tudo que me fizesse mais carrasco e menos vítima da vida, de mim mesmo e de todos que já havia deixado me fazerem de idiota.

"Para! Isso não tem graça! Aiii! Aiii!" repetiu, sem saber que súplicas só me fariam arremeter com violência redobrada.

Seu desespero foi o combustível perfeito para a maior explosão orgástica da minha vida. Alarguei e alaguei aquele cu recém-deflorado em estocadas violentas e pausadas, tomando todo o tempo possível para saborear cada uma delas antes de parar enterrado até as bolas. As lágrimas lhe escorriam fartas pelos cantos dos olhos, mas eu ainda não terminara; se ela achava que eu lhe daria sossego tão cedo assim, estava muito enganada. Empurrei-a da cadeira para o chão, ordenei que se ajoelhasse diante da minha pica já meia-bomba coberta por uma mistura de dois ou três tipos de secreção, segurei-a pelos cabelos e apontei com a mão enluvada aquela bagunça para sua boca. Ela imediatamente virou o rosto de lado, enojada.

"Mulher fresca. Prefere chupar ou levar porrada?" ameacei com a petulância de quem se acha no direito de exigir qualquer coisa. Dessa vez Beta entreabriu a boca e cerrou os olhos com força. Antes que seus lábios encostassem em mim, xinguei-a de outra coisa: "Porca. Vai mesmo lamber essa imundície?" Ela abriu os olhos e recuou pela segunda vez, agora sem entender nada. "Ah, está com nojinho de novo? Deixa de frescura e chupa logo, porra! Quero ver engolir tudo!"

Bem que tentou, mas não ia ser fácil. A cada cinco segundos, se engasgava no meu pau e se atrapalhava toda, com dificuldade em controlar de uma só vez a ânsia, os soluços e a saliva que já escorria pelo queixo. Com um tapa na cara, ordenei: "Quando eu meter na sua boca, não é pra deixar cair baba. Entendeu?"

Não respondeu, mas deixou-o limpinho. Assim terminou seu primeiro anal. Agachada exatamente onde eu a jogara, pernas encolhidas entre os braços, olhar vidrado, pendendo para frente e para trás feito criança embalada numa cadeira de balanço, Beta repetia para si mesma em voz trêmula e esganiçada: "Está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem..."

Surdo para a ladainha histérica, abri as algemas, caminhei como um sonâmbulo até o banheiro social, lavei o rosto na pia e fiquei me olhando no espelho por mais de um minuto, sem conseguir entender o que via ali. Estuprador. Criminoso. A que ponto cheguei?

A porta da suíte agora estava trancada a chave e o jeito era passar a noite no quarto de hóspedes.

Se consegui duas horas de sono, foi muito.

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II — GERMINAÇÃO

O silêncio de Beta na manhã seguinte aliviou parte do meu medo de que fosse à polícia fazer exame de corpo de delito, mas era provável que ela ainda estivesse sob efeito do trauma, se agarrando à rotina numa tentativa inconsciente de convencer a si mesma de que nada daquilo acontecera. Síndrome de trauma de estupro. Eu já lera sobre isso. Naquele dia voltei mais cedo do trabalho, com um buquê de flores e um cartão com duas palavras que, só depois percebi, mais pareciam uma ordem que um pedido de desculpas: 'Me perdoa'.

Mais um mês se passou e nossa vida voltou ao normal. Num acordo tácito, deixamos as amarras de lado, mas no dia a dia ela continuava passiva como sempre, devotada a mim com uma espécie de senso de obrigação que eu não entendia. Era amor? Submissão? Fraqueza? Sua vulnerabilidade me parecia tão grande que quase sem querer me vi pegando gosto por aquele jogo perverso de testar seus limites. Maltratava-a principalmente nos dias em que me sentia irritado, tenso ou aborrecido, como quando peguei uma virose daquelas que te derrubam por quase uma semana e te fazem se sentir um inválido estirado num leito de hospital, sem qualquer distração além da TV. No começo da terceira noite, depois de abusar da boa vontade de Beta por quase 48h e mal conseguindo me levantar da cama, pedi para ela pegar um analgésico no gabinete sobre a pia do banheiro. Tinha vertigens e não queria que ela soubesse.

"Qual você quer?"

"Qualquer um, sua tonta", xinguei e ela não retrucou. "Fraca. Você é tão fraca." Do quarto, pela porta entreaberta, vi sua mão ir de um lado para o outro diante da prateleira inferior, indecisa entre duas cartelas. "Aí não, porra! Em cima!" gritei e imediatamente senti uma pontada de dor, mas ela não viu. Ofendida com mais aquela grosseria, fechou o gabinete e pôs um pé para fora do banheiro. Eu mal podia acreditar naquele arremedo de brio. "Vai me deixar sofrer? Não sabia que era tão insensível." A inversão chantagista funcionou e ela deu meia-volta. Não deixei por menos: "É uma fraca mesmo".

Ela me encarou por um segundo. Quando falou, sua voz estava carregada de desprezo: "Foi por isso mesmo que você me escolheu, né? Você precisa dessa afirmação. Você precisa provar pra você mesmo que existe alguém no mundo mais fraco que você, mais frágil que seu orgulho e seu equilíbrio mental".

