Minha história, minha luta, minha glória 5

Um conto erótico de Dr. Friction Fiction
Categoria: Homossexual
Contém 1241 palavras
Data: 27/08/2013 23:50:42

Subi com a intenção de perguntar aos meus amigos o que as pessoas estavam falando. Sentei e comecei a assistir a aula, mas reparei que Gehardt ainda não tinha chegado. Eu não tinha notado devido a todas as perguntas que meus amigos fizeram e porque Paula tinha feito aquele rebuliço no pátio (graças a Deus ninguém viu).

Comecei a pensar nele. Conforme o tempo passava, a ausência dele começou a pesar no meu peito, como uma pedra gigantesca. A cada aluno atrasado que entrava eu olhava para trás, onde ficava a porta da sala. Em um dado momento, achei que tinha ouvido a voz dele, mas só o que vi foi um garoto novo, negro, baixo e extremamente barulhento. Eles tinham um tom de voz extremamente parecido! A cada vez que ele falava, eu olhava pra trás, era mais forte que eu.

Logo, eu ouvi o garoto falando:

- Porque ela olha pra mim toda vez que eu falo?

Nesse momento, eu imagino que alguém mais discreto do que ele respondeu a pergunta usando um tom de voz mais baixo, e obviamente eu não ouvi, mas ele logo disse:

- Mas o namorado dele é branco, eu sou preto, não temos nada a ver!

Caraca! Que pancada no estômago foi ouvir aquilo! Merda, eu tinha faltado dois dias por conta da suspensão, então ele provavelmente já conhecia o Gehardt, e alguém deve ter falado de mim pra ele. Será que as pessoas estavam achando que eu e ele estávamos namorando? Não era possível!

Eu fiquei tão mal com aquilo que nem ouvi o sinal do intervalo tocar. Simplesmente fiquei lá sentado olhando pro meu caderno durante três horários, e tudo o que passava na minha cabeça era que eu ia pro inferno, que meu pai iria me matar, que eu era realmente um viado enrustido e todo mundo já tinha percebido o que eu tentava esconder até de mim mesmo.

- Ei, amigo, o que você tem?- era a Évora, e o Brunno estava com ela. Maria provavelmente desceu com o Neto, com quem estava ficando, e a Paula.

- Não, Évora. Eu não tô bem. A minha ficha tá caindo com relação a um assunto e eu queria falar com vocês justamente sobre isso- Brunno me olhou com cara de quem já sabia o que eu ia falar e Évora fez cara de quem não entendeu- a galera do colégio está falando que eu sou gay, né? Podem me dizer, quero saber o que eles tão dizendo.

Eles se olharam e hesitaram até que ela decidiu falar.

- Olha Doni- na escola, só ela me chamava assim- eu não te falei porque fiquei com medo de te magoar, mas é verdade. E não é de agora. O pessoal sempre comentou, mas de uns tempos pra cá, desde que o Gehardt entrou na escola, o que era duvida virou certeza. Todo mundo percebe o jeito que você gravita em torno dele.

- Verdade. Eu sei que não há nada entre vocês, mas todo mundo pensa que vocês estão tendo um rolo- Brunno disse- ele sempre deita no seu ombro, você só olha pra ele, a aula inteira... Nós sentamos na frente, todos que sentam mais atrás percebem.

- Isso não pode ser verdade... Eu não posso ser gay.- eu já tava quase chorando. Como eu mesmo não tinha percebido que tava completamente apaixonado pelo moleque?- Brunno, meu pai nunca aceitaria isso, meu avô sempre fez questão de dizer que a pior desgraça pra um pai é ter filho viado!

Nessa hora a Évora me abraçou e disse:

Não é vergonha nenhuma ser gay. Você é um cara legal pra caramba, tem boas notas, é educado, os professores te adoram- isso era verdade, eu era muito CDF e, tirando as discussões que os professores sabiam que eram provocadas pelos moleques, eu era bom aluno- será que isso não conta? Ser gay ou não, não te faz menos homem, menos gente.

- E para de usar o termo "viado", Donovan!- disse o Brunno- você tem que começar a se aceitar, senão, nunca vai ser feliz.