Aquela ousadia me deu uma vontade quase incontrolável de lhe dar um tapa na cara, mas ceder ao impulso só confirmaria seu diagnóstico. Eu ganharia muito mais cuidando da minha saúde. Em dois dias já estava quase novo, livre das dores no corpo e da febre de quase quarenta graus, mas ainda me sentia fraco e achava que conhecia o melhor remédio para isso. Onde estaria Beta? Na cozinha, para variar... Flagrei-a num rebolado involuntário, esfregando panelas de costas para a porta, alheia à minha chegada. Encoxei-a contra a bancada da pia, levantei a saia, arranquei a calcinha e juntei seus pulsos para trás.

"Cadê as algemas?" sussurrei no seu ouvido, mordiscando o lóbulo da orelha.

"Pensei que a gente não fosse mais usar essas coisas." Inclinou a cabeça para o outro lado, para longe dos meus dentes.

"Vamos brincar um pouco. Você está tensa. Isso vai te ajudar a relaxar."

"Quer dizer TE ajudar a relaxar, né?" Virou o rosto para trás.

Não respondi. Se não ia por bem, ia por mal. Rasguei a frágil calcinha de renda branca e a usei para amarrar seus pulsos. Puxei o pano de prato com o gancho de ventosa da parede e tudo, abri a torneira e segurei o pano sob a água corrente até encharcar. "Vai dizer que você não gosta?" Torci o excesso de água. "Pensei que gostasse."

"Assim não. Para, por favor. Estou te pedindo."

Afastei bem suas pernas, curvei-a sobre a pia com as mãos para trás, levantei a saia até as costas e com o pano úmido açoitei-lhe a bunda até ficar vermelha. A visão do rabo marcado e empinado quase fez meu pau saltar de dentro das calças, mas naquele dia não estávamos no sítio; se eu levasse a cabo a ideia que tinha em mente, Beta gritaria e se debateria de tal forma que algum vizinho acabaria ouvindo. Em vez disso, meti de uma vez na buceta, puxei-lhe os cabelos com força suficiente para fazer a parte de trás da cabeça encontrar o ombro e soquei fundo até despejar bem lá dentro a última gota de porra. Quando a larguei e soltei suas mãos, ela apoiou-as em punho na bancada, corpo trêmulo, cabeça baixa. Naquela posição eu não podia ver seu rosto, mas desconfiava de que estava chorando de novo. Se estivesse, minha porção doente ia querer ver.

“Está se sentindo melhor?” perguntou em tom acusador, ainda apoiada na pia. Foi como se a frase pinçasse e torcesse algo dentro da minha cabeça. “Está se sentindo melhor agora, está?”

Não. Me sentia mais doente que nunca. Me sentia um covarde. Mas, como um típico covarde, não admitiria isso para ela. O máximo que fiz foi me aproximar sorrateiramente no dia seguinte com um pedido de desculpas, que ela a princípio recusou mas depois acabou aceitando, como todos os anteriores. Aleguei que andava estressado, impulsivo, e que esperava dela, minha esposa, um esforço para me entender e perdoar. Claro que havia ideias perigosas por trás desse discurso, mas Beta não reconheceria o machismo nem se ele a estuprasse e espancasse todos os dias pelo resto da sua vida. Aquela era sua realidade, sempre fora.

A calmaria durou quase duas semanas. Uma tarde, procurando pornografia no computador do escritório, tive uma ideia que me deixou duro pelo resto do expediente. Beta assistia a uma comédia romântica estilo Cinderela quando cheguei do trabalho e sem uma palavra me sentei do seu lado no sofá da sala. Carinhosamente beijei seu pescoço, tirei sua roupa e desci a boca pelo seu corpo até a buceta. Fui todo atencioso no oral, caprichando bastante para deixá-la bem molhadinha, coisa não fazia em meses. Ela pareceu surpresa com tantos cuidados, e mais ainda quando parei e pedi que se maquiasse.

“Pra quê?”

“Obedece.”

Quando voltei à sala, máquina fotográfica em punho, ela se escondeu sob a manta do sofá.

"Ainda está molhadinha?"

"Se não enxugar, não seca de uma hora pra outra", respondeu friamente, como se além de tudo tivesse que me explicar o óbvio.

"Tira a manta, tira?"

Ela baixou os olhos e com mãos indecisas puxou a manta, descobrindo por etapas peitos, barriga e virilha, feito virgem tímida. Apontei a câmera para a buceta entreaberta e me aproximei.

"Abre as perninhas, amor. Assim não, não dá pra ver nada... Melhorou. Mais um pouco. Tem que dar pra ver a xaninha aberta. Isso, bem arreganhada." Acompanhei o comentário com um sorriso malicioso e ela se apressou em fechar as pernas antes que eu pudesse ajustar o foco e apertar o botão da máquina. "Desculpa, amor. Foi só uma brincadeira. Faz de novo, vai. Só pra mim... Assim. Pronto. Agora mais uma abrindo com os dedos... Isso. Abraça os joelhos por baixo, quero que dê pra ver o cuzinho também. Hmmm. Estica as pregas e alisa ele com a pontinha do dedo. Isso. Espalha o melzinho nele. Agora enfia. Mais. Até a metade. Tesão. Está me dando uma vontade de meter aí... Meu pau está duraço. Vou meter no seu cuzinho, você deixa?"

O pedido deve ter reavivado o horror da curra na poltrona, porque ela na mesma hora afundou no sofá, pernas encolhidas e expressão relutante, numa pose defensiva que só aumentou meu tesão e vontade de registrar a cena. Reergui a câmera e recuei para uma foto de corpo inteiro.

"Rosto não."

"Ou é de corpo inteiro ou de corpo inteiro com marcas roxas. Você escolhe", ameacei e ela me olhou assustada. "Estou brincando, amor. Faz pra mim, por favor. Só com as pernas abertas pra mostrar o melzinho. Ninguém vai ver. É só pra eu usar de referência pra um desenho."

Movi o abajur para a mesa de centro, tirei a foto e ampliei ao máximo a imagem no visor para ela se ver humilhantemente arreganhada como uma puta de revista de três reais.

"Acabou?"

“Como assim, ‘acabou’? Já esqueceu o que pedi?” Apoiei um joelho na beira do sofá, pairando ameaçadoramente sobre ela. “Não precisa ficar com medo, vou devagar. Olha, só um dedinho.” Apalpei o rego à procura do buraquinho e comecei a enfiar e tirar o médio inteiro em movimentos lentos e contínuos, com um giro completo a cada dedada. “Assim, não é gostoso?” Dei-lhe alguns minutos para que se acostumasse à invasão antes de aumentar o calibre, mas foi só encostar a cabeça do pau na portinha que ela se esquivou. “Deixa, amorzinho...” De novo pressionei e de novo ela se esquivou. A relutância me excitava e lhe dei algum espaço para se contorcer, saboreando cada tentativa de fuga da minha presa. A cada metida eu socava mais fundo, com calma e paciência, até entrar toda a cabeça. Com um grunhido, ela se remexeu toda e tentou tirar, mas nessa hora prendi-a de verdade e colei a boca no seu ouvido: “Shhh... Quietinha...” Fiquei parado com a cabeça do pau enfiada, anel pulsando na bainha. “Assim. Sente a cabeça gorda da pica arregaçando esse cu apertado, sente como é bom. Você gosta, né? Gosta sim...”

Ela buscava a porta da sala com olhos aflitos, como se contasse os segundos para tudo acabar. Embora a expressão não fosse de dor como na primeira vez, o desconforto era óbvio. Um balde de água fria para qualquer homem de caráter, mas que só me deu ainda mais vontade de deixar aquele cu todo ralado e recheado de porra. Coloquei-a de quatro e fui empurrando o resto de soquinho até os pentelhos encostarem na bunda.

“Minha putinha está gostando de levar no rabo? Se estiver, rebola pra eu ver. Rebola com minha pica enterrada no cu”, pedi baixinho. Beta continuava imóvel, trepada no encosto do sofá feito uma gata tentando livrar o rabo das mãos de um moleque encapetado. Perdi a paciência e dei-lhe um tapa na bunda. “Mandei rebolar!” Nem um giro inteiro e parou. Não importava, eu já estava quase. Para deixar ainda mais apertado, enfiei dois dedos na buceta e soquei até o fundo. “Vou gozar. Vou gozar no seu cu, você deixa?” pedi atrasado, já esguichando o primeiro jato rabo adentro.

A porra foi tanta que escorreu feito cascata assim que me desencaixei dela. Quando Beta se virou e viu aquela mistura gosmenta no meu pau, imediatamente correu os dedos fechados da base até a cabeça, preferindo melecar a própria mão a deixar a sujeira onde já estava. Saiu em direção ao banheiro da suíte com passinhos esquisitos, bem devagar para não sujar o chão, uma poça de esperma na palma da mão em concha, um filete escorrendo entre as pernas. Na porta do quarto, como se fizesse um esforço para voltar ao assunto, se virou para mim e pediu com voz cansada:

“Apaga aquela foto, por favor.”

“Já disse que é só pra fazer um desenho. Você não confia em mim?” fingi indignação.

E fiz mesmo o desenho; mas não foi ele que publiquei na comunidade virtual de artistas amadores da qual fazia parte, e sim a foto. As reações nas seis páginas de comentários foram as mais variadas: uns faziam piadas sujas, outros discutiam se era arte ou pornografia, poesia ou autopromoção. Alguém criticou minha total falta de técnica e perguntou se a foto fora tirada com o celular ou alguma câmera automática de baixa resolução. Só um atentou para o mais importante: ‘Ela parece triste. Por que ela está triste?’

Menos de 24h depois, minha conta foi excluída sem qualquer aviso.

Essa foi uma das nossas últimas preliminares. No resto do tempo, era na base da chicotada, como naquele primeiro dia do cinto. Eu já nem me preocupava em evitar as marcas e hematomas, chegando a fazer de propósito, na cama ou fora, com ou sem pretexto. E Beta? Tão acostumada a se esconder sob a maquiagem e o silêncio que provavelmente já não se reconhecia sem eles. Agia como se não soubesse que violência doméstica é crime, assim como eu. Dei provas suficientes disso no bar perto do sítio, no começo de uma noite de sábado, quando cheguei para comprar cerveja e dois caras comentavam um acidente de carro.

"Nada de mais", um dizia. "Pancadinha à toa. Acontece com todo mundo."

"Comigo não", o outro se defendeu. "Nunca bati."

Me meti na conversa: "Já ouvi muito isso. Eu não, já bati muito. Pra aprender".