-Eu preciso de um tempo... Eu nem sei mais o que pensar- eu estava sem chão e decidi me abrir completamente com eles- eu não vou negar que sinto atração por homens, mas eu sempre achei que era algo passageiro, uma fase. Eu rezei e orei e até me autoflagelei. Eu me batia com cintos se pensasse em um homem com desejo, e enfiava um garfo na coxa se tinha sonhos eróticos com homens. Mas de nada adiantou. Eu não quero isso.

Na hora em que falei que tinha me autoflagelado, eles me olharam com pena. Mas a verdade é que eu nem sabia direito o que era ser gay além da atração por pessoas do mesmo sexo e nunca tinha sequer visto um homem nu, nem em revistas. Como poderia ter certeza de alguma coisa?

- Donovan, eu nem quero imaginar o que você já passou, meu amigo.- o Brunno me abraçou também- eu sempre soube que era gay e sempre me aceitei como sou. Deus me fez assim, então ele me quer assim, e eu sou feliz sendo gay. Você também pode e vai ser feliz.

-Concordo com ele. Você precisa começar a tentar aceitar seus desejos- Évora disse- se lutar contra sua natureza, vai ser uma pessoa frustrada, infeliz. Não estou dizendo que deveria sair do armário amanhã, mas deve pelo menos se aceitar. Senão, como vai se amar?

Eu tinha muita coisa pra pensar. Ainda bem que o Guê não tinha ido ao colégio, senão seria outra preocupação, ter que lidar com o que estava sentindo e com toda a tsunami de pensamentos na minha cabeça. Eu queria desaparecer do mundo. Simples assim. Queria nunca ter existido. Nisso, o sinal do fim do intervalo tocou e logo todos estariam de volta à sala de aula. Brunno pegou meu celular de cima da carteira e começou a digitar algo. Eu nem prestei atenção. Ele disse:

- Coloquei meu número na sua agenda e dei um toque no meu celular do seu. Vou te ligar hoje pra gente conversar mais um pouco, OK?

Fiz que sim com a cabeça e logo a sala estava cheia de gente de novo, a professora entrou e começou a dar aula. Eu nem prestei atenção nela nem no olhar de ódio que a Paula me lançavaCheguei em casa a noite e depois do jantar Brunno me ligou pra conversar. Eu sinceramente não estava a fim de falar com ele, mas ele me pegou na primeira pergunta que fez depois de dizer "alô":

- Sim, amigo. Vai me dizer ou não o que sente pelo Gehardt?- sinceramente, a pergunta me fez pensar, porque eu sempre achei que amava a Vânia. Mas o que era, então, aquela sensação de quase morrer por que ele não estava perto? O que era aquela vontade absurda de simplesmente passar horas conversando com ele? Aquela agonia que eu sentia por ter ele tão perto de mim, coladinho no meu ombro, sem poder beijar a testa, os cabelos dele, os olhos fechados de menino sonolento e simplesmente abraça-lo e protege-lo do mundo? Meu mundo era ele já havia mais de dois meses, e de todas as pessoas, eu fui o último a perceber.

- Eu o amo, Brunno- simplesmente falei ao telefone- mais do que qualquer outra pessoa, mais do que a Vânia, mais do que me amo. Eu amo o Gehardt.

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Comentários

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ahhhh pode parar com essa frescura de se arrepender, começou agora vai até o fim com o mesmo ritmo! E outra, escrever tudo isso é uma boa oportunidade de dar vazão e tirar as coisas que vem carregando durante tanto tempo. Pode não ter sido fácil passar por isso, e muito menos relembrar, mas é dizendo e admitindo seus erros e aflições que se desprende do passado e se prepara para viver o presente e futuro ^^

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Nossa cara deve ser barra relembrar essas coisas. Mas forças aí e botar isso pra fora pode te ajudar a superar. Abraços.

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Esse pedaço foi difícil de escrever. Não é fácil lembrar disso. Já tô me arrependendo de escrever minha vida.

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Pessoal, os trechos estão meio curtos pq escrevo do celular. Mas vou tentar aumentar um pouco.

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