O primeiro, versado na prática, me surpreendeu com o sorriso largo de orgulho e satisfação daqueles que identificam um igual na multidão. Foi quando um grandalhão que até então só entreouvira a conversa de uma das outras mesas me deu uma encarada de boxeador adversário na pesagem que antecede a luta e disse em voz alta: "É? Se eu fosse você, tomava cuidado. Um dia morre ou vai pra cadeia e não sabe por quê".

Isso calou a boca dos três. Sem fixar o olhar em nenhum deles, paguei o balconista, peguei as cervejas e voltei para casa. No sofá da sala, Beta chorava baixinho, rosto entre as mãos, como vinha acontecendo com frequência cada vez maior, no que me parecia uma depressão quase tão profunda quanto sua determinação em aguentar tudo calada. Ainda queria acreditar? Pensaria ter investido demais em mim — sua virgindade, sua juventude, seus sonhos, sua autoestima — para me ver sair por aquela porta sem deixar em troca pelo menos um punhado de boas lembranças?

"Você precisa de ajuda profissional, Beta", declarei com superioridade, só para não perder a chance, nem de longe tendo considerado a possibilidade de abrir mão da necessidade que ela parecia ter daquele ou talvez de qualquer outro relacionamento.

"Eu preciso é do seu amor", se esforçou para falar através do choro, engolindo os soluços feito criança. "E sei que se eu continuar te amando também, sua raiva vai passar e seu lado bom vai aparecer. Bela não conseguiu amansar Fera com amor?”

Então essa era a origem de parte da sua complacência. Eu quis rir, mas no fundo aquilo não tinha a menor graça. O que saiu foi um sorriso cheio de dentes, um sorriso que sugeria que o final feliz de A Bela e a Fera não passava de uma grande, conveniente e perigosa mentira. Que os abusos de Fera, recompensados por Bela com amor e submissão, foram pouco a pouco se multiplicando e intensificando até o limite do suportável. Que Bela, vendo-se num beco sem saída, acionou a Justiça e pediu o divórcio, mas Fera respondeu com insultos e ameaças, porque casamento de fera só termina quando a fera quer.

Embora fosse muito para ser dito num único sorriso, Beta pareceu captar a ideia. Boquiaberta, olhos arregalados, deu um passo atrás e se retirou sem uma palavra. Deve ter passado a noite em claro, porque na manhã seguinte apareceu dizendo que precisávamos conversar. Tagarelou por quase meio minuto sobre como se sacrificara pelo casamento, atendera a todos os meus caprichos, ignorara meus abusos até onde aguentara, e mais uma série de preâmbulos de pé na bunda que fiz questão de ignorar só para deixar claro que sua vontade não tinha a menor importância. Terminado o discurso, levantei os olhos e disse em voz baixa: "Vai fazer uma lasanha. Quero almoçar antes de voltar pra cidade". A ordem ficou sem 'sim' nem 'não'. Visivelmente aérea, como se em estado de choque, ela tomou as chaves do carro e o rumo da porta. Estranhei. "Aonde você vai?"

"À venda. Na despensa não tem massa pra lasanha."

Uma hora se passou sem que ela voltasse ou atendesse o celular. Algo me dizia que planejava qualquer coisa como pegar a estrada para a capital, esvaziar suas gavetas e de lá fugir para a casa dos pais no interior. Eu já pensava num jeito de voltar sem o carro quando ela enfim apareceu com as sacolas de compras. Mais meia hora e trazia a travessa e o vinho, servil como sempre. A lasanha é que não parecia a mesma. "Gosto amargo."

"O molho é de outra marca. A que eu uso não tinha."

"O vinho também parece amargo."

"É", respondeu secamente.

"Não vai almoçar?"

"Estou sem fome."

O relógio de parede deu duas badaladas. Cerca de quatro horas para o anoitecer, tempo de sobra para descansarmos um pouco antes de pegar a estrada. Mas descansar de quê? Era domingo à tarde e eu me sentia mais relaxado que se tivesse entornado uma garrafa de uísque, embora não tivesse passado de duas taças de vinho. Tirei a camisa e me deitei no sofá com um livro, para nada; não me lembro de ter conseguido virar três páginas.

_____________________________________________

III — COLHEITA

Acordei no nosso porão abafado e mal-iluminado, pulsos firmemente atados para trás de uma cadeira com encosto fedido a mofo. Quem quer que tivesse me amarrado ali, apertara com tanta força que era incrível não ter me machucado. Deus. A pressão era tão grande que eu não sentia minhas mãos.

A porta se abriu e vi descerem as escadas, recortadas contra a luz fria do corredor, as silhuetas de Beta e um homem alto com costas largas e braços de estivador. Quando ele parou sob o spot do porão, reconheci a fisionomia do cara que cortara minha piadinha de mau gosto no bar. Isso explicava o deslocamento dos meus 78kg da sala até ali. Na mão direita ele trazia a cartucheira que até a véspera não passava de um adorno na parede do fundo da sala, e na esquerda brandia nosso chicote de equitação, uma fina e comprida peça inteiriça de plástico com ponta de couro em forma de espátula e empunhadura do mesmo material. O resto dos nossos acessórios, até onde eu sabia, continuava empilhado no fundo do armário do quarto, onde os tínhamos encostado depois daquela minha hedionda prova de descontrole. Com um arrepio de terror, percebi que eu mesmo trouxera tudo aquilo para dentro de casa. As algemas, a mordaça, o chicote, era tudo de verdade, não era? Eu queria sentir a entrega, não queria?

"Você quis poder, mas não soube usar", o homem disse. "Foi um mestrezinho de merda. Agora vai virar escravo."

Ignorando minhas tentativas desesperadas de afrouxar os nós, tirou uma folha de papel dobrada do bolso de trás dos jeans justos e deu para Beta, que a princípio olhou indecisa mas depois concordou em ler: "O treinamento do dominador deve incluir uma fase de submissão. Pra desempenhar bem seu papel, é preciso entender e respeitar os limites do submisso".

"Pelo que Roberta me contou, vocês pularam essa fase."

Pisquei os olhos duas vezes. Eu estava sonhando? Se gritasse, acordaria?

"Alguém me ajuda! Estou preso no porão! Tem alguém aí? Socorro!"

"Pode gritar." Ele sorriu. "Não vai aparecer ninguém aqui num raio de 3 quilômetros, por pelo menos uma semana."

Uma semana daquela loucura. Uma semana para alguém dar pela minha falta e sair à nossa procura. Mas quem? Eu acabara de tirar férias, e ela, é claro, não tinha permissão minha para pensar, muito menos trabalhar fora. Além disso, eu sempre fora um cara isolado, de poucas palavras e amizades, conhecido pelo péssimo hábito de só procurar as pessoas quando precisava delas.

"Me solta, Beta! Essa brincadeira já foi longe demais!"

"Pra você é Roberta", ela respondeu pausadamente, sobrancelhas arqueadas.

Me olhando com igual desprezo, o homem largou a mordaça e o chicote na mesa do canto do porão, tirou de lá a cartucheira e encostou o cano frio na minha têmpora. "Quem disse que a gente está brincando?" Levantou a voz, pressionando mais o cano. "Você estava brincando naquele dia na poltrona? E na cozinha?"

"E quando me deu aqueles tapas na sala, e todos os outros? E quando tirou aquelas malditas fotos?" Roberta falou no mesmo tom.

Seus olhos agora estavam bem abertos e cintilavam com um brilho novo. Era prazer. Ela estava gostando de me ver assustado, encolhido sob o cano da cartucheira. E quem poderia culpá-la? O sabor da vingança mais que merecida por si só já seria motivo suficiente, mas naquela nossa história pesavam vários outros fatores que talvez eu devesse ter considerado desde o começo. Talvez eu devesse saber que a submissão disfarçada de amor tende a virar ódio no final. Talvez eu devesse saber que todo masoquista tem um lado sádico — afinal, além de vítima, é também cúmplice de cada agressão a que escolhe se submeter. E, acima de tudo, talvez eu devesse saber que sentir prazer em ser amarrada e chicoteada só pode ser coisa de mulher problemática. Pensando bem, era certo que ela cedo ou tarde resolvesse compensar tudo de uma vez.

Aparentemente satisfeito com meu silêncio reflexivo, o homem baixou a cartucheira e a colocou na mesa. Roberta se aproximou para um beijo e os dois foram andando de bocas coladas até a parede perto da escada, ela na ponta dos pés para alcançá-lo e ele apoiando-a pela cintura. Ele abriu-lhe as pernas, descansou a direita num dos degraus, enfiou a mão por dentro dos seus shorts com a palma contra a virilha e cochichou algo no seu ouvido que a fez rir olhando para mim.

"Há quanto tempo?" não resisti ao impulso de perguntar, ainda que em voz baixa.

"Bem menos tempo que você com sua coleção de amiguinhas”, Roberta rebateu de imediato.

Então ela sempre soube. Ao longo do nosso primeiro ano de namoro, eu enchera minha agenda com nomes de mulheres, algumas das quais ainda via regularmente — os pais de Roberta podiam tratar sua filha como uma mercadoria a ser entregue com o lacre intacto, mas eu, sendo do sexo masculino, dei a mim mesmo o direito de manter minha vida sexual ativa. Agora eu entendia por que ela ignorava minhas desculpas esfarrapadas e passava cada vez mais tempo no sítio, sem se dar ao trabalho de tentar descobrir o que eu fazia ou deixava de fazer na cidade. E aquele era seu confidente, o cara com quem desabafava sobre minhas traições, mentiras, insultos, chantagens e crimes.

Ele roçou preguiçosamente os lábios pelo seu queixo, rosto e boca enquanto desabotoava-lhe a blusa com igual demora. Quando a peça enfim caiu para o chão, subiu as mãos pelas suas costas e a boca pelo seu pescoço, da base até atrás da orelha. No toque do seu ponto fraco, Roberta jogou a cabeça para trás, cabelos cascateando pelas costas, peitinhos empinados para ele, que circulou os bicos com a ponta da língua e sugou um de cada vez. Estavam rijos e pontudos quando ela veio até mim, se abaixou na minha frente e pôs meu pau para fora. O homem espiou por cima do seu ombro e deu risada do que viu. "Ele gosta."

"Gosto é o caralho!"

“Não? Então o que é isso?", ela disse apontando para minha virilha.

Era meu pau quase encostado no umbigo. Ainda tentei argumentar, virar o rosto para o outro lado, mas o homem me mandou olhar e nem a cena mais broxante que eu pudesse imaginar seria capaz de baixar meu pau um milímetro sequer. Não tinha como negar. Aquilo me excitava. Me excitava muito mais que eu gostaria de admitir.

Depois de terminar de tirar as próprias roupas, depois as minhas, depois as dele, Roberta se preparou para o show. Ajoelhada meio de frente, meio de lado, lambeu os lábios com gosto, apontou o pau para a boca, rodeou com a língua a cabeçorra vermelha e começou um boquete lento e profundo. Daquele ângulo eu podia ver seus olhos me fixando o tempo inteiro com um brilho novo e excitante enquanto sua boca ia e vinha com um rastro reluzente por quase toda a extensão do caralho. A sede era tamanha que a mamada só parou quando o homem se agachou para tirar-lhe os shorts e a calcinha. Carregou-a para o sofá, sentou-a na beira, abriu-lhe as pernas e começou a passar a língua pelos grandes lábios, um de cada vez, alternando com breves lambidas no grelo. Nada muito intenso ainda, só uma leve provocação por fora até ela não aguentar mais de tesão e implorar para ele cair de boca. Quando aconteceu, ele arregaçou o grelo e chupou de um jeito que a fez se contorcer toda, dedos dos pés curvados como poucas vezes eu vira.

"Tão molhadinha. Isso tudo é pra mim?"

“Cada gota. Só você consegue me deixar molhada desse jeito. Que boca! Hmmm! Me come agora! Me come aqui, na frente desse corno! Me come, Paulo!”

Paulo.

Foi uma trepada digna de filme pornô. Na verdade, melhor: além de ser ao vivo, Roberta estava mais fogosa e bonita que nunca, e admito que Paulo também era bonitão, com um corpo firme e proporcional e uma ferramenta avantajada, maior que a minha no mínimo três centímetros. Comeu minha esposa na minha cara, fez ela gozar de tudo que é jeito, e o corno aqui só assistindo a cena com as mãos amarradas para trás, sem sequer poder tocar uma. Eu suava e tremia ao mesmo tempo.

"Viu como ele me faz gozar gostoso? Isso que é homem. Sabe satisfazer. Não é que nem você, seu corno", ela declarou depois de quase uma hora de sexo ininterrupto e três sonoros orgasmos.

Com um sorriso de quem já ouviu aquilo pelo menos uma dúzia de vezes, ele deixou o gozo vir rápido e fundo, empurrando todo o corpo de Roberta para cima com o vigor das estocadas. Os dois estavam suados e a respiração dela demorou mais de um minuto para normalizar.

"O que faço agora?" Plantou as mãos na beira do sofá, corpo projetado para a frente, pronta para cumprir nova ordem.

"O que você quer fazer?"

"Põe ele deitado no colchão de barriga pra cima."

Pedido atendido, ela andou pelo colchão, se postou sobre mim, abriu as pernas e desceu no meu rosto. Deve ter contraído as paredes da buceta, porque a porra escorreu toda para minha boca fechada, um filete se infiltrando entre meus lábios até gotejar na ponta da minha língua com um choque de sabor que encheu minha boca de saliva e instintivamente me levou a limpar quase tudo em pouquíssimos segundos.

"Não disse que ele gostava?" Paulo riu.

Ela recolheu nos dedos as gotas que tinham escapado para meu queixo, mas acabou esfregando-as nos meus dentes, porque minha boca já estava fechada de novo.

"Porra nenhuma! Sou macho!"

As sobrancelhas dele se arquearam e os cantos da boca se curvaram para baixo. "Quem é macho ou fêmea é bicho. Se ele acha que é bicho, então vamos tratar ele feito bicho."

Dito isso, saiu para providenciar duas tigelas de água e comida, além de um pequeno balde de metal por penico. Foi Roberta quem colocou tudo ao pé do colchão, titubeante apesar da distância segura, como se tratasse mesmo com um bicho raivoso. Só agora eu percebia como estava linda com o rosto corado do sexo, a boca rosada dos beijos e os cabelos naturalmente ondulados, úmidos de suor. Tive vontade de abraçá-la, chamá-la de meu amor, pedir perdão por todos os abusos.

Em vez disso eu disse: "Sua vaca".

Paulo deu dois passos na direção da mesa e tive certeza de que minha boca grande tinha me fodido pela última vez. Mas, em vez da cartucheira, ele pegou o chicote. Sem dizer nada, entregou-o a Roberta, que imediatamente o ergueu bem para trás, tomando impulso para descer com tudo. Rolei no colchão em posição fetal, certo de levar uma chicotada de deixar marca, mas o golpe acertou o sofá ao lado. Era só um teste. Minha cara de susto a fez soltar uma gargalhada maliciosa, meio sádica... terrivelmente sexy.

Apesar da posição lateral, a primeira chicotada para valer pegou minha bunda em cheio. Do outro lado do porão, encostado na parede, braços cruzados, sorriso jocoso nos lábios, Paulo se divertia com a cena. Me mandou ficar de bruços com as mãos acima da cabeça e obedeci. Quanto mais me contorcia dos golpes, mais roçava a glande na superfície macia e mais vontade tinha de gozar, mesmo diante dos meus dois algozes e testemunhas do prazer que me dava aquela situação humilhante. Roberta deve ter percebido, porque logo trocou as chicotadas por beliscões na pele ardida das minhas costas e bunda, me arrancando um gemido que nem eu mesmo sabia se de dor ou prazer. Eu já fodia o colchão num frenesi desatinado, implorando em pensamento por uma mão, boca, buceta, cu, o que fosse, quando Roberta enfim pareceu se compadecer do meu sofrimento. Num ato de misericórdia que eu não merecia, deslizou a palma da mão por baixo do meu pau e alisou bem de leve o ponto sensível na curva inferior da glande. Um gemido alto escapou da minha boca e meu quadril automaticamente subiu para facilitar o acesso. Tentei bombar no túnel do seu punho fechado, mas ela tirou a mão, amarrou meus pés juntos e apertou minhas bolas doloridas de tão inchadas.

"Cheinho de leite, é? Vai dar litros hoje", provocou e baixei a cabeça, subitamente consciente da minha condição: nu em pêlo, de quatro, cascos amarrados para não dar patada, ordenhado como uma vaca. Só me faltava mesmo um balde entre as pernas. Mas o pior de tudo era a espera. Em vez daquela punheta caprichosa e incansável que no começo do namoro me fazia esporrar até no forro do teto do carro, a mão agora se agitava por cinco bombadas e parava. Cinco bombadas e parava. Aquilo ainda ia acabar me enlouquecendo. Gemi entrecortado, coração disparado, cada fibra do corpo seca por alívio.

"Que castigo..." Paulo ironizou. "Ele está quase gozando! Você não vai deixar, vai?"

Ela riu e continuou por alguns segundos, me dando um lampejo de esperança, mas só para tirar a mão nos instantes finais. Baixei a cabeça e mordi os lábios.

"Oh, o que foi? Você não gozou?" Sorriu da minha frustração e minha resposta saiu na forma de um gemido aflito. "Isso é pra você deixar de ser um animal. Vai me xingar de novo?"

"Não", respondi arquejando.

"Vai me desafi..."

"Nunca, com gesto nem palavra nenhuma."

Sua mão pousou no meu queixo e levantou meu rosto com firmeza. Era minha permissão para olhar de volta. "Não me interrompe quando eu estiver falando. Entendeu?" Me encarou e fiz que sim. "Vai me desafiar de novo?"

"Nunca, com gesto nem palavra nenhuma."

"Muito bem." Desamarrou meus pés. "Mais alguma coisa pra me dizer?"

"Eu te amo."

"Estou vendo. Esses três anos me ensinaram bastante sobre você."

"Mas é verdade", resmunguei com um muxoxo de criança birrenta.

Ela já se livrara das amarras e agora evoluía em gestos espaçosos e seguros em direção à saída. Guiou Paulo para as escadas e do degrau superior me disse por cima do ombro: "Vou apagar a luz. Vê se aproveita pra pensar no que você fez".

Pensei, tanto naquela tarde como nos últimos meses. Eu não publiquei aquela foto à toa, publiquei? Não. Eu gosto. A maioria dos homens gosta. Lady Bovary, Lady Chatterley, Anna Karenina, Capitu, Dona Flor, Engraçadinha e mais uma lista interminável de adúlteras famosas não nos deixam mentir, por mais que a gente tente. E como tenta.

Eu continuava excitado como nunca e agora precisava mijar no porão escuro. Imagine como não foi tentar acertar aquele baldinho com a luz apagada, os pulsos amarrados e o pinto teimando em apontar para cima. Fui dormir nesse estado deplorável e três ou quatro horas depois acordei todo gozado de um sonho em que os dois trepavam na minha frente de novo. À tarde — não faço ideia da hora, mas devia ser tarde —, Roberta baixou no porão toda de branco, num vestido longo, liso e esvoaçante, sublime como uma deusa descendo do Olimpo para ter com um reles e indigno mortal. Não se vestia em nada como uma Domme de filme pornô e eu era grato por isso; seria incômodo vê-la impor sua vontade dentro de todos aqueles instrumentos de tortura e aborrecimento criados pelos homens que são as calcinhas enfiadas na bunda, os sutiãs apertados, os saltos altos, as meias que desfiam ao menor descuido. Longe disso, ela agora usava calcinhas boxer, andava de seios livres e calçava sapatilhas, chinelos ou tênis. E a determinação com que me punia também parecia bastante real. Agora chegava para mais uma foda humilha-corno, sempre com Paulo, um cara do dobro do meu tamanho em todos os sentidos. Um novo homem para uma nova mulher.

Depois de um banho frio no alpendre, Paulo segurando a mangueira e eu tentando desviar a cara dos jatos, os dois me devolveram à minha cama no chão. Hora do show. Como se planejado, Paulo se despiu e se refestelou no centro do sofá de três lugares enquanto Roberta começava um strip para ele tocar a bronha com que eu só podia sonhar. Da minha 'cama', eu via a cabeça protuberante do caralho desaparecendo e aparecendo na sua mão, desaparecendo e aparecendo, até Roberta descer lentamente a calcinha pelas pernas esticadas e atirá-la em cheio na minha cara. Foi a deixa para ele tirar as almofadas do encosto, deitá-la de comprido no sofá, enterrar o rosto entre suas coxas num 69 e por um mínimo de quinze minutos lhe dar um prazer que eu não seria capaz em quinze horas. As preliminares foram ainda mais intensas que as do dia anterior e achei que fosse mesmo enlouquecer se não pudesse gozar dessa vez, mas eles já nem pareciam se lembrar de mim. Só quando Roberta cavalgava Paulo num rebolado frenético foi que ele virou o rosto na minha direção.

"O corninho está adorando", disse olhando minha vareta babada e pulsante. Sussurrou algo no ouvido de Roberta e subiu as mãos pelas suas costas para deitá-la de frango. Flexionava bem suas pernas com as duas mãos plantadas nos joelhos e metia em ritmo acelerado, o som dos choques entre os corpos cada vez mais alto e frequente até se misturar aos gemidos curtos do gozo simultâneo. Nós nunca tínhamos gozado ao mesmo tempo daquele jeito. Eu estava ofegante só de olhar.

"Gostou, corno? Agora vai limpar tudo", Roberta disse se levantando. Montou no meu rosto e de novo fez escorrer toda a porra para minha boca. Depois de se certificar de que eu engolira tudo, começou a punheta, vagarosa e torturante como da primeira vez.

"Mais rápido..." pedi entre gemidos, quase gozando.

"Como é que se diz?" A entonação era de uma mãe ensinando um moleque mimado.

"Por favor. Mais rápido, por favor. Até o fim, por favor. Me deixa gozar, por favor."

O formigamento do gozo iminente tomou meu corpo inteiro e dessa vez Roberta não deu sinal de parar. O ar sumiu dos meus pulmões, minha visão escureceu e me vi a ponto de literalmente morrer de prazer. No prenúncio do clímax, ela se curvou para roçar os lábios no meu pau. Mal a cabeça mergulhou no calor úmido daquela boca que um dia se esmerara tanto em me satisfazer, despejei um jato de porra na sua língua; o primeiro e único, porque ela recuou para terminar na mão o que mesmo pela metade já fora o melhor orgasmo da minha vida. Só depois, quando cuspiu a porra na minha cara e esfregou energicamente a glande com o polegar, foi que entendi por que eles combinaram de me deixar gozar.

"Que foi?" Fez cara de desentendida. "Está sensível aqui? Está sensível?" Com uma mão agarrou o corpo do caralho e com a outra friccionou mais a glande enquanto eu grunhia e me contorcia de aflição, saltando de um lado para o outro feito peixe fora d'água.

As risadas dos dois ecoavam pelo porão. Satisfeita, minha Alfa me deixou deitar de bruços e subiu com Paulo, me largando sujo e desolado. Só os vi de novo na manhã seguinte, quando vieram me alimentar.

A próxima semana foi tédio puro. Diariamente um deles aparecia para me alimentar e ‘cuidar da limpeza’, que consistia em esvaziar o balde, me dar um banho de mangueira no alpendre e me devolver pelado e tremendo ao porão, e no resto do tempo só que eu podia fazer era pensar em todos os descaminhos que me levaram até ali. Vez por outra me pegava olhando a paisagem na parede como se fosse uma janela, isso quando não passava o dia inteiro vendado, amordaçado e amarrado. De alguma forma as coisas começavam a se compensar: eu surrara e violentara minha própria esposa e agora me via encarcerado por tempo indeterminado dentro da nossa própria casa, refém do gozo alheio.

Ainda se passaram algumas semanas até que eu abrisse mão de toda resistência e aceitasse meu castigo. Ao fim desse período, Roberta reapareceu com Paulo numa manhã de sábado ou domingo, ambos com o mesmo olhar solene e misterioso, aparentemente de acordo sobre alguma novidade que, esperava eu, não envolveria uma nova modalidade de suplício. Ela trazia nas mãos uma sacola branca de plástico, de onde tirou o que parecia uma muda de roupa limpa. Em silêncio, Paulo colocou a pilha de roupas sobre o colchão, desamarrou meus pés e mãos, tirou minha mordaça e esperou que eu me vestisse, tudo com ar relutante e desconfiado, como se aguardasse algum gesto de insubordinação que justificasse a volta das amarras. Tendo concluído a tarefa sem sobressaltos, me olhou bem nos olhos.

"Você vai assinar os papéis do divórcio e vai cuidar da sua própria vida. Se chegar perto da Roberta de novo depois disso, eu te mato, destrincho e dou pros porcos comerem. Tenho meios de te achar e VOU te achar onde você estiver. Ouviu bem?” disse sem elevar o tom na última palavra, mais como uma afirmação que uma pergunta. Concordei com a cabeça. "Agora você vai sair por aquela porta e eu nunca mais quero ouvir seu nome."

Falou com convicção e justiça, como um homem de verdade. E o que um covarde como eu, estuprador e espancador de mulheres indefesas, faz quando um homem de verdade entra na briga?

Corre. Corre até as pernas caírem e o coração saltar pela boca.

Subi aos pares os degraus e corri aos tropeções até a porta da casa. Agradecido pelo ar puro, inspirei fundo e corri mais, até a beira da estrada, na esperança de conseguir uma carona para algum hotel onde pudesse tomar um banho quente, me barbear, fazer uma refeição decente e descansar um pouco, coisa que para minha sorte não demorou muito. De volta à capital, livrei o apartamento de tudo que era meu. Deixei-o limpo e iluminado como devia, pronto para receber Roberta e o homem que ela escolhera para lhe dar a felicidade que eu era incapaz de proporcionar. Levei tudo menos as recordações dos nossos bons momentos, sobretudo as do começo de namoro, quando tínhamos todo o relacionamento pela frente e nenhuma ideia de que tudo terminaria daquele jeito.

